quinta-feira, 3 de julho de 2025

Aquele filho, antes tão familiar, começa a se tornar um estrangeiro na adolescência, Daniela Teperman, FSP

 Daniela Teperman

Psicanalista, doutora em Psicanálise e Educação pela FEUSP. É autora do livro 'Família, parentalidade e época: um estudo psicanalítico' (Fapesp/Escuta) e coorganizadora da Coleção 'Parentalidade & Psicanálise' (Autêntica, 5 volumes, 2020).

A adolescência inaugura uma fase em que o jovem é convocado a responder, a assumir uma posição no laço social. Para isso conta com as experiências que foi reunindo ao longo da infância, mas elas são insuficientes para dar conta do que se passa em seu corpo e para antecipar um saber-como-fazer em termos de suas experimentações sexuais.

Para fortalecer-se diante de tantas experiências de primeiras vezes, os adolescentes precisam fazer um trabalho de musculação, como diz a psicanalista Diana Corso. Assim como investem na academia em um corpo musculoso e "definido", é necessário que invistam também em uma musculação do próprio discurso, que exercitem e experienciem falar o que pensam, argumentar, posicionar-se para além do campo familiar. Esse exercício de fortalecimento contribui para aumento da confiança em si mesmos.

Se na adolescência o jovem precisa fazer uma travessia, sem garantias do que vai encontrar do outro lado, arriscando-se em águas desconhecidas, ele pode contar neste percurso com alguns respiros: a família, os professores, o conhecimento, as amizades, a possibilidade de antecipar um futuro projeto.

Vivemos uma época em que sustentar um projeto de futuro para as novas gerações torna-se cada vez mais desafiador. Por isso, a possibilidade de os adolescentes se projetarem no futuro ultrapassa o âmbito familiar e dos adultos próximos —é uma questão que diz respeito a toda a sociedade.

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