quinta-feira, 8 de março de 2018

Indústria paulista registra aumento de 4% no consumo de gás natural em 2017, SP.GOV


Fonte: Secretaria de Energia e Mineração
Setor industrial é responsável por 81,1% do consumo de gás natural do Estado

Após dois anos de queda, a indústria paulista registrou em 2017 aumento de 4% no consumo de gás natural do Estado, totalizando 4 bilhões de metros cúbicos (m³). A informação foi divulgada nesta quarta-feira, 28 de fevereiro, no Boletim Energético da Secretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo.
Responsável por 81,1% do consumo de gás natural do Estado, o setor industrial registrou 63 novas unidades consumidoras. “A ampliação da produção, principalmente do setor cerâmico no segundo semestre do ano passado, foi um dos principais fatores para a retomada do consumo de gás no estado”, explica o secretário de Energia e Mineração de São Paulo, João Carlos Meirelles.
São Paulo registrou queda na utilização de gás nas indústrias nos primeiros seis meses do ano, mas de julho a dezembro o setor apresentou recuperação fechando o ano de 2017 com saldo positivo.
Já o setor residencial, que representa 5% do consumo estadual, apresentou um acréscimo de 6,8% sobre o mesmo período de 2016, graças à expansão da rede de distribuição de gás canalizado e a entrada de mais de 47 mil unidades consumidoras.
O comércio também foi outro setor que apresentou elevação no acumulado do ano, com alta de 6,6%. O consumo de gás natural veicular – GNV apresentou no ano uma variação positiva de 2,1% e a cogeração cresceu 8,2%.
O único setor que registrou queda no consumo de gás natural no ano passado foi o de geração termoelétrica. “Com o regime favorável de chuvas e a entrada de novas eólicas do nordeste, o Operador Nacional do Sistema optou por desligar as térmicas de São Paulo, que em 2017 funcionaram apenas alguns dias de janeiro. Isso fez com que o consumo total de gás do estado fosse inferior ao ano anterior”, disse Meirelles.
O Estado de São Paulo consumiu 4,9 bilhões de metros cúbicos em 2017, volume 1,1% inferior em comparação com 2016.
O gás natural é distribuído no Estado de São Paulo pelas concessionárias Comgás, Gás Brasiliano e Gás Natural Fenosa, que atendem respectivamente 177, 375 e 93 municípios.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Metade dos jovens brasileiros têm futuro ameaçado, alerta Banco Mundial, OESP

BRASÍLIA - Um em cada dois jovens brasileiros com idade entre 19 e 25 anos corre sério risco de ficar fora do circuito dos bons empregos no País e, com isso, está mais vulnerável à pobreza. É o que aponta o relatório “Competências e Empregos: Uma Agenda para a Juventude”, divulgado pelo Banco Mundial.


Opção pela escola pública
Relatório aponta que situação dos jovens também coloca em risco o crescimento da economia brasileira Foto: Fabio Motta/Estadão
O documento diz que 52% da população jovem brasileira, quase 25 milhões de pessoas, estão desengajados da produtividade. Nessa conta, estão os 11 milhões dos chamados “nem-nem”, aqueles que nem trabalham, nem estudam. A eles, foram somados aqueles que estão estudando, mas com atraso em sua formação. E os que trabalham, mas estão na informalidade.
“É uma população que vai ser vulnerável, vai ter mais dificuldade de achar emprego, corre maior risco de cair na pobreza”, disse o diretor da instituição para o Brasil, Martin Raiser.


