Com a mudança da capital para Brasília, as águias no alto do Palácio do Catete —que desde 1897 tinham convivido com 19 presidentes e ouvido o tiro que matou Getúlio em 1954— dedicaram-se a acompanhar a transformação do bairro.
As pensões de estudantes desapareceram. Numa delas foram vizinhos de quarto dois artistas da palavra que escreveram o melhor português do Brasil no século 20: Graciliano Ramos e Rubem Braga. O comércio nos sobrados, que abrigavam de quitandas a bancos, de casa de móveis a armarinhos, de vidrarias a modistas, decaiu até ser substituído pela feira dos camelôs e ambulantes. Restaram alguns hotéis e botecos escondidos.
A pá de cal foi a construção do metrô, que arrasou o lado ímpar da rua, só desviando para preservar o palácio. Apesar da decadência no entorno, quem passa em frente ao prédio de estilo neoclássico ainda sente um ar carregado de importância, um clima de poder. Foi ali que se instalou em setembro a Barraca da Democracia, que segue um padrão de negócio estabelecido nos dias de clássico no Maracanã, com bandeiras do Botafogo, Flamengo, Fluminense ou Vasco tremulando juntas em saudável rivalidade.
Responsável pela transação informal, "seu" Gibi exibe lado a lado camisetas pró-Lula e pró-Bolsonaro, ao preço de R$ 30 cada uma. "As duas vendem bem", garante. Adepto da pluralidade e atento às pesquisas, ele resolveu ampliar a oferta usando a imagem de outros candidatos, como Ciro Gomes e João Doria, mesmo correndo o risco de encalhe. E avisou num cartaz: "Sem K.O. por favor", referindo-se à gíria caô, que quer dizer confusão, problema ou mentira, papo furado.
Um dia em que "seu" Gibi faltou ao serviço surgiu a suspeita de que ele poderia ter sido vítima de um ataque miliciano. Felizmente era boato. A razão do sumiço foi a trabalheira em vão para encontrar santinhos de todos os políticos —mais de 11— que se já lançaram pela terceira via.
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