domingo, 3 de outubro de 2021

Pandemia traz renovação de restaurantes, Hélio Schwartsman, FSP

 De volta às corridas pela Vila Madalena depois de um ano e meio em que passei a maior parte do tempo no sítio, impressionou-me o número de restaurantes que fecharam as portas na pandemia.

Impressionou-me, também, o número de restaurantes que foram abertos. Na área relativamente restrita por que circulo, contei um indonésio, um vietnamita, uma moquecaria (capixaba), um indiano, uma charcutaria “autoral” alemã e uma queijo-quentaria, para ficar só nos mais exóticos.

Desenho de um garçom ambando sobre uma corda bamba com a bandeja na mão
Annette Schwartsman

Imagino que o saldo líquido seja negativo. Estamos, afinal, numa situação de fortes restrições para o setor, não numa de exuberância de mercado. Pelo que li na imprensa, o índice de mortalidade de bares e restaurantes em São Paulo na pandemia deve ficar entre os 20% e os 30%. Não tenho dados sobre a taxa de reposição, mas ela não é desprezível, ou eu não teria notado tantas novidades.

Fiquei tentando lembrar onde eu lera algo sobre essa “dialética” dos restaurantes e, puxando pela memória, me veio o polêmico Nassim Taleb. Em “Antifrágil”, ele explica por que restaurantes são frágeis. Eles competem uns com os outros, trabalham com margens apertadas e estão muitas vezes à beira da falência —se aparece uma pandemia de vírus respiratório então... E é justamente o fato de cada negócio individual ser frágil que faz com que o coletivo dos restaurantes seja robusto.

Mesmo que um asteroide culinário caísse sobre a Vila Madalena, destruindo todos os restaurantes, em breve eles ressurgiriam, porque existe a demanda e porque alguns empreendedores, desafiando todos os cálculos racionais, isto é, superestimando suas próprias habilidades e menosprezando os riscos, se jogam na aventura.

É o que Keynes chamou de “animal spirits”, o triunfo do otimismo espontâneo sobre as expectativas matemáticas. Não deixa de ser irônico que o sucesso da economia de mercado dependa de uma espécie de delírio de grandeza dos agentes.

Embraer fecha a maior encomenda do ‘carro voador’ para o Brasil, R7

 


Embraer deve entregar até 100 unidades para a Avantto

Embraer deve entregar até 100 unidades para a Avantto

DIVULGAÇÃO EMBRAER

A Embraer recebeu sua maior encomenda de eVTOLs (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamado oficialmente o “carro voador”) para o mercado brasileiro.

A fabricante de aviões deve entregar, a partir de 2026, até 100 unidades para a empresa de compartilhamento de aeronaves Avantto.

Antes desse acordo, a Embraer havia anunciado que a Helisul (de táxi aéreo) fez um pedido inicial de 50 veículos e que a Flapper (plataforma de aviação executiva) fechou contrato para operar até 25 unidades.

O valor dos negócios não foi divulgado.

Ainda longe de ter a tecnologia completamente desenvolvida e certificada pelas autoridades reguladoras, a Embraer - por meio de sua subsidiária Eve - já recebeu pedidos para entregar 735 eVTOLs em todo o mundo, além de ter criado seis parcerias para desenvolver a infraestrutura que será necessária para os “carros voadores” operarem.

Segundo o diretor executivo da Avantto, Rogerio Andrade, os eVTOLs encomendados deverão atender a toda a América Latina, mas é esperada uma demanda maior no Rio de Janeiro e, principalmente em São Paulo.

A própria Embraer estima, de modo “conservador”, que o mercado paulistano terá 500 aeronaves do modelo até 2035.

Apesar de hoje atuar na venda e na operação de aeronaves compartilhadas, a Avantto pretende trabalhar com o eVTOL como táxi aéreo. Ainda de acordo com Andrade, o preço das viagens deve diminuir conforme a empresa ganhar escala até chegar ao patamar próximo de uma corrida realizada por um Uber Black (serviço premium da Uber).

Para alcançar esse nível de preço, no entanto, será preciso que o eVTOL seja autônomo, ou seja, voe sem piloto, o que deve ocorrer em uma fase mais adiante.

O presidente da Eve, Andre Stein, afirma que preços mais acessíveis ao consumidor serão possíveis porque o custo de operação do “carro voador” deverá equivaler a 10% do de um helicóptero. “O eVTOL é um veículo que reduz gasto com combustível e manutenção, além de ser autônomo no longo prazo.”

A Avantto também deve participar do desenvolvimento da infraestrutura que receberá os pousos e decolagens dos “carros voadores”. Um dos investidores da companhia é a Rio Bravo, gestora de recursos que também tem investimentos no setor imobiliário e que poderá ajudar na definição de prédios que servirão como terminais de embarque de passageiros.

A encomenda da Avantto coloca a Eve entra as empresas de eVTOLs com mais pedidos até agora. A companhia brasileira perde apenas para a inglesa Vertical, que já anunciou ter recebido pedidos para entregar 1.350 aeronaves.

No total, os contratos da Vertical somam US$ 5,4 bilhões e foram fechados com empresas como American Airlines e Virgin Atlantic. A Vertical tem mais vantagem: promete entregar suas primeiras unidades em 2024.

