terça-feira, 26 de abril de 2022

Mia Couto volta à sua prosa poética em 'O Mapeador de Ausências', FSP

 

Alex Castro

Escritor, é autor de "Atenção." (Rocco)

O MAPEADOR DE AUSÊNCIAS

  • Preço R$ 54,90 (288 págs.); R$ 34,90 (ebook)
  • Autor Mia Couto
  • Editora Companhia das Letras

Há datas e datas. O novo romance de Mia Couto, "O Mapeador de Ausências", começa em “Beira, 6 de março de 2019”. Nove dias depois, o ciclone Idai atingiu o continente africano justamente nessa cidade, causando o pior desastre natural da história de Moçambique.

A orelha da edição brasileira tenta ajudar —“às vésperas do ciclone que arrasou a cidade em 2019”—, mas é possível que o leitor brasileiro continue sem ter noção da enormidade do desastre que flutua como nuvens carregadas sobre a trama do livro. Já o leitor moçambicano vê essa data e local e sabe.

Na trama, o famoso poeta Diogo Santiago, nascido e criado em Beira, filho do poeta Adriano Santiago, já morto, retorna à sua cidade natal para receber uma homenagem. As coincidências com a vida de Mia Couto não são acidentais –ele também nasceu e se criou em Beira, filho de um escritor e jornalista.

Portugal inventou o colonialismo europeu na África no século 15, foi quem mais resistiu a encerrar o ciclo. Contra todos os ventos da história, ainda era a última potência europeia tentando manter suas colônias africanas, num Vietnã lusófono tão impopular que acabou varrendo do mapa a própria ditadura salazarista.

Em 1973, o poeta-pai —que define a “arte maior do poeta” como “saber desperdiçar oportunidades”— visita o local de um dos piores massacres daquela guerra e recebe a incumbência de divulgar ao mundo o horror. Já em 2019, o poeta-filho —que se define como “inventor de esquecimentos”— aproveita a passagem pela cidade para se reconectar com as memórias da infância, embora sua própria informante, Liana, confesse a ele que “inventa documentos”. A memória é uma construção, mas de quem?

Quando um regime começa a prender os poetas é porque esse regime está perdido. [...] Se os senhores fossem inteligentes procediam exatamente ao inverso: concediam um prémio ao Adriano. É assim que se cala um escritor. [...] Os senhores não aprenderam com as mulheres da minha geração. Era o que fazíamos no casamento. Trazíamos o lobo para dentro de casa, que era onde ele se convertia num cachorro manso.

Mia Couto

Trecho do livro 'O Mapeador de Ausências' (Companhia das Letras)

O que o poeta-filho não sabe, porém os leitores sim, é que ele está correndo contra o tempo. Em breve, a cidade estará destruída e sua infância, inundada. Pois enquanto a narrativa relembra as últimas catástrofes da guerra colonial, o leitor é sempre remetido para a outra catástrofe mais recente. Não será spoiler apontar o que está no próprio índice –o último capítulo se chama “O Ciclone”. Tudo acaba em vento, água, morte.

Para o leitor brasileiro, Mia Couto chama atenção por ser, hoje, o continuador mais bem-sucedido de Guimarães Rosa. Ambos são homens brancos, usando um idioma europeu e periférico para dialogar com as grandes tradições da cultura ocidental, criando uma linguagem altamente estilizada a partir de elementos populares e produzindo textos que não seguem nem a norma culta literária nem tentam reproduzir de forma condescendente os desvios dessa norma culta na fala do povo.

Pelo contrário, eles articulam vozes poéticas únicas, que unem ambas as tradições das quais são herdeiros, tanto a dita “alta cultura” europeia quanto a oralidade do sul global.

retrato de homem branco de óculos e barbas e cabelos grisalhos
O escritor e biólogo moçambicano Mia Couto, autor de 'Terra Sonâmbula' e 'Mulheres de Cinzas' - Renato Parada/Divulgação

Mia Couto encarna esse não-lugar paradoxal do literato periférico. Não é nem um africano negro escrevendo sobre suas tradições ancestrais, nem um português escrevendo sobre a metrópole, mas sim um biólogo branco que fez a opção de ser moçambicano quando poderia ser europeu.

Diz o lugar-comum que os moçambicanos seriam nossos meio-irmãos, pois compartilharíamos o mesmo pai, só com mães diferentes. Em "O Mapeador de Ausências", entretanto, quando uma das personagens descobre que tem um meio-irmão, ela imediatamente se corrige. “Como não existem parentescos por metade, ele era meu irmão.”

Para o leitor brasileiro querendo conhecer melhor a literatura de nossos irmãos, "O Mapeador de Ausências" é um dos melhores pontos de entrada. O romance traz a prosa poética que caracteriza e distingue a voz de Mia Couto, em uma trama apaixonante sobre as trapaças da memória e os paradoxos de uma guerra colonial que, como não poderia deixar de ser, também é uma guerra civil de irmão contra irmão.

Raízen anuncia investimento de R$ 300 milhões em planta de biometano, NovaCana

 Em comunicado ao mercado divulgado na manhã desta terça-feira, 26, a Raízen confirmou que iniciará a construção de uma nova unidade dedicada à produção de biometano, com inauguração prevista para 2023. O anúncio era esperado desde setembro, quando a companhia firmou uma parceria com a Yara Brasil Fertilizantes envolvendo a comercialização de 20 mil metros cúbicos diários.

De acordo com o documento – que é assinado pelo diretor financeiro e de relações com investidores da Raízen, Guilherme José de Vasconcelos Cerqueira – a planta receberá o investimento de R$ 300 milhões e ficará anexa a usina Costa Pinto, em Piracicaba (SP). No mesmo local, a sucroenergética já produz etanol de segunda geração (E2G).

Esta será a primeira unidade da Raízen dedicada à produção de gás natural renovável. A companhia possui uma planta de biogás em Guariba (SP), mas ela é dedicada à geração de eletricidade.

A capacidade de produção de biometano será de 26 milhões de m³ ao ano. Segundo a Raízen, o volume é suficiente para abastecer aproximadamente 200 mil clientes residenciais.

Entretanto, a companhia informou que a produção já tem destino certo, tendo sido totalmente vendida para a Yara Brasil Fertilizantes e para a Volkswagen do Brasil, em contratos de longo prazo.

“Este projeto amplia nosso portfólio de soluções em energia limpa e renovável, reforçando o papel de liderança na transição energética do país gerando valor para clientes, consumidores, fornecedores e acionistas”, conclui o comunicado.

Amônia verde

Conforme anunciado em setembro, a Yara pretende utilizar o produto para a produção de hidrogênio e amônia verde em seus parques industriais. Assim, o biometano deve ser injetado nos dutos da Comgás até a planta de amônia da Yara em Cubatão (SP).

Segundo a Yara, em comunicado enviado à imprensa na ocasião, o volume adquirido – 20 mil m³ diários – representa 3% do montante consumido pela unidade fabril. “A incorporação dessa matéria-prima no processo produtivo é uma manifestação concreta dos esforços da Yara no Brasil em promover a descarbonização das suas plantas”, afirmou o vice-presidente de soluções industriais, Daniel Hubner.

Renata Bossle – NovaCana

Sanções saem pela culatra com custos da retenção de navios russos em portos da França. Sputnik Brasil

 

 - Sputnik Brasil, 1920, 24.04.2022
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Mídia francesa falou de vários navios russos presos em portos da França após a imposição de sanções que proíbem a entrada de navios de bandeira russa em portos europeus.
Navios comerciais russos presos em portos franceses carregando veículos, produtos químicos e outras cargas tornaram-se um grande incômodo para as autoridades locais, atrapalhando os terminais e custando milhares de euros para serem movidos, relatou no sábado (23) o canal France 2.
O canal francês cita o exemplo do Vladimir Latyshev, um navio de carga geral de bandeira russa preso em Saint-Malo, noroeste da França. O navio de 141 metros de comprimento é tão grande que mal cabe no cais do porto da região da Bretanha, forçando os trabalhadores a deslocá-lo constantemente para dar espaço a outros navios. A tripulação do navio tem estado presa a bordo por cerca de 50 dias e depende inteiramente de seu empregador para as refeições, já que seus cartões bancários foram bloqueados na França.
Stéphane Perrin, vice-presidente do conselho regional da Bretanha, disse à France 2 que quanto mais tempo o navio estiver preso no porto, mais tempo precisará para ser movimentado para frente e para trás.
"Mesmo que pareçam ser apenas pequenos movimentos através do porto, eles custam muito dinheiro de cada vez", reclamou o funcionário. Cerca de € 50.000 (R$ 260.000) foram gastos pela Bretanha em movimentação de navios russos até o momento, tendo sido solicitada a ajuda de Paris.
Os proprietários de navios russos iniciaram vários processos contra as autoridades francesas em resposta à retenção de seus navios, com uma embarcação, Pola Ariake, um graneleiro de propriedade russa, mas com bandeira do Panamá, sendo liberada da detenção no porto de Lorient no final de março, após um juiz decidir que nenhuma sanção realmente se aplica ao navio.
Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, fala à mídia no Palácio Miraflores, em Caracas, dia 16 de agosto de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 21.04.2022
Panorama internacional
Maduro: efeito bumerangue causado por sanções ocidentais contra Rússia atinge Europa, EUA e mundo
Mais navios russos permanecem presos em outros portos, incluindo Marselha e Boulogne-sur-Mer, ocupando espaço e transformando-se em uma dor de cabeça para as autoridades locais, em meio à guerra de sanções do Ocidente contra a Rússia, que marca seu segundo mês.
Os governos europeus começaram no final de fevereiro a deter navios de propriedade russa e/ou de bandeira russa, incluindo navios comerciais e de carga e superiates de propriedade de magnatas.
No início de abril, a União Europeia impôs à Rússia um quinto pacote de sanções, com as novas restrições incluindo a proibição de navios de bandeira russa entrarem nos portos do bloco.