Além da ameaça ao futuro desses jovens, essa situação leva a outra consequência séria: ela coloca em risco o crescimento da economia brasileira. Isso porque o País vai depender do trabalho deles para continuar produzindo. Mais ainda, vai precisar que eles sejam mais produtivos do que seus pais para reverter uma tendência de queda na taxa de crescimento do Brasil.
A urgência na adoção de uma agenda para que o Brasil produza melhor com os recursos que possui foi analisada em outro relatório: “Emprego e Crescimento: a Agenda da Produtividade”, também divulgado hoje pelo Banco Mundial. No entendimento dos economistas do organismo, os dois temas estão profundamente relacionados. A melhora na formação de jovens e sua preparação para o mercado de trabalho é um dos itens da agenda da produtividade.
O relatório traz evidências que a educação no País é falha e não se traduz em aumento de produtividade. Na Malásia, por exemplo, um ano a mais na escola resulta numa elevação de US$ 3.000,00 no salário. Na Turquia, US$ 4.000,00. Na Coreia do Sul, US$ 7.000,00. No Brasil, o ganho é próximo a zero. “Precisamos de uma educação de qualidade que cumpra sua missão de dar competência aos jovens”, disse a economista Rita Almeida.
Ela avalia que a reforma do ensino médio de 2017 atacou alguns pontos críticos, mas ainda falta ver como será sua implementação. Além disso, seria necessário dar um foco político mais forte ao problema da evasão escolar. No Brasil, apenas 43% da população acima de 25 anos concluiu o ensino médio. Nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o índice é de 90%.
Mais grave do que constatar que há pouca gente com formação de nível médio é verificar que essa tendência se mantém. Hoje, um de cada três jovens de 19 anos já está fora da escola.

Entre as ideias trazidas pelo relatório, está a criação de programas para redução da gravidez na adolescência. Os programas de transferência de renda poderiam ser direcionados para estimular a conclusão do ensino médio. Além disso, seria necessário informar melhor os jovens sobre os benefícios do estudo. 

terça-feira, 6 de março de 2018

Por que “fazem o que fazem” os deputados estaduais?, OESP


Bruno Souza da Silva
06 Março 2018 | 10h17
Na semana passada, a colega de blog Ana Paula Massonetto escreveu interessante texto a respeito do trabalho dos deputados estaduais no que diz respeito à produção de leis nas Assembleias Legislativas. Em diálogo com esta reflexão é que procuramos ampliar o debate relacionado ao trabalho e atuação dos parlamentares.
Deputados estaduais são políticos profissionais. Trata-se de atores racionais que buscam, em alguma medida, maximizar sua atuação política com vistas a manterem-se no poder, ampliar a sua base de apoio ou ascender na carreira política. É claro que os motivos individuais e as possíveis variáveis que explicam as estratégias eleitorais e legislativas podem ser múltiplas. Mas o fato é que, enquanto políticos profissionais, deputados estaduais “fazem o que fazem” porque perseguem algum objetivo valorizado dentro da política institucional e que os conectem ou ofertem respostas às suas bases.
Isso ocorre pelo seguinte: sabemos que, na prática, um parlamentar cumpre dois mandatos distintos, embora simultâneos. O “primeiro” deles é o mandato construído ao longo de sua campanha eleitoral e que visa representar os eleitores que confiam a ele seu voto. Ou seja, espera-se que um parlamentar, uma vez eleito, procure realizar o que prometeu em campanha aos seus eleitores e apoiadores, sob o risco de perder apoio político ou se desgastar, tornando mais difícil a realização de objetivos políticos futuros. E isso independe se estamos falando de um deputado que valoriza a construção de uma pauta política específica e de natureza mais ideológica – como o combate às formas de preconceito – ou um deputado que valorize mais resolver problemas pontuais dos locais e eleitores que o elegeram, como enviar emendas orçamentárias para providenciar o recapeamento de vias públicas.
Vale lembrarmos que o sistema eleitoral proporcional, embora opere sob uma lógica de distribuição partidária dos votos (partidos mais votados acessam maior quantidade de cadeiras no Legislativo), tem nele fortes incentivos para o voto nos candidatos, e não nos partidos (uma vez que os parlamentares mais votados dentro de um partido ou coligação são os que assumem as cadeiras conquistadas). Portanto, a disputa eleitoral é tanto intrapartidária quanto interpartidária, o que leva os deputados a visualizarem sua atuação política de maneira individualizada e, portanto, definirem estratégias as quais acreditam ser mais eficientes ao cumprimento dos seus interesses. Isso envolve, certamente, optar por fiscalizar mais o Executivo ou vincular a sua imagem a projetos específicos, mesmo que seja o do “dia dos quadrinhos”. Se um parlamentar opta por essa estratégia é porque acredita ser a mais eficiente perante seus eleitores. A representação política real talvez não seja a ideal; no entanto, aos olhos dos parlamentares, é a que garante mais votos.

