quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Rumo vai duplicar Malha Norte, com mais 700 km, Valor Econômico

A concessionária de ferrovias Rumo vai quase duplicar a extensão da Malha Norte que, juntamente com a Malha Paulista, forma o corredor que liga Rondonópolis (MT) ao porto de Santos (SP), o principal na exportação do agronegócio brasileiro. Aos 735 quilômetros atuais da Malha Norte a Rumo pretende adicionar 700 quilômetros para interligar Rondonópolis a Sorriso (MT). O investimento estimado para construir o trecho é de aproximadamente R$ 6 bilhões.
Por ora a empresa realiza estudos internos sobretudo de traçado - há ao menos quatro possíveis - e da demanda adicional de cargas que poderão ser atraídas.
Como a concessão da Malha Norte só vence em 2079, o investimento é amortizável dentro do prazo. O projeto, contudo, só deve sair do papel se houver um grande investimento na ampliação da capacidade da Malha Paulista, já que a carga a ser escoada pela Malha Norte precisa passar pela Malha Paulista para acessar o porto de Santos.
É uma questão de ordem lógica. Qualquer expansão na Malha Norte tem como precondição um grande investimento na Malha Paulista, disse ao Valor o diretor regulatório e de assuntos institucionais da Rumo, Guilherme Penin. O executivo debateu o assunto em um encontro sobre ferrovia realizado em Cuiabá, no início da semana, por onde o novo trecho deve passar.
A Rumo pretende desembolsar R$ 4,7 bilhões na Malha Paulista para expandir a oferta anual de transporte das atuais 30 milhões de toneladas para 75 milhões de toneladas. Para amortizar esse investimento, a companhia pediu ao governo a prorrogação antecipada da concessão por mais 30 anos, até 2058.
O processo foi aprovado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) no fim de agosto e está no Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil. De lá, seguirá para análise do Tribunal de Contas da União (TCU).
A prioridade zero da Rumo é obter a prorrogação da concessão da Paulista, no que a empresa está 100% focada. Uma vez alcançado esse objetivo, o projeto da ampliação da Malha Norte ganhará prioridade. Em princípio, a previsão é que, levando em conta as etapas de planejamento e execução, as operações do novo trecho da Malha Norte possam começar em 2023.
Com a duplicação da Malha Norte, a Rumo pretende atrair a produção agrícola do Meio-Norte. Estudos em curso na empresa apontam duas vertentes de cargas consideradas promissoras: grãos que hoje não são atendidos pelo raio de captação de Rondonópolis e as chamadas cargas de retorno, como fertilizantes. Além disso, a Rumo vislumbra potencial para cargas industrializadas.
No encontro em Cuiabá, representantes do Fórum Pró-Ferrovia assinaram um documento de apoio à expansão da Malha Norte e à prorrogação da concessão da Malha Paulista. O documento será encaminhado ao Ministério dos Transportes e ao TCU. Entre os signatários, estão a Prefeitura e a Câmara de Vereadores de Cuiabá; o governo do Estado do Mato Grosso; o consórcio do Vale do Rio Cuiabá (que reúne 13 municípios); e deputados e senadores da região.
Além das malhas Norte e Paulista, a Rumo explora as malhas Sul (com 7.208 quilômetros) e a Oeste (com 1.951 quilômetros). Ao todo, são mais de 12 mil quilômetros de trilhos espraiados pelos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.



