O consumidor instala a unidade geradora em sua residência. A energia gerada é injetada na rede de distribuição, e esse volume é descontado do total de energia consumida no fim do mês, barateando a conta de luzMarcus Leoni/Folhapress
Desde 2012 sabia-se que em 2020 a Aneel rediscutiria os incentivos dados à produção e ao consumo de energia solar. Essa questão poderia ter sido conduzida de forma transparente, honesta e inteligente. Preferiu-se o caminho dos corredores, da onipotência e da treva. Primeiro, plantando-se uma versão segundo a qual o sujeito que coloca placas de energia solar no telhado de sua casa recebe subsídios.
Falso. Subsídio haveria se o cidadão consumisse R$ 100 de quilowatts e só pagasse R$ 90. No caso, quem tem placas de energia solar paga às distribuidoras até o último centavo pela energia que consome. Só não paga por aquela que o Padre Eterno lhe manda durante o dia. Hoje a energia solar representa 1% do consumo, e em 2019 a Aneel estimava em R$ 340 milhões os incentivos dados aos consumidores, sabendo que o subsídio ao uso do carvão custa R$ 1 bilhão.
Em outubro passado deu-se o grande golpe. A Aneel jogou fora meses de discussões e apresentou uma nova proposta para consulta pública que tungava entre 30% e 60% da economia conseguida por quem viesse a instalar painéis solares em suas casas ou em seus edifícios a partir de 2020. As consultas públicas anteriores haviam durado até quatro meses, com três reuniões presenciais. Dessa vez resolveriam tudo em 45 dias, com uma só reunião. Coisas de Brasília. Nesses dias, dando um toque pitoresco ao debate, um senador apresentou projeto classificando como “bens da União” os “potenciais de energia eólica e solar”. Tradução: lá vem imposto.
Com o tranco dado por Bolsonaro, Rodrigo Maia e David Alcolumbre, a Aneel tirou a girafa do picadeiro e disse que vai reexaminar a questão. (Vale lembrar que o Ministério da Economia havia emitido um parecer endossando a ideia da girafa. Lá viceja também a ideia de se taxar o uso da internet em transações bancárias.)
Os eletrotecas e os empresários menosprezaram o ensinamento de Tancredo Neves: “Esperteza, quando é muita, come o dono”. Há dois tipos de consumidores de energia solar. Num estão as pessoas que têm placas nos telhados de suas casas, edifícios ou conjuntos residenciais. No outro, há os consumidores abastecidos por empresas que montam grandes fazendas captadoras de energia solar e funcionam como verdadeiras usinas geradoras. (Uma residência que paga R$ 300 mensais e instala painéis solares investindo R$ 15 mil derruba a conta para R$ 50.) Nos dois casos, usam uma energia limpa, mas pode-se dizer que as duas operações, mesmo semelhantes, não são iguais. Se os espertalhões tivessem exposto essa diferença, sem pensar numa tunga ampla, geral e irrestrita, talvez não tivessem tomado a pancada que tomaram.
Agora, ou a Aneel faz um debate limpo, ou o Congresso limitará seus poderes de taxação planetária.
Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".
A partir do próximo mês o Palmeiras não deve ter mais o problema que tanto incomodou a torcida e atrapalhou a relação com o Allianz Parque nos últimos cinco anos: não poder jogar no local por causa de shows. Com a instalação do gramado sintético no estádio, a promessa é de conciliar a agenda musical com o calendário do futebol e ainda conseguir uma grande economia. A previsão é que o novo piso tenha manutenção mensal até 85% menor do que a grama natural por dispensar reparos complexos e não precisará ser trocado no mínimo pelos próximos 15 anos.
O campo sintético será uma novidade tanto na arena como na Academia de Futebol. O clube fez questão de colocar o gramado no centro de treinamento para preparar melhor os jogadores. O Palmeiras bancará a instalação do novo piso no CT. No estádio, o Allianz Parque é quem pagará a reforma. Os valores não foram revelados, mas o Estado apurou que em no máximo um ano e meio o investimento estará recuperado.
