A democracia direta, na qual cidadãos bem informados tomam eles próprios as grandes decisões relativas ao futuro do país, é sedutora como ideal, mas ameaçadora como método. Um vislumbre de por que não funcionaria bem é dado pela novela da retomada das aulas presenciais nas escolas.
Em São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB), depois de muita indefinição, decidiu que vai mesmo adiar sua decisão, não sem tentar encontrar uma espécie de quadratura do círculo, que permitiria à molecada voltar, já no próximo mês, às atividades extracurriculares, mas não às aulas de matemática.
O que está impedindo gestores locais de fazer escolhas congruentes e tecnicamente abalizadas é o medo de se indispor com o eleitor. Pesquisas de opinião pública revelam que muitos pais ainda temem mandar seus rebentos para as aulas. Às vésperas de eleições municipais, prefeitos dificilmente se colocam contra a opinião majoritária.
Não estou, com essas observações, insinuando que governantes não devam prestar contas aos eleitores. Se fosse isso, inauguraríamos o regime da irresponsabilidade garantida. Meu ponto é que, nas questões que envolvem matéria técnica, cabe aos cidadãos julgar “ex post” a performance do político, mas não interferir em cada etapa do processo decisório.
Fazê-lo equivaleria a substituir a análise do especialista pelo senso comum, lançando-nos num universo bolsonarista, no qual opiniões vulgares prevalecem sobre a literatura técnica. É uma dimensão em que armar a população e retirar os controles de velocidade das estradas se torna desejável e em que a preservação ambiental pode tranquilamente ser descrita como frescura.
Não estou afirmando que a decisão sobre reabrir as escolas seja fácil e não envolva incertezas, mas, até porque uma retomada segura exige planejamento, não dá para ficar tergiversando, só para não desagradar pais e outros grupos influentes.
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