RESTAM TRÊS PARA UMA, José Roberto de Toledo , Piauí

Na dança das cadeiras presidenciais, Marina sobrou. Restam Bolsonaro e mais três. Como assim? A candidata da Rede não está tecnicamente empatada com Ciro, Alckmin e Haddad? É o movimento, leitor: pesquisa é filme, não adianta olhar só a fotografia. Na projeção da campanha eleitoral, Marina está ficando para trás. À tendência histórica de baixa estendeu-se a queda no curto prazo. Pode levar dois dias ou duas semanas, mas o fotograma sem ela entre os segundos colocados aparecerá. E as outras cadeiras?
A facada fixou o assento de Bolsonaro. Ele está em patamar mais de dez pontos acima dos concorrentes, e isso sem contar os eleitores que têm vergonha de verbalizar o voto no capitão. Sua vaga no segundo turno depende mais da saúde do candidato do que de qualquer outra coisa. No filme da eleição, Bolsonaro continua em ascensão. Depois do atentado, cresceu no Rio, em Minas e no Distrito Federal. Se não subiu também em São Paulo, oscilou para cima. Bolsonaro rompeu seu teto eleitoral e não achou novo limite, ainda. A cirurgia de emergência na quarta-feira à noite demonstrou, porém, que seu problema médico é complexo e grave.
Se superadas as complicações abdominais do líder das pesquisas, sobram três candidatos para uma cadeira só. Ciro e Alckmin logo perceberam a mudança do cenário e trocaram de alvo. Em vez de mirar em Bolsonaro, ambos passaram a atirar em Haddad, tentando frear o rápido crescimento do petista e evitar que ele assuma a vice-liderança sozinho. Não está fácil de acertarem nele.
Diferentemente de 2010, a menor preocupação do PT é com o Nordeste, com os municípios do interior e com os pobres. Se naquela eleição Dilma demorou para virar a “mulher do Lula”, Haddad está se transformando no moço do ex-presidente para o eleitorado nordestino rapidamente. O que mudou? WhatsApp. Com a massificação dos smartphones, grupos de “zap” petistas transformam decisão da cúpula do partido em Curitiba num meme popular no Bodocó, sertão pernambucano, em horas –- minutos até.
Ainda mais relevantes que a máquina eleitoral do PT são as vantagens estratégicas que Haddad herdou de Lula. Elas abrem a janela para o ex-prefeito de São Paulo surrupiar votos dos adversários. Cerca de metade dos eleitores de Ciro e de Alckmin admitem votar no candidato indicado pelo ex-presidente, segundo o Ibope. Mas não é só aí que Haddad busca os pontos que lhe faltam para isolar-se na segunda colocação do páreo eleitoral.
De acordo com o Ibope, o petista é, dentre os favoritos, o candidato com menor rejeição entre os eleitores sem candidato (a soma daqueles que declaram que votariam em branco, anulariam ou estão indecisos): só 18% desses não votam nele de jeito nenhum.
Se não bastasse, Haddad só converteu até agora as intenções de voto de um em cada três eleitores que se declaram simpatizantes do PT. Esse contingente varia de 21% (Datafolha) a 24% (Ibope) do eleitorado. Mesmo que não converta 100%, se convencer dois em cada três petistas a votarem nele, Haddad saltará dos 8% ou 9% que tinha segunda-feira para 16% ou 17%. Basta para deixar claro que é o favorito à segunda cadeira.
A polarização entre Bolsonaro e Haddad não é surpresa para quem atentou à política brasileira nos últimos 24 anos. Desde 1994 as eleições majoritárias no Brasil se organizam entre PT e antiPT. O fato de um mesmo partido ter assumido o papel de principal adversário petista nas últimas seis disputas pelo Palácio do Planalto fez parecer que a expressão da luta pelo poder era PT x PSDB. Bolsonaro está demonstrando que o PT era a constante, e que o PSDB era a variável dessa equação.
Segundo o Ibope, 30% dos eleitores brasileiros não votariam no PT de jeito nenhum. Nenhum outro partido causa tanta ojeriza. Na ponta oposta, Lula tinha 37%, até ser barrado pela Justiça. Hoje, a maioria absoluta do terço de eleitores que rejeitam o PT declara voto em Bolsonaro. Quantos votam em Alckmin? 9%. Só 9%.
Quer dizer, então, que a eleição caminha inapelavelmente para a o embate Bolsonaro x Haddad? Longe disso. Cisnes negros (apud Nassim Taleb), fístulas e aderências à parte, há e haverá a reação de Ciro e Alckmin à ascensão de Haddad. Se nada mais funcionar, os dois usarão o discurso do voto útil contra o petista. Dirão aos mais de 40% de eleitores que rejeitam Bolsonaro que Haddad é quem tem menos chance de vencer o candidato da direita num segundo turno. Apelarão ao medo.
Pode ser que cole, pode ser que não. Mas uma resultante possível é que os três – Haddad, Ciro e Alckmin – se engalfinhem em uma luta renhida que dificultará ou mesmo inviabilizará uma aliança das forças políticas que representam em um segundo turno contra Bolsonaro. Tanto mais grave se o tucano não ficar com a segunda cadeira. Alckmin terá sido derrotado, e Doria estará no segundo turno em São Paulo, com forte estímulo para apoiar Bolsonaro. O PSDB sofreria, nesse cenário, um risco alto de rachar.
Mesmo se Alckmin ou Ciro passarem ao turno final as chances de Bolsonaro não seriam tão pequenas assim, especialmente se as mágoas do primeiro turno alimentarem uma abstenção maciça de eleitores petistas em 28 de outubro. Diante do improvável pacto de seus três rivais imediatos para o segundo turno, o desafio do capitão tornado presidenciável é chegar até lá são e salvo.

