quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Orçamento secreto é a marca da união Bolsonaro-Centrão, por Sergio Abranches

 O orçamento secreto, paralelo, anônimo, tenha o nome que tiver, é o mais escabroso caso de manipulação política do orçamento em 28 anos. Não se via nada desse tipo desde o escândalo do orçamento, apelidado de caso dos anões do orçamento, em 1993-1994, que terminou em CPI, cassações e prisões. É uma apropriação pessoal do orçamento público. Não tem regra. As chamadas emendas do relator, nascidas como instrumento contábil para fazer ajustes na margem no orçamento, para correção de erros e omissões, se tornaram o principal meio de alocação de recursos orçamentários para parlamentares. São controladas pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em acerto com o relator-geral do orçamento, que ele indica. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) também é parte ativa nesse processo.

A distribuição dos recursos pela via dessas aberrantes emendas do relator já representam mais de 80% do total distribuído por emendas parlamentares. Como elas são distribuídas de forma arbritária por Arthur Lira para premiar lealdades aos projetos que patrocina, criam enorme desigualdade entre parlamentares e entre municípios brasileiros. Uns recebem mais recursos do que esperado, porque são beneficiados por seu deputado. Outros recebem menos do que esperado, porque seu deputado não foi beneficiado.

É uma deformação que fere não apenas os princípios republicanos da impessoalidade, publicidade e probidade, mas atinge a própria democracia, pervertendo as votações de matérias relevantes.

Arthur Lira joga pesado e com desprezo aos ritos da democracia. Ele não hesita em ferir o regimento da Câmara e a Constituição, num jogo bruto para aprovar o que é de seu interesse. Para realizar seus objetivos, atropela a verdade e as regras, enfraquece o Legislativo e assegura a hegemonia do Centrão. O governo Bolsonaro é o primeiro governo do centrão que o país já teve. Por isso é um desastre administrativo e político. Um presidente inepto apoiado por um grupo parlamentar pedratório, cujo único intento é extrair recursos públicos para fins particulares.

Era evidente que essa prática altamente irregular seria judicializada. Foi. A arguição de descumprimento de preceito fundamental foi distribuída para a ministra Rosa Weber, que suspendeu liminarmente essa distribuição irregular de recursos orçamentários. Insatisfeito com a decisão, que atrapalha seus planos em plenário, Arthur Lira decidiu ir ao STF, pressionar e constranger o tribunal. Seguiu-se nova sucessão de agressões aos princípios republicanos.

Reuniões entre chefes de poderes só são adequadas se forem tratar de temas institucionais. Mas, o presidente do STF, Luiz Fux, aceitou uma reunião que não era de natureza institucional, era para discutir uma questão sob julgamento, com apenas uma das partes. O distanciamento do juiz com as partes de uma pendência judicial e a isonomia entre elas no caso de audiências é uma regra de ouro do Judiciário. Ouviu impertinentes pressões contra a liminar da ministra Rosa Weber.

Lira nāo foi defender a separação dos poderes, nem a auonomia o Legislativo. A liminar suspensiva não fere nem uma, nem outra. O presidente da Câmara foi à Suprema Corte constranger ministros e defender um instrumento espúrio, ilegítimo e inconstitucional de poder pessoal.

Ao aceitar a reunião, Fux aceitou a politização do julgamento da ADPF que é muito ruim ao controle de constitucionalidade, que deveria ser exercido guardando distância das partes. Foi uma reunião imprópria, além de ser uma descortesia com a ministra, que tem autonomia e poder para tomar a decisão que tomou.

Os rumores que correm os corredores do poder dizem que um grupo de ministros trama um acordo para manter a emenda de relator com as deformações atuais, porém acatando as exigências que não são da ministra Rosa Weber, mas da Constituição, de transparência e publicidade.

Se o Supremo optar por um acordão, um cambalacho, para manter o orçamento anônimo, estará se acumpliciando com uma violência à Constituição e aceitando o mais fisiológico e deformador expediente de uso político arbitrário do orçamento público para fins particulares. Não basta obedecer aos princípios da transparência e pubicidade. É preciso respeitar os princípios da impessoalidade, da probidade e da distribuição equitativa. E isso a prática não comportaria, ela deixaria de cumprir as funções para as quais foi imaginada por Bolsonaro e seus parceiros políticos, sob o comando de Arthur Lira.

