quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O QUE A FOLHA PENSA Má fama

Datafolha detecta alta da reprovação ao Congresso, que mostrou independência

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Sessão do Congresso destinada ao exame de vetos presidenciais - Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Como se diz jocosamente sobre o segundo casamento, a avaliação de um Congresso antes da posse representa o triunfo da esperança sobre a experiência.
Quando questionados sobre suas expectativas em relação à legislatura que ainda não começou, os eleitores tendem a ser generosos, proporcionando taxas de bom e ótimo iguais ou superiores a 40%.
Quando se trata de avaliar o desempenho concreto dos parlamentares, entretanto, os índices de aprovação despencam significativamente. Com poucas exceções, ficam abaixo dos 20%.
O atual Congresso não está entre essas exceções, como revela a mais recente pesquisa Datafolha. Ao final de 2018, 56% dos entrevistados esperavam um desempenho favorável dos atuais congressistas.
Agora, ao final do primeiro ano de atividades, apenas 14% dos eleitores sustentam a avaliação positiva, e a reprovação é de 45%. 
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São números um pouco piores do que a média das 70 avaliações realizadas nos últimos 26 anos —15% de aprovação e 39% de rejeição. Mostram-se raras quedas tão agudas no primeiro ano de mandato.
É difícil estabelecer uma paleta de critérios objetivos para avaliar o Congresso, mas parece razoável atribuir méritos à atual legislatura. Afinal, uma das funções precípuas do Parlamento é debater e aprimorar propostas legislativas, sem curvar-se à vontade e às pressões do Poder Executivo.
Nesse quesito, o atual Congresso, embora jovem, já tem um currículo a apresentar. Conseguiu aprovar, em apenas dez meses, uma ampla reforma da Previdência. O governo a apoiava, mas não se engajou como deveria na batalha política.
A reforma feriu interesses, decerto, mas é seguro dizer que, sem ela, o país enfrentaria seriíssimas dificuldades econômicas.
Há mais. Os parlamentares, contrariando velhos costumes nacionais, rejeitaram ou deixaram que caducassem várias medidas provisórias, derrubaram vetos presidenciais e ainda corrigiram algumas das propostas mais extravagantes de Jair Bolsonaro em temas polêmicos como o porte de armas.
Ao menos no que diz respeito à independência, a atual legislatura não se saiu mal. Vale observar que, com Bolsonaro, o Planalto age de modo atípico ao não formar uma base estável de sustentação.
Por outro lado, o Congresso reincide em vícios fisiológicos que podem explicar, ao menos em parte, sua má imagem. No episódio mais recente, partidos da direita à esquerda fizeram ofensiva para elevar as verbas públicas destinadas ao financiamento de campanhas.
Após a péssima repercussão, deputados e senadores desistiram da manobra. Mas o vexame perante a opinião pública estava consumado.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

ANTONIO CARLOS E JOCAFI - DONA FLOR

Ah! Dona Flor, Dona Flor
Deixa a vida de Quelé
Dona Flor, Dona Flor
Um corre corre, um Deus nos acuda, é Vadinho
Um bate boca, um disse me disse é Vadinho
Na passarela, sem aviso prévio
Entregou sua alma
Entre soluços, chiliques, batuques num dia de Carnaval
A boemia chora o seu rei que é Vadinho
Toda Bahia rende homenagem ao Vadinho
Adormecido com um largo sorriso zombava da morte
E ainda se escutava o seu grito de gerra:
Vamos vadiar!
Deixa a vida Quelé!!
Um novo amor renasce pro amor de Vadinho
É Dona Flor que casa de novo, Vadinho
Com o bem-amado, bem visto, benquisto, Dr. Madureira
Um cidadão respeitado, doutor diplomado na capital
Te desconjuro, sai do meu corpo, Vadinho
E foi pro céu um anjo malandro, Vadinho
De vez em quando um riso bonito desperta os amantes
E ainda se escuta seu grito de guerra:
Vamos vadiar!
Deixa a vida de Quelé!!
Fonte: Musixmatch

