terça-feira, 27 de julho de 2021

Com reforma, Bolsonaro consolida 27 trocas na Esplanada dos Ministérios em dois anos e meio, FSP

 

BRASÍLIA

Com a mais recente reforma ministerial, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve somar um total de 27 trocas no primeiro escalão em dois anos e meio de governo.

Após reunir-se com o senador Ciro Nogueira (PP-PI) nesta terça-feira (27), o mandatário convidou o parlamentar para comandar a Casa Civil, até então ocupada pelo general Luiz Eduardo Ramos.

Ciro confirmou nas redes sociais que aceitou o posto, e Ramos confirmou sua transferência para a Secretaria-Geral da Presidência.

De terno e diante de duas bandeiras, Ramos, Bolsonaro e Ciro Nogueira
O general Luiz Eduardo Ramos publica foto ao lado do presidente Bolsonaro e do senador Ciro Nogueira (PP-PI), que assumirá a Casa Civil em seu lugar - @MinLuizRamos no Twitter

Pelo desenho discutido da atual reforma, o general passa para o comando da pasta hoje com Onyx Lorenzoni, que será transferido para o Ministério do Emprego e Previdência, a ser recriado com o desmembramento da pasta da Economia.

O histórico de reformulação da Esplanada tem desde ministérios que estão em seu quarto titular em dois anos e meio de governo a estruturas desmembradas, além de uma pasta comandada pela mesma pessoa em duas ocasiões diferentes.

O levantamento leva em conta a substituição de um ministro ou a nomeação de um titular para uma pasta nova. Na AGU (Advocacia-Geral da União), por exemplo, houve duas trocas: André Mendonça deu lugar a José Levi, mas retornou para a mesma posição num rearranjo ministerial posterior.

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A primeira mudança ministerial do atual governo ocorreu em fevereiro de 2019, com a demissão do ex-ministro Gustavo Bebianno na esteira das revelações feitas pela Folha de um esquema de candidaturas laranjas do PSL —partido pelo qual Bolsonaro se elegeu presidente em 2018.

Pouco mais de um mês depois, foi a vez de Ricardo Vélez deixar o Ministério da Educação, num primeiro capítulo da disputa entre as alas pragmática e ideológica do governo.

Vélez foi demitido em meio a uma queda de braço entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho.

Se os militares conseguiram a demissão do primeiro ministro da Educação, os ideológicos deram o troco em junho daquele ano.

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, primeiro titular da Secretaria de Governo, entrou em choque com os filhos do presidente e com seguidores de Olavo, principalmente sobre a gestão da comunicação do governo federal. Acabou dispensado por Bolsonaro.

O histórico de alterações no primeiro escalão tem ainda demissões que abriram crises, sendo a maior delas a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça.

O ex-juiz da Lava Jato chegou a Brasília com status de superministro, mas não tardou a entrar em conflito com o chefe.

Após Bolsonaro insistir na troca do diretor-geral da Polícia Federal, Moro pediu para sair do governo e acusou o mandatário de ingerência na corporação.

Com a eclosão da pandemia da Covid-19, o Ministério da Saúde converteu-se no maior ponto de tensão na administração federal.

O primeiro comandante da pasta foi Luiz Henrique Mandetta, que saiu em abril de 2020 após discordâncias com o presidente sobre a condução da pandemia.

O substituto de Mandetta, o médico Nelson Teich, não durou um mês no cargo. Em seu lugar, assumiu o general Eduardo Pazuello, que esteve à frente do ministério durante os momentos mais agudos da pandemia.

A gestão de Pazuello foi marcada pela defesa de tratamentos sem comprovação científica para a Covid, pela inobservância de recomendações sanitárias e pela demora na negociação de vacinas.

Diante das críticas à atuação do militar e com o recrudescimento da pandemia, Bolsonaro trocou seu auxiliar pelo atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Ao longo de dois anos e meio de governo, houve ainda recriação de um ministério —embora o presidente tenha sido eleito criticando o inchaço da máquina pública e com a promessa de ter 15 pastas.

Em junho de 2020, ele recriou o Ministério das Comunicações e nomeou para o posto o deputado Fábio Faria (PSD-RN).

No final de março deste ano, o que era para ser uma mudança esperada no Ministério das Relações Exteriores terminou como uma das modificações mais significativas na Esplanada —que reforçou o debate sobre a politização das Forças Armadas.

Além de tirar Ernesto Araújo do Itamaraty e substituí-lo por Carlos França, Bolsonaro demitiu o general Fernando Azevedo da Defesa e colocou em seu lugar o também general Walter Braga Netto, que estava na Casa Civil.

Se antes o titular da Defesa resistia a mostrar apoio dos militares a manifestações bolsonaristas, Braga Netto chegou a participar de um ato político ao lado do presidente.

Recentemente, Bolsonaro perdeu ainda um de seus auxiliares mais fiéis.

Alvo de investigações por suspeita de participação num esquema de exportação de madeira ilegal e pressionado por governos estrangeiros, Ricardo Salles se desligou do Meio Ambiente em junho. Ele foi substituído pelo atual ministro, Joaquim Álvaro Pereira Leite.

Rumo abre novo trecho da Norte-Sul em Goiás, Valor Econômico

 Valor Econômico – A Rumo, empresa de logística do grupo Cosan, inaugura nesta terça-feira (27) o trecho considerado mais importante de sua operação na Ferrovia Norte-Sul. Em março deste ano, a empresa já havia iniciado a movimentação na primeira etapa da via, entre Estrela D’Oeste (SP) e São Simão (GO). Agora, a companhia coloca em funcionamento o novo terminal de Rio Verde (GO), que permitirá uma ampliação considerável do volume de carga transportado.

“O novo terminal fica 200 km acima de São Simão. Então, a ferrovia chegará mais perto dos produtores do Sudoeste de Goiás e poderá captar carga do Leste do Mato Grosso”, diz Pedro Palma, vice-presidente comercial da Rumo. A estrutura, que demandou R$ 400 milhões de investimento, terá capacidade para 11 milhões de toneladas de grãos por ano.

Terminal em Rio Verde tem capacidade para 11 milhões de toneladas de grãos por ano e amplia movimentação da via
A Rumo assumiu o tramo central da Norte-Sul em julho de 2019, sob o compromisso de concluir a obra da ferrovia e, enfim, tirar do papel o corredor logístico concebido há décadas para ser a “espinha dorsal” do país.

O trecho operado pela empresa vai de Estrela D’Oeste (SP) até Porto Nacional (TO). A via tem conexões nas duas extremidades: ao sul, há ligação com a Malha Paulista, outra concessão da Rumo, que chega até o Porto de Santos. Ao norte, a conexão é com as ferrovias da VLI e Vale, que vão até o porto de Itaqui, em São Luís. Até agora, os investimentos da Rumo se concentraram principalmente no trecho Sul, para viabilizar o corredor de escoamento até Santos, todo ele operado pelo grupo.

Ainda falta concluir o restante da ferrovia. No início do ano, a previsão era finalizar ainda em 2021, mas hoje a perspectiva é concluir “no primeiro semestre de 2022”, afirma Palma. Resta concluir apenas um último pedaço, de aproximadamente 290 km, entre Rio Verde e Ouro Verde de Goiás (próximo a Anápolis). O trecho seguinte, que vai até o Tocantins, já estava construído e em operação antes mesmo da concessão da ferrovia à Rumo.

Quando houver a conclusão total das obras, a expectativa é atrair as cargas agrícolas também do Norte de Goiás e do Sul de Tocantins, que poderão ser escoadas pelo Porto de Santos. Além disso, a ideia é transportar contêineres entre o Maranhão e o Sudeste, segundo Palma.

No entanto, a avaliação é que o principal volume da Norte-Sul estará concentrado “de Rio Verde para baixo”. “A demanda já estabelecida está no Sul e Sudoeste de Goiás. Acreditamos que a chegada da infraestrutura logística vai estimular os produtores agrícolas [das demais regiões atendidas pela via], mas são processos de prazo mais longo”, diz ele.

O foco da ferrovia é o transporte de grãos, como soja, milho e farelo. Mas há potencial de outras cargas. Em Rio Verde, já está em construção um terminal de fertilizantes, em parceria com a Andali (joint venture da cooperativa americana CHS e da BRFértil), onde haverá estrutura para transbordo e mistura dos adubos. A planta deverá ficar pronta no primeiro semestre de 2022.

