terça-feira, 9 de novembro de 2021

Ricardo Nunes exonera secretário que decidiu apoiar Eduardo Leite contra Doria nas prévias do PSDB, FSP

 Horas após anunciar apoio a Eduardo Leite nas prévias do PSDB, o secretário de Habitação de SP, Orlando Faria, reuniu-se com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e foi exonerado.

Aliados de João Doria (PSDB), principal adversário do governador do RS, revoltaram-se com Faria e reclamaram com Nunes. O apoio de Faria, braço direito de Bruno Covas, é um trunfo simbólico que Leite buscava, devido à proximidade do ex-prefeito com Doria. A saída será publicada como "a pedido".

Tucanos próximos a Faria relatam que a formulação da saída, a pedido, tem como objetivo preservar o prefeito. Como as críticas do secretário são a Doria, ele não teria visto problema.

Os aliados de Nunes, por sua vez, dizem que ele se incomodou com a reunião de Faria com Leite nesta segunda-feira por ter sido em dia de trabalho, mas que ele não pretendia exonerá-lo. A decisão, segundo eles, foi toda de Faria.

O argumento contra Faria de apoiadores de Doria é o de que ele comandava pasta que recebe muitos recursos do governo de SP e, por isso, não poderia apoiar tão abertamente um concorrente do governador.

Além disso, cobraram de Faria que tivesse comportamento similar ao de outros secretários municipais, que votarão em Leite, mas não estão manifestando apoio publicamente.

Orlando Faria (esq.), Xexeu Tripoli, Eduardo Leite e Aurélio Nomura durante encontro nesta segunda-feira (8)
Orlando Faria (esq.), Xexeu Tripoli, Eduardo Leite e Aurélio Nomura durante encontro nesta segunda-feira (8) - Arquivo pessoal

Faria é influente no PSDB do interior de São Paulo e organizou um encontro para receber o governador do Rio Grande do Sul no sábado (6), em São João da Boa Vista.

Leite vem buscando o apoio dos brunocovistas para ter um trunfo simbólico sobre seu principal adversário nas prévias.

Bruno Covas foi vice de Doria durante na Prefeitura de São Paulo e tornou-se o titular quando o então prefeito decidiu deixar o cargo e concorrer ao governo do estado.

Nas contas do governador gaúcho, o sucesso nessa articulação teria duplo impacto: por um lado, ele receberia o apoio do grupo de um dos principais aliados que o governador de SP fez na política. Por outro, ficaria associado a um sobrenome potente na história tucana.

O gaúcho tem sido exaltado por tucanos por valorizar figuras históricas do partido, em contraponto a Doria, que entrou em atrito com alguns deles, como Alberto Goldman e Geraldo Alckmin.

A recuperação das tradições do PSDB era uma das bandeiras de Bruno e de seus aliados, vertente que em alguns momentos se chocou com a de Doria, de reconfiguração do partido.


JUCA FERREIRA Cultura é chave e porta para o país, FSP

 Atravessamos uma crise política e institucional sem precedentes, marcada por retrocessos civilizacionais, ameaças autoritárias e investidas do ultraneoliberalismo sobre conquistas sociais, riquezas naturais e ativos econômicos do povo brasileiro. Dramas como as tragédias ambientais, a fome, o desemprego, a distopia e o pessimismo colocam em dúvida nossa capacidade de sobreviver como nação livre e soberana.

Diante de um impasse dessa proporção, setores progressistas da sociedade reconhecem a urgência de pensar e propor caminhos para a reconstrução e aprimoramento da democracia brasileira como base para uma ação política que responda às nossas grandes necessidades humanas, sociais, econômicas, políticas e culturais.

O sociólogo e ex-ministro da Cultura Juca Ferreira - Danilo Verpa - 24.fev.16/Folhapress

As soluções para tantos problemas devem ultrapassar as disputas políticas e econômicas imediatas porque demandam reflexão, conhecimento e elaboração. A construção de alternativas para uma sociedade justa e igualitária passa pela cultura, pois precisamos enfrentar chagas históricas, como as perversões escravagistas e a herança colonial que ainda nos definem e nos limitam.