Os argumentos do Legislativo de que a suspensão fere a separação de poderes e investe contra a autonomia do Legislativo ao intervir em uma prerrogativa sua são furados. O orçamento secreto é inconstitucional antidemocratico e antirrepublicano. O Legislativo é que está invadindo atribuições do Executivo, porque ele além de formular as emendas orçamentárias, as excuta diretamente. A execução orçamentária, esta sim, é uma função exclusiva do Executivo. O argumento de que a liminar põe em risco a educação, a saúde e a segurança, presente na defesa oferecida pela Câmara e pelo Senado, é mentiroso e demagógico. O orçamento paralelo em nada contribui para boas políticas públicas nessas áreas.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, apesar de sua formação jurídica, associou-se publicamente a essa prática antirrepublicana, da qual senadores também podem se beneficiar. Ele concorda com a adoção do orçamento secreto e seus argumentos são falaciosos. Ele confunde, deliberadamente, o orçamento paralelo representado pelo inchaço das emendas de relator, com o orçamento geral. Adere, portanto à mentira demagógica apresentada ao STF pelo Congresso, dizendo que a suspensão prejudicaria a saúde e a educação. Disse, ainda, que não há falta de transparência, que é facílimo identificar as aplicações. Até os gatos noturnos que vagam abandonados por seus donos pelas quadras de Brasília sabem que isto não é verdade sobre as alocações feitas pelas emendas de relator. Se é tão fácil assim, Pacheco deveria dar publicidade a elas de imediato, para provar esse ponto.

Pacheco também considera uma interferência indevida do Judiciário no Legislativo. Não é. Há inconstitucionalidade e, por haver, a questão se abre ao controle jurisdicional de constitucionalidade, mais que atribuição do STF, uma obrigação. Ele foi provocado por parlamentares, portanto, membros do próprio Congresso se insurgiram contra tais práticas e decidiram solicitar ao Supremo Tribunal que faça a análise de constitucionalidade. Tudo de acordo com as regras do estado democrático e da divisão republicana de poderes.

O voto da ministra Rosa Weber é muito bem fundamentado e muito correto, inclusive do ponto de vista da teoria política do estado democrático. Quem se colocar contra ele estará votando contra os princípios constitucionais da impessoalidade, publicidade, transparência e moralidade pública. Estará violando todos os modelos cabíveis numa demoracia de distribuição legítima de recursos públicos constantes do orçamento.

O orçamento secreto é a invençāo mais espúria e que mais danos causa à qualidade das instituições democráticas e à boa gestão dos recursos públicos, desde a moralização das práticas orçamentárias após o escândalo dos anos 1993-1994. É uma deformação institucional que representa um significativo retrocesso institucional na gestão pública. Arrasa com a qualidade técnica das políticas públicas, aumenta a desigualdade, piora a qualidade do gasto públoco e da própria democracia, além de ser enorme incentivo à corrupção política.

Ainda Thiago de Mello, Por Darly Viganó do site da APMP

 Causou-me agradável surpresa saber que Thiago de Mello, o grande poeta amazonense, foi companheiro de exílio, no Velho Mundo, de querido amigo meu com quem contacto frequentemente e que, até há alguns anos, colaborava com a imprensa local por meio de apreciados artigos em que discutia, de forma inteligente, muitos dos problemas brasileiros. Sendo também pessoa de escolaridade superior, sensível aos grandes desafios da modernidade, imagino como terão sido as conversas dos dois, embalados pelos mesmos ideais e envolvidos, penso, pela angustiante saudade da pátria distante. Confesso, veja o leitor quão intensa foi minha surpresa, que até mesmo senti um tanto de inveja daquele amigo médico por haver convivido, ainda que em circunstâncias adversas, com o notável poeta amazonense. O que não sei e nem me dei ao trabalho de pesquisar é se, naqueles sombrios tempos, já tinha ele composto o monumental poema “Os Estatutos do Homem”. Estou convencido, contudo, de que alguma produção poética há de haver sido, então, produzida por ele. É que o poeta sempre consegue ver, mesmo nas situações mais embaraçosas, alguns ângulos que podem ser revestidos por palavras que sensibilizem os leitores, despertando-lhes vivas emoções. Guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorre com bons fotógrafos, que tanto conseguem dar o “click” no melhor momento de alguma cena vivida, quanto buscar, em paisagens anódinas, o melhor ângulo de enquadramento, de forma a surpreender positivamente os que veem suas produções. “Como é que eu não pensei nisso antes”, muitas vezes eu próprio me perguntei. Certa vez, nos meus distantes tempos de professor de Língua Pátria, um aplicado aluno perguntou-me sobre se era possível alguém aprender a ser poeta. Respondi-lhe que se pode, sim, estudar muita coisa sobre versos, desde os simples heptassílabos de ingênuas quadrinhas, até preciosos alexandrinos de sofisticadas composições, como também os diversos gêneros poéticos, o épico, o lírico, o satírico e outros, e ainda saber distinguir rimas pobres de rimas ricas. E até mesmo, conhecendo técnicas de versificação, compor poesia, razoavelmente boa e correta do ponto de vista formal, sobre um tema qualquer. Eu mesmo fiz isso em meus tempos de jovem apaixonado. Contudo, nem assim alguém se torna verdadeiramente “poeta”. É que a sensibilidade de ver a beleza das coisas não pode ser ensinada, como também não tem como ser apreendida a capacidade de colocar, nos versos, a beleza vernacular que desperta emoções no leitor. Essas são habilidades inatas dos verdadeiros poetas, como é o caso de nosso Thiago de Mello. Com efeito, basta recordar os últimos artigos de seu notável “Os Estatutos do Homem” para se compreender o que estou dizendo: Artigo XII: Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa será proibida: amar sem amor. Artigo XIII: Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou. Artigo Final: Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração. Você também sentiu arrepios pelo corpo, amigo leitor?

