Estudo do IBGE mostra que metade dos 88,9 milhões de trabalhadores que recebia os piores salários tinham renda média de R$ 747
Daniela Amorim, O Estado de S.Paulo
29 Novembro 2017 | 10h55
RIO - O retrato da desigualdade de renda no Brasil em 2016, quando a recessão ainda estava a pleno vapor, mostra que a metade do total de 88,9 milhões de trabalhadores que recebia os piores salários registrou renda média de R$ 747, cifra abaixo do salário mínimo daquele ano, de R$ 880 – hoje, o mínimo está em R$ 945,80. Na outra ponta, o 1% dos trabalhadores no topo da pirâmide tinha renda média mensal de R$ 27.085, 36,3 vezes mais do que a metade mais pobre no País.
Os dados, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), foram divulgados nesta quarta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por causa de mudanças metodológicas, o IBGE não fez comparação de 2016 com outros anos, portanto, não foi possível medir o peso da recessão sobre a desigualdade, embora outros estudos apontem que a disparidade de renda subiu com a crise.
Entre os 5% de brasileiros com menores salários, a renda média era de R$ 73 mensais. Segundo o IBGE, 4,445 milhões de trabalhadores estão nessa condição. “O Brasil é um dos países onde a desigualdade é das maiores do mundo. País nenhum vai crescer com base numa plataforma tão desigual”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Quando considerada a renda per capita de todas as fontes, e não apenas do trabalho – nesse cálculo, a renda disponível, incluindo aposentadoria e transferências de renda, é dividida por todos os moradores da casa, como crianças e idosos –, o rendimento médio de 2016 foi de R$ 1.242, contra uma renda média de R$ 2.149 se considerados apenas os trabalhadores.
Os 5% mais pobres pela ótica da renda domiciliar per capita ganhavam R$ 47,00. Como o IBGE estimou a população total em 205,4 milhões de habitantes em 2016, são 10 milhões de pessoas vivendo assim. A pobreza era ainda mais aguda no Norte e Nordeste. Lá o rendimento domiciliar per capita médio dos 5% mais pobres foi de R$ 38,00 e R$ 33,00, respectivamente.
Desigualdade. Segundo Marcelo Neri, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), a desigualdade aumentou em 2016 e 2017.
Embora os dados do rendimento de todas as fontes divulgados pelo IBGE não sejam comparáveis, cálculos de Neri com a renda do trabalho apontam que o índice de Gini avançou 1,2% em 2016. Nos três primeiros trimestres de 2017, cresceu 1,58% ante igual período de 2016.
“Aumentos no índice de Gini em dois anos seguidos não aconteciam desde 1989”, afirmou Neri, lembrando aquele ano foi marcado pela hiperinflação.
Segundo o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Júlio Miragaya, mesmo que os dados da Pnad Contínua não possam ser comparados com outros anos, há outros indicadores que revelam o aumento da desigualdade na recessão. “É um processo natural em épocas de crise econômica. O aumento do desemprego afeta mais a base da pirâmide”, disse.
“A crise afeta o mercado de trabalho e o trabalho tem na composição da renda um peso importante”, disse Azeredo, do IBGE.
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