sábado, 2 de outubro de 2021

Dono do shopping Center Norte vai investir R$ 1,2 bi para criar bairro planejado em SP, FSP

 

SÃO PAULO

O grupo Baumgart, detentor da Expo Center Norte, dos shoppings Center Norte e Lar Center e da marca de impermeabilizante Vedacit, vai transformar o terreno de 600 mil metros quadrados no qual ficam seus empreendimentos, na zona norte de São Paulo, em um bairro planejado.

Com investimento inicial de R$ 1,2 bilhão, a região vai ganhar um hospital, edifícios residenciais, escritórios e um complexo para shows e eventos esportivos feito em parceria com a WTorre Entretenimento, que administra o Allianz Parque.

“Hoje nós ocupamos um terço desse terreno. É uma área onde conseguimos ver muita oportunidade de crescimento”, diz Flavio Fernandes, diretor-executivo da Cidade Center Norte, que abrange os shoppings, o espaço de eventos e também um hotel.

O shopping Center Norte e o centro de eventos serão expandidos, em obras que devem começar no primeiro semestre de 2022 e incluem a construção de um edifício garagem, para reduzir a área ocupada pelo estacionamento do espaço de compras.

Segundo Fernandes, a ideia é utilizar melhor a área já existente na região e integrar as estruturas do grupo. Também está prevista uma conexão com o terminal rodoviário do Tietê –que também tem uma estação de metrô–, o maior do país.

“Vai ter áreas verdes, fachadas ativas, passeios largos. Queremos que seja um lugar amigável para ciclistas, pedestres, que as pessoas possam ir em restaurante e depois no centro de entretenimento ver um show, então passar em uma loja, caminhar no entorno” diz Fernandes.

Claudio Macedo, diretor-executivo da WTorre Entretenimento, conta que a empresa vinha procurando há dois anos um espaço para criar uma nova arena multiuso indoor na capital paulista, que recebesse tanto shows quanto esportes. “Sentimos que São Paulo tem carência desse tipo de espaço”, afirma.

O complexo será desenhado primordialmente para shows, com um lugar delimitado para o palco, e poderá ser convertido em ginásio para esportes como basquete, UFC e hóquei e patinação no gelo.

O local poderá receber até 18 mil pessoas nos eventos esportivos e 25 mil durante os shows.

A WTorre planeja ainda um boulevard em torno do empreendimento, com lojas e restaurantes. “Há planos para ter um hotel também e possivelmente salas de cinema”, diz Macedo.

Ele afirma que os restaurantes do espaço serão temáticos, e que as lojas deverão ser do tipo “flagships”, lojas-conceito, para não concorrer diretamente com a oferta do shopping Center Norte.

A previsão da WTorre é começar as obras no próximo ano e terminá-las até 2024.

Também para 2024 está prevista a entrega do hospital, para o qual Fernandes afirma estarem próximos de fechar com um parceiro, de um residencial para idosos e de parte dos empreendimentos residenciais e de escritórios. O restante do bairro deve ficar pronto em um prazo de 10 a 15 anos.

Por causa da adoção de home office na pandemia, o executivo afirma que a quantidade de salas comerciais e de apartamentos foi revisada, para aumentar a participação das residências nesse total. “Muito provavelmente teremos mais residenciais e uma pequena redução no comercial”, diz.

Ainda não foram divulgados mais detalhes sobre a quantidade de apartamentos e suas características. Os lançamentos devem começar em 2022.

As atividades que a expansão da Cidade Center Norte vai explorar —compras, eventos e restaurantes— foram fortemente afetadas pela pandemia, mas os executivos afirmam que a retomada nesses setores já começou e que o consumidor não vai deixar de frequentar esses locais depois que a Covid-19 estiver sob controle.

Segundo Fernandes, o movimento do shopping Center Norte já é similar ao de 2019 e o espaço de eventos já está com quase todas as datas ocupadas para 2022.

O mesmo ocorre no Allianz Parque, diz Macedo. “Temos mais de 80 reservas de datas para 2022, fora futebol. Há uma demanda reprimida muito grande, tanto de remarcação quanto de novos eventos”, diz.

A arena poderá voltar a receber o público para jogos a partir de segunda-feira (4).


Carta a Thiago Amparo,\fsp

 Tom Farias

Jornalista e escritor, é autor da biografia "Cruz e Sousa: Dante Negro do Brasil" e do romance "O Crime do Rio Vermelho", entre outros livros

Meu caro Thiago, polêmica atrai polêmica. Mas como deixar sem respostas questões que nos causam tanta “ânsia de vômito”? Eu vomitei de verdade, acredite, Thiago. Foi insuportável guardar tudo o que li dentro de mim. Expeli uma bílis amarelada, asquerosa. Penso que havia um pouco de Leandro Narloch nela, um pouco de Antônio Risério também.

Por ser negro e escrever em jornal, sinto-me obrigado a dar também algumas respostas. Você sabe. É corriqueiro da branquitude mostrar que é dona do Sol. O Sol nasceu, primeiro, num continente chamado África, de onde vieram a astrologia, a medicina e a filosofia.

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'Homens Escravizados Cavando Trincheiras', de autoria anônima, c. 1850 - Rijksmuseum/Divulgação


Narloch, no artigo da Folha, parece pedir aos negros, hoje na base da base da pirâmide social, certa piedade pelas mulheres “brancas empobrecidas, envoltas num manto de má qualidade”, ao passo que as negras aparecem no cenário colonial “altamente ornadas de ouro e rendas”. Ora, ora. Quem é racista nessa história: os sinhozinhos Narloch e Risério ou a própria Folha, fundada 33 anos após a Abolição?

Ambos parecem ignorar a existência da escravidão, mesmo que nos portos brasileiros tenham aportado cerca de 5 milhões de negros e negras. É preciso dizer a esses senhores, com base na história, que parcela considerável virou comida de tubarão, em pleno oceano.

Nós sabemos, afinal, quem está coberto pelo “manto de má qualidade”. Senhores, percam um tempinho e olhem índices sociais: na educação, na saúde, na cadeia de comando. Deem-se ao trabalho de espiar as ruas de São Paulo e Rio de Janeiro. Por favor, façam isso, uma única vez na vida.

Caro Thiago, que admiro embora pessoalmente não conheça, essa turma não acompanha redes sociais e imprensa? Lá debatemos da eugenia de Monteiro Lobato à morte do Beto no Carrefour de Porto Alegre.

E o que dizer de “Abecê da Liberdade: a história de Luiz Gama, o menino que quebrou correntes com palavras”, da Companhia das Letras, ilustrado por Edu Oliveira, escrito pela dupla José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta, parceiros em muitos livros?

O que é aquilo, meu irmão? O livro é um acinte à dignidade de negros e negras caros à sua ancestralidade.

A narrativa de Torero e Pimenta é ofensiva à sociedade. É enganadora. Zomba do crime que é a escravidão. Para os três autores, homens brancos, crianças negras brincam em navio negreiro de “pega-pega”, de “esconde-esconde” e, ainda, “pulando... correntes”.

Não há ingenuidade nisso. Há deboche. Há racismo. Há crime. Há o escárnio que minimiza estatísticas que mostram que 56% da população que se declara preta e parda está sem bens de consumo e sem esgoto. Ou seja, sem os “ouros e as rendas”.

Crise de energia na China impacta economia e pode ser mais uma trava ao PIB no Brasil, FSP

 RIO DE JANEIRO e SÃO PAULO

Da falta de fertilizantes ao aumento do preço da energia, com implicações sobre a inflação e a balança comercial, o Brasil deve sofrer fortes impactos da crise energética chinesa, que vem obrigando o país asiático a promover apagões programados por falta de capacidade de geração.

O cenário adverso se soma ao desarranjo na cadeia logística internacional, que já vem prejudicando diversos setores da economia, e pode ser mais uma trava na recuperação econômica brasileira após o período mais crítico da pandemia.

Os primeiros impactos já são sentidos pelo agronegócio, com maior dificuldade para comprar defensivos e fertilizantes, pela mineração, que vê as cotações internacionais em queda, e pelo setor de energia, afetado pelos preços recordes do gás natural.

Vista de um rio onde um pescador pesca e, ao fundo, chaminés da usina elétrica expelem fumaça
Usina elétrica movida a carvão mineral em Xangai, na China; país passa por apagões por falta de capacidade de geração - Hector Retamal - 28.set.21/AFP

"A China é o maior destino das exportações do Brasil, tanto de produtos agroindustriais quanto de minérios", ressalta o pesquisador da Universidade de Johanesburgo, na África do Sul, Paulo César Morceiro. "Isso é mais um limitante para destravar o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] do Brasil."

Especialistas dizem que a crise chinesa provocou uma "tempestade perfeita" no setor energético mundial, impulsionando os preços não só do carvão, que responde por mais de metade da geração de energia daquele país, mas também do gás natural, seu principal substituto.

A elevada procura fez os dois produtos atingirem preços recordes no mercado internacional. Em ambos os casos, especialistas veem um desequilíbrio entre oferta e demanda, o que deve levar algum tempo até que as cotações recuem.

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No caso do carvão, a própria China tem responsabilidade no cenário. Ao reduzir a produção interna por razões de segurança operacional e deixar de comprar da Austrália por questões geopolíticas, o país precisou disputar o produto com a Europa para compensar a falta de água em suas hidrelétricas.

