Vera Magalhães
27 Novembro 2017 | 15h58
Na minha coluna de domingo, escrevi que a desarticulação do PSDB, aliada à busca de parte do eleitorado por um “novo” bastante difuso, eram fatores que jogavam a favor da pulverização eleitoral em 2018 e, por isso, contra a ideia de que um tucano, no caso Geraldo Alckmin, de novo polarizasse com o PT a disputa pelo voto.
Nas últimas horas, dois movimentos da política acabaram por reordenar o tabuleiro a favor do governador de São Paulo. Um deles, a renúncia dos dois pré-candidatos ao comando do PSDB em seu favor, teve sua participação direta, na articulação.
O outro, o anúncio de Luciano Huck de que não disputará as eleições, decorreu da análise do cenário por parte do apresentador de TV e do balanço de perdas e danos que teria ao se lançar no mar bastante turvo da política.
O fato é que, tirados do caminho os dois candidatos mais evidentes a encarnar essa “novidade” manifestada no imaginário do eleitorado — Huck e o prefeito de São Paulo e afilhado pródigo de Alckmin, João Doria Jr. — fica mais fácil para o paulista pavimentar o caminho para uma aliança ampla que inclua, além do PSDB, PMDB, DEM, PSD, PPS e os partidos do chamado “Centrão”.
O próximo passo para isso será Alckmin, depois de assumir o comando do PSDB, conduzir o partido para uma decisão final e menos atabalhoada sobre como proceder diante do governo Michel Temer. Tratei também disso no domingo: o partido esteve, ainda que em constante motim, no barco de Temer nos momentos de mar revolto das duas denúncias de Rodrigo Janot. Decide (decide?) sair agora que o presidente se segurou no cargo e a economia começa a dar sinais mais consistentes de recuperação. Com que objetivo? Tendo a ganhar exatamente o que?
Não vai colar o discurso de intolerância ética ao PMDB, uma vez que foram parceiros até aqui. A redução de danos que Alckmin poderá fazer será, caso o desembarque seja a tese a prevalecer, arrancar das bancadas tucanas o compromisso (e não “firme recomendação, no melhor estilo tucano) de aprovar a reforma da Previdência.
Isso dará aos tucanos, depois de muito tempo, um discurso programático claro, pró-reformas, um retorno à sua antiga plataforma. E fará com que Alckmin tenha musculatura para pleitear o apoio do PMDB, que já vinha, de forma reativa, falando em buscar um candidato para defender o “legado” de Temer –que, se hoje é o de uma impopularidade recorde, pode ser, na época em que a campanha estiver bombando, o de uma economia rodando com crescimento na casa de 2% e recuperação do emprego, o maior chamariz para as urnas.
O fato é que a reorganização do tabuleiro para que fique mais nítido como se alinharão as forças de centro –e os grandes partidos, que detêm o maior tempo de TV e estrutura partidária– confere à pré-campanha um grau maior de previsibilidade e isola os dois pólos que, justamente pelos erros de estratégia das legendas maiores, vinham se destacando nas pesquisas: Lula e Jair Bolsonaro.
*Análise originalmente publicada no Broadcast Político.
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