 Darly Viganó darly.vigano@gmail.com

terça-feira, 9 de novembro de 2021

Shopping quer cuidar da saúde mental, FSP

 Daniele Madureira

BRASÍLIA

​Se no passado de consumo aquecido muita gente já foi ao shopping tentar curar a ansiedade fazendo compras, hoje, em tempos de burnout e renda em queda, o shopping quer mostrar que também pode ser a solução.

A Multiplan, uma das maiores administradoras de shopping centers do país, anuncia na próxima quinta-feira (11) a bandeira MultiSer, o primeiro "Centro de Gestão da Emoção" do mundo dentro de um shopping center, segundo a empresa. Foram investidos R$ 4 milhões no projeto instalado no Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto (SP), que será gerido pela Dreamsellers, do psiquiatra e escritor Augusto Cury.

O empreendimento de psicoterapia soma 500 m² e reúne nove salas de atendimento, uma sala interativa com 70 lugares para cursos (tanto gratuitos quanto pagos), mezanino e uma praça de convivência.

Segundo o presidente e fundador da Multiplan, José Isaac Peres, a ideia é oferecer atendimento a preços módicos. "Cada consulta deve girar em torno de R$ 100", disse o empresário à Folha. "Queremos desmistificar a ideia de que uma consulta com um psicólogo é algo caro, coisa para rico", afirma.

recepção de clínica médica com sofás amarelos e mini árvore
Multiplan anuncia o espaço MultiSer, o primeiro “Centro de Gestão da Emoção”, no Ribeirão Shopping; bandeira pode ser replicada em outros shoppings do grupo - divulgação

O espaço vai contar com uma equipe de 16 psicólogos para atendimento clínico, uma psicóloga gerente do projeto, um diretor e o embaixador do projeto, Augusto Cury, que desenvolveu a ideia junto com Isaac Peres. A proposta é ouvir os pacientes sobre temas como medo, ansiedade, luto, tristeza e sofrimento emocional.

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"As pessoas estão fragilizadas, queremos tratar a alma humana", diz Isaac Peres, que afirma já ter feito anos de terapia e que, agora, conversa com uma terapeuta a cada 15 dias, sobre os mais diferentes assuntos. "Neste mundo de negócios, existem muitos problemas e conflitos que não se resolvem com dinheiro, é preciso inteligência emocional", afirma o empresário.

Questionado sobre o quanto um serviço do shopping pode oferecer apoio psicológico a uma população que está endividada, muitas vezes por gastar mais do que ganha, Isaac Peres afirma que a compulsão por compras pode ser, sim, um sinal de depressão. "As pessoas precisam aprender que o cartão de crédito é algo secundário, o que importa mesmo é gerenciar as próprias emoções".

O nível de famílias endividadas nunca esteve tão alto: 74%, segundo a última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), referente a setembro. Segundo a entidade, o brasileiro está usando cada vez mais crédito para compor renda. Ou seja: o que ele não consegue comprar com o que ganha, compra com o cartão de crédito ou empréstimos e vai girando a dívida.

A incursão da Multiplan na área da saúde não é nova. A empresa já lançou em 1994 um complexo de clínicas dentro do Barra Shopping, no Rio. Hoje, o Centro Médico carioca atende cerca de 300 mil pessoas por mês, segundo Isaac Peres. "Na época, pensei que fosse interessante unir uma atividade de prazer – o passeio no shopping – a algo que lembrava dor – uma consulta médica", diz ele.

Hoje, os Centro Médicos I e II do BarraShopping possuem mais de 11 mil m² de área construída, 150 consultórios de médicos e especialistas, entre cardiologistas, dermatologistas, angiologistas, neurologistas, dentistas, oftalmologistas e ginecologistas. Ao todo são 50 clínicas, incluindo laboratórios com diagnóstico por imagem e emergência pediátrica.

Em 2017, a Multiplan inaugurou o Centro Médico também no Ribeirão Shopping. O quarto Centro Médico da companhia será desenvolvido no ParkShopping Barigüi, em Curitiba (PR), que ganhará um terceiro andar com uma nova expansão.