O liberalismo é uma estrela-do-mar, Helio Beltrão, o moço, FSP

Ao cortar um braço, outro surge; ao cortá-la ao meio, surgem duas estrelas

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O liberalismo iniciou a década largamente ignorado. Hoje, a poucos dias de 2020, está influente. A que deve essa ascensão?
Diferencio o liberalismo humanista daquele neoliberalismo tecnocrata que alcançou algum espaço por aqui nos anos 1980 e 1990. Este último usualmente se restringia à economia e pressupunha que o comportamento humano pode ser modelado por equações econométricas e pelo massacre de dados.
Já o liberalismo contemporâneo brasileiro é humanista, herdeiro de John Locke e David Hume, de Adam Smith, de Edmund Burke, e por aqui de Joaquim Nabuco, de Hipólito da Costa, de Luiz Gama e outros. É multidisciplinar e propõe uma forma de pensar a sociedade focando as pessoas comuns e a sua busca por felicidade. Defende consistentemente vida, liberdade e propriedade privada como pressupostos fundamentais da vida social.
 
Entre os liberais, há unanimidade de que tem sido uma obra construída de baixo para cima há 15 anos. Não há, no entanto, consenso sobre as causas fundamentais da ascensão. Alguns mencionam as redes sociais. Não há dúvida de que houve vitórias importantes por meio do debate aberto. Ocorre que a internet é uma tecnologia, uma plataforma amoral. Qualquer um pode usá-la para vender suas ideias, boas ou ruins. Ademais, há redes sociais em todo o mundo, e não houve acolá avanço liberal como aqui.
Outros mencionam o desastre completo das políticas econômicas do governo Dilma. De fato, os liberais bem poderiam construir uma estátua para homenagear a mandioca, por Dilma haver convertido o maior contingente de brasileiros à causa liberal. Porém, houve e há governos péssimos na Argentina, em Cuba, na Venezuela, na Grécia, e inexiste primavera liberal lá fora. Falta algo.
Há dez anos, proferi uma palestra nos Estados Unidos sugerindo que os liberais liderariam o debate de ideias. O segredo? A descentralização.
No livro de negócios “Quem Está no Comando: A Estrela-do-Mar e a Aranha”, os autores diferenciam as organizações descentralizadas recentes das tradicionais e hierarquizadas. A analogia é biológica. A aranha possui um corpo central e oito pernas. A estrela-do-mar possui um corpo central e cinco braços. Internamente, entretanto, a biologia de ambas é bem distinta.
Ao cortar uma perna da aranha, sobrevive uma aranha aleijada de sete pernas. Mas, ao cortar a cabeça, a aranha morrerá; a aranha não vive sem seu centro de comando. Somos familiarizados com “organizações-aranha”: empresas, governos e organizações que possuem conselhos de administração, matrizes, presidentes, hierarquias etc.
Vejamos a estrela-do-mar. Ao cortar um braço, outro braço surge. Ao cortá-la ao meio, algo incrível ocorre: surgem duas estrelas-do-mar, dois organismos iguais.
O cérebro, a internet, a “gig economy” são organismos descentralizados. A memória não tem localização fixa em nosso cérebro, um certo neurônio da memória da vovó. A internet não tem diretoria nem matriz, e sua governança é fluida.
Nos longínquos de implementação da internet, em meados dos anos 1990, executivos de um provedor startup foram à França levantar recursos. Os investidores perguntaram: quem é o presidente da internet? O papo foi cômico.
O movimento socialista brasileiro tem sido gerido centralmente figuras como Lula e José Dirceu, financiado por verbas governamentais e até supranacionais, e induzido por muito pão com mortadela.
Os liberais não fazem uso de nada disso. São várias dezenas de organizações, centenas de grupos de estudo que surgiram espontaneamente, sem chefe, sem hierarquia, sem fundos centrais. Por isso, prevalecerão. 
Helio Beltrão
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil.