sábado, 18 de março de 2017

Carne Fraca: ‘Preocupação é perder mercado e confiança do consumidor’, diz ministro


Segundo Blairo Maggi (Agricultura), Brasil já prestou esclarecimentos à China

POR 

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi - Ruy Baron / Valor


BRASÍLIA - Além de EUA e União Europeia, a China também pediu informações sobre o escândalo revelado pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, na sexta-feira. Segundo dados oficiais, 70% das aves consumidas no país asiático vêm do Brasil. Em entrevista ao GLOBO, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que o embaixador do Brasil em Pequm, Marcos Caramuru, já prestou esclarecimentos ao governo chinês.
Blairo, que se reúne neste domingo com o presidente Michel Temer disse ainda que o objetivo do governo é atuar com maior rapidez e transparência possível para reduzir os danos que as irregularidades podem provocar em relação à compra de carne, sobretudo no exterior. O ministro, no entanto, já admite que algum prejuízo será inevitável.
O objetivo dessa reunião com o presidente é criar um gabinete de crise?
Montamos um gabinete de crise no ministério da Agricultura e estamos permanentemente ligados a este assunto. Conversei com o presidente hoje, ele me perguntou algumas coisas e decidimos fazer uma reunião amanhã para nivelar a conversa com ele sobre as ações que o ministério está fazendo e outra já com as associações que representam os frigoríficos, os produtores para também alinhar algumas ações com eles em defesa do mercado brasileiro e internacional também.
Quais são as principais preocupações neste momento?
A maior preocupação que eu tenho é a perda de mercado no exterior dos nossos produtos e a perda da garantia ou da confiança do consumidor interno no Brasil.
Além da Europa e dos EUA, algum outro mercado já demonstrou preocupação?
Eu tenho conversado com nosso embaixador na China, o embaixador (Marcos) Caramuru, e ele já prestou esclarecimentos lá. O ministério que cuida da sanidade na China também nos questionou, pediu informações. Todos muito serenos, acompanhando as coisas, mas querendo saber exatamente o que está acontecendo no Brasil. Todos que conversam conosco mostram preocupação, mas ninguém ainda tomou uma decisão drástica contra o Brasil, mas nós temos que ser muito rápidos e transparentes na nossa comunicação e estancar esse assunto aonde ele está restrito e checar o resto dos nossos procedimentos e dar garantia absoluta de que não temos outros problemas nessa área.
O senhor acha essas preocupações internacionais podem chegar à produção agrícola?
Não, realmente não. Porque o que está acontecendo é uma coisa pequena dentro do contexto que nós temos. Mas nós temos que atuar com urgência para não deixar isso se alastrar. Não creio que nós tenhamos outros problemas, nosso sistema é forte, robusto, bem desenhado, é reconhecido mundialmente como um serviço de boa qualidade. Só que nós tivemos quebra de comportamento de pessoas, pessoas se corromperam no meio do processo e aí nós não temos muito aonde nos agarrar a não ser na Justiça. Obviamente se o Ministério tivesse sabido com antecedência, nós tínhamos tomado as providências, mas não recebemos essas informações desses servidores que foram corrompidos ou se corromperam no meio do processo.
O senhor acha possível evitar ainda que haja algum tipo de barreira imposta?
Acho que prejuízo nós teremos, não sei se no ponto de um embargo total, que eu creio que não, nós temos como comprovar que temos isso restrito. Agora, você sabe como é mercado, mercado se ressente de qualquer notícia, por mais boato que seja ele já se ressente, imagina numa operação aonde a própria Polícia Federal do Brasil aponta esses problemas. Ainda quero também questionar dentro da Polícia Federal a amplitude disso, das coisas que foram ditas, se efetivamente temos a comprovação de pontos ali ditos. Por exemplo, quando se diz que misturou carne com papelão, não me parece que seja essa a questão, a questão ali está falando da embalagem de produtos, de bandejas que devem ser utilizadas no processo daquela parte da industrialização. Então nós vamos ter que agora pegar os laudos da Polícia Federal, pegar os depoimentos que tem e tecnicamente comparar se o entendimento do delegado é o mesmo que nós temos olhando da parte técnica do processo.
O senhor enviou técnicos ao Paraná para acompanhar essa parte judicial?
Já. Nós temos gente desde ontem no Paraná acompanhando, tivemos acesso ao inquérito para estudá-lo com toda tranquilidade para separar aquilo que realmente aconteceu daquilo que se pensa ou se supõe que aconteceu. porque esse é um assunto muito grave, é um assunto de interesse nacional, afinal de contas estamos falando de alguns bilhões de dólares de exportação. É uma coisa muito grave para o Brasil essa acusação.
O senhor acha que pode ter havido exagero da Polícia Federal?
Quero primeiro checar. Também não sei se efetivamente aquilo que fui publicado pelos jornais e blogs foi dito pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. A gente precisa checar isso primeiro e recolocar a informação, a narrativa do que efetivamente está acontecendo.
O senhor já tem alguma estimativa do impacto que isso pode ter na economia?
Não sei o tamanho, mas tenho muito medo do tamanho que pode ter se não estancarmos isso com rapidez e muita transparência. O Brasil é o maior exportador de carnes suínas ndo mundo, 70% da carne que a China consome de aves é nossa. Um embargo chinês por um problema desses é uma coisa muito grave. Embora, já levantamos isso, nenhuma das plantas que foram acusadas são exportadoras para a China. Mas o mercado reage a boatos, nem sempre á ciência e às coisas claras. Por isso precisamos ser muito rápidos e transparentes.
Existem de fato funcionários que estariam trabalhando para empresas e seriam do ministério?
Não existe isso, toda a fiscalização é feita por técnicos públicos, não há possibilidade de termos pessoas privadas cedidos por empresas para fazer esse controle. Sempre são servidores públicos.
Como o governo pretende dar segurança para a população brasileira em relação aos alimentos que ela consome?
A mesma preocupação em relação ao público externo temos em relação ao interno. Nós podemos garantir que nossos sistemas são sérios, robustos, que não tem problema. Nós tivemos alguns problemas nesses apontados por corrupção dos servidores públicos. O sistema é muito forte, muito rígido. O que temos de fazer é urgentemente mostrar esse sistema, passar por auditorias esse sistema e garantir ao consumidor brasileiro que ele não corre nenhum risco, nós temos a capacidade de garantir que não tem problema.
O senhor tem acompanhado esse recolhimento de alimentos dos frigoríficos fechados?
Não tenho ainda esses números. Mas as três plantas que foram suspensas não podem mais expedir mercadorias e nós temos sim como rastrear os últimos embarques para onde eles foram. Mas ainda não temos como saber se esses produtos ainda estão circulando, e então serão retirados do mercado, ou se já foram consumidos.
E qual a posição do presidente?
Falei com ele na sexta e hoje (sábado). A preocupação do presidente é comprovar que nosso sistema é forte, que os casos são pontuais e garantir à população brasileira que isso não trará problemas a eles. Para mim, esse é um assunto de segurança nacional, não podemos deixar esse assunto matar a agroindústria brasileira, a importância que nós temos e o grande trabalho que foi feito para conquistarmos esse mercado mundial. Muitos concorrentes nossos vão tentar aproveitar a situação para nos sacrificar nesse mercado muito competitivo, mas nós vamos trabalhar para não acontecer isso.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/carne-fraca-preocupacao-perder-mercado-confianca-do-consumidor-diz-ministro-21082555#ixzz4biZwbvtq 
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A perna que não é minha, OESP


Quando perdemos uma perna pode ocorrer um fenômeno estranho. A pessoa continua a sentir dores e coceiras no local, mas ela não existe mais. Esse fenômeno, chamado de “membro fantasma”, é bem conhecido. Muito menos conhecido é algo muito mais estranho. São pessoas que possuem uma perna normal, mas que acreditam que aquela perna não faz parte de seu corpo. As consequências podem ser trágicas ou felizes, dependendo do ponto de vista.
Nosso cérebro constrói uma representação de nosso corpo. Ele sabe onde está cada membro e o que está acontecendo em cada lugar. Quando um pernilongo pica, o cérebro usa essa representação para dirigir nossa mão para o local exato da dor. Essa representação do corpo não é fixa. Ela muda à medida que crescemos. Se isso não ocorresse, quando o dedão doesse levaríamos os olhos para um local onde ele estava na nossa infância, que é onde hoje está nosso joelho. Essa representação é muito detalhada e qualquer incompatibilidade entre a representação e o que informa nossos sentidos incomoda. É o que ocorre quando colocamos uma obturação milimetricamente maior que o dente original. Parece que temos um elefante na boca, mas depois de um tempo nosso cérebro refaz a representação e a pequena obturação ou o enorme aparelho ortodôntico “desaparece”.
No caso da amputação, o cérebro possui uma representação da perna antes dela ser amputada. Aí ela é cortada, mas, no cérebro, continua presente na representação. Não basta olharmos para o coto para convencer o cérebro que a perna desapareceu e modificar a representação. A representação é robusta e difícil de ser alterada. Ainda bem! Se o desaparecimento da perna na representação ocorresse de maneira fácil e imediata, bastaria cobrirmos a perna para o cérebro acreditar que ela havia desaparecido. A vida seria muito complicada. Uma pessoa coberta até o pescoço começaria a acreditar que era uma cabeça isolada. É por isso que mesmo sem perna, quando o cérebro recebe um estímulo do coto ou relembra um estímulo no dedão do pé, imediatamente “localiza” esse estímulo na ponta da representação da perna que foi perdida, e o pobre coitado sente dor e leva a mão a um local que fisicamente não existe, mas ainda está presente em uma representação no seu cérebro.
Existe um número pequeno de pessoas (na casa de centenas) que sofrem com o problema complementar. Elas se queixam que aquela perna, absolutamente normal, que elas usam todos os dias para andar, e cujas unhas cortam toda semana, não faz parte de seu corpo. Elas descrevem a perna como algo estranho, pendurado no corpo, e que incomoda. É o que sentimos com uma obturação alta na boca. Quando examinada, nada de errado é encontrado na perna. O tato é perfeito, os músculos funcionam, a pessoa faz o uso normal da perna. O único problema é que a pessoa reclama que aquela perna não faz parte de seu corpo, é como se fosse uma prótese perfeita. Se você perguntar onde termina o corpo, ela mostra exatamente, na coxa ou em outra altura da perna, uma linha onde o corpo termina, para além tem essa “coisa” que não faz parte do corpo.
Muitas dessas pessoas se acostumam com a sensação estranha, mas outras ficam tão incomodadas que querem se livrar do incômodo e pedem para o membro ser amputado. Os médicos, claro, se recusam. Em muitos casos, a pessoa fica tão desesperada que tenta amputar em casa. Acaba no hospital e se diz feliz se o estrago foi tanto que só resta ao médico amputar.
Nos últimos anos surgiram médicos que fazem a amputação de forma clandestina. Muitos desses pacientes, depois de feita a amputação, ficam felizes. Problema resolvido. Médicos ficam horrorizados.
No inicio se acreditava que essas pessoas sofriam de uma espécie de histeria. Hoje se acredita que, por algum motivo desconhecido, a representação do corpo, construída pelo cérebro, não inclui aquela perna. Mesmo quando a perna envia sinais nervosos para o cérebro, a representação não se modifica. O “eu” daquela pessoa não inclui aquela perna.
O que mais me chamou a atenção é o paralelo que existe com pessoas que se identificam de um sexo e tem a sensação de habitar um corpo do outro. Em ambos os casos, existe uma incompatibilidade entre a representação (que faz parte do “eu”) e a realidade física. E em ambos os casos o incômodo é tanto que as pessoas desejam modificar o corpo para restaurar a compatibilidade.
MAIS INFORMAÇÕES NO LIVRO THE MAN WHO WASN’T THERE. INVESTIGATIONS INTO THE STRANGE NEW SCIENCE OF THE SELF, DE ANIL ANANTHASWAMY, DUTTON PRESS, 2015
* É BIÓLOGO

