quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Meta ambiciosa na COP-23, OESP


Declaração de Visão aponta necessidade de expansão da bioenergia e dos biocombustíveis

PLINIO NASTARI*, O Estado de S.Paulo
29 Novembro 2017 | 03h00
A 23.ª Conferência das Partes signatárias da Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas, a COP-23, realizada em Bonn, na Alemanha, durante a primeira quinzena de novembro, foi uma oportunidade para que governos e organizações não governamentais de todo o mundo reafirmassem sua preocupação com os impactos previstos e apresentassem suas estratégias de mitigação do aquecimento global. Boa parte das discussões levou em conta quais seriam as medidas necessárias para limitar o aquecimento até 2050 a um aumento máximo de 2 graus Celsius e, se possível, limitar esse aumento a, no máximo, 1,5 grau Celsius.
Governos de diferentes países, representações setoriais e entidades da sociedade civil apresentaram avaliações, propostas e soluções variadas. Mas o ponto alto foi o evento organizado pelos governos de 19 países, dentre os mais populosos e de maior expressão econômica do mundo, representando metade da população e 37% do produto bruto do planeta, para apresentar uma visão comum sobre o que será necessário para atingir a meta de 2 graus Celsius. Somaram-se a esse grupo de nações a Agência Internacional de Energia e a Agência Internacional de Energia Renovável.
O evento Plataforma para o Biofuturo, representando esses 19 países, apresentou uma Declaração de Visão no qual aponta que até 2030 a proporção da bioenergia na demanda global de energia precisa dobrar e a proporção dos biocombustíveis, triplicar – em volume, ou megajoules, precisa crescer muito mais. A bioenergia e os biocombustíveis produzidos de forma sustentável foram reconhecidos como elementos indispensáveis do portfólio de medidas de baixa emissão de carbono, sem as quais é muito elevado o risco de não serem atingidas as metas de clima de longo prazo.
De forma conjunta, declararam que a bioenergia será chave não só para reduzir a poluição atmosférica, mas também para aumentar a diversidade e a segurança energéticas. A declaração indicou que uma bioeconomia expandida – definida como o conjunto de atividades relacionadas a inovação, desenvolvimento, produção e uso de biomassa e/ou processos para produção de energia, materiais e produtos químicos renováveis – precisa ser baseada em práticas sustentáveis para garantir a redução inequívoca de emissões de carbono e evitar impactos negativos do ponto vista ambiental, social e econômico. Indicaram que, apesar do crescente consenso sobre a importância e a urgência de acelerar o desenvolvimento da bioenergia e dos biocombustíveis, investimentos não estão sendo feitos na intensidade necessária e a implementação de tecnologias encontra inúmeras barreiras, como a superação da escala inicial, riscos financeiros, volatilidade dos preços do petróleo e outras matérias-primas e incertezas regulatórias.
À luz dessa constatação, a Declaração de Visão desses países-chave foi inequívoca: é preciso aumentar significativamente a contribuição da bioenergia moderna e sustentável na demanda final de energia; aumentar significativamente a proporção dos biocombustíveis sustentáveis e de baixa pegada de carbono nos combustíveis para transporte; gradualmente reduzir as emissões de carbono com base em avaliações do ciclo de vida, usando mais biocombustíveis em substituição a combustíveis fósseis; aumentar significativamente os investimentos globais em bioenergia sustentável e de baixo carbono, incluindo biorrefinarias avançadas e flexíveis, capazes de produzir energia e produtos com base em biomassa.
Alcançar essa visão inspiradora vai requerer um esforço internacional coordenado, envolvendo grande número de participantes. Instituições de governo – em todos os níveis –, a academia, a indústria e as instituições financeiras precisam atuar de forma coordenada para desenvolver ações que permitam termos um futuro com menos carbono. A adoção de ações efetivas é urgente – e ações adotadas por alguns países servirão de exemplo para muitos outros.
Foi dentro desse contexto que durante o evento o Brasil anunciou o aumento da mistura de biodiesel no diesel fóssil, de 8% para 10%, a partir de 1.º de março de 2018, e apresentou o RenovaBio, sua inovadora e moderna proposta de arcabouço regulatório e estratégico para estimular o investimento privado na expansão da produção e do uso de biocombustíveis avançados e sustentáveis. Explicou-se que o RenovaBio não é um subsídio nem um tributo sobre carbono, é um instrumento de indução de ganhos de eficiência e de reconhecimento da capacidade de cada biocombustível promover descarbonização. Que a proposta do RenovaBio é recompensar quem faz o certo, e não penalizar quem faz o errado. E que a proposta de regulamentação do RenovaBio, envolvendo etanol, biodiesel, biogás/biometano e bioquerosene, formulada no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética, sob a coordenação do Ministério de Minas e Energia, foi apresentada como Projeto de Lei n.º 9.086, de 2017, pelo deputado Evandro Gussi (PV-SP), a tempo de ser levada a público na COP-23.
O embaixador José Antonio Marcondes de Carvalho, negociador-chefe do Brasil para o Acordo do Clima, saudou a Declaração de Visão apresentada em Bonn como um grande avanço, depois de nove meses de intensas negociações, na direção de reconhecer a importância da bioenergia e dos biocombustíveis para o controle do aquecimento global. A apresentação pelo Brasil da adoção do B10 (mistura de 10% de biodiesel ao diesel mineral) a partir de março de 2018 e da proposta do RenovaBio no Congresso Nacional foi reconhecida como contribuição efetiva para o estabelecimento de um modelo de regulação visando à redução do aquecimento global, pela indução de forças de mercado, que deverá servir de exemplo a vários outros países.
* PLINIO NASTARI É REPRESENTANTE DA SOCIEDADE CIVIL NO CONSELHO NACIONALDE POLÍTICA ENERGÉTICA (CNPE)

