sábado, 16 de setembro de 2017

Palestrantes em audiência da CPI da Previdência condenam os Refis, Agencia Senado

   
Da Redação | 14/09/2017, 16h32 - ATUALIZADO EM 14/09/2017, 19h20


Durante audiência pública realizada nesta quinta-feira (14), na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), A maioria dos palestrantes condenou os programas de regularização tributária, os chamados Refis.
Paulo Penteado Teixeira Junior, da Associação Paulista do Ministério Público, disse que esses programas criam um círculo vicioso e se configuram “como um incentivo ao não pagamento dos tributos”. Para Heleno Torres, professor de Direito Tributário da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil está refém do modelo de parcelamento, “o que dá aos maus pagadores poderes para não pagar. O contribuinte não paga e fica esperando o próximo Refis”.
O senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da CPI da Previdência, apontou o devedor contumaz da Previdência Social, como “o grande causador do deficit previdenciário”.
Participaram da audiência pública representantes do Judiciário, do Ministério Público e de centrais sindicais. Todos se posicionaram contra o projeto de reforma da Previdência Social e foram unânimes em apontar a má gestão dos recursos públicos como a principal causa do déficit da Previdência Social.
A Desvinculação de Receitas União (DRU) foi apontada pelo professor Heleno Torres como uma distorção que drena 30% dos recursos da Previdência. Já o deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) definiu como “uma guerra desleal” a luta em defesa da Previdência Social, e garantiu: “Não vamos deixar passar a reforma”.
Maiores devedores
O juiz federal Renato Lopes Becho propôs que os débitos com a Previdência Social inferiores a R$ 20 mil sejam encaminhados às empresas de cobrança e aos cartórios de protestos como forma de reduzir o acúmulo de processos nas varas da Justiça Federal. Reclamou ainda da Receita Federal e do Ministério do Público Federal, que não estariam cumprindo o prazo de 180 dias para encaminhar à Justiça Federal as ações de execução contra os devedores.
Becho propôs a criação de um Conselho Nacional da Advocacia Pública para apurar os casos de não cumprimento da legislação por parte dos advogados públicos. Em sua opinião, “o advogado público faz chicana no Ministério Público”.
O procurador-chefe da Dívida Ativa da 3ª. Região, Wellington Vitorino de Oliveira, informou que soma mais de R$ 1 trilhão o total das dívidas ativas inscritas na Justiça Federal. Na lista dos maiores devedores, em primeiro lugar, estão os frigoríficos, em especial o grupo JBS, com dívida superior a R$ 1 bilhão. Em segundo lugar está o setor bancário, que se caracteriza pela litigiosidade. Em terceiro, as instituições de ensino e, em seguida, as empresas de terceirização de mão de obra.
Segundo o procurador Wellington Vitorino de Oliveira, os chamados entes federativos também ocupam lugar de destaque entre os maiores devedores da Previdência Social e, como exemplo, citou o governo do estado de São Paulo. Ele lembrou que os estados só pagam através de precatórios e “pagar assim, é não pagar” – declarou.
Silvana Abramo Margherito Ariano, secretária-geral da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, defendeu a realização de um plebiscito para que a sociedade se manifeste sobre a reforma da Previdência. Ela revelou preocupação com a automatização dos processos produtivos, “o que está provocando uma dispensa massiva de trabalhadores”. Para Silvana Abramo, as empresas com maior grau de automatização devem pagar uma contribuição para o INSS como forma de compensar o aumento dos gastos com o salário-desemprego.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Vereador e bombeiro estão entre 19 presos em operação do MPSP contra fraudes em licitações OESP



Ação do grupo de combate ao crime organizado teve foco em quadrilha que direcionava editais para o fornecimento de módulos de arquivos, com superfaturamento, para prefeituras e câmaras municipais de SP, MG e RS; prejuízo foi de mais de R$ 8 milhões






José Maria Tomazela, O Estado de S.Paulo
14 Setembro 2017 | 16h07
SOROCABA - Ao menos 19 pessoas, entre elas um vereador e um bombeiro aposentado, foram presos nesta quinta-feira (14) em operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, contra uma quadrilha que fraudava licitações. A Justiça de Piracicaba, onde a investigação começou em 2015, expediu 22 mandados de prisão temporária e 28 de busca e apreensão em cidades dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Alguns mandados de prisão ainda eram cumpridos à tarde.
As fraudes focavam principalmente licitações para fornecimento de módulos de arquivos para prefeituras e câmaras, daí a operação ter recebido o nome de 'Arquivos Deslizantes". Em São Paulo, 23 promotores e 90 agentes das polícias Militar e Civil cumpriram mandados na capital, em cidades do ABC e nas regiões de Piracicaba, Franca, Campinas e São José do Rio Preto. Foi apurado que ao menos 15 empresas que atuavam na fabricação, representação e comercialização dos arquivos fraudavam as licitações simulando disputas entre si. No entanto, havia um ajuste prévio para que uma delas se sagrasse vencedora.
De acordo com o Gaeco, havia alternância entre as empresas que deveriam ganhar cada licitação e ficou demonstrada a participação de agentes públicos que sabiam dos ajustes entre as empresas e colaboravam direcionando os editais. "Os preços eram superfaturados e os editais eram direcionados para afastar outros concorrentes", disse o promotor Alexandre de Andrade Pereira, do Gaeco de Piracicaba. Foram identificadas mais de 70 licitações fraudadas nos três Estados, com prejuízo de mais de R$ 8 milhões aos cofres públicos.

Crime organizado
Um dos 19 detidos na operação foi o vereador Daniel Palmeira de Lima (PR), ex-presidente da Câmara Municipal de Catanduva (na foto), onde cumpre o sexto mandato; foram feitas buscas no gabinete do parlamentar que, segundo o Gaeco, comandava o esquema - empresários da cidade também foram presos. Foto: Google Maps
Em Catanduva, foi preso o vereador Daniel Palmeira de Lima (PR), ex-presidente da Câmara. Ele cumpre o sexto mandato e, segundo o Gaeco, comandava o esquema. Foram feitas buscas em seu gabinete no Legislativo. Empresários e advogados da cidade também foram detidos. Em Tabapuã, o Gaeco aprendeu documentos e computadores numa fábrica de arquivos que funciona atrás da prefeitura. O bombeiro aposentado foi preso em Franca, no bairro Jardim Aeroporto, e seria levado para o presídio militar Romão Gomes, na capital. Ele é suspeito de intermediar as negociações entre prefeituras e câmaras e fornecedores de arquivos.
Outro lado. Procurado, o advogado do vereador Lima informou que se manifestaria só após ser constituído formalmente para a defesa. A Câmara divulgou nota atribuindo a prisão a uma investigação do Gaeco que ainda estava em curso. A Associação Comercial de Catanduva confirmou a detenção do presidente, mas informou que não tinha informações suficientes para se manifestar a respeito da prisão.

Eleitor não é idiota, por José Roberto de Toledo OESP



Você não poderá saber quem está na frente e quem está atrás nas pesquisas






José Roberto de Toledo, O Estado de S.Paulo
14 Setembro 2017 | 03h00
“É um bosta, é um merda.” Estádio de futebol? Longe disso. Após a “gourmetização” das arenas futebolísticas, é mais comum ouvir frases do tipo em palácios brasilienses. Os impropérios foram dirigidos ontem pelo vice-presidente da Câmara dos Deputados justamente ao responsável por zelar pelas boas relações do governo Temer com... os deputados. O ministro fez que não ouviu e deixou o deputado xingando sozinho, o que só aumentou sua ira.
Nada de muito anormal para uma turma que, a cada legislatura, bate recorde de processos, investigações, prisões e cassações. O único risco de chamar o atual Congresso brasileiro de o pior da história é ser desmentido pelo próximo Congresso. Risco alto.
Mas cusparadas e palavrões parlamentares são incômodo – se são – apenas para os próprios. Para quem não frequenta o Congresso, o problema não é o que eles dizem, mas o que eles fazem. Em especial, o que eles votam. Esta legislatura está caprichando.
Em uma sessão esvaziada, na terça-feira à noite, a comissão que urde a impropriamente chamada reforma política aprovou a proibição da divulgação de pesquisas eleitorais na semana anterior à eleição. Isso mesmo: você, eleitor, não poderá saber quem está na frente e quem está atrás, se seu candidato tem chances de chegar ao segundo turno ou não, nem se há uma onda de votos nulos e brancos se aproximando. Você não pode saber.
Não pode saber porque os deputados pressupõem que você é um idiota. Que você é incapaz de pensar por si próprio. Que você é um ser manipulável como um peão. Não se trata de julgarem os outros por si próprios, mas de projetarem nos adversários o que eles mesmos possam fazer. Sim, porque a proibição da divulgação de pesquisas não vai afetar as picaretagens nem os picaretas.
Em tempos de mídias sociais universais, abundarão mais pesquisas apócrifas, falsas e fictícias tanto menos pesquisas registradas, científicas e de institutos conhecidos puderem circular. A proibição pretendida pelos deputados não vai produzir um deserto informativo. Vai, sim, plantar um canavial de desinformação. 
Acabar com a oferta de pesquisas cuja metodologia é verificável, que se sabe quem pagou por elas e qual foi o questionário aplicado não suprimirá a demanda do eleitor por informação. Vai criar um mercado paralelo de produtos sem fiscalização, com a mesma qualidade e confiabilidade de quem aprovar essa lei.
A cada eleição a decisão do voto é mais tardia. Proibir a divulgação de pesquisas a uma semana do pleito é proibir as pesquisas mais importantes e determinantes para o eleitor. Submeter a medição das preferências do eleitorado a uma espécie de Lei Seca justamente quando o eleitor mais precisa de informação terá os efeitos da proibição de bebidas alcoólicas nos EUA de um século atrás: reservará mercado para mafiosos. 
“Ah, mas as pesquisas influenciam o resultado da eleição.” Claro que influenciam, assim como o noticiário sobre as campanhas e a propaganda eleitoral dos candidatos na TV influem no que sai das urnas. Por essa lógica, o jornalismo devia ser proibido. Foram notícias da investigação do FBI sobre os e-mails de Hillary Clinton que ajudaram a eleger Donald Trump nos EUA.
Felizmente, o Supremo vem derrubando todas as tentativas de censura das pesquisas eleitorais no Brasil. A última foi em 2006, como lembra nota da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) contra a mais recente tentativa do Congresso de cercear o direito à informação.
O eleitor não é idiota. Ele tem o direito de saber o que quiser – e fazer o que bem entender com essa informação. Inclusive eleger deputados que xingam e escarram uns nos outros.