quarta-feira, 6 de maio de 2020

Doria precisa ter mais empatia com população que está com dificuldade, diz prefeito de Campinas, FSP

CAMPINAS
O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), espera que o governador João Doria confie mais na avaliação dos prefeitos do estado e anuncie nesta sexta-feira (8) o início da flexibilização da quarentena —do contrário, diz, será difícil manter o isolamento, porque a população já está esgotada.
“É o momento de ele começar a ter um pouco mais de empatia com a camada da população que está sofrendo. Se ele chegar no dia 8 e disser que será estendido até dia 30, vai ser muito complicado, vamos ter grandes dificuldades, porque a gente está vivendo em um Estado de Direito, e estamos cerceando os direitos das pessoas”, disse à Folha.
Jonas Donizette, em seu gabinete na prefeitura de Campinas; na foto, ele aparece, de terno e máscara cirúrgica, em meio a cadeiras vazias estampadas com um brasão
Jonas Donizette, em seu gabinete na prefeitura de Campinas - Eduardo Anizelli/ Folhapress
Doria afirmou na segunda-feira que as cidades com taxa de isolamento social abaixo de 50% estarão excluídas do relaxamento de quarentena que será anunciado no dia 8.
Campinas, maior cidade do interior do estad e onde houve 25 mortes por Covid-19 e 418 casos confirmados, registrou índice de 45% na segunda-feira (4) e tem se mantido nessa faixa durante a semana.
Donizette, que também é presidente da Frente Nacional de Prefeitos, critica esse critério. “O olhar frio sem ter a compreensão do contexto local é injusto.”
Até agora, qual foi o custo econômico para Campinas em queda de arrecadação e perda de empregos da pandemia do coronavírus? Esses números sempre refletem o passado, então vamos sentir agora no mês de maio. Mas em relação ao mês de abril já dá para perceber entre 20% e 30% queda de arrecadação nos municípios.
Há estimativa de demissões em Campinas? O que está sendo mais abalado é a economia informal, que já não estava nos registros oficiais. Aumentou muito a demanda por assistência social. Antes havia 6.000 pessoas no Cartão Nutrir em Campinas, que era só para alimentação, para pessoas em estado de pobreza e extrema pobreza. Com a Covid, incluímos produtos de higiene pessoal e fomos para 26 mil cartões.
No dia 8 de maio, o governador João Doria vai divulgar o plano de flexibilização no estado. Ele afirmou que as cidades que não chegarem a um índice de isolamento acima de 50% não terão relaxamento. Como o senhor encara a possibilidade de adiamento da abertura? O Doria está correto na linha dele, mas precisa ouvir um pouco mais os prefeitos. Minha expectativa é que no dia 8 ele anuncie medidas diferentes para as diferentes regiões do estado.
Nós não estamos vivendo o que a capital ou a Grande São Paulo estão vivendo. Campinas, Sorocaba, São José dos Campos não têm tanta interdependência com São Paulo.
É grave, é uma travessia perigosa, mas a gente pode fazê-la com responsabilidade. Em Blumenau, o grande problema foi a abertura do shopping. No nosso plano, a abertura dos shoppings ocorrerá só na segunda fase. Esse plano foi aprovado pelo governo do estado, com elogios, mas eles disseram que não anunciariam nada antes do prazo determinado pelo governador.

O presidente Jair Bolsonaro fala sobre a necessidade de reabrir para retomar a economia. Esse espírito dele está presente em mim, está no governador Doria. Aliás, o Bolsonaro fala uma coisa que não é verdade. Ele fala que os prefeitos tomam decisões [de isolamento] sem consultar ninguém. Nós enviamos uma consulta ao Conselho Nacional de Saúde, o órgão máximo de assessoramento do presidente para a área de saúde, e o documento recomenda isolamento e, para quem já está fazendo, aumentar o isolamento.
Mas eu faço eco com ele quando ele diz que todos estão sofrendo com a quarentena. Uns estão sofrendo com mais qualidade de vida, vendo Netflix e pedindo comida no delivery, e outros com necessidade, sem saber como vão conseguir comer no dia seguinte. A gente precisa ter essa sensibilidade na equação, sem deixar de valorizar a vida, mas tendo um olhar mais integral.
Campinas, uma cidade de 1,2 milhão de habitantes, registrou 25 óbitos e 418 casos confirmados de Covid-19, cenário menos grave do que em muitas cidades no estado. Como o senhor tem feito para convencer a população a manter o isolamento? Decretar isolamento não é difícil, o difícil é saber quando sair e como sair. As pessoas dizem ‘Campinas não está igual a Manaus’. Vou entregar hospital de campanha com 115 leitos, com pressão negativa. Tem gente que me critica, se o hospital está vazio, por que fazer mais?
A ocupação da UTI está na faixa de 60%. Estava numa faixa menor, mas aumentou por causa de traumas, muitas entregas de moto, e acidente doméstico, queimaduras, com muita criança em casa.
Ou seja, temos só 40 internados por Covid numa cidade de 1,2 milhão de habitantes. E 40% são da região metropolitana. É muito difícil para a população entender essa questão. Eles acham que estamos no céu, e não é verdade, estamos controlados, mas a qualquer momento a gente pode precisar de leito.
O ônus político do isolamento vai cair no colo dos prefeitos e governadores? Fui acusado de estar jogando para a torcida [ao anunciar plano de flexibilização], para dizer que o prefeito quer abrir e o governador não deixou. Não foi isso. [Propus o plano] porque tenho convicção de que o Doria precisa também ter uma flexibilidade na posição dele.
Ele já mostrou que ele tem autoridade, que é um cara capaz de conduzir. É o momento de ele começar a ter um pouco mais de empatia com a camada da população que está sofrendo. Se ele disser no dia 8 que será estendido [o isolamento] até dia 30, vai ser muito complicado, vamos ter grandes dificuldades, porque a gente está vivendo em um Estado de Direito e cerceando os direitos das pessoas.Se precisar dar um passo atrás, eu vou dar quantos forem necessários. Estaremos monitorando diariamente.
Um dos obstáculos para flexibilização, segundo epidemiologistas, é que várias cidades próximas dependem de Campinas para tratamento médico, talvez São Paulo precise. Claro que, se eu tiver leito vazio e tiver gente morrendo em São Paulo, não vou dizer não. Mas nós não estamos neste momento.
Então isso, a princípio, não é um impedimento para flexibilização? Não, acho que não. O governador estaria certo em estender o isolamento na região metropolitana e talvez até dar um aperto na capital, em São Paulo, porque lá está muito complicado. Mas ele precisa olhar para a realidade das outras regiões, dar mais independência e poder de decisão. É isso que eu defendo em nome dos prefeitos.
Se tudo der certo e a gente reabrir, ninguém vai ser louvado por causa disso. Se não der certo, o prefeito será o culpado. Então é uma decisão que precisa ser tomada com muito embasamento técnico.
O senhor questiona a exigência de 50% de isolamento em uma cidade como Campinas? 50% de isolamento em Campinas é muito mais significativo do que 60% para São Sebastião e Ubatuba, que são cidades turísticas. Campinas, Jundiaí, Sorocaba são cidades industriais, e a indústria está funcionando. Não se pode fazer um corte linear. O olhar frio sem ter a compreensão do contexto local é injusto.
Logo depois que o senhor anunciou o plano de flexibilização, em 27 de abril, caiu muito o índice de isolamento...  Não caiu muito, nós estávamos na faixa de 50%, já estava tendo essa oscilação, e não foi um fenômeno só de Campinas. Eu credito muito mais ao esgotamento por causa do tempo e invoco o doutor Carmino [secretário de saúde de Campinas, Carmino de Souza]. O máximo de isolamento que conseguiram fazer foi em Wuhan, 72 dias. Ele fala que o isolamento que dá para ser controlado é entre 50 e 60 dias. Nós vamos completar dois meses.
Uma das críticas ao plano de flexibilização que vocês apresentaram é incluir academias de ginástica e restaurantes entre os primeiros estabelecimentos que seriam reabertos. Segundo alguns médicos, esses locais são muito propícios a contaminação. No decreto, pus restaurante com 30% da capacidade. Acho que assim tem condições de ter até mais asseio do que o serviço de delivery. O delivery está enfrentando um verdadeiro estrangulamento. Na academia de ginástica as regras são uso individual, com distanciamento e higienização, e ajuda a parte emocional das pessoas. Eu defendo, sim.
Eu estou pedindo uma audiência com o secretário-executivo do Ministério da Saúde, general Eduardo Pazuello, para discutir todas essas coisas. O Nelson Teich [novo ministro da Saúde] vai ser uma figura decorativa, nunca trabalhou no setor público. Até entender aquilo vai um ano. Então pedi audiência com o general porque sinto que é ele que fará a logística funcionar.

Estamos sob o reinado da estupidez, diz autor de 'Cale a boca, jornalista!', OESP

Gustavo Porto, O Estado de S.Paulo
06 de maio de 2020 | 11h07


BRASÍLIA - "Como vai a luta, aí? Estamos sob o reinado da estupidez". Foi assim que o escritor e jornalista Fernando Jorge, de 92 anos, atendeu a reportagem do Broadcast/Estadão. Em meia hora, a conversa foi centrada no título de uma de suas obras, uma frase quase literalmente repetida pelo presidente Jair Bolsonaro na manhã de terça-feira, 5.
"Cale a Boca, Jornalista!", lançado na década de 1980, relata ataques sofridos por profissionais da imprensa no Brasil desde a época imperial, com destaque para o período do regime militar, marcado por forte repressão, tortura e mortes. O título do livro, por mais atual que possa parecer, também surgiu de um militar como Bolsonaro.
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O escritor e jornalista Fernando Jorge Foto: Fernando Jorge/Assessoria
Era dezembro de 1983, o general Newton Cruz, ex-chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI) e então responsável pelo Comando Militar em Brasília se irritou com o jornalista Honorio Dantas em uma entrevista coletiva sobre medidas de emergência adotadas na capital federal. "Cale a boca", disse Cruz ao ser indagado. Após pedir para Dantas desligar o gravador e encerrar a entrevista, Cruz partiu para a agressão ao repórter.
Mesmo com pesquisas e relatos colhidos em oito anos para a primeira edição de seu livro, Fernando Jorge se diz impressionado com as falas e os constantes ataques do presidente à imprensa. "Os ataques à imprensa se sucedem ininterruptamente. É impressionante", disse.
Ele citou também as agressões sofridas por profissionais no domingo, 3, em Brasília, durante manifestação em frente ao Palácio do Planalto. "Ele prega o ódio contra a imprensa e ele é responsável. E não se apiedou dos jornalistas agredidos".

Medroso

Fernando Jorge conta ter conhecido Bolsonaro em 1997 quando ambos participaram, ao lado do jornalista e à época deputado estadual Afanasio Jazadji, de um programa de televisão. Segundo o escritor, na antessala da emissora, antes de entrarem no estúdio, indagou o então deputado Bolsonaro se Fernando Henrique Cardoso (então presidente) teria consultado os militares para unificar os ministérios da Marinha, do Exército e da Aeronáutica na pasta da Defesa.
Bolsonaro teria dito que os militares não foram consultados e foi provocado por Fernando Jorge. "Perguntei por que não houve protesto dos militares e ele disse que era porque não havia mais líderes nas Forças Armadas". Em seguida, segundo seu relato, o escritor cobrou o então deputado se ele próprio não deveria ter protestado na tribuna da Câmara. "Ele respondeu que não, porque seu protesto não teria repercussão. (...) Depois comentei com Afanasio: 'esse Jair Bolsonaro me deu a impressão de ser um homem tímido, medroso, ou qualquer coisa, né?'".