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO (siga @zerotoledo no Twitter)

Jornalista da piauí, foi repórter e colunista de política na Folha e no Estado de S. Paulo e presidente da Abraji

JBS-Bertin deu prejuízo de R$ 1,1 bilhão ao BNDES, FSP

Para o TCU, banco não fez análise adequada ao fazer aporte em sociedade para aquisição

Fábio Fabrini
BRASÍLIA
O TCU (Tribuinal de Contas da União) concluiu que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) teve um prejuízo de R$ 670 milhões (em valores históricos) na fusão da JBS com o frigorífico Bertin em 2009. O montante, atualizado, chega a R$ 1,1 bilhão. 
Em julgamento nesta quarta (12), a corte indicou como responsáveis por falhas no negócio o ex-presidente do banco Luciano Coutinho e mais 15 dirigentes e técnicos da instituição.
Será aberta agora uma tomada de contas especial, tipo de processo que visa confirmar a participação de cada um dos implicados nos danos ao erário, após ouvi-los, bem como o valor.
Todos têm 90 dias para apresentar suas alegações ou, caso não o façam, pagar o débito.
Braço do BNDES para investimentos no mercado financeiro, o BNDESPar aprovou em 2008 injeção de R$ 2,5 bilhões na Bertin (R$ 4,4 bilhões, a valor presente). Com isso, tornou-se sócio minoritário da empresa. 
A capitalização foi solicitada pelo frigorífico para investimento em suas próprias unidades e a compra de concorrentes. O banco passou, com isso, a ser dono de 26,92% das ações do Bertin.
No ano seguinte, a JBS adquiriu o controle acionário da Bertin e a incorporou. 
O banco público passou, no entendimento do tribunal, a deter fatia da JBS de R$ 1,83 bilhão, valor inferior ao que aportara inicialmente no Bertin (R$ 2,5 bilhões). A diferença entre esses dois valores, segundo a corte, equivale à perda de R$ 670 milhões. 
Os auditores dizem que, ao fazer o primeiro aporte no Bertin, faltou análise adequada sobre as reais condições do frigorífico, o que poderia ter detectado situação "pré-falimentar". 
Logo após a transação, os balanços do frigorífico revelaram prejuízo de R$ 681 milhões e uma dívida de R$ 5,5 bilhões, mas os relatórios do banco não indicaram nenhum problema.
"O BNDESPar pagou um valor excessivo pelas ações adquiridas [na ocasião]", escreveu em seu voto o relator do processo, ministro Augusto Sherman. Para ele, há indícios de que os técnicos que recomendaram os negócios e os dirigentes que os aprovaram --Coutinho, entre eles-- causaram "dano" ao patrimônio do BNDES. 
Fachada da JBS
O TCU considerou que a própria Bertin, "favorecida por condutas irregulares", deveria ser responsabilizada, mas, como ela foi adquirida pela JBS em 2009, a empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista terá de assumir esse papel. O julgamento de outros eventuais prejuízos do BNDES na fusão do Bertin com a JBS será feito a posteriori.
Procurado pela Folha, o BNDES informou que tem colaborado com o TCU e demais órgãos de controle e "continuará prestando todas as informações solicitadas nas demais etapas do processo que se inicia agora". 
"O BNDES instaurou uma Comissão de Apuração Interna que abrange o caso e que não identificou nenhum fato relevante, conforme consta de suas demonstrações financeiras publicadas em 30 de junho deste ano. O banco também contratou uma auditoria internacional independente, para aprofundar as investigações", acrescentou.
A assessoria de Coutinho afirmou que ele se surpreendeu com a decisão, pois "não se esgotou a fase de defesa". Alegou que o relatório não individualiza as supostas condutas irregulares a ele imputadas.
Em nota, a JBS informou que não teve acesso ao relatório e, portanto, "não irá se manifestar sobre o teor do documento". "A companhia reitera que a negociação realizada com a empresa Bertin obedeceu a critérios e processos-padrão de mercado para transações semelhantes, tendo contado com o suporte de renomados assessores jurídicos e financeiros e que está à disposição das autoridades."