terça-feira, 28 de dezembro de 2021

A galinha do presidente, OESP

 Pedro Fernando Nery*, O Estado de S.Paulo

28 de dezembro de 2021 | 04h00

A literatura que investiga a relação entre dinheiro e felicidade é repleta de achados que mostram que, mais importante para o bem-estar que o valor absoluto que alguém ganha, é o valor relativo – isto é, como este número se compara com o de conhecidos. Recentemente, pesquisadores das universidades de Boston e Rice publicaram o resultado de experimentos mostrando que indivíduos tendem a comparar seu salário com o salário máximo de um outro grupo – uma informação mais saliente que temos facilidade de guardar (Putnam-Farr e Morewedge, 2020).

Depois de um período surpreendentemente longo sem reajustes salariais e com inflação alta, foi o dado o start nas campanhas salariais dos servidores públicos. O governo vinha conseguindo mudar a composição do Orçamento, aumentando por exemplo a fatia das transferências de renda e reduzindo a parcela com servidores. Este novo equilíbrio foi perturbado pelo presidente da República.

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Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro, presidente da República; Depois de um período surpreendentemente longo sem reajustes salariais e com inflação alta, foi o dado o start nas campanhas salariais dos servidores públicos. Foto: Gabriela Biló/ Estadão

Bolsonaro prometeu reajuste salarial para os policiais federais. Apenas para eles, pela falta de dinheiro. Corporações de auditores da Receita e juízes já mostraram insatisfação publicamente. Prints com os supostos valores máximos que seriam recebidos por delegados e peritos da PF passaram a circular. Servidores se compararam. 

Bolsonaro puxou uma pena, mas pode trazer uma galinha. Delegados da PF poderiam ganhar o mesmo que juízes e procuradores, mas esses acham a equiparação injusta porque se aposentam bem depois: tendem agora a pressionar pelo aumento do teto remuneratório. O aumento para peritos também frustra carreiras técnicas que se consideram parecidas, como as do Legislativo, TCU e as do ciclo de gestão – rótulo que arrasta os gestores, os analistas do Banco Central, da Secretaria de Planejamento, da Secretaria de Comércio Exterior, os pesquisadores do Ipea, os auditores do Tesouro e da CGU. 

Mas estes são referências para os especialistas em regulação, mobilizados na ANA, Anac, Anatel, Aneel, Ancine, ANP, ANS, Antaq, ANTT, Anvisa. Que são referência dos analistas das agências, e também dos servidores da novel agência da mineração (ANM) e do DNIT – que buscam equiparação. São muitas penas.

Para piorar, a PF é a baliza da remuneração da Polícia Civil do DF (igualmente custeada pela União), que é baliza da PM do DF, que é baliza das demais polícias, que em nível local também são farol de outras carreiras (como agentes de trânsito).    

Bolsonaro parece ignorar essa delicada dinâmica. Contratou mais estresse para 2022.

Ambev leva projeto de cultivo de lúpulo para Ribeirão Preto, FSP

 Sandro Macedo

O lúpulo brasileiro e o curupira estão cada vez mais distantes. Não faz muito tempo, os dois eram tratados como lenda por aqui. Porém recentemente um deles —o lúpulo— começou a se tornar uma feliz realidade, ainda que em escala pequena.

Vem de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a nova iniciativa com o lúpulo —um dos ingredientes da cerveja, ao lado do malte, da água e da levedura. Localizada na Fazenda Pratinha, a Silver Hops fechou uma parceria com o projeto Fazenda Santa Catarina, da Ambev, para plantação e pesquisa da florzinha, responsável pelo aroma e amargor da cerveja.

Flor de lúpulo cultivado no Brasil
Flor de lúpulo cultivado no Brasil - Divulgação

Na região sul, o projeto da Ambev já começou a colher frutos. A Lohn Bier, de Santa Catarina, já lançou dois rótulos com o lúpulo de Santa Catarina: a Green Belly e, neste ano, a Toda Nossa, em parceria com a Ambev. A Colorado também usou o lúpulo nacional na hop Lager da linha Brasil com S, que valoriza ingredientes de biomas brasileiros e tinha também tapioca na receita ---a cervejaria de Ribeirão Preto integra o portfólio da Ambev.

Por enquanto, a Silver Hops ainda está realizando os testes de adaptação climática para o cultivo da florzinha, que não tem vida fácil no país. Via de regra, o lúpulo precisa de muita exposição à luz, algo entre dez e 13 horas diárias, como acontece no verão europeu; ao mesmo tempo, gosta das temperaturas mais amenas do hemisfério Norte. A Silver Hops pretende dedicar 1,5 hectare para o cultivo de nove variedades do lúpulo.

"Nosso papel será complementar o trabalho que já está sendo feito com a agricultura familiar, trazendo ainda mais o olhar da pesquisa e da inovação. Com essas duas frentes, poderemos gerar transformações importantes na cadeia de produção cervejeira e no agronegócio responsável brasileiro", afirma José Virgílio Braghetto Neto, responsável pela Silver Hops.

Para Felipe Sommer, coordenador do projeto Fazenda Santa Catarina, da Ambev, o projeto integrado "garante uma produção de lúpulo nacional de altíssima qualidade''. Para Sommer, é fundamental integrar os pequenos produtores no desenvolvimento do lúpulo, incluindo a ampliação e o acesso ao crédito. "O foco é desenvolver e escalar a produção do lúpulo brasileiro com apoio da Fazenda Pratinha, produtores, universidades, Aprolúpulo [Associação Brasileira dos Produtores de Lúpulo] e outros envolvidos", afirma.

OUTRAS INICIATIVAS

Entre outras ações envolvendo o lúpulo brasileiro, tivemos em 2020 também a Braza Hops, uma german pils lançada pela Black Princess, do grupo Petrópolis —com lúpulos que floresceram em plantações de Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro.

Muito antes disso, a Baden Baden, de Campos do Jordão, já havia utilizado a florzinha cultivada na própria região, utilizada também em outras cervejas artesanais nas cercanias da Serra da Mantiqueira, sempre em pequena escala.

Já a Cuesta Cervejaria, de Botucatu, interior de São Paulo, lançou em 2019, em parceria com a Carranca, um pequeno lote de uma hazy IPA feita 100% com ingredientes locais.

Todas as iniciativas no desenvolvimento do lúpulo brasileiro são muito importantes para o mercado, que usa quase 100% do ingrediente importado, principalmente de países como Alemanha, República Tcheca e Estados Unidos. Um lúpulo que cresça com características do terroir brasileiro é fundamental para quem sonha em ver o país como uma nova referência de escola cervejeira no mundo.

Ilona Szabó de Carvalho Em 2022, olhe para o lado, FSP

 Em 2022, olhe para o lado. Olhe nos olhos de quem está ao seu lado. Comece por onde se sente confortável, na sua casa, e em seus círculos mais próximos. Mas vá além. Ande pelas ruas e olhe nos olhos de quem cruza seu caminho nas calçadas. Preste atenção para não perder ninguém –pois pode passar por alguém que está sentado no chão, ou grudado na janela de um ônibus lotado. Reconheça o outro, não o evite. Reconheça-se no outro, seja pelas semelhanças, seja pelas diferenças e privilégios.

Não tenha medo, olhe para o lado. Lembre-se de que muito do que valoriza como central para sua felicidade e bem-estar está relacionado ao bem-estar de outras pessoas. Assim como você, o outro também quer ter os meios para viver dignamente sem passar necessidades. Quer segurança para andar nas ruas sem medo, quer saúde para cuidar dos filhos e para trabalhar, quer ter relações saudáveis e cordiais para além dos muros e grades –algo que só uma educação universal, de qualidade e inclusiva pode brindar.

Homem segura placa usada para pedir esmola nos faróis
Sem moradia, centenas de pessoas vivem em barracas na praça Princesa Isabel, na região central da cidade - Bruno Santos/Folhapress

Se há uma lição da pandemia que não deve ser esquecida, é que somos interdependentes. Portanto, olhe para o lado e inclua preocupações e ações para o bem coletivo dentre suas prioridades. A nossa única saída enquanto sociedade é trazer conosco quem ficou para trás, é exercitar a liberdade no limite do respeito à liberdade do outro, é respeitar o meio ambiente e plantar o que queremos colher –seja a gentileza, a confiança ou a generosidade.

O exercício de olhar para o lado é fundamental para trazer novas perspectivas para as oportunidades e desafios que enfrentamos. Além disso, se perceber na humanidade do outro amplia o nosso mundo, constrói pontes e nos permite questionar dogmas e preconceitos que nos puxam para trás. É certamente uma experiência transformadora. Exercitando esse olhar, deixo aqui alguns desejos do topo da minha lista para 2022:

Que o nosso país seja resgatado das mãos das pessoas que jamais deveriam ter poder, pois nunca entenderão o que é servir e cuidar do interesse público de forma responsável.

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Que os que infligem tamanho sofrimento de forma deliberada sejam responsabilizados por cada uma das mortes evitáveis, pelos danos à saúde física, emocional e mental do nosso povo, por cada sonho e pelo tempo de convívio roubados por suas inações e ações desastrosas e vergonhosas.

Que os que estão saciados marchem pelos que têm fome, com a pressa que a crise humanitária que vivemos demanda.

Que as desigualdades voltem a cair, e que crianças e jovens tenham o direito a um futuro melhor, no qual a mobilidade social se torne uma possibilidade real e alcançável.

Que jovens e adultos não se equivoquem com o péssimo exemplo de quem está hoje no topo da tomada de decisão pública. E que façam as escolhas certas, sem pegar em armas, e sem banalizar o valor da vida.

Que a pandemia atual, e as próximas que possivelmente virão, sejam vencidas pela ciência e pela solidariedade. Que crianças sejam vacinadas e protegidas.

Que a responsabilidade e o bem-estar coletivo vença a conotação equivocada e egoísta de uma liberdade niilista incompatível com a vida em sociedade.

Que o grito de socorro da natureza chegue a cada um de nós. E que a conexão entre pessoas e planeta seja compreendida a tempo de salvaguardá-lo para as próximas gerações.

Que as pessoas percam menos tempo odiando nas redes sociais, e encontrem seu propósito de construção positiva na sociedade.

Que as famílias, os amigos e a sociedade restabeleçam as bases do diálogo, das divergências respeitosas e da tolerância –para que a jornada de consolidação democrática seja resgatada.

E, que ao focar as tarefas, planos e desafios individuais do dia a dia, ninguém se esqueça de olhar para o lado. Feliz 2022!