segunda-feira, 23 de novembro de 2020

João Doria defende uma frente em 2022 com a centro-esquerda, OESP

 Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

23 de novembro de 2020 | 05h00

Depois de se eleger à Prefeitura, em 2016, e ao governo do Estado, em 2018, com um discurso marcado pelo antipetismo, o governador João Doria (PSDB) se reposicionou e, agora, tem pregado um diálogo “contra os extremos”, por meio de uma frente que inclua a centro-esquerda.

Potencial candidato ao Palácio do Planalto em 2022, Doria é, atualmente, desafeto político do presidente Jair Bolsonaro. “O comportamento das pessoas muda ao longo do tempo. Não há comportamento estanque, paralisado”, disse o governador em entrevista ao Estadão, na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Apesar do embate com o presidente, Doria afirma que ainda não é o momento de fazer oposição ao governo federal. Leia, a seguir, trechos da entrevista.

João Doria defende uma frente em 2022 com a centro-esquerda
João Doria: 'O contraditório ajuda o Brasil, e não prejudica. O que prejudica é o extremismo.'  Foto: Werther Santana/Estadão

Houve um reposicionamento no discurso do sr. entre 2016, 2018 e hoje? O antipetismo perdeu espaço e o sr. parece menos radical e buscando o centro...

O comportamento das pessoas muda ao longo do tempo. Não há comportamento estanque, paralisado, congelado das pessoas nem da sociedade. O comportamento evolui. Pode evoluir para melhor, para pior, mas evolui.

Candidatos passaram a campanha tentando colar Bruno Covas no sr., dada a alta rejeição ao seu nome na capital. O paulistano não perdoou sua saída da Prefeitura antes do fim do mandato?

Isso é tempo passado. Eu hoje sou governador do Estado de São Paulo, eleito. O Bruno no primeiro turno foi votado para ser reconduzido à Prefeitura de São Paulo. Em suma, o que vale na democracia é o voto.

O presidente Jair Bolsonaro antecipou o debate sobre a eleição presidencial de 2022. É hora de se discutir a construção de uma frente para disputar as eleições contra ele?

A frente não deve ser contra Bolsonaro, mas a favor do Brasil. A frente deve reunir o maior número possível de pessoas e pensamentos que estejam dispostos a proteger o Brasil e a população. (Essa frente) Comporta o pensamento liberal de centro, que é o que eu pratico, mas comporta também centro-direita, centro-esquerda, aqueles que têm um pensamento mais à esquerda e à direita. Só não caberá o pensamento dos extremistas, até porque os extremistas não querem compartilhar, discutir. Eles querem impor situações ao País, tanto na extrema-esquerda, quanto na extrema-direita. Destes extremos nós temos que ficar longe.

Com qual centro-esquerda o sr. acha ser possível dialogar?

Com todos aqueles que integram um sentimento múltiplo, compartilhador e dedicado ao País, sem interesses pessoais se sobrepondo ao interesse do País. Temos que ter a capacidade de diálogo com humildade. Saber ouvir e valorizar o contraditório. O contraditório ajuda o Brasil, e não prejudica. O que prejudica é o extremismo.

É possível incluir nas conversas Ciro Gomes e Marina Silva?

Não devemos excluir ninguém que tenha esse sentimento. Todos que têm esse sentimento são bem-vindos, até mesmo os que no passado praticaram posições mais extremistas, mas que possam ter mudado e estejam hoje no campo do diálogo.

Não é difícil que alguém abra mão de ser candidato à Presidência em 2022? Nas conversas estão Sérgio Moro, Luciano Huck...

O pressuposto para unir o maior número possível de pensamentos pelo Brasil é não haver prerrogativa pessoal.

Sérgio Moro desponta nesse grupo?

Ele deve fazer parte dessa frente. Tem história, biografia e posicionamento. Nunca declarou que era candidato. Sempre teve altivez e grandeza para defender o País, independentemente dos interesses pessoais.

O sr. evita falar que essa frente é contra Bolsonaro. Por quê?

A frente não deve ser de oposição, nem contra o Bolsonaro. Deve ser a favor do Brasil. Esse é o sentimento que une. O sentimento do contra não agrega. Tudo tem a sua hora. Agora é hora de estarmos unidos pelo Brasil, e não fazer oposição a este ou aquele governo.

O PSDB pode estar à frente desse projeto de centro em 2022?

O PSDB deve participar desse movimento, mas não é preciso liderar. Esse é um movimento de compartilhamento, não de exclusão ou de escolha, um lidera e os outros são liderados. Todos devem liderar.

Essa aliança partidária feita em São Paulo, com DEM, MDB e PSDB, pode se repetir na eleição para a presidência da Câmara?

Por que não? O sentimento desses partidos é dialogar para achar um nome e apoiá-lo.

O sr. descarta disputar a reeleição para governador?

Não se trata de ser ou não candidato a presidente, mas de manter minhas convicções. Sou contra a reeleição. Sempre defendi mandato único de cinco anos. Não critico nem condeno os que disputam reeleição, como Bruno Covas. Mas eu, por ser contra a reeleição, vou manter a minha coerência. Não vou disputar a reeleição.

Ainda é uma ideia promover uma fusão, mudar a logomarca e reformular o discurso do PSDB? Ou, diante da ascensão de Bruno Covas, que prega a volta às origens do partido, retomar a bandeira da social-democracia?

O Bruno não prega a volta às raízes, mas um PSDB moderno, digital, inovador e com uma visão social de atender aos mais pobres. Com respeito aos programas de desestatização, ao liberalismo econômico.

O sr. defende que o PSDB seja mais progressista em pautas como casamento gay, aborto, drogas, escola sem partido?

O PSDB é progressista, tanto na economia quanto no plano social. Sem preconceitos.

Arrepende-se do “Bolsodoria” na disputa de 2018?

A eleição do Bolsonaro foi um grande erro para o Brasil. Eu não mantenho meu compromisso diante de um equívoco tão grande. O Bolsonaro prometeu um país liberal, economia globalizada, combate à corrupção. E não fez.

O que os governadores estão fazendo para evitar a politização da vacina contra a covid-19?

Os governadores estão unidos. Todos defendem as vacinas, a vida, e não a politização nem da vacina nem da covid. O único que faz essa defesa hoje se chama Jair Bolsonaro.

Mas o sr. também não politizou a vacina aqui em São Paulo?

Não politizamos. Nós defendemos a vida, a ciência e a saúde. Vacina não deve ser avaliada pela origem, mas pela eficácia.

Como avaliou essa coalizão que se formou na Assembleia Legislativa contra o ajuste fiscal do governo estadual? Partidos como Novo e siglas de esquerda se uniram contra o pacote.

Um equívoco. O Novo demonstrou que já ficou velho logo no início da sua existência, o que é uma pena. A reforma administrativa foi aprovada e São Paulo foi o primeiro Estado a fazer. Fizemos aquilo que o Brasil deveria ter feito no governo federal e não fez.

Foi precipitado pôr o Estado na fase verde, que é mais flexível?

Não há nenhuma relação do aumento dos casos de covid-19 em São Paulo com o Plano São Paulo. A correlação está no relaxamento que estão, infelizmente, adotando. As pessoas estão saindo sem máscara, participando de aglomerações, festas e encontros em momento inadequado. Enquanto não tivermos a vacina, as pessoas devem se preservar.

Vídeo mostra pânico após detenção de 17 mil funcionários em aeroporto de Xangai para teste de covid,OESP

 Eva Dou, The Washington Post

23 de novembro de 2020 | 11h41

SEOUL - Os vídeos feitos por smartphones da noite de domingo, 22, na China, parecem saídos de um filme de ficção científica: centenas de trabalhadores em uma estrutura de estacionamento de aeroporto se levantam contra guardas em macacões brancos que bloqueiam a saída. Os trabalhadores gritam. Os oficiais de segurança respondem em megafones.

“Apenas me deixe ir”, grita um homem na multidão. “Eu não quero morrer aqui”, grita outro.

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Trabalhadores do aeroporto de Xangai esperam por testes de coronavírus. Foto: AP

A razão pela qual mais de 17 mil funcionários foram contidos dentro do aeroporto principal de Xangai no domingo? Sete casos de coronavírus foram descobertos na unidade de carga.

Na manhã de segunda-feira, autoridades locais anunciaram que 17.719 trabalhadores de carga do aeroporto haviam sido testados para o vírus em uma noite. Todos os 11.544 resultados recebidos até agora foram negativos, disseram.

Vídeos oficiais mostraram trabalhadores esperando em filas ordenadas para o teste, ao som de uma suave música de piano.

Não se sabe onde os trabalhadores estão agora. Um porta-voz do aeroporto se recusou a dizer na segunda-feira se eles ainda estavam no local, colocados em quarentena ou com permissão para voltar para casa.

Anteriormente, em uma entrevista coletiva, as autoridades culparam um voo de carga vindo “da América do Norte” como a possível fonte do surto, ao mesmo tempo que prometeram aos trabalhadores da carga acesso a uma vacina.

“Serão tomadas providências para que os trabalhadores de alto risco recebam uma vacina contra o coronavírus para uso de emergência, com consentimento informado”, disse Zhou Junlong, vice-presidente do Shanghai Airport Group.

Centenas de voos para o Aeroporto Internacional Pudong, de Xangai, foram cancelados na segunda-feira, de acordo com o aplicativo de rastreamento de voos UmeTrip.

A China manteve sua contagem de casos de coronavírus baixa, reprimindo duramente os novos aglomerados. No início do segundo trimestre na China, as cidades de Qingdao e Kashgar testaram, cada uma, milhões de residentes em questão de dias para garantir que pequenos focos da doença fossem extintos. As fotos mostraram longas filas nas ruas depois de escurecer.

O caso de Xangai no domingo deu um raro vislumbre do número de pessoas envolvidas nessas blitz de testes. Vídeos de smartphones que circulam nas redes sociais chinesas mostram milhares de trabalhadores de carga detidos no estacionamento de um aeroporto enquanto aguardam sua vez para o teste. As pessoas gritavam enquanto eram empurradas para frente e para trás.


"Oh meu Deus, eles estão lutando", gritou uma mulher, enquanto uma multidão empurrava os trabalhadores com uniformes de materiais perigosos bloqueando a saída. 

Uma pessoa foi carregada, com alguém no vídeo dizendo que a pessoa desmaiou. O Washington Post não conseguiu entrar em contato com os funcionários do aeroporto para confirmar.

Autoridades de Xangai decidiram entrar em ação no domingo, quando dois novos casos positivos de coronavírus foram detectados, elevando o número de casos no aeroporto para sete.

Os novos pacientes eram um responsável por cargas de 49 anos cujo teste do colega deu positivo na sexta-feira, e a esposa de 31 anos de um cargueiro que também fez um teste positivo no sábado, disse a Comissão Municipal de Saúde de Xangai.

O teste durante a noite pareceu em parte um esforço das autoridades de Xangai para mostrar que estavam fazendo o possível para conter o surto, depois que casos continuaram a pipocar ​​na unidade de carga do aeroporto semanas após o primeiro.

Em 8 de novembro, um oficial cargueiro de 51 anos do aeroporto - identificado pelas autoridades apenas por seu sobrenome, Wang - deu entrada no hospital com febre, cansaço e nariz entupido, e o teste deu positivo no dia seguinte.

Seu colega de trabalho, identificado como Lan, voltou para sua província natal de Anhui e testou positivo em 10 de novembro.

Na sexta-feira passada, um manipulador de triagem de carga de 39 anos, chamado Wu, testou positivo, assim como sua esposa e dois colegas de trabalho. O sétimo paciente era a esposa de um dos colegas de trabalho de Wu.

Em uma entrevista coletiva na segunda-feira, autoridades locais culparam o agrupamento em um contêiner de carga enviado da América do Norte, dizendo que Wang e Lan o limparam juntos em 30 de outubro antes de desenvolver sintomas uma semana depois.

“Havia muito acolchoamento de espuma no interior e estava úmido”, disse Sun Xiaodong, vice-diretor do centro de controle de pandemia da cidade. “A pesquisa mostrou que o coronavírus pode sobreviver em condições vedadas e úmidas, e nenhum dos dois usava máscara facial durante a limpeza.”

 

Os oficiais prometeram medidas de prevenção mais rígidas na unidade de carga do aeroporto, mas o objetivo inicial era testar todos em um dia - e fazer com que todos cooperassem.

Um vídeo que circulou pela internet mostrou pessoas descendo uma escada de incêndio na noite de domingo e pisando em um jardim, enquanto tentavam escapar da multidão de milhares. Parte do medo parecia estar enraizado na incerteza sobre quando eles poderiam ir embora.

Em um dos vídeos, um anúncio ecoa em um loop: “Por favor, faça fila para o teste de ácido nucleico. Não empurre e tenha cuidado com a sua segurança. ”


Tesouros do narcotráfico em bunkers na Europa, mais de 30 aeronaves apreendidas e cooperação com a Interpol; OESP

 Rayssa Motta

23 de novembro de 2020 | 12h30

A investigação conjunta da Polícia Federal e Receita, que levou à deflagração da Operação Enterprise nesta segunda-feira, 23, teve início em setembro de 2017. Ao longo de três anos, os investigadores buscaram entender como uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de cocaína operava a lavagem do lucro obtido com a comercialização da droga.

O ponto de partida das autoridades foi a apreensão de 780 quilos de cocaína, pela Receita Federal, durante uma fiscalização de rotina no Porto de Paranaguá, no Paraná.

Ao longo do inquérito, foram apreendidas outras 50 toneladas da droga, ligadas ao mesmo grupo, em portos do Brasil, Europa e África.

“É uma organização muito grande, espalhada por todo o País e por vários países no exterior, que se ocupava da entrada de droga no Brasil, transporte, acondicionamento, preparo para exportação. Vários ramos de atividades”, explicou o superintendente da Receita Federal, Fabiano Blonski, em entrevista coletiva na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR).

Operação Enterprise é classificada pela Polícia Federal como a ‘maior operação do ano no combate à lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e uma das maiores da história na apreensão de cocaína nos portos brasileiros’. Foto: Reprodução/Polícia Federal

De acordo com as apurações, o grupo usava ‘laranjas’ e empresas fictícias de diversos segmentos para lavar bens e ativos multimilionários no Brasil e dar aparência lícita aos rendimentos do tráfico. O dinheiro era injetado, por exemplo, em transações imobiliárias, compra e venda de veículos e companhias em recuperação judicial.

“As organizações que atuam no tráfico estão cada vez mais especializadas, atuando nos moldes que a gente tem visto nos casos de corrupção: utilizando empresas de fachada, laranjas, esquemas complexos de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio”, disse o auditor fiscal Edson Shinya Suzuki aos jornalistas.

As apurações, guiadas por uma perspectiva econômico-financeira, buscaram identificar o ‘caminho do dinheiro’, isto é, os núcleos financeiros da organização para, então, garantir judicialmente o sequestro de bens e valores. A estratégia da descapitalização tem sido usada pela Polícia Federal, combinada à prisão de lideranças e à cooperação internacional, como a aposta mais eficaz para desarticular facções ativas dentro e fora do País.

“Nós estamos demonstrando ao longo deste ano, em cada uma das operações, que o crime organizado, sobretudo os grandes líderes, não estão na periferia. Estão na elite, estão financiando outros crimes, estão estendendo seus braços dentro e fora do País. O tráfico de drogas não pode mais ser encarado como a mera apreensão de um caminhoneiro carregando droga”, resumiu o coordenador nacional de repressão a drogas, armas e facções criminosas da Polícia Federal, Elvis Secco. “A apreensão de drogas não deve ser o objetivo final, ela é um meio”, completou.

Operação Enterprise mobilizou 370 policiais federais para o cumprimento de mandados de prisão e busca e apreensão em 10 Estados. Foto: Reprodução/Polícia Federal

De acordo com Secco, a ‘Enterprise’, classificada pela PF como a ‘maior operação do ano no combate à lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e uma das maiores da história na apreensão de cocaína nos portos brasileiros’, obteve R$ 1 bilhão em bens e valores apreendidos e bloqueados. Entre eles, 37 aeronaves, uma delas avaliada em 20 milhões de dólares, imóveis e veículos de luxo, armas de fogo, passaportes falsos, drogas e mais de 11 milhões de euros em espécie encontrados no porta-malas de uma van em Lisboa, capital de Portugal – um dos ‘bunkers’, segundo a corporação.

O principal alvo da Operação Enterprise é um brasileiro, que não teve a identidade revelada, residente na Europa. Com a interceptação telefônica e quebra de sigilo bancário dos investigados, em março de 2018, ele foi identificado como uma das lideranças da organização criminosa. A partir de então, outros sete grupos foram mapeados pelos investigadores. 

“Dois grupos que fazem a logística da colocação da cocaína no Porto de Paranaguá, um grupo de logística de transporte sediado em São Paulo, um grupo de logística de transporte aéreo sediado em São José do Rio Preto, no interior paulista, um grupo no Rio Grande do Norte especializado no envio de cocaína para a Europa através de embarcações de pesca, outro grupo, também no Rio Grande do Norte, voltado para a remessa de cocaína em meio à exportação de frutas e dois subgrupos no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul que também mandavam cocaína para Paranaguá e para São Paulo”, explicou Sérgio Luís Stinglin de Oliveira, chefe dos Grupos Especiais de Investigações Sensíveis da Polícia Federal e coordenador da Operação Enterprise.

Casa sequestrada na Espanha está a venda por 2 milhões de euros. Foto: Polícia Federal

A ação mobilizou 670 policiais federais e 30 servidores da Receita Federal para o cumprimento de 151 mandados de busca e apreensão e 66 mandados de prisão nos Estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco.

Os agentes fizeram ainda uma parceria com a Interpol para localizar oito investigados no exterior e identificar bens mantidos em outros países. Para isso, os nomes suspeitos foram incluídos na lista de difusão vermelha da organização de polícia internacional.