terça-feira, 26 de setembro de 2017

É duro voltar, Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo (definitivo)





Olhar o Brasil de fora causa perplexidade e uma tristeza sem fim











26 Setembro 2017 | 03h00
Acompanhar de longe as notícias sobre o Brasil é um exercício complexo e deixa qualquer um numa tristeza sem fim. Um País tão lindo, tão diversificado, cheio de potencialidades, mas atolado numa corrupção gigantesca, numa desigualdade feroz e numa violência urbana sem paralelos, girando em círculos, sem saída. De dia é pânico, de noite é rock and roll. Mas o pânico fica, o rock acaba.
O bom da história é que a economia vem aos poucos se descolando do descalabro na política e tentar entender essa bifurcação é um desafio e tanto, até mesmo para os experts. Só não é difícil imaginar como está o clima no governo, particularmente no Planalto, com o presidente Michel Temer novamente no foco.
As manchetes políticas não são apenas devastadoras como abafam os bons resultados na economia que pipocam daqui e dali. Temer é alvo do segundo processo e de delações premiadas que vão sendo estrategicamente divulgadas. É Petrobrás, é Furnas, é CEF. Como destacar boas novas?
Os juros continuam caindo. A inflação persiste abaixo da meta. Há recuperação de empregos com carteira assinada pelo quinto mês consecutivo. E, apesar do recuo de ontem, a Bolsa bate recordes. Nesse cenário, a previsão de crescimento melhora (ou deixa de ser tão aterrorizante). Mas e daí? 
Daí que Temer voltou às manchetes policiais e à chantagem do Congresso num processo de resultado previsível, enquanto o ministro Henrique Meirelles finge que não tem nada a ver com isso e tenta colar sua campanha para a Presidência em 2018 à recuperação da economia. 
Logo, a política traga Temer por um lado, a economia impulsiona Meirelles pelo outro, mas é preciso cautela para avaliar suas chances. Eles gostariam que a economia levantasse o presidente e os problemas políticos não atingissem o ministro e dá-se o contrário: a economia não beneficia o presidente e a impopularidade do governo tende a atrapalhar o ministro.
De toda forma, Meirelles voltou ao Brasil, entrou na política e aceitou os cargos que aceitou porque só pensa em ser presidente; o tabuleiro de 2018 está tão aberto que qualquer um se julga com direito de se lançar (até apresentadoras de TV?!); a economia pode se transformar num bom cabo eleitoral.
Longe ou perto das notícias, portanto, é possível entender o movimento de Meirelles, o que é incompreensível é Lula atingir o número cabalístico de sete inquéritos e não só manter como recuperar seguidores, enquanto o juiz Sérgio Moro faz o percurso inverso.
Mas, do outro lado do Atlântico, os dois grandes impactos são o turismo e a segurança, que, aliás, têm relação direta de causa e efeito. Onde você vai na Itália, em Portugal, na Croácia, na linda Eslovênia ou na sofrida Bósnia, há sempre uma multidão incrível de turistas de todas as partes e, claro, levas e levas de brasileiros, gerando empregos e desenvolvimento. Há cidades que, sozinhas, recebem mais turistas do que o Brasil inteiro.
A sensação de segurança é até estranha. Você não acha que vai ser assaltado na primeira esquina, não enxerga no rapaz ali parado um ladrão pronto para dar o bote, muito menos passa pela sua cabeça que vão te cortar a garganta ou dar um tiro à queima-roupa para roubar sua carteira. E ainda se tem de ouvir o taxista português contando o trauma da família depois do arrastão contra a excursão da sua irmã a Porto de Galinhas...
Nas eleições de 2018, a prioridade será não roubar, não deixar roubar e recuperar desenvolvimento e empregos, mas vai entrar para a história quem combater decisivamente a facilidade com que se assalta e se mata em qualquer região, cidade ou rua. O Brasil está doente. Sair de férias é ótimo, duro é voltar.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

'Estado' relança, em versão digital, 'Seu Dinheiro', para discutir finanças, OESP



Plataforma na internet terá reportagens, blogs e vídeos, recuperando marca que circulou por 27 anos no 'Jornal da Tarde'