Gramado sintético conta com tecnologia de última geração e promete revolucionar o estádio do Palmeiras Foto: Daniel Teixeira/Estadão
A obra de colocação do gramado sintético já teve início na Academia de Futebol. No estádio, a mudança deve começar em breve. A instalação demora 30 dias. Por isso, é provável que o Palmeiras tenha de recorrer ao Pacaembu para enfrentar como mandante o São Paulo e o Oeste, pelo Campeonato Paulista.
Quando há essa coincidência de datas de jogos e de shows, o Palmeiras costuma se prejudicar por gastar com o aluguel de um outro estádio, como no caso do Pacaembu, e arrecadar menos com bilheteria. Já administradora da arena, perde dinheiro por ter de ressarcir o clube. Desde a inauguração do Allianz Parque em novembro de 2014, em 27 ocasiões a equipe não conseguiu atuar dentro de casa (veja lista abaixo).
Tufos da grama sintética são entrelaçados em base de propileno e polietileno Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Agora a promessa é a situação não se repetir. Uma grama com tecnologia inédita nas Américas e idêntica à usada no CT da seleção holandesa vai dar ao time a chance de atuar no Allianz Parque em até seis horas depois de um show. "A grama tem uma espécie de memória. Se você colocar o palco em cima, ela deita. Quando você tirar, ela retorna para posição, sem estrago ou dano", disse ao Estado o presidente da Soccer Grass, Alessandro Oliveira. A empresa é a responsável pela execução da reforma.
O Palmeiras enviou representantes à Holanda em outubro do ano passado para conhecer o piso sintético. Membros da diretoria, da comissão técnica e do departamento médico fizeram testes e gostaram bastante da tecnologia, considerada mais avançada que a utilizada no gramado artificial da Arena da Baixada, em Curitiba. O gramado palmeirense é feito de polietileno e terá altura de 5 centímetros.
O principal diferencial com relação a outros pisos sintéticos está no preenchimento das fibras da grama. Em vez de borracha, presente em quadras amadoras, ou de fibra de coco, utilizada no Athletico, o campo palmeirense terá material sintético chamado de TPE (elastômero termoplástico), feito na Itália. São partículas cilíndricas de até 5 milímetros de comprimento. Por serem pesadas, não grudam nos uniformes dos jogadores.
Material sintético servirá como enchimento para as fibras do gramado Foto: Daniel Teixeira/Estadão
"O tipo de enchimento que vamos usar é diferente. A fibra de coco precisa ser molhada, então escorrega mais. Já o TPE absorve bastante o impacto e tem uma composição que ajuda o piso a ficar muito próximo à grama natural", afirmou Oliveira. As fibras têm ainda como vantagem ajudar a resfriar o piso em até 15ºC em comparação a outros preenchimentos existentes. Em cada um dos 9 mil m² do Allianz Parque serão precisos 15 kg de enchimento.
O novo gramado tem certificação da Fifa emitida por laboratórios na Europa e Estados Unidos, o que garante condições de jogo similares aos campos naturais de mais alto nível. O piso foi aprovado em testes que avaliaram critérios como trajetória da bola, uniformidade do solo e rotação da chuteira. Por ter uma superfície bem regular, o campo deve oferecer menos riscos de lesões causadas por pisões em buracos ou pelo desprendimento de pedaços de grama. Os rolos com a nova grama chegaram ao Brasil nesta semana após viagem de navio da Holanda e desembarque no porto de Navegantes (SC).
Abaixo do gramado sintético, espuma servirá como amortecimento do piso Foto: Daniel Teixeira/Estadão
O piso sintético tem como base uma tela de polietileno e propileno. Os tufos da grama são entrelaçados três vezes no suporte, para dar segurança. Para o Allianz Parque, vão ser necessários cerca de 30 blocos de piso. Cada um deles tem cerca de 4 metros de largura por 78 metros de comprimento. Abaixo deles, será posicionada uma manta de amortecimento de espuma, feita na Alemanha. No novo campo, os jogadores não vão precisar utilizar chuteiras diferentes dos modelos convencionais. A expectativa é que mesmo em dias chuvosos os atletas possam calçar modelos com travas de borracha, próprias para pisos secos.
A escolha pelo gramado sintético foi resultado de pelo menos três anos de discussões sobre como administrar a agenda e melhorar a qualidade do gramado. O Allianz Parque testou recentemente diferentes técnicas de plantio do campo e de montagem e desmontagem do palco. Porém, preferiu apostar em outra alternativa para conseguir conciliar o futebol com o cronograma de shows. Apenas para este ano estão garantidas até agora oito apresentações na arena.
