A pandemia de Covid-19, a maior desde a gripe espanhola de 1917-18, já atingiu mais de 29 milhões de pessoas e matou mais de 942 mil no mundo até esta quinta-feira (17). O combate a essa epidemia é um desafio enorme e, no momento, dependente das chamadas medidas não farmacológicas, que incluem o afastamento social, o uso de máscaras e as medidas de higiene. Não existem tratamentos com remédios que sejam efetivos para curar ou prevenir a infecção.
O triste cenário se completa com a possibilidade cada vez mais próxima de que a epidemia se estenda até o fim do ano e início de 2021. A única esperança que poderá ser efetiva em prazo não tão longo é uma vacina.
Existem no mundo, no momento, 166 vacinas em diferentes fases de desenvolvimento, com 34 delas em etapas de estudos clínicos em pessoas. Seis dessas vacinas já se encontram na fase 3, a última fase de desenvolvimento antes da liberação para uso na população.
Recentemente foi noticiada a suspensão temporária do estudo clínico de fase 3 da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com um laboratório, em razão de reação adversa grave em voluntário que recebeu dose do imunobiológico. Isso não significa que a vacina tenha fracassado. Trata-se de procedimento padrão, em que é necessária revisão técnica dos dados junto ao órgão regulador para decidir se os testes podem prosseguir.
O Brasil está trabalhando no processo de desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus. Isso porque o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, firmou parceria para desenvolvimento e produção de uma das mais promissoras vacinas contra o coronavírus do mundo.
O acordo foi feito com a companhia privada chinesa Sinovac, detentora da vacina CoronaVac, já testada e aprovada em estudos com animais e humanos nas fases 1 e 2, com mais de 25 mil pessoas vacinadas na China. Ela é produzida a partir de um coronavírus atenuado, que é cultivado em laboratório em grandes quantidades e depois inativado —quebrado em pedaços que vão compor a vacina no final do processo. Nos estudos mencionados, a vacina se mostrou segura e eficaz com proteção acima de 90%.
A vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Sinovac é uma das mais promissoras porque utiliza tecnologia já conhecida e amplamente aplicada em outros imunizadores.
Agora, a vacina está sendo testada pelo Instituto Butantan, que a aplicará em 13 mil voluntários da área de saúde para avaliar se de fato previne a infecção. O estudo já foi iniciado em 12 centros localizados em seis estados. A expectativa é que o acompanhamento periódico dos voluntários permita demonstrar a eficácia da vacina ainda no mês de outubro.
Uma vez demonstrada a eficácia, a vacina poderá ser registrada e disponibilizada para a população brasileira, o que poderá ocorrer até o fim de 2020, de forma que, em janeiro de 2021, já poderá ser aplicada.
As tratativas conduzidas junto à farmacêutica chinesa incluem, além da pesquisa de fase 3, a transferência de tecnologia para que o Instituto Butantan esteja apto a realizar a produção da CoronaVac e fornecê-la ao SUS. A Sinovac ainda disponibilizará ao instituto, até dezembro deste ano, 45 milhões de doses prontas da vacina.
A planta fabril da fábrica já existe no instituto e está sendo adaptada para atender em caráter de emergência à produção da vacina. A capacidade inicial de produção será de 120 milhões de doses por ano, mas a meta é dobrá-la. Para isso, o governo paulista conta com a colaboração da iniciativa privada, que já doou cerca de R$ 100 milhões ao projeto.
O desenvolvimento dessa vacina, feito aqui no Brasil, colocará o país em situação privilegiada, visto que poderá ser a primeira nação do mundo a vacinar sua população.
O Instituto Butantan, do estado de São Paulo, e a Sinovac certamente hoje são depositários da esperança de milhares de pessoas para o enfrentamento eficiente e definitivo dessa terrível doença.
Tempos melhores se aproximam.