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Mais de 50% das fraudes em licitações de saneamento ocorreram em SP, diz PF. OESP

A Operação Vinil, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nesta segunda-feira, 27, identificou fraudes em mais de cem licitações de saneamento básico em ao menos 13 Estados. Segundo a PF, mais de 50% das fraudes ocorreram em licitações em São Paulo.

“A maioria, mais de 50% (das fraudes) foi no Estado de São Paulo”, disse o delegado da PF Claudio Alves Barreiro, coordenador da operação.

Foto: PF

Foto: PF
A investigação mira crime de formação de cartel por empresas do ramo de conexões de PVC e polipropileno, em licitações públicas de obras de infraestrutura em saneamento.
Segundo a PF, 65 policiais federais e 20 servidores do Cade cumpriram 15 mandados de busca e apreensão em São Paulo, grande São Paulo e na cidade de Santa Bárbara D’Oeste, todos expedidos pela 5ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Agentes vasculharam a sede de 4 empresas e endereços ligados a 11 pessoas físicas – diretores, sócios e ex-sócios.
“A gente tem provas de que no ano de 2012, em determinado período, alguns meses, as empresas, tem provas documentais disso, de que elas ratearam em torno de R$ 40 milhões entre cada uma delas para se saírem revezadamente vencedoras em licitações nesse ano, para cada empresa”, declarou o delegado.
A Vinil mira fraudes em licitações no Amazonas, na Bahia, no Maranhão, na Paraíba, no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul, no Paraná, em Santa Catarina, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e no Espírito Santo.
“As empresas trabalhavam da seguinte forma: apresentando propostas fictícias ou de cobertura que são propostas, é a forma mais frequente em rigor da implementação desses esquemas de conluio entre os concorrentes. Eles faziam também supressão de propostas, propostas rotativas e divisão de mercado”, relatou o superintendente-geral do Cade, Alexandre Cordeiro Macedo.
O inquérito policial teve início em junho de 2017 quando o Ministério Público Federal encaminhou, para investigação pela PF, o acordo de leniência firmado entre o Cade e uma empresa fabricante de conexões, no qual se descrevem condutas anticompetitivas dela e de outras três empresas do ramo, afetando o mercado nacional, entre os anos de 2004 e 2015, comprometendo licitações em pelo menos 13 estados.
O relatório do Cade aponta indícios de violação da ordem econômica por meio de conluio entre as empresas para frustrar o caráter competitivo das licitações públicas, como a fixação de preços e condições comerciais; a abstenção de participação em licitações; acordos para divisão de clientes e lotes entre concorrentes e o compartilhamento de informações comercialmente sensíveis. São apurados crimes de abuso do poder econômico (formar acordo visando a fixação artificial de preços e o controle regionalizado do mercado por um grupo de empresas), previstos na Lei 8.137/90, com penas de 2 a cinco anos de prisão e multa.