O Estado de S.Paulo
25 Setembro 2017 | 05h00
Depois de nove anos, o ‘Estado’ retoma na quarta-feira, em versão digital, a publicação do ‘Seu Dinheiro’, marca criada em 1981 para tratar de finanças pessoais e que, por 27 anos, foi veiculada semanalmente pelo ‘Jornal da Tarde’ (JT), também do Grupo Estado. 
Adaptado para a nova geração de leitores e alinhado às complexidades que envolvem a gestão financeira doméstica de hoje em dia, o novo Seu Dinheiro volta como um canal digital dentro do site Economia & Negócios (www.economia.estadao.com.br). O processo para a definição da nova plataforma reforça o comprometimento do veículo de estar conectado às novas tecnologias e ferramentas, com foco na interatividade do público.

Finanças pessoais
Regina Pitoscia, que foi editora do 'Seu Dinheiro', vai agora explicar finanças na internet Foto: Tiago Queiroz/Estadão
O novo site combina linguagem informal em vídeos, textos e fotos com características já reconhecidas no Estado, como qualidade e credibilidade.
“A nova plataforma vai ampliar a oferta de conteúdos, com vídeos, reportagens e parcerias especializadas em finanças pessoais”, diz o editor executivo do Estado Luis Fernando Bovo. “Traremos mais opções de informação sobre temas que interessam aos nossos leitores, como oportunidades de investimento.”
Para além de investimentos, Seu Dinheiro também vai tratar de previdência, salário, aluguel, casa própria, enfim, assuntos que desde o início da marca são pautados pelo que as famílias discutem em casa. 
Uma das particularidades da plataforma vai ser a aposta em conteúdo audiovisual. Para tanto, vai contar com parceiros experientes no ramo, como Thiago Nigro, criador do canal Primo Rico, com 400 mil seguidores no YouTube e vídeos com mais de 1,5 milhão de visualizações por mês. 
“Todos querem ganhar mais dinheiro, economizar e investir melhor. Mas queremos aprender isso com quem fala a nossa língua, sem terno e gravata”, afirma o youtuber. “Minha missão é bater na porta do brasileiro via internet e fazer a educação financeira estar presente em todo o País.”
Também integram o novo Seu Dinheiro o grupo Econoweek, formado pelos economistas Yolanda Fordelone, César Esperandio e Étore Sanchez, o jornalista Silvio Crespo, do blog Dinheiro para Viver, e a experiente Regina Pitoscia que ao lado do jornalista Celso Ming, colunista do Estado, foi responsável pelos anos de maior sucesso do Seu Dinheiro, que cobriu os sucessivos pacotes econômicos dos governos de José Sarney e Fernando Collor de Mello. Para ela, Seu Dinheiro volta para suprir uma lacuna no mercado editorial. “Hoje, as mídias sociais valorizam mais o conteúdo de economia popular e finanças pessoais do que a grande imprensa. Uma pena, porque a população endividada, sem emprego ou que tem uma grana para aplicar precisa de informações.”
DEPOIMENTO - Celso Ming, colunista
Já era tempo para a volta do Seu Dinheiro, caderno de sucesso nos bons tempos do Jornal da Tarde, mas não da economia e muito menos para o brasileiro que tinha de ganhar seu sustento e administrar seu patrimônio sob uma inflação próxima dos 100% ao mês.
Seu Dinheiro começou com uma página semanal em 20 de julho de 1981, foi crescendo e passou a ser um caderno semanal em 19 de março de 1990.
Não tratava apenas de investimentos. Falava também de salário, aluguel, aposentadoria, impostos, planos de saúde... Hoje, o Seu Dinheiro vai executar a mesma música, mas com outros arranjos. 
Apesar da crise atual, da recessão, do desemprego e da perda de renda, o comportamento da economia está substancialmente melhor do que nos anos 80 e início dos 90. Mas, paradoxalmente, ficou mais complicado administrar finanças pessoais e o patrimônio da família. O tombo dos juros, por exemplo, achatou o retorno das aplicações financeiras. É preciso reaprender a trabalhar em tempos que as aplicações de risco passaram a ser inevitáveis. Por tudo isso e mais tanta coisa, longa vida ao novo Seu Dinheiro.

Seis brasileiros concentram a mesma riqueza que a metade da população mais pobre, El Pais Brasil (não lido)


Estudo da Oxfam revela que os 5% mais ricos detêm mesma fatia de renda que outros 95%

Mulheres ganharão como homens só em 2047, e os negros como os brancos em 2089



Foto da favela de Santa Marta no Rio de Janeiro.
Foto da favela de Santa Marta no Rio de Janeiro.  AFP

Jorge Paulo Lemann (AB Inbev), Joseph Safra (Banco Safra), Marcel Hermmann Telles (AB Inbev), Carlos Alberto Sicupira (AB Inbev), Eduardo Saverin (Facebook) e Ermirio Pereira de Moraes (Grupo Votorantim) são as seis pessoas mais ricas do Brasil. Eles concentram, juntos, a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população brasileira (207,7 milhões). Estes seis bilionários, se gastassem um milhão de reais por dia, juntos, levariam 36 anos para esgotar o equivalente ao seu patrimônio. Foi o que revelou um estudo sobre desigualdade realizado pela Oxfam.
O levantamento também mostrou que os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95% da população. E que aqueles que recebem um salário mínimo (937 reais) por mês (cerca de 23% da população brasileira) teriam que trabalhar por 19 anos para obter a mesma renda que os chamados super ricos. Os dados também apontaram para a desigualdade de gênero e raça: mantida a tendência dos últimos 20 anos, mulheres ganharão o mesmo salário que homens em 2047, enquanto negros terão equiparação de renda com brancos somente em 2089.
Segundo Katia Maia, diretora executiva da Oxfam e coordenadora da pesquisa, o Brasil chegou a avançar rumo à correção da desigualdade nos últimos anos, por meio de programas sociais como o Bolsa Família, mas ainda está muito distante de ser um país que enfrenta a desigualdade como prioridade. Além disso, de acordo com ela, somente aumentar a inclusão dos mais pobres não resolve o problema. "Na base da pirâmide houve inclusão nos últimos anos, mas a questão é o topo", diz. "Ampliar a base é importante, mas existe um limite. E se você não redistribui o que tem no topo, chega um momento em que não tem como ampliar a base", explica.

América Latina

Neste ano, o Brasil despencou 19 posições no ranking de desigualdade social da ONU, figurando entre os 10 mais desiguais do mundo. Na América Latina, só fica atrás da Colômbia e de Honduras. Para alcançar o nível de desigualdade da Argentina, por exemplo, o Brasil levaria 31 anos. Onze anos para alcançar o México, 35 o Uruguai e três o Chile.


Mas para isso, Katia Maia propõe mudanças como uma reforma tributária. "França e Espanha, por exemplo, têm mais impostos do que o Brasil. Mas a nossa tributação está focada nos mais pobres e na classe média", explica ela. "Precisamos de uma tributação justa. Rever nosso imposto de renda, acabar com os paraísos fiscais e cobrar tributo sobre dividendos". Outra coisa importante, segundo Katia Maia, é aproximar a população destes temas. "Reforma tributária é um tema tão distante e tecnocrata, que as pessoas se espantam com o assunto", diz. "A população sabe que paga muitos impostos, mas é importante que a sociedade esteja encaixada neste debate para começar a pressionar o Governo pela reforma".
A aprovação da PEC do teto de gastos, de acordo com Katia Maia, é outro ponto importante. Para ela, é uma medida que deveria ser revertida, caso o país realmente deseje avançar na redução da desigualdade. "É uma medida equivocada", diz. "Se você congela o gasto social, você limita o avanço que o Brasil poderia fazer nesta área". Para ela, mais do que controlar a quantidade do gasto, é preciso controlar o equilíbrio orçamentário e saber executar o gasto.
Além das questões econômicas, o cenário político também é importante neste contexto. "Estamos atravessando um momento de riscos e retrocessos", diz Katia Maia. "Os níveis de desigualdade no Brasil são inaceitáveis, mas, mais do que isso, é possível de ser mudado".