sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Hélio Schwartsman Coitada da escola, FSP

A democracia direta, na qual cidadãos bem informados tomam eles próprios as grandes decisões relativas ao futuro do país, é sedutora como ideal, mas ameaçadora como método. Um vislumbre de por que não funcionaria bem é dado pela novela da retomada das aulas presenciais nas escolas.

Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB), depois de muita indefinição, decidiu que vai mesmo adiar sua decisão, não sem tentar encontrar uma espécie de quadratura do círculo, que permitiria à molecada voltar, já no próximo mês, às atividades extracurriculares, mas não às aulas de matemática.

O que está impedindo gestores locais de fazer escolhas congruentes e tecnicamente abalizadas é o medo de se indispor com o eleitor. Pesquisas de opinião pública revelam que muitos pais ainda temem mandar seus rebentos para as aulas. Às vésperas de eleições municipais, prefeitos dificilmente se colocam contra a opinião majoritária.

Não estou, com essas observações, insinuando que governantes não devam prestar contas aos eleitores. Se fosse isso, inauguraríamos o regime da irresponsabilidade garantida. Meu ponto é que, nas questões que envolvem matéria técnica, cabe aos cidadãos julgar “ex post” a performance do político, mas não interferir em cada etapa do processo decisório.

Fazê-lo equivaleria a substituir a análise do especialista pelo senso comum, lançando-nos num universo bolsonarista, no qual opiniões vulgares prevalecem sobre a literatura técnica. É uma dimensão em que armar a população e retirar os controles de velocidade das estradas se torna desejável e em que a preservação ambiental pode tranquilamente ser descrita como frescura.

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Não estou afirmando que a decisão sobre reabrir as escolas seja fácil e não envolva incertezas, mas, até porque uma retomada segura exige planejamento, não dá para ficar tergiversando, só para não desagradar pais e outros grupos influentes.

Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Uma esperança não muito distante, Dimas Tadeu Covas, FSP

 Dimas Tadeu Covas

Cientista e professor da USP, é diretor do Instituto Butantan e membro do Centro de Contingência do Coronavírus do governo do estado de São Paulo

pandemia de Covid-19, a maior desde a gripe espanhola de 1917-18, já atingiu mais de 29 milhões de pessoas e matou mais de 942 mil no mundo até esta quinta-feira (17). O combate a essa epidemia é um desafio enorme e, no momento, dependente das chamadas medidas não farmacológicas, que incluem o afastamento social, o uso de máscaras e as medidas de higiene. Não existem tratamentos com remédios que sejam efetivos para curar ou prevenir a infecção.

O triste cenário se completa com a possibilidade cada vez mais próxima de que a epidemia se estenda até o fim do ano e início de 2021. A única esperança que poderá ser efetiva em prazo não tão longo é uma vacina.

O professor Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan, em São Paulo - Amanda Perobelli - 8.abr.20/Reuters

Existem no mundo, no momento, 166 vacinas em diferentes fases de desenvolvimento, com 34 delas em etapas de estudos clínicos em pessoas. Seis dessas vacinas já se encontram na fase 3, a última fase de desenvolvimento antes da liberação para uso na população.

Recentemente foi noticiada a suspensão temporária do estudo clínico de fase 3 da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com um laboratório, em razão de reação adversa grave em voluntário que recebeu dose do imunobiológico. Isso não significa que a vacina tenha fracassado. Trata-se de procedimento padrão, em que é necessária revisão técnica dos dados junto ao órgão regulador para decidir se os testes podem prosseguir.

O Brasil está trabalhando no processo de desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus. Isso porque o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, firmou parceria para desenvolvimento e produção de uma das mais promissoras vacinas contra o coronavírus do mundo.

O acordo foi feito com a companhia privada chinesa Sinovac, detentora da vacina CoronaVac, já testada e aprovada em estudos com animais e humanos nas fases 1 e 2, com mais de 25 mil pessoas vacinadas na China. Ela é produzida a partir de um coronavírus atenuado, que é cultivado em laboratório em grandes quantidades e depois inativado —quebrado em pedaços que vão compor a vacina no final do processo. Nos estudos mencionados, a vacina se mostrou segura e eficaz com proteção acima de 90%.

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A vacina contra o coronavírus desenvolvida pela Sinovac é uma das mais promissoras porque utiliza tecnologia já conhecida e amplamente aplicada em outros imunizadores.

Agora, a vacina está sendo testada pelo Instituto Butantan, que a aplicará em 13 mil voluntários da área de saúde para avaliar se de fato previne a infecção. O estudo já foi iniciado em 12 centros localizados em seis estados. A expectativa é que o acompanhamento periódico dos voluntários permita demonstrar a eficácia da vacina ainda no mês de outubro.

Uma vez demonstrada a eficácia, a vacina poderá ser registrada e disponibilizada para a população brasileira, o que poderá ocorrer até o fim de 2020, de forma que, em janeiro de 2021, já poderá ser aplicada.

As tratativas conduzidas junto à farmacêutica chinesa incluem, além da pesquisa de fase 3, a transferência de tecnologia para que o Instituto Butantan esteja apto a realizar a produção da CoronaVac e fornecê-la ao SUS. A Sinovac ainda disponibilizará ao instituto, até dezembro deste ano, 45 milhões de doses prontas da vacina.

A planta fabril da fábrica já existe no instituto e está sendo adaptada para atender em caráter de emergência à produção da vacina. A capacidade inicial de produção será de 120 milhões de doses por ano, mas a meta é dobrá-la. Para isso, o governo paulista conta com a colaboração da iniciativa privada, que já doou cerca de R$ 100 milhões ao projeto.

O desenvolvimento dessa vacina, feito aqui no Brasil, colocará o país em situação privilegiada, visto que poderá ser a primeira nação do mundo a vacinar sua população.

O Instituto Butantan, do estado de São Paulo, e a Sinovac certamente hoje são depositários da esperança de milhares de pessoas para o enfrentamento eficiente e definitivo dessa terrível doença.

Tempos melhores se aproximam.