A cultura é argamassa da coesão nacional; é espaço que abriga e processa as identidades culturais regionais, étnicas, etárias, de gênero e quantas houver; é espaço de comunicação e de ressignificação de visões sobre a vida coletiva. É uma chave para a emancipação e porta para o século 21, abrindo oportunidades de inserção soberana do Brasil no mundo.

Precisamos olhar sim para nossa valiosa bagagem histórica, como a Semana de Arte Moderna de 1922
—às vésperas do seu centenário—, e para o nosso processo cultural, particularmente para a experiência criativa das artes, as políticas de Getúlio Vargas e a trajetória desde o fim da ditadura militar.

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Mas, de forma mais ampla, precisamos refletir sobre a guerra cultural, arma de um projeto global antidemocrático e antipopular da extrema-direita, que promove a corrosão da vida civilizada, da democracia e das ideias de justiça e igualdade no Brasil e no mundo.

É para isso que estão reunidos, desde segunda-feira (8), grandes nomes da cultura, política e sociedade civil nos Seminários Cultura e Democracia. Entre eles, o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil; o sociólogo e escritor italiano Domenico De Masi; a ministra da Cultura da Bolívia e líder indígena, Sabina Orellana; o economista Luiz Gonzaga Belluzzo; a filósofa Marilena Chauí; o representante da Fundação Friedrich Ebert, Christoph Heuser; o presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Renato Janine Ribeiro; a poeta mexicana e representante dos povos indígenas na ONU, Irma Pineda; o professor universitário Muniz Sodré; e muitos outros pensadores, ativistas, pesquisadores e estudiosos nacionais e internacionais.

É hora de acolher colaborações de todo o universo intelectual, político e cultural da sociedade brasileira. Promover um diálogo com enfrentamento de ideias e, ao mesmo tempo, reconhecer territórios comuns que sedimentem uma base coesa, em torno da democracia, capaz de ajudar o país a se reencontrar e a superar a distopia.

Camelô da democracia vende lado a lado camisetas pró-Lula e pró-Bolsonaro, Álvaro Costa e Silva, FSP

 Com a mudança da capital para Brasília, as águias no alto do Palácio do Catete —que desde 1897 tinham convivido com 19 presidentes e ouvido o tiro que matou Getúlio em 1954— dedicaram-se a acompanhar a transformação do bairro.

As pensões de estudantes desapareceram. Numa delas foram vizinhos de quarto dois artistas da palavra que escreveram o melhor português do Brasil no século 20: Graciliano Ramos e Rubem Braga. O comércio nos sobrados, que abrigavam de quitandas a bancos, de casa de móveis a armarinhos, de vidrarias a modistas, decaiu até ser substituído pela feira dos camelôs e ambulantes. Restaram alguns hotéis e botecos escondidos.

A pá de cal foi a construção do metrô, que arrasou o lado ímpar da rua, só desviando para preservar o palácio. Apesar da decadência no entorno, quem passa em frente ao prédio de estilo neoclássico ainda sente um ar carregado de importância, um clima de poder. Foi ali que se instalou em setembro a Barraca da Democracia, que segue um padrão de negócio estabelecido nos dias de clássico no Maracanã, com bandeiras do Botafogo, Flamengo, Fluminense ou Vasco tremulando juntas em saudável rivalidade.

Camisetas de políticos expostas em uma barraca de rua
Em frente ao Palácio do Catete, a barraca com as camisetas dos presidenciáveis Bolsonaro, Lula, Doria e Ciro - Lucas Prata Fortes
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Responsável pela transação informal, "seu" Gibi exibe lado a lado camisetas pró-Lula e pró-Bolsonaro, ao preço de R$ 30 cada uma. "As duas vendem bem", garante. Adepto da pluralidade e atento às pesquisas, ele resolveu ampliar a oferta usando a imagem de outros candidatos, como Ciro Gomes e João Doria, mesmo correndo o risco de encalhe. E avisou num cartaz: "Sem K.O. por favor", referindo-se à gíria caô, que quer dizer confusão, problema ou mentira, papo furado.

Um dia em que "seu" Gibi faltou ao serviço surgiu a suspeita de que ele poderia ter sido vítima de um ataque miliciano. Felizmente era boato. A razão do sumiço foi a trabalheira em vão para encontrar santinhos de todos os políticos —mais de 11— que se já lançaram pela terceira via.