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Análise: Alckmin dá passos importantes para unificar o centro, Oesp


Vera Magalhães
27 Novembro 2017 | 15h58
Na minha coluna de domingo, escrevi que a desarticulação do PSDB, aliada à busca de parte do eleitorado por um “novo” bastante difuso, eram fatores que jogavam a favor da pulverização eleitoral em 2018 e, por isso, contra a ideia de que um tucano, no caso Geraldo Alckmin, de novo polarizasse com o PT a disputa pelo voto.
Nas últimas horas, dois movimentos da política acabaram por reordenar o tabuleiro a favor do governador de São Paulo. Um deles, a renúncia dos dois pré-candidatos ao comando do PSDB em seu favor, teve sua participação direta, na articulação.
O outro, o anúncio de Luciano Huck de que não disputará as eleições, decorreu da análise do cenário por parte do apresentador de TV e do balanço de perdas e danos que teria ao se lançar no mar bastante turvo da política.
O fato é que, tirados do caminho os dois candidatos mais evidentes a encarnar essa “novidade” manifestada no imaginário do eleitorado — Huck e o prefeito de São Paulo e afilhado pródigo de Alckmin, João Doria Jr. — fica mais fácil para o paulista pavimentar o caminho para uma aliança ampla que inclua, além do PSDB, PMDB, DEM, PSD, PPS e os partidos do chamado “Centrão”.

O próximo passo para isso será Alckmin, depois de assumir o comando do PSDB, conduzir o partido para uma decisão final e menos atabalhoada sobre como proceder diante do governo Michel Temer. Tratei também disso no domingo: o partido esteve, ainda que em constante motim, no barco de Temer nos momentos de mar revolto das duas denúncias de Rodrigo Janot. Decide (decide?) sair agora que o presidente se segurou no cargo e a economia começa a dar sinais mais consistentes de recuperação. Com que objetivo? Tendo a ganhar exatamente o que?
Não vai colar o discurso de intolerância ética ao PMDB, uma vez que foram parceiros até aqui. A redução de danos que Alckmin poderá fazer será, caso o desembarque seja a tese a prevalecer, arrancar das bancadas tucanas o compromisso (e não “firme recomendação, no melhor estilo tucano) de aprovar a reforma da Previdência.
Isso dará aos tucanos, depois de muito tempo, um discurso programático claro, pró-reformas, um retorno à sua antiga plataforma. E fará com que Alckmin tenha musculatura para pleitear o apoio do PMDB, que já vinha, de forma reativa, falando em buscar um candidato para defender o “legado” de Temer –que, se hoje é o de uma impopularidade recorde, pode ser, na época em que a campanha estiver bombando, o de uma economia rodando com crescimento na casa de 2% e recuperação do emprego, o maior chamariz para as urnas.
O fato é que a reorganização do tabuleiro para que fique mais nítido como se alinharão as forças de centro –e os grandes partidos, que detêm o maior tempo de TV e estrutura partidária– confere à pré-campanha um grau maior de previsibilidade e isola os dois pólos que, justamente pelos erros de estratégia das legendas maiores, vinham se destacando nas pesquisas: Lula e Jair Bolsonaro.
*Análise originalmente publicada no Broadcast Político.