sexta-feira, 17 de março de 2017

A questão da moradia está no centro de 'Era o Hotel Cambridge', de Eliane Caffé


Eliane Caffé embarcou na terça, 14, para a Europa. Nas próximas duas semanas, faz um périplo por quatro cidades e festivais da França e da Suíça - Creteuil, Gênova, Toulouse e Lyon - mostrando seu longa Era o Hotel Cambridge, que estreia nesta quinta, 16, em São Paulo. Desde a sua apresentação no Festival do Rio, em setembro/outubro passados, Hotel Cambridge vem tendo expressiva participação em eventos de cinema no País e no exterior. Embora seja uma obra de ficção, não se assemelha a nada que o público ande vendo nos cinemas.
“Lili’, como é chamada, invade com sua câmera - e seu ator fetiche, José Dumont - uma ocupação urbana em São Paulo. Desde novembro de 2012, o hotel do título, na Avenida 9 de Julho, está sob ocupação pela Frente de Luta por Moradia. Gerido pelo Movimento dos Sem Teto do Centro, o imóvel foi recuperado - tinha acúmulo de lixo e focos de dengue - e hoje abriga quase duas centenas de famílias, incluindo refugiados, numa mistura de culturas, costumes, idiomas, comidas etc., de que o filme tenta dar conta.


Foto: Aurora Filmes
Era o Hotel Cambridge
O espaço. Personagens e culturas em troca contínua
O ineditismo dessa experiência - a arte abraçando a realidade, a ficção contaminando o documentário (e vice-versa) - tem repercutido mundo afora, e no País nem se fala. Para chegar à forma de seu filme, Lili frequentou durante dois anos a ocupação do Hotel Cambridge. E criou uma ficção - sobre dois refugiados que chegam ao Brasil, a São Paulo e, por não se enquadrar nos abrigos oferecidos pelo Estado, passam a viver com os brasileiros dos movimentos de sem-teto. São refugiados da Palestina, de Uganda, do Congo, da Colômbia, da Síria, entre outros países.
Todos tentam escapar da guerra, da morte ou da pobreza. Zé Dumont, que interage com todo mundo, diz que, de pobreza, ele entende. E Carmem Silva Ferreira, dirigente da FLM, que comanda o MSTC, arremata. “Somos todos refugiados. Refugiados da falta de nossos direitos.”
É uma parceria que está para comemorar 20 anos. Começou com Kenoma, em 1998. Depois disso, Eliana Caffé e José Dumont fizeram Narradores de Javé e agora Era o Hotel Cambridge. Entendem-se às mil maravilhas. Ela lhe oferece papéis cada vez mais complexos. Ele retribui fazendo, em Hotel Cambridge, a ligação da realidade com a ficção. Pois o filme, encenado numa ocupação real na cidade de São Paulo, é uma obra de ficção. Hotel Cambridge marca a maturidade de uma autora que se reinventa a cada trabalho.
‘Lili’, como é carinhosamente chamada, viaja nas lembranças. “Quando comecei a fazer cinema, a câmera era um totem, uma coisa sagrada. Entrava no set protegida, só o diretor de fotografia e a cineasta podiam tocar naquilo. E a bobina de filme tinha um tempo. Tudo tinha de ser muito planejado, e depois executado. Tudo isso mudou com o digital. Hoje há muito mais interação da câmera com a equipe. As próprias tomadas ficaram mais longas. Pode-se filmar horas contínuas.”
Era o Hotel Cambridge nasceu dessa nova realidade (ferramenta?) do cinema digital. Atraída pelo tema, a diretora visitou possíveis locações na cidade de São Paulo. Descobriu o Hotel Cambridge, na Avenida 9 de Julho, e outro prédio que foi reintegrado. O Cambridge nunca teve reintegração de posse. A câmera circula lá por dentro. Quando dramatiza, ficcionalmente, a reintegração, o filme usa as imagens do outro prédio. Os personagens são quase todos reais, transfigurados pela ficção. Três atores fazem a interação - Zé Dumont, Suely Franco e Carmen Silva. Como Zé, também Suely e Carmen têm história. Algumas das melhores cenas de Hotel Cambridge passam por eles.
Filmando, improvisando, definindo a linha de ficção de seu filme, Eliane Caffé descobriu e aprofundou os personagens. Dois terminaram por se impor - Carmen Silva Ferreira, da Frente da Luta por Moradia, que comanda o Movimento Sem Teto do Centro, sendo responsável pela ocupação do Hotel Cambridge, e Hamad Issa, o refugiado que se integrou à luta dos brasileiros. Hamad, Eliane conheceu num documentário de Samora Machel, feito na Jordânia, A Chave da Casa. Ao saber que ele estava no Brasil, no Rio Grande do Sul, a diretora iniciou os contatos que trouxeram o jordaniano para o Hotel Cambridge. “Ele é um homem de cultura, de muita vivência. E a Carmen é um fenômeno.”
E a diretora prossegue: “Tivemos uma pré-estreia do filme no começo da semana, no Cinesesc, e estava lá o ex-prefeito Fernando Haddad, cuja administração mapeou, no começo do ano passado, os mais de mil prédios sem função social na cidade. São edifícios ociosos, que permanecem vazios e não pagam impostos. Imediatamente, se formou uma rodinha ao redor da Carmen, logo que o filme acabou. Ela tem essa personalidade que agrega as pessoas. O filme mostra.” 
Carmen diz que somos todos refugiados. Zé Dumont, com sua experiência da pobreza - “O que me salvou foi ter apreendido a ler e escrever, sozinho, na marra” -, concorda. “Na Paraíba, onde nasci, a gente sofria com a seca. Existiam os capitães do mato, como na época da escravidão. Aqui, é a experiência do capitalismo na cidade grande.” Um e outra ressaltam na ocupação a experiência da cidadania e, no filme, essa possibilidade de utilizar o cinema para alavancar a luta social.
A estreia de Era o Hotel Cambridge será marcada por uma série de ações. Tudo para chamar a atenção da sociedade. A própria diretora se surpreende: “Quando iniciamos esse projeto, eu não tinha ideia da amplitude. Ele cresceu muito, e as pessoas cresceram com a gente. Somos um coletivo compondo uma força-tarefa. Existe uma pauta que pode ser política, reivindicatória, mas o filme é um filme, uma ficção. É para ser visto e fruído esteticamente.” Um típico exemplo dessa fruição é a participação, via Skype, da artista colombiana Lucía Pulido. “O filme é de baixíssimo orçamento, não poderíamos bancar a vinda dela, mas as trocas de informações viabilizam a presença do Skype no filme e, através dele, que a Lucía cante para a gente. Ela foi de uma generosidade extrema. E canta lindamente. São esses momentos mágicos que fazem a diferença.”
Livro de Carla Caffé disseca o processo
Irmã da diretora Eliane Caffé, Carla Caffé tem dado considerável contribuição a seu cinema. Em Narradores de Javé, incorporou a reciclagem de lixo ao projeto e, dessa forma, alterou a dinâmica da cidadezinha em que o filme foi feito. Em Era o Hotel Cambridge, seu trabalho como diretora de arte levou à criação de oficinas que integraram ainda mais o coletivo reunido naquele espaço. Tudo isso foi registrado e contado num livro que acaba de sair pelas Edições Sesc. 
Na apresentação, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik diz que, ao observar ‘invasões’ e ‘invasores’ de perto e com delicadeza, como faz a lente do cinema em Hotel Cambridge, outras imagens e narrativas são reveladas. Abre-se a grande multiplicidade de histórias que levou tanta gente ao mesmo local. É disso que o livro dá conta.

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