Também deverá ser construída uma base para combustíveis, para receber gasolina e diesel da refinaria de Paulínia (Replan) e biocombustíveis dos produtores agrícolas da região. “Estamos em fase final de detalhamento do projeto e seleção do parceiro adequado”, afirma Palma. A operação deverá começar até o início de 2023, estima o executivo.

Apesar dos investimentos compartilhados com parceiros estratégicos, ele diz que serão terminais “bandeira branca”, que poderão atender outros grupos.

Além da Norte-Sul, a Rumo busca consolidar sua posição na rota de escoamento agrícola com outro projeto, anunciado na semana passada: a extensão da Malha Norte, no Mato Grosso. O objetivo é que a ferrovia, que hoje chega até Rondonópolis, alcance Lucas do Rio Verde, ampliando a captação de carga, que será escoada também via Santos.

A extensão da malha vinha sendo negociado com o governo federal, mas diante de dificuldades nas conversas, acabou saindo por meio de um projeto do Estado do Mato Grosso. A contratação ainda terá que passar por chamamento público, mas a escolha da Rumo é dada como certa. Na visão de Palma, não faz diferença se a obra sairá via governo federal ou estadual, contanto que seja viabilizada.

No mercado, uma das dúvidas é a segurança jurídica do projeto estadual, feito com base em uma lei inovadora aprovada no início deste ano, que autoriza obras ferroviárias por meio de autorização, e não concessão – ou seja, projetos privados, feitos sem licitação ou atuação direta do Estado. Questionado sobre o tema, o executivo minimiza o temor. “O governo fez de forma bastante diligente, com transparência. Temos a expectativa de que o projeto caminhe sem problemas.”

Mortes: Ganhou as páginas da Folha em vida e ao despedir-se dela, Patricia Pasquini, FSP

 Patrícia Pasquini

SÃO PAULO

“Balão no céu, perigo na terra” foi o título da redação que levou o então garoto Fiszel Turteltaub a ser reportagem na Folha, em 1961.

Segundo a jornalista Gisele Turteltaub, 34, sua filha, a proposta, de um concurso da Prefeitura de São Paulo, era uma campanha de combate a incêndios. Além do perfil publicado no jornal, o prêmio incluía o título de “criança-símbolo” da ação no referido ano.

Dono da mais criativa e melhor redação, Fiszel dominou a língua portuguesa em pouco tempo, pois sempre foi muito inteligente.

Fiszel Turteltaub (1951-2021) com o perfil publicado na Folha em 1961
Fiszel Turteltaub (1951-2021) com o perfil publicado na Folha em 1961 - Arquivo pessoal

Natural da Polônia e o caçula entre três filhos de um casal de judeus poloneses sobreviventes do holocausto, após uma passagem por Israel, ele e a família fixaram residência no Brasil, em 1958.

A vida começou do zero, no bairro do Cambuci, na região central. O sustento vinha da venda de roupas porta a porta, prática comum na época.

Na década de 1970, passou uma temporada em Israel e quando retornou ao Brasil entrou em matemática na PUC (Pontifícia Universidade Católica) em São Paulo.

Fiszel Turteltaub (1951-2021) ganha perfil na Folha após vencer concurso de redação
Fiszel Turteltaub (1951-2021) ganha perfil na Folha após vencer concurso de redação - Arquivo pessoal

Formado, abraçou a carreira de professor na rede municipal de ensino. Lecionou matemática, física e desenho geométrico, além de ter criado um projeto para ensinar xadrez às crianças.

A habilidade com números foi importante também ao conhecer a bancária Maria Elizethe de Godoy, que viria a ser sua esposa. Quando a viu pela primeira vez, ela passeava com uma amiga no viaduto do Chá, no centro da capital paulista.

Numa segunda oportunidade, pediu o telefone da moça e, como não tinha onde anotar, decorou. Na semana seguinte, ligou para a amada e o telefonema durou quase 40 anos entre namoro e casamento.

Fiszel era discreto, mas gostava de conversar. Por estudar história, geopolítica e ler diariamente jornais nacionais e internacionais, discursava bem sobre qualquer assunto e impressionava as pessoas pelo conhecimento. Também levou a sério a música. Formou-se em piano clássico, o que se transformou num hobby.

Fiszel Turteltaub morreu dia 19 de julho, aos 69, em decorrência de problemas cardíacos. Deixa a esposa, dois filhos e o genro.

coluna.obituario@grupofolha.com.br