quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Agenda do passado, por Celso Ming, O Estado de S.Paulo



Nem o governo nem a indústria de veículos brasileira olham para a frente







29 Novembro 2017 | 21h00
A indústria de veículos do Brasil vive dentro de uma bolha. Viciada em proteção e em reservas de mercado, não consegue competir globalmente.
Prosperou enquanto pôde empurrar seus custos para o consumidor brasileiro e enquanto refestelou-se em subsídios e no espólio da guerra fiscal entre os Estados. Agora, todo o setor passa no mundo por revolução tecnológica, a mais importante depois da invenção da linha de produção em 1913, por Henry Ford. Nem o governo nem o setor sabem para onde ir. E essa indecisão pode levar ao risco de produzir a trombada fatal que prostrará o setor.
O programa Inovar-Auto, decidido durante o governo Dilma, pretendeu incorporar tecnologia. O resultado foi desastroso. O diagnóstico do Banco Mundial divulgado na semana passada mostrou que tudo o que conseguiu foi mais proteção para um setor já superprotegido e mais transferência de custos para o consumidor interno.
O Inovar-Auto não conseguiu relevante incorporação de tecnologia nem aumento da produção e, muito menos, aumento da competitividade. Beneficiou segmentos de luxo, que operam hoje com baixíssima escala de produção. E foi irremediavelmente condenado pelo Organização Mundial do Comércio por concorrência desleal.
O governo discute com a indústria a adoção de novo programa, o Rota 2030, que deveria incrementar a competitividade e trabalhar com motores capazes de garantir as metas ambientais do Acordo de Paris. No entanto, além de esbarrar na falta de consenso, o Rota 2030 desconsidera a necessidade de preparar o grande salto.
Em todo o mundo, as montadoras de veículos preparam freneticamente o lançamento de veículos elétricos ou híbridos; de uso compartilhado ou disponíveis a qualquer um, para aluguéis curtos ou prolongados via aplicativos, como as bicicletas disponíveis nas grandes cidades ou, então, para circularem até sem motorista. Estas não são elucubrações futurísticas. É o futuro que já está aí.
Nem o governo nem a indústria olham para a frente. Não pretendem mais que algum ajuste nas proteções prevalecentes. Quando falam em favorecer a produção de veículos capazes de emitir baixos níveis de carbono, governo e indústria se atêm a algum fator modernizante e ignoram o resto.
Sem exportações não há futuro. Mas, para exportar, é preciso surfar a nova onda. Seria idiotice pretender desenvolver aqui o que já está sendo desenvolvido lá fora ou, então, seria idiotice pretender soluções nacionais para o que será necessariamente global.
Em painel realizado na última terça-feira pelo Insper, o presidente da Mercedes-Benz para a América Latina, Philipp Schiemer, advertiu que a indústria precisa de políticas estáveis porque, observa ele, os ciclos do setor são de longo prazo – no que tem razão. Mas ele próprio e a indústria de veículos só olham pelo retrovisor. Querem a estabilidade produzida pelo protecionismo e pelas reservas de mercado. E, como se viu com o que aconteceu com o Inovar-Auto, nada mais instável e inseguro do que programas eivados de protecionismo, num ambiente em que hoje prevalecem as cadeias globais de valor.
Dentro de 20 a 30 anos, que é o horizonte apontado por Schiemer, o mercado terá mudado substancialmente. Pretender agora assegurar o status quo implica entregar velharias ao final dos próximos 20 a 30 anos. Enfim, essa é a agenda do futuro que quer ser construída com a agenda do passado.
CONFIRA:



» O salto da dívida
O gráfico dá ideia de como avança a dívida bruta do governo central. A velocidade é muito alta. Começou o ano nos 69,87% do PIB e, em outubro, já estava a 74,38%. Isso significa que, no próximo ano deverá chegar aos 80% do PIB, mesmo levando em conta que o PIB deve crescer mais do que neste 2017. Dívida é déficit acumulado e déficit é o tanto que as despesas ultrapassam as receitas. Nos anos 80, o País estava afogado em dívida externa. Hoje, é a dívida interna que mais pesa sobre o brasileiro.

Agronegócio se consolida, mas ainda há entraves, OESP

O maior consenso no agronegócio brasileiro é de que o País é vocacionado a alimentar boa parte da população mundial nos próximos anos e, ao mesmo tempo, o seu amplo mercado interno. Atualmente, já figura como um dos principais exportadores de commodities agrícolas, e a demanda firme da China, o principal comprador, não deve arrefecer no curto prazo. Para o Brasil aumentar sua participação de maneira competitiva, é preciso superar inúmeros obstáculos, como a falta de uma política adequada de seguro rural, alto custo de produção, e pouca vocação para a comunicação do setor. As soluções para vários desses problemas surgem a todo instante – como o avanço da pesquisa e de tecnologias voltadas ao campo, desburocratização de processos e maior conscientização ambiental.
Esses grandes temas centralizaram os debates do Summit Agronegócio Brasil 2017, realizado na segunda-feira pelo Estado, com patrocínio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp) e do Banco do Brasil. Um dos palestrantes, o vice-presidente global de Assuntos Corporativos da Bunge, Stewart Lindsay, confirmou que o futuro da empresa – uma das maiores tradings exportadoras de grãos do mundo – está relacionado ao sucesso da agricultura brasileira. “O País é uma região-chave”, garantiu. Lindsay citou, ainda, o Código Florestal como um padrão importante, que distingue os agricultores brasileiros.
Inteligência global. A presidente da Gro Intelligence, Sara Menker, observou que para o Brasil se manter em destaque num cenário altamente competitivo precisa lançar mão de inteligência global de mercado, para identificar as melhores oportunidades e também reduzir a extrema dependência da China.
Um dos fatores essenciais que reforçarão e ampliarão a competitividade brasileira daqui para a frente – após o salto de produtividade nos últimos 20 anos – é o uso intensivo de tecnologias, principalmente as relacionadas à conectividade, como internet das coisas e armazenamento de dados.
Entre os debatedores do painel “Agrotech: tecnologia e resultados”, a principal questão levantada foi que há um “dilúvio” de informações, que agora precisam ser filtradas para uso prático do produtor rural. “O grande problema é captar dados importantes e produzir tecnologia com resultado”, observou o chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda.
No campo da política agrícola, o desafio é garantir renda e crédito suficiente para o produtor rural, além de governo e setor privado trabalharem juntos para ampliar mercados. Nesse quesito, o ministro interino da Agricultura, Eumar Novacki, garantiu que o governo federal “tem dado todo o respaldo para as ações do setor”. Ele citou, em sua exposição, o programa Agro+, que tem como objetivo melhorar a competitividade agropecuária, por meio, por exemplo, da desburocratização.
A garantia de renda, tema caro à Faesp, também foi citada pelo presidente da entidade, Fábio Meirelles. No âmbito do que seria um plano plurianual para a agricultura, Meirelles alertou sobre a necessidade de instrumentos de mitigação de risco, como o seguro rural, “essencial para o fortalecimento de todo o agronegócio”, disse. “Deve haver maior ênfase a este assunto na política agrícola.”

Summit Agronegócio Brasil 2017
Tecnologia ajuda o produtor a interpretar os dados colhidos instantaneamente nas lavouras Foto: Getty Images
Faturamento. Sob esse aspecto, o Banco do Brasil divulgou que a instituição lançará um programa pioneiro entre os bancos brasileiros: a oferta de seguro sobre o faturamento, que garante proteção à renda estimada pelo produtor durante a safra. O vice-presidente de Agronegócios do BB, Tarcísio Hübner, mencionou que o banco desenhou o seguro sobre renda “justamente para preencher uma lacuna, que dificultava a continuidade dos investimentos do produtor na atividade”, disse. “Agora, independentemente da produção e da situação de preço, ele garante uma renda pactuada com o produtor, ou seja, é um seguro que gera um prêmio sobre a rentabilidade estimada para a safra”, explicou.
'Produtor é guardião do meio ambiente', acredita Faesp
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Fábio Meirelles, chamou a atenção, no evento, sobre a importância do combate à corrupção e de uma agenda de reformas. “O agro brasileiro é competitivo, mas não pode avançar sem planejamento”, disse. O dirigente ressaltou que a garantia de renda, via seguro rural, é essencial para o fortalecimento do produtor. Ele também destacou o esforço do setor em adotar práticas sustentáveis. “O agricultor é o verdadeiro guardião do ambiente.” Nesse contexto, lembrou da importância do RenovaBio – uma política de estímulo aos biocombustíveis e redução das emissões de gases-estufa.

