domingo, 13 de setembro de 2020

Cuidado com o ‘like’, Murilo Busolin Rodrigues, OESP

 Murilo Busolin Rodrigues

12 de setembro de 2020 | 17h00

Vamos ser sinceros? Está cada vez mais difícil manter a lucidez nos dias atuais e em plena pandemia. Enquanto tentamos desviar dos noticiários cada vez mais tensos – porém repletos de informações valiosas, minuciosamente checadas por profissionais –, é possível notar um grande movimento de teorias conspiratórias por parte de pessoas que contestam a ciência e a medicina e obtêm informações (em sua grande maioria, falsas) por meio de grupos de WhatsApp ou semelhantes.

Isso ainda te choca também ou você já se acostumou?

Grande parte desse “choque” é resultado do impacto das mídias sociais na sociedade, e isso é retratado com detalhes – e uma certa dose de encenação – no recém-lançado documentário original da Netflix O Dilema das Redes.

‘O Dilema das Redes’ é um documentário extremamente necessário para os dias atuais. FOTO: Netflix/Divulgação

A produção conta com depoimentos de profissionais diretamente ligados às plataformas mais utilizadas, como Google, Facebook, Twitter e Instagram, além de especialistas em tecnologia. O recado é geral: as redes sociais podem e já estão causando um ataque devastador sobre a democracia e, principalmente, à humanidade.

Eleições, covid-19 e o bizarro terraplanismo são alguns dos exemplos reais e atuais mostrados no documentário, que tem como objetivo emitir um grande alerta sobre a nossa falta de privacidade online.

Fica claro e comprovado cientificamente ao longo da produção de que tudo você lê, comenta e compartilha é vigiado e amplificado em larga escala para que se torne uma “verdade rentável”. A informação real acaba sendo considerada “chata” e não rende tanto dinheiro e engajamento quanto a publicidade de uma fake news.

Não há controle sobre as ferramentas legais disponíveis nas mídias, mas a preocupação é com a forma que essa tecnologia é utilizada para se tornar uma ameaça. Durante 1 hora e 34 minutos você vai se sentir parte de um assustador episódio de Black Mirror (série de ficção da Netflix).

Destaco aqui a importante fala de um dos especialistas: “Não é que a tecnologia em si seja uma ameaça existencial, é a capacidade da tecnologia de trazer à tona o pior da sociedade, e o pior da sociedade é uma ameaça existencial”.

Entre um “like” e outro, já estamos lidando com as consequências da faceta mais exposta da sociedade

CONECTE-SE

‘Só acho engraçado que’

Deezer lançou na última quinta-feira (10) o podcast original humorístico Só acho engraçado que, com comentários sobre as notícias mais atuais do momento e ambientadas como os famigerados áudios de WhatsApp.

O podcast tem roteiro de Afonso Cappellaro, redator do Greg News (HBO), e interpretação de Maria Bopp, atriz que faz a já conhecida e viral Blogueirinha do Fim do Mundo.

Os episódios são semanais, com duração de 8 minutos. Pelo que entregou no piloto, o programa vai apostar em um humor afiado. Ouça em bit.ly/engracadoque.

‘Sistema criminal brasileiro é injusto e desigual para a parcela menos abastada da população e leniente com os poderosos’, diz Fachin, OESP

 Fabrício de Castro/BRASÍLIA

13 de setembro de 2020 | 13h13

O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Foto: Carlos Moura/SCO/STF

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), qualificou o sistema criminal brasileiro como ‘injusto e desigual’ para a população menos abastada e ‘leniente com os poderosos’. A avaliação foi feita em ofício encaminhado por Fachin na sexta-feira, 11, ao novo presidente do STF, ministro Luiz Fux, com estatísticas referentes à Operação Lava Jato. Fachin é relator dos processos na Corte.

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No ofício, Fachin cita dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para corroborar sua visão. De cerca de 800 mil presos, conforme o ministro, ‘é a pobreza que está no cárcere; dos quase 35% dos presos sobre os quais há informação sobre escolaridade, 99% possuem apenas até o ensino médio incompleto, sendo expressiva a quantidade de analfabetos e aqueles somente com nível fundamental’.

Fachin afirma ainda que ‘a raça também é um ingrediente da seletividade punitiva: as pessoas presas de cor preta e parda totalizam 63,6% da população carcerária nacional, consoante dados do Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias) de junho de 2017’.

“E o mais grave: apenas 1,43% dos presos responde por crimes contra a Administração Pública. Por aí, Senhor Presidente, consoante é consabido, se percebe com nitidez quem é, tradicionalmente, infenso à lei penal”, acrescentou Fachin na mensagem a Fux.

Os relatórios estatísticos a respeito da Lava Jato encaminhados por Fachin informam que, atualmente, existem 32 inquéritos sob sua relatoria. Desde o início da operação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia em 29 deles, enquanto a Segunda Turma do STF examinou 20.

Das denúncias, 11 foram recebidas, oito rejeitadas e uma foi declarada extinta. Outros sete inquéritos estão em fase de processamento. Cinco ações penais foram julgadas pela segunda turma do STF. Houve uma condenação.