A Embraer sempre foi cética em relação a prazos mais apertados por considerar que o processo de certificação não será rápido. Segundo o executivo, a companhia está adiantada em suas pesquisas quando se considera o prazo estabelecido para a entrega de suas primeiras unidades, 2026.

“Estamos avançados no desenvolvimento do software que vai na aeronave e voando em modelos de várias escalas. A expectativa é voar neste ano ainda um modelo 1:1.” Essa aeronave de teste deverá ser pilotada remotamente, explica Stein.

Tecnologia. O “carro voador”, aeronave que vem sendo desenvolvida por dezenas de empresas em todo o mundo, não se assemelha ao usado pelos personagens do desenho Jetsons. O veículo está mais para um helicóptero, e seu uso será compartilhado - você não terá um eVTOL próprio. Mesmo assim, a tecnologia não deixa de ser revolucionária.

Uma das principais diferenças entre o eVTOL e helicópteros ou aviões é que ele será elétrico. Sem usar combustível de aviação, o impacto ambiental e o custo para operá-lo são reduzidos.

As aeronaves também estão sendo criadas para ser menos complexas que os helicópteros e, elétricas, demandarão menos manutenção, o que as torna mais baratas.

Dono do shopping Center Norte vai investir R$ 1,2 bi para criar bairro planejado em SP, FSP

 Ana Luiza Tieghi

SÃO PAULO

O grupo Baumgart, detentor da Expo Center Norte, dos shoppings Center Norte e Lar Center e da marca de impermeabilizante Vedacit, vai transformar o terreno de 600 mil metros quadrados no qual ficam seus empreendimentos, na zona norte de São Paulo, em um bairro planejado.

Com investimento inicial de R$ 1,2 bilhão, a região vai ganhar um hospital, edifícios residenciais, escritórios e um complexo para shows e eventos esportivos feito em parceria com a WTorre Entretenimento, que administra o Allianz Parque.

“Hoje nós ocupamos um terço desse terreno. É uma área onde conseguimos ver muita oportunidade de crescimento”, diz Flavio Fernandes, diretor-executivo da Cidade Center Norte, que abrange os shoppings, o espaço de eventos e também um hotel.

O shopping Center Norte e o centro de eventos serão expandidos, em obras que devem começar no primeiro semestre de 2022 e incluem a construção de um edifício garagem, para reduzir a área ocupada pelo estacionamento do espaço de compras.

Segundo Fernandes, a ideia é utilizar melhor a área já existente na região e integrar as estruturas do grupo. Também está prevista uma conexão com o terminal rodoviário do Tietê –que também tem uma estação de metrô–, o maior do país.

“Vai ter áreas verdes, fachadas ativas, passeios largos. Queremos que seja um lugar amigável para ciclistas, pedestres, que as pessoas possam ir em restaurante e depois no centro de entretenimento ver um show, então passar em uma loja, caminhar no entorno” diz Fernandes.

Claudio Macedo, diretor-executivo da WTorre Entretenimento, conta que a empresa vinha procurando há dois anos um espaço para criar uma nova arena multiuso indoor na capital paulista, que recebesse tanto shows quanto esportes. “Sentimos que São Paulo tem carência desse tipo de espaço”, afirma.

O complexo será desenhado primordialmente para shows, com um lugar delimitado para o palco, e poderá ser convertido em ginásio para esportes como basquete, UFC e hóquei e patinação no gelo.

O local poderá receber até 18 mil pessoas nos eventos esportivos e 25 mil durante os shows.

A WTorre planeja ainda um boulevard em torno do empreendimento, com lojas e restaurantes. “Há planos para ter um hotel também e possivelmente salas de cinema”, diz Macedo.

Ele afirma que os restaurantes do espaço serão temáticos, e que as lojas deverão ser do tipo “flagships”, lojas-conceito, para não concorrer diretamente com a oferta do shopping Center Norte.

A previsão da WTorre é começar as obras no próximo ano e terminá-las até 2024.

Também para 2024 está prevista a entrega do hospital, para o qual Fernandes afirma estarem próximos de fechar com um parceiro, de um residencial para idosos e de parte dos empreendimentos residenciais e de escritórios. O restante do bairro deve ficar pronto em um prazo de 10 a 15 anos.

Por causa da adoção de home office na pandemia, o executivo afirma que a quantidade de salas comerciais e de apartamentos foi revisada, para aumentar a participação das residências nesse total. “Muito provavelmente teremos mais residenciais e uma pequena redução no comercial”, diz.

Ainda não foram divulgados mais detalhes sobre a quantidade de apartamentos e suas características. Os lançamentos devem começar em 2022.

As atividades que a expansão da Cidade Center Norte vai explorar —compras, eventos e restaurantes— foram fortemente afetadas pela pandemia, mas os executivos afirmam que a retomada nesses setores já começou e que o consumidor não vai deixar de frequentar esses locais depois que a Covid-19 estiver sob controle.

Segundo Fernandes, o movimento do shopping Center Norte já é similar ao de 2019 e o espaço de eventos já está com quase todas as datas ocupadas para 2022.

O mesmo ocorre no Allianz Parque, diz Macedo. “Temos mais de 80 reservas de datas para 2022, fora futebol. Há uma demanda reprimida muito grande, tanto de remarcação quanto de novos eventos”, diz.

A arena poderá voltar a receber o público para jogos a partir de segunda-feira (4).