Já o diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, ressaltou a importância do agronegócio na retomada da economia. “Responsável por um quarto do PIB, o agronegócio tem minimizado a crise.” E destacou a necessidade de se discutirem práticas que garantam a qualidade e competitividade e estímulos à inovação

Ricos ganham 36 vezes mais que os pobres. OESP



Estudo do IBGE mostra que metade dos 88,9 milhões de trabalhadores que recebia os piores salários tinham renda média de R$ 747






Daniela Amorim, O Estado de S.Paulo
29 Novembro 2017 | 10h55
RIO - O retrato da desigualdade de renda no Brasil em 2016, quando a recessão ainda estava a pleno vapor, mostra que a metade do total de 88,9 milhões de trabalhadores que recebia os piores salários registrou renda média de R$ 747, cifra abaixo do salário mínimo daquele ano, de R$ 880 – hoje, o mínimo está em R$ 945,80. Na outra ponta, o 1% dos trabalhadores no topo da pirâmide tinha renda média mensal de R$ 27.085, 36,3 vezes mais do que a metade mais pobre no País.

Desigualdade
Apesar da evolução ao longo das últimas décadas, o Brasil ainda apresenta um quadro de desigualdade extrema Foto: CLAYTON DE SOUZA/ESTADÃO
Os dados, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), foram divulgados nesta quarta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por causa de mudanças metodológicas, o IBGE não fez comparação de 2016 com outros anos, portanto, não foi possível medir o peso da recessão sobre a desigualdade, embora outros estudos apontem que a disparidade de renda subiu com a crise.
Entre os 5% de brasileiros com menores salários, a renda média era de R$ 73 mensais. Segundo o IBGE, 4,445 milhões de trabalhadores estão nessa condição. “O Brasil é um dos países onde a desigualdade é das maiores do mundo. País nenhum vai crescer com base numa plataforma tão desigual”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.



Quando considerada a renda per capita de todas as fontes, e não apenas do trabalho – nesse cálculo, a renda disponível, incluindo aposentadoria e transferências de renda, é dividida por todos os moradores da casa, como crianças e idosos –, o rendimento médio de 2016 foi de R$ 1.242, contra uma renda média de R$ 2.149 se considerados apenas os trabalhadores.
Os 5% mais pobres pela ótica da renda domiciliar per capita ganhavam R$ 47,00. Como o IBGE estimou a população total em 205,4 milhões de habitantes em 2016, são 10 milhões de pessoas vivendo assim. A pobreza era ainda mais aguda no Norte e Nordeste. Lá o rendimento domiciliar per capita médio dos 5% mais pobres foi de R$ 38,00 e R$ 33,00, respectivamente.
Desigualdade. Segundo Marcelo Neri, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), a desigualdade aumentou em 2016 e 2017.
Embora os dados do rendimento de todas as fontes divulgados pelo IBGE não sejam comparáveis, cálculos de Neri com a renda do trabalho apontam que o índice de Gini avançou 1,2% em 2016. Nos três primeiros trimestres de 2017, cresceu 1,58% ante igual período de 2016.
“Aumentos no índice de Gini em dois anos seguidos não aconteciam desde 1989”, afirmou Neri, lembrando aquele ano foi marcado pela hiperinflação.
Segundo o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, mesmo que os dados da Pnad Contínua não possam ser comparados com outros anos, há outros indicadores que revelam o aumento da desigualdade na recessão. “É um processo natural em épocas de crise econômica. O aumento do desemprego afeta mais a base da pirâmide”, disse.
“A crise afeta o mercado de trabalho e o trabalho tem na composição da renda um peso importante”, disse Azeredo, do IBGE.