terça-feira, 27 de julho de 2021

Mortes: Ganhou as páginas da Folha em vida e ao despedir-se dela, Patricia Pasquini, FSP

 Patrícia Pasquini

SÃO PAULO

“Balão no céu, perigo na terra” foi o título da redação que levou o então garoto Fiszel Turteltaub a ser reportagem na Folha, em 1961.

Segundo a jornalista Gisele Turteltaub, 34, sua filha, a proposta, de um concurso da Prefeitura de São Paulo, era uma campanha de combate a incêndios. Além do perfil publicado no jornal, o prêmio incluía o título de “criança-símbolo” da ação no referido ano.

Dono da mais criativa e melhor redação, Fiszel dominou a língua portuguesa em pouco tempo, pois sempre foi muito inteligente.

Fiszel Turteltaub (1951-2021) com o perfil publicado na Folha em 1961
Fiszel Turteltaub (1951-2021) com o perfil publicado na Folha em 1961 - Arquivo pessoal

Natural da Polônia e o caçula entre três filhos de um casal de judeus poloneses sobreviventes do holocausto, após uma passagem por Israel, ele e a família fixaram residência no Brasil, em 1958.

A vida começou do zero, no bairro do Cambuci, na região central. O sustento vinha da venda de roupas porta a porta, prática comum na época.

Na década de 1970, passou uma temporada em Israel e quando retornou ao Brasil entrou em matemática na PUC (Pontifícia Universidade Católica) em São Paulo.

Fiszel Turteltaub (1951-2021) ganha perfil na Folha após vencer concurso de redação
Fiszel Turteltaub (1951-2021) ganha perfil na Folha após vencer concurso de redação - Arquivo pessoal

Formado, abraçou a carreira de professor na rede municipal de ensino. Lecionou matemática, física e desenho geométrico, além de ter criado um projeto para ensinar xadrez às crianças.

A habilidade com números foi importante também ao conhecer a bancária Maria Elizethe de Godoy, que viria a ser sua esposa. Quando a viu pela primeira vez, ela passeava com uma amiga no viaduto do Chá, no centro da capital paulista.

Numa segunda oportunidade, pediu o telefone da moça e, como não tinha onde anotar, decorou. Na semana seguinte, ligou para a amada e o telefonema durou quase 40 anos entre namoro e casamento.

Fiszel era discreto, mas gostava de conversar. Por estudar história, geopolítica e ler diariamente jornais nacionais e internacionais, discursava bem sobre qualquer assunto e impressionava as pessoas pelo conhecimento. Também levou a sério a música. Formou-se em piano clássico, o que se transformou num hobby.

Fiszel Turteltaub morreu dia 19 de julho, aos 69, em decorrência de problemas cardíacos. Deixa a esposa, dois filhos e o genro.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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