Obra incompleta

Fernando Jorge diz que segue o provérbio de que "a obra que não tiver a colaboração do tempo, não resistirá à ação do próprio tempo". Por isso, "Cale a Boca, Jornalista!" foi atualizado nas reedições e até ganhou como subtítulo "O ódio e a fúria dos mandões contra a imprensa brasileira".
Mas, para o escritor, os ataques de Bolsonaro a jornalistas tornaram a obra incompleta. "Meu livro está incompleto e seria necessário escrever até um novo com o título 'Cale a boca, Bolsonaro'. Mas pretendo, se Deus permitir, embora esteja na última fase da minha vida (atualizar a obra). Será um capítulo extenso, porque a quantidade de ataques é impressionante e sistemática".
Aos 92 anos, Fernando Jorge se considera um "pré-cadáver" e segue em casa cumprindo a quarentena necessária para se proteger da covid-19. E cita mais dois provérbios antes de encerrar a conversa. "Tem aquele português que diz: boa romaria faz quem em sua casa fica em paz", e outro, japonês: "perseverar é cair sete vezes e levantar-se oito".
Este último, segundo ele, é para os que enfrentam situações difíceis. Inclusive os jornalistas.

SILVIO MEIRA Aprender em tempos de crise, OESP, (definitivo)Link

Todos os negócios estiveram sob enorme pressão para fazer duas coisas nas últimas semanas – quando, de repente, 50 anos de transformação digital, lenta e gradual, viraram um apocalipse digital. A primeira foi  aprender em velocidade de crise. A segunda foi aprender e ao mesmo tempo escalar, criando e agregando valor a comunidades que antes não existiam ou eram uma fração. 
A demanda por aprendizado, especialmente sobre o que é digital, cresceu absurdamente. Por sobrevivência. E há diferenças básicas entre estudar e aprender. Estudar nos ajuda a responder questões e aprender nos prepara para resolver problemas. As questões são do universo abstrato das teorias. Os problemas, do ambiente prático da realidade.  
Para muitos negócios, porém, o trabalho dependia de infraestruturas físicas que não podiam deixar o escritório. Outros, como no varejo, não tinham presença virtual e tiveram de criá-la em dias. 
Nos últimos 60 dias,  a realidade mudou muito. A presença física dos negócios sumiu – às vezes, por completo. Havia quem estivesse pronto para trabalhar de casa, o que é diferente de home office. Afinal, a vida toda das pessoas também foi para casa. Para muitos negócios, porém, o trabalho dependia de infraestruturas físicas que não podiam deixar o escritório. Outros, como no varejo, não tinham presença virtual e tiveram de criá-la em dias. 
Isso levou líderes de negócios a descobrir duas coisas. A mudança rápida – para o digital, inclusive – é mais possível do que se pensava. E o domínio do ciclo de vida de dados é chave para mitigar e gerenciar mudanças rápidas. De novo, sobrevivência. Se deu melhor quem era resiliente – palavra que muitos falam e poucos entendem. Porque resiliência vem da cultura, arquitetura, métodos e processos do negócio, e não de tecnologia e planos de contingência. Afinal, quem tinha um plano, pronto, para as consequências de algo como a Covid-19? 
Fala-se muito sobre um novo normal após a pandemia. Não será um só, serão muitos e por muito tempo. Mercados inteiros desaparecerão. Não é novidade. Outros mercados ficarão iguais, uns devem crescer de forma explosiva. Novos mercados serão criados. Quais? Quem souber deve ter acabado de chegar do futuro. Para saber mesmo, é preciso ir até lá.
O futuro vem do futuro. Às vezes, lentamente. O primeiro e-commerce é de 1994. Tem gente só agora aprendendo que precisa de um site, o que é um “lead” ou como fazer SEO. Deram sorte, pois iriam desaparecer sem notar. Mas o milagre operado pelo apocalipse digital é mágico: nunca tantos aprenderam tanto, tão rápido, sobre um novo sistema para negócios que estava aí há tanto tempo.
Um aprendizado essencial, na crise, deve considerar empresas que atravessaram muitas delas. A história das organizações mais resilientes ensina que elas sobreviveram investindo em talentos, pesquisa, inovação, criando relacionamentos e redes de valor. Além de lideranças que tratem todos como líderes. É isso que se aprendeu em crises como essa.
É PROFESSOR EXTRAORDINÁRIO DA CESAR.SCHOOL, FUNDADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL E CHIEF SCIENTIST NA TDS.COMPANY