Mas há o “segundo” mandato, aquele pertencente ao partido político (detentor da cadeira no parlamento) e cuja atuação dos deputados se dá “para dentro” do Legislativo, o que pode levar à limitação dos seus objetivos individuais. Para simplificar a linguagem: decisões políticas são costuradas pelo governo tendo como referência os partidos (não deputados individuais) e, dentro deles, as lideranças procuram coordenar seus correligionários a fim de garantir a produção das decisões políticas. Sem coordenação política, não há aprovação de leis e, tampouco, implementação de políticas públicas. No entanto, vários fatores tornam distinta a atuação política e, inclusive, impactam sobre o tipo de produção legislativa nas Assembleias: o grau de institucionalização dos parlamentos, a organização e sistematização dos trabalhos nas comissões permanentes e os potenciais pontos de veto em Plenário devido à quantidade de deputados envolvidos no processo decisório. Há maiores dificuldades por parte do governo em negociar com os partidos tendo como referência um Legislativo com 94 deputados, como é o caso da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), do que para um governo que precisa negociar com 24 deles (menores Assembleias). A necessidade de coordenação partidária é maior em parlamentos cujo número de representantes é maior do que em parlamentos com menos representantes. Em Legislativos menores o protagonismo individual do parlamentar pode ser mais facilitado do que em parlamentos maiores, uma vez que o fator numérico importa para o tipo de coordenação política necessária à garantia das decisões políticas.
O ponto que destacamos é o seguinte: as condições institucionais para o desenvolvimento do trabalho parlamentar podem facilitar ou dificultar o cumprimento dos seus objetivos individuais e, provavelmente, impactam também no tipo da produção legislativa. Assim como seus objetivos eleitorais também influenciam nas decisões que tomam. É um equilíbrio fino e delicado cooperar para acessar recursos importantes ao longo do mandato, garantir acesso ao governo e atender às pressões dos redutos e bases eleitorais. Por vezes, podem ser até contraditórias as decisões, e a produção legislativa pode revelar maior concentração em atividades não tão canônicas do Legislativo, quanto fiscalizar e legislar. É uma questão de custos e também de atalhos legislativos que possam gerar ganhos individuais.
Tomemos como exemplo a ALESP, segundo maior Legislativo brasileiro (mais institucionalizado) atrás apenas da Câmara dos Deputados com um orçamento anual que gira na casa de 1 bilhão de reais e cera de 4 mil funcionários, para identificarmos essa pluralidade na atuação política dos deputados. Em 2017, durante as 273 sessõesordinárias e extraordinárias, verificamos mais de 25 mil proposições apresentadas sendo 63% destas emendas. Em plenário, foram deliberadas 432 proposições: 53% requerimentos e 25% projetos de lei aprovados. As 15 comissões permanentes – que tem por objetivo analisar toda matéria que tramita pela ALESP – apresentaram 1.865 pareceres protocolados, com 85% destes relativos a projetos de lei. Outro aspecto importante é o número de reuniões e audiências públicas realizadas pelo conjunto das comissões. Foram 362 reuniões e 25 audiências públicas (preponderantemente voltadas a discussões relativas ao orçamento como a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual) que indica a possibilidade de expansão do número de audiências para outros temas que não aqueles voltados para as questões de orçamento e finanças. Vale ressaltar também o número de solenidades, 87 sessões durante o ano legislativo.
E o que esses dados do exemplo e discussão sobre os mandatos parlamentares nos mostra? O tamanho do desafio para o eleitor escolher seus representantes e acompanhá-los, inclusive para saber o que valorizar mais na atuação do seu deputado: o seu trabalho como legislador, enquanto fiscalizador, debatedor de pautas políticas mais ideológicas, sua especialização em temas específicos pertinentes às comissões ou a microexecução de pequenos benefícios localizados. Se o Legislativo produz muito ou pouco, se a qualidade das propostas beneficia amplos segmentos populacionais ou grupos específicos e, ainda, se os trabalhos melhoram ou pioram a qualidade de vida dos cidadãos é algo que podemos debater na sociedade. Olhar apenas para as leis como resultado dos trabalhos legislativos é pouco diante do que é o volume da atividade parlamentar. O Legislativo necessita se tornar, cada vez mais, alvo da nossa atenção e centro do debate político enquanto caminho para o fortalecimento da democracia.

*Texto escrito em co-autoria com Vinicius Schurgelies, doutorando em Administração Pública (FGV) e Diretor-Presidente do Instituto do Legislativo Paulista (ILP) da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP).