terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Cristina Serra Curió, Heleno e Bolsonaro, FSP

 Quem é mais velho lembra, quem não lembra basta digitar "Serra Pelada" para encontrar imagens do que um dia foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, nos anos 1980, no sul do Pará. Fotografias de Sebastião Salgado mostram homens cobertos de lama, arqueados sob o peso dos detritos que tiravam das entranhas da terra, na esperança de enriquecer.

Pouquíssimos ficaram ricos com o ouro. A maioria morreu de doenças, tiro, faca ou foi soterrada. No lugar, restou uma imensa cratera e um lago de mercúrio. Esse inferno foi controlado com mão de ferro por um militar do Exército, o Major Curió, que participara da repressão à Guerrilha do Araguaia, nos anos 1970. Em denúncias do Ministério Público Federal, Curió é acusado de tortura e assassinato. Não por acaso, é amigo de quem? Sim, Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro e Sebastião Curió, o Major Curió, durante encontro no Planalto em maio de 2020
O presidente Jair Bolsonaro e Sebastião Curió, o Major Curió, durante encontro no Planalto em maio de 2020 - @chicorodriguesrr no Facebook

Lembrei de tudo isso ao ler a reportagem de Vinicius Sassine, nesta Folha, mostrando a rapidez do ministro da Segurança Institucional, general Augusto Heleno, o decrépito, em autorizar projetos de pesquisa de ouro, em São Gabriel da Cachoeira, no oeste da Amazônia.

Alguns dos empresários beneficiados são infratores ambientais, com histórico de problemas com o Ibama. E é a primeira vez que empresas recebem autorizações para pesquisar ouro nessa região, bem preservada e com várias terras indígenas. O buraco que ficou em Serra Pelada é a metáfora perfeita do Brasil que une na mesma linha do tempo Curió, Bolsonaro e Heleno. Gente, terra, meio ambiente, Amazônia, tudo aniquilado para o proveito de poucos.

Bolsonaro sabe que 2022 será seu último ano no poder, então vai correr para fazer (ou desfazer) tudo que não conseguiu até agora. Movimentos do Executivo e do Congresso andam juntos. A Câmara pode dar um "liberou geral" para as mineradoras se aprovar o novo Código de Mineração. Ficaria faltando o projeto que permite mineração em terras indígenas. Por enquanto, tal vilania encontrou resistência. A sensação é de que o Brasil só sai do lugar se for para dar um passo atrás.

Hélio Schwartsman Língua dos anjos ou dos picaretas?, FSP

 Pessoas merecem respeito, mas só pessoas, não seus pensamentos. Uma ideia tola é tola não importa quem a tenha proferido. E o que dizer da glossolalia, a ideia de que fiéis, particularmente os de denominações pentecostais, podem, por inspiração do Espírito Santo, ganhar a habilidade de falar outros idiomas, naturais (caso em que o fenômeno ganha o nome de xenolalia) ou desconhecidos?

Foto postada por Michelle Bolsonaro para comemorar a aprovação de André Mendonça para o STF
Foto postada por Michelle Bolsonaro para comemorar a aprovação de André Mendonça para o STF - michellebolsonaro no Instagram

A epistemologia pode ser madrasta cruel. Como é virtualmente impossível provar que algo [o Espírito Santo] não existe num domínio tão amplo como o Universo, temos de nos contentar em analisar a plausibilidade do fenômeno. Inicialmente, religiosos acharam que os sons emitidos pelos fiéis eram outras línguas humanas. Há histórias de missionários que partiram para terras longínquas imaginando que conseguiriam miraculosamente se expressar no idioma ali falado. Mas, como mostra Robert Mapes Anderson, eles acabavam voltando, abatidos e desiludidos. Foi ganhando corpo então, entre os crentes, a ideia de que a sequência de balbucios era a própria língua dos anjos.

Talvez, mas também aí aparece uma extravagância incômoda. A análise linguística de centenas de horas de glossolalia, realizada por especialistas tão diversos quanto Christie-Murray, Samarin, Goodman e Kavan, revela que os fiéis invariavelmente superutilizam os sons mais frequentes em sua língua materna e ignoram as variações menos comuns. Teriam os anjos diferentes dialetos?

Samarin foi mais longe e pediu a universitários, que certamente não estavam sob inspiração divina, que inventassem uma língua na hora. O padrão era indistinguível do de fiéis glossolalantes.

O que me deixa mesmo com a pulga atrás da orelha é a questão da oportunidade. Por que Deus, em sua suposta onipotência, teria criado uma marca religiosa que não permite diferenciar um fiel autêntico de um picareta querendo faturar?

Maksoud Plaza, hotel ícone de SP, fecha as portas nesta terça, OESP

 Priscila Mengue, O Estado de S.Paulo

07 de dezembro de 2021 | 09h48

Um dos ícones da hotelaria de São Paulo, o Maksoud Plaza anunciou o encerramento das atividades nesta terça-feira, 7. O espaço — que esteve no auge nos anos 1980 e 1990 e recebeu celebridades nacionais e internacionais, como Frank Sinatra — continuará a existir enquanto marca.

Em crise, o hotel estava em recuperação judicial desde 2020, cuja ação apontava dívida de R$ 81 milhões. Em nota assinada pela administradora (HM Hotéis) e a controladora (Hidroservice Engenharia), o fechamento é atribuído à “crise da covid-19” e ao “plano de reestruturação do Grupo Hidroservice”.

Entrada do icônico Maksoud Plaza, em São Paulo; hotel fechará as portas nesta terça-feira, 7
Entrada do icônico Maksoud Plaza, em São Paulo; hotel fechará as portas nesta terça-feira, 7 Foto: Tiago Queiroz/Estadão - 11/01/2019

O comunicado aponta que novidades e novos empreendimentos serão anunciados “em breve”, sem trazer detalhes. Além disso, não é informado o destino do espaço físico do hotel, localizado na Rua São Carlos do Pinhal, conhecido pela fachada colorida, os elevadores panorâmicos e a vista do centro expandido paulistano.

Na nota, são lembrados os mais de 3 milhões de pessoas que se hospedaram em seus 416 quartos. Segundo o comunicado, clientes com reservas agendadas serão “imediatamente” reembolsados. No local, também havia um centro de eventos, teatro, algumas lojas, restaurante e bares, incluindo o premiado Frank Bar.

O hotel foi uma das principais referências em luxo e hospedagem cinco estrelas no País desde a inauguração, em 1979. Nas primeiras décadas, hospedou nomes conhecidos nacional e internacionalmente, como Margareth Thatcher, integrantes dos Rolling Stones, Ray Charles, Catherine Deneuve e Pedro Almodóvar, dentre outros. Mais recentemente, já não tinha o glamour das primeiras décadas e oferecia hospedagens a preços mais acessíveis à classe média.

Um de seus momentos mais marcantes foi um show de Frank Sinatra, em 1981, no salão nobre do hotel. Outros nomes célebres se apresentaram nos anos seguintes na casa de espetáculos do local, o 150 Night Club, como Tom Jobim, Julio Iglesias, Buddy Guy e Dorival Caymmi, segundo informações do hotel. 

Uma reportagem publicada pelo Estadão em 2020 apontou que o espaço era alvo de uma longa disputa familiar. Em 2011, por causa de uma dívida trabalhista da controladora Hidroservice, o imóvel foi a leilão judicial, no qual foi arrematado por R$ 70 milhões, porém a venda foi questionada posteriormente na Justiça.