ECONOMIA
O Estado apurou que a manutenção mensal do piso sintético chega a ser 85% mais barata do que a grama natural por dispensar atividades como irrigação constante, reparos de jardinagem e a troca várias vezes ao ano. No caso do Allianz Parque, a estimativa é economizar até R$ 100 mil por mês com iluminação artificial, que era necessária para compensar a falta de luz natural em partes do piso.
Estádio do Palmeiras não vai precisar mais de iluminação artificial para manutenção do gramado Foto: Marcio Fernandes/Estadão
"A manutenção será basicamente escovar o gramado e repor o enchimento", disse o presidente da Soccer Grass. Ao fim dos shows no Allianz Parque, será preciso fazer uma limpeza com uma máquina especial, com imã. A varredura vai conseguir retirar restos de peças metálicas, casos de parafusos ou partes perdidas de estrutura do palco.
Segundo o responsável pela execução da reforma, não há problema do piso ser utilizado com muita frequência em partidas. "Quanto mais usar, melhor vai ficar o gramado. O enchimento vai se acomodar mais, fica mais nivelado, fibras ficam mais em pé, melhora a qualidade do fio. A drenagem também é muito boa em caso de chuvas", explicou.
A Soccer Grass também vai cuidar de um dos gramados utilizados na Florida Cup. Um campo em dimensões reduzidas será montado dentro de um dos parques da Universal e receberá um torneio de ex-jogadores.
BRASÍLIA - O anúncio de revisão dos subsídios para a geração distribuída de energia gerou uma corrida pela instalação de painéis antes da nova norma. Segundo relatório elaborado peloMinistério da Economia, até o dia 24 de dezembro já havia 1,95 GW de potência instalada via painéis, dos quais 1,24 GW somente no ano passado - valor três vezes maior que a previsão daAgência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). "Isso reforça o fato de que os subsídios cruzados identificados já alcançaram padrões bem mais altos, o que demandaria uma revisão da norma pelo viés econômico", aponta o documento.
O ministério rejeita as alegações das empresas de geração distribuída, para quem a revisão da norma poderia paralisar a expansão do setor. A pasta deixa claro que o investimento continua vantajoso para os que instalarem painéis em seus telhados e cita estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), para quem o mercado deve atingir 11,7 MW em 2029, ou 9,72% da matriz energética brasileira.
Usina solar da AES Tietê, em Guaimbé, no interior de São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão
A pasta reconhece, no entanto, que os painéis solares podem trazer benefício ao sistema elétrico e reduzir o custo das redes, mas cobra cálculos que demonstrem claramente esses benefícios, para que eles sejam "quantificados e reconhecidos da maneira adequada". O relatório deixa claro que o argumento do benefício ambiental e do ativismo do consumidor é usado para justificar uma escolha meramente econômica.
Na verdade, segundo o documento, "os consumidores optam por gerar sua própria energia sempre buscando uma redução nos valores de sua conta de luz", reduções essas que muitas vezes são "artificiais" e bancadas por outros usuários ou pelo governo.
A manutenção da política de subsídios aos painéis solares ainda pode exigir a criação de mais um encargo, avalia o Ministério da Economia, "em direção contrária à atual agenda governamental de desoneração tarifária". "É, no mínimo, um contrassenso defender a liberalização completa do mercado e, ao mesmo tempo, criar um encargo de pagamento obrigatório a todos os consumidores para subsidiar painéis solares de grandes usuários (sejam eles redes varejistas, bancos ou mesmo consumidores residenciais de alta renda) que foram viabilizados por empreendedores que comercializam energia elétrica por meio de uma interpretação duvidosa da resolução normativa."
A nota é assinada por duas áreas do Ministério da Economia - a Secretaria de Avaliação de Políticas Públicas, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) e a Secretaria de Desenvolvimento da Infraestrutura (SDI). O documento foi enviado à Aneel como contribuição para a consulta pública para revisão das normas de painéis solares, encerrada em 30 de dezembro - que deve ficar no "limbo" enquanto o Congresso discute uma política pública para o setor.