Pessoas merecem respeito, mas só pessoas, não seus pensamentos. Uma ideia tola é tola não importa quem a tenha proferido. E o que dizer da glossolalia, a ideia de que fiéis, particularmente os de denominações pentecostais, podem, por inspiração do Espírito Santo, ganhar a habilidade de falar outros idiomas, naturais (caso em que o fenômeno ganha o nome de xenolalia) ou desconhecidos?
A epistemologia pode ser madrasta cruel. Como é virtualmente impossível provar que algo [o Espírito Santo] não existe num domínio tão amplo como o Universo, temos de nos contentar em analisar a plausibilidade do fenômeno. Inicialmente, religiosos acharam que os sons emitidos pelos fiéis eram outras línguas humanas. Há histórias de missionários que partiram para terras longínquas imaginando que conseguiriam miraculosamente se expressar no idioma ali falado. Mas, como mostra Robert Mapes Anderson, eles acabavam voltando, abatidos e desiludidos. Foi ganhando corpo então, entre os crentes, a ideia de que a sequência de balbucios era a própria língua dos anjos.
Talvez, mas também aí aparece uma extravagância incômoda. A análise linguística de centenas de horas de glossolalia, realizada por especialistas tão diversos quanto Christie-Murray, Samarin, Goodman e Kavan, revela que os fiéis invariavelmente superutilizam os sons mais frequentes em sua língua materna e ignoram as variações menos comuns. Teriam os anjos diferentes dialetos?
Samarin foi mais longe e pediu a universitários, que certamente não estavam sob inspiração divina, que inventassem uma língua na hora. O padrão era indistinguível do de fiéis glossolalantes.
O que me deixa mesmo com a pulga atrás da orelha é a questão da oportunidade. Por que Deus, em sua suposta onipotência, teria criado uma marca religiosa que não permite diferenciar um fiel autêntico de um picareta querendo faturar?
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