Sobre o incêndio no Pantanal e o seu querido churrasco, Cozinha Bruta FSP

No feriado do dia 7, postei no Twitter algo sobre o desalento e a falta de motivos para comemorar o Dia da Pátria. Então, uma pessoa sem relações de follow comigo comentou: “Lembrando que o fogo no Pantanal é patrocinado por quem cozinha animais.”

Em primeiro lugar, difícil achar o propósito do comentário. Imagino que o indivíduo em questão tenha acrescentado os incêndios no Pantanal à lista de desgraças do 7 de setembro: faz sentido, mas não estava no post por esquecimento meu. Aí foi ver quem eu era e resolveu mitar com o esculacho.

A fulana tem a hashtag #AjudaPantanal no nome de perfil e se autodenomina “doida por animais e veg”.

Ao puxar treta com quem não é da sua turma, a comentarista não quer ajudar o Pantanal coisa nenhuma. Nem ela, nem as franjas radicais dos movimentos vegano e vegetariano.

Tenho diferenças com os veganos, mas preciso frisar que esse não é o comportamento majoritário dos defensores dos animais. A maioria é gente sensata, tanto que o ataque aos onívoros (nesta questão em especial) não consta em nenhum dos portais oficiais do movimento.

É coisa de radicais que não pensam direito ou pensam torto, o que dá na mesma. Só que esses radicais não são tão pouco numerosos assim. Vicejam no Twitter acusações do seguinte teor: os comedores de carne são sócios da destruição do Pantanal.

A afirmação denota desonestidade intelectual e estupidez política. Comecemos pela falácia da coisa.

Algumas grifes de roupas, por distração seletiva, contratam o serviço das infames sweatshops, oficinas de trabalho escravo no Vietnã ou no Bom Retiro. Não raro essas marcas são pegas em flagrante e expostas globalmente.

Como o consumidor deveria reagir? Boicotando as marcas em questão, pelo menos até uma mudança sólida de postura? Ou exortando a população a nunca mais comprar roupas, uma vez que a indústria têxtil escraviza seres humanos?

Acusar os onívoros de cumplicidade com os incêndios no Pantanal equivale a acusar de leniência com o trabalho escravo qualquer um que não esteja nu. Um nonsense abjeto, capcioso, desonesto.

Assim como a tecelagem não precisa de escravos, a pecuária pode muito bem existir sem desmatar a Amazônia nem incendiar o Pantanal. O que está acontecendo nesses biomas é ilegal, é crime. Caberia ao governo fiscalizar, inibir e punir, mas o governo não quer agir.

Claro que a indústria da carne (em conluio com o agronegócio e com o aparato estatal, bom repetir) deixou pegadas no rescaldo da fornalha Pantanal.

Não sou um negacionista do impacto ambiental da pecuária. Concordo que o consumo de carne deveria diminuir, mas essa é uma missão hercúlea, algo que nem deveria ser aventado como solução quando a prioridade é apagar um incêndio.

Além do lobby econômico, existe um hábito alimentar por demais arraigado na população. Na população humana de todo o mundo, não apenas na brasileira. Nem todos os carnistas, termo pejorativo cunhado pela militância veg, são caubóis de motosserra em punho.

A mudança do padrão alimentar passa por informação, educação, conscientização e, lamento dizer, disposição para fazer política. Isso significa flexibilizar posições e traçar estratégias conjuntas com grupos que não comungam do mesmo ideário, ipsis literis.

O enfrentamento hostil só enfraquece uma causa –o combate à destruição ambiental– que precisa ganhar musculatura para ter alguma chance de vingar.

Daí a estupidez do radicalismo vegano.

Quantos são eles, os veganos? Não é fácil encontrar números confiáveis. Nos Estados Unidos, sites relacionados à doutrina estimam frações da população que variam do 0,5% aos 6%. No Reino Unido, crava o portal “The Vegan Society”, eles são 1,16%. E no Brasil?

Uma pesquisa feita pelo Ibope em 2018 aponta 14% de brasileiros autodeclarados vegetarianos. O site “WVegan”, ao projetar dados de outros países, estima que metade dos vegetarianos não consome nada de origem animal. Assim, 7% das pessoas seriam veganas no Brasil. Não me parece razoável que a proporção supere a dos EUA, mas vamos admiti-la como verdadeira.

Os 7% precisam conviver com os 93% que não são veganos. Chamá-los de assassinos, de cruéis e o escambau é cretino. Apenas fragmenta mais ainda as forças debilitadas que poderiam atuar em conjunto.

Parte desses 7% só admite cooperar com quem é igualmente vegano. É tudo ou nada, sem concessões. Assim não se chega a lugar algum, muito menos aos 50,1% necessários para ganhar qualquer refrega democrática.

Quando o Pantanal queimar todo, os santinhos radicais vão repousar a cabeça sem culpa sobre o travesseiro de paina 100% orgânica e pensar: nós queríamos salvar as onças, não os carnistas não deixaram.

Na boa: vão ver se eu estou lá no açougue da esquina.