No caso do gás, a Europa já vinha sofrendo com queda em seus estoques e nas exportações russas às vésperas da elevada demanda para aquecimento no inverno. A região passou a ter que disputar o combustível com o mercado asiático.

O elevado preço do gás afeta diretamente o Brasil, diz a consultoria PSR, já que parte dos contratos de térmicas prevê o repasse periódico das oscilações internacionais ao custo de geração de energia. A escalada ocorre num momento em que o Brasil está usando toda a sua capacidade térmica disponível.

Além disso, a China é a maior produtora global de equipamentos para a geração de energia solar, produtos que devem ter o custo impactado pela crise em meio a uma corrida para ampliar a capacidade brasileira de geração. Matéria-prima para a fabricação de painéis solares, o silício, por exemplo, ficou 150% mais caro apenas em setembro.

O pesquisador da PSR Rodrigo Novaes lembra que algumas províncias chinesas autorizaram aumento da tarifa de energia para custear o carvão mais caro, o que deve jogar pressão sobre os preços dos produtos e insumos chineses.

O agronegócio, por exemplo, vem sentindo alterações no mercado de fertilizantes, que é intensivo em uso de energia. "Essa produção pode ser prejudicada, levando a China a restringir a exportação desses produtos", completa o coordenador do mestrado profissional em agronegócio da FGV, Felippe Serigati.

"Impacta de duas formas: pelo aumento dos custos de produção e também pode pressionar a produtividade, uma vez que os produtores podem ter de aplicar uma quantidade inferior desses fertilizantes em suas lavouras", completa.

O professor de economia chinesa do Insper, Roberto Dumas Damas, vê aumento das pressões inflacionárias, tanto pela elevação do custo de produção dos alimentos quando pelo impacto no câmbio da redução das exportações, já que 30% das vendas externas brasileiras vão para a China.

"Fertilizantes e defensivos agrícolas vão subir demais e acabam afetando o agronegócio. Se tem choque de oferta de defensivos e fertilizantes, a inflação de alimentos vai piorar", afirma. "E, se vende menos ao exterior, há efeito no câmbio [elevação do dólar]".

Um dos principais produtos de exportação do Brasil, o minério de ferro despencou nos últimos meses, passando do patamar recorde superior a US$ 210 por tonelada em julho para a casa dos US$ 110 por tonelada.

O setor siderúrgico, que poderia se beneficiar com os cortes de produção na China, vê o cenário com desânimo, já que há excesso de produção global de aço. "Existe todo um processo de guerra de mercado no mundo que trava um pouco a exportação", diz Cristina Yuan, diretora de assuntos institucionais do Instituto Aço Brasil.

Os especialistas dizem que outras cadeias produtivas podem ser afetadas diretamente, pela elevada dependência de materiais e equipamentos chineses, como a de eletroeletrônicos e a automotiva, ampliando a pressão já exercida pelo desarranjo da indústria global provocada pela pandemia.

Há ainda os efeitos indiretos provenientes de uma esperada desaceleração da economia chinesa. "A desaceleração da China impactaria o mundo todo, pois atualmente cerca de um terço do crescimento mundial deve-se apenas ao país", diz Morceiro.

Em relatório divulgado nesta semana, o banco Goldman Sachs estima que 44% da atividade industrial chinesa está baseada nas nove províncias com pior situação energética e que os cortes na produção devem levar o país a registrar crescimento zero no terceiro trimestre.

O mercado espera algum tipo de intervenção do governo central chinês para solucionar a crise, mas lembra também que o país já vem enfrentando uma turbulência com as dificuldades financeiras da gigante Evergrande, o que pode limitar o poder de reação.

"Se continuar assim teremos um superávit comercial bem magrinho em 2022", afirma o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro avalia. Ele avalia, porém, que a situação chinesa é uma oportunidade para que o Brasil eleve o valor agregado de suas exportações.

"Hoje exportamos para a China basicamente matéria prima bruta, como soja em grão. Lá eles industrializam", diz ele. "Só que agora a China está paralisando fábricas que produzem o óleo de soja. Podemos fazer aqui."

No setor de energia, uma preocupação futura é o impacto da crise no processo de transição energética, já que a falta de energia na China ocorre em meio a um esforço para reduzir a geração a carvão e descarbonizar a economia.

O professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, Maurício Tolmasquim, lembra que a China é o país que mais investe hoje em renováveis, como solar e eólica, mas acabou sendo prejudicada por uma combinação entre desequilíbrio na oferta de carbono e seca sobre reservatórios de hidrelétricas.

"É fundamental para o planeta que o governo central da China não volte atrás nas metas de redução de gases do efeito estufa", diz ele. "Seria muito ruim se essa crise resultasse em um retrocesso."