segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Somos cordiais, somos selvagens, Luís Eduardo Assis* OESP


23 Janeiro 2017 | 05h00
Ao contrário do que se pode pensar, “cordial”, no Brasil, não tem a conotação de simpatia, acolhimento ou solidariedade. Representa nossa dificuldade em forjar regras e instituições e nossa relutância em separar interesse públicos de conveniências privadas
Comemoraram-se – pouco – no ano passado os 80 anos da publicação de Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda. Foi neste livro que o autor, um dos maiores pensadores brasileiros do século 20, introduziu a ideia do brasileiro como um homem “cordial”. Ao contrário do que se pode pensar, “cordial”, aqui, não tem a conotação de simpatia, acolhimento ou solidariedade. Representa, antes, nossa inclinação para rejeitar relações impessoais, nossa dificuldade em forjar regras e instituições, nossa relutância em separar interesse públicos de conveniências privadas.
Em artigo recente no Financial Times (A Brazilian bribery machine, 28/12/2016), Joe Leahy mostra em detalhes como Marcelo Odebrecht transformou uma grande empreiteira numa fantástica operação cuja atividade principal gravitava em torno de práticas criminosas. Eis, aqui, um homem “cordial”.
Nossa cordialidade também não nos faz generosos. A Charities Aid Foundation publica anualmente uma pesquisa que compara práticas de solidariedade social entre 140 países. A síntese deste trabalho é o cálculo de um “índice de generosidade” baseado em três medidas: doação de dinheiro, disposição de ajudar pessoas estranhas e tempo dedicado para trabalhos voluntários. O Brasil não está bem na foto. Na última enquete, de 2015, ficamos em 68.º lugar na classificação geral. Note-se que este ranking de generosidade guarda pequena relação com a renda per capita de cada país. Entre os dez países mais generosos há países ricos, como Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido e Irlanda. Mas deste grupo também fazem parte Birmânia (o grande campeão, pelo segundo ano consecutivo), Sri Lanka e Indonésia. Os economistas muitas vezes fazem uso do índice de Spearman para medir a correlação ordinal entre duas séries (quanto mais próximo de 1 o valor do índice, maior a correlação). No caso entre o índice de generosidade e a renda per capita, a correlação é muito baixa, de apenas 0,267.
Não somos generosos e somos violentos. Dados do Banco Mundial indicam que o índice de homicídios no Brasil alcança 24,6 para cada 100 mil habitantes. Para um conjunto de 68 países, estamos na 64.ª posição. Mais violentos que o Brasil, apenas Colômbia, El Salvador, Guatemala e Honduras. Neste caso, há uma clara correlação com a renda. Países mais ricos tendem a ser menos violentos. A renda per capita média dos dez países menos violentos é de US$ 41,67 mil, contra apenas US$ 11,28 mil na média dos dez países com maior taxa de homicídio. A correlação ordinal entre renda e homicídio é relativamente alta: 0,67.
Crescimento econômico. Mais que pesquisas e índices de correlação, as cenas de selvageria e os massacres nos presídios brasileiros estão a demonstrar que fracassamos na construção de uma sociedade justa e fraterna. O crescimento econômico não é a chave para a resolução de todos os males, mas as coisas ficam ainda mais difíceis quando empobrecemos. A recessão deve acabar em 2017, mas não está no radar a volta de altos índices de crescimento. A retomada será gradual e dolorosa. O desemprego vai ainda subir. Pelas estimativas do mercado, chegaremos a 2020 com uma renda per capita menor que a de 2010.
Uma década caminhando para trás certamente não contribuirá para enfrentarmos as mazelas de uma sociedade marcada pela violência e pela falta de solidariedade. O governo pode fazer sua parte avançando, como for possível, nas reformas econômicas. Mas, se quisermos construir uma sociedade próspera e mais solidária, teremos de deixar nossa cordialidade para trás.
*Economista, foi diretor de Política Monetária do Banco Central e professor da PUC-SP e da FGV

Ceará tem a primeira smart city para pessoas de baixa renda do Brasil

Este é o primeiro projeto de cidade inteligente que se encaixa nos padrões do programa “Minha Casa, Minha VIda”.
15 de abril de 2016 • Atualizado às 17 : 12
Ceará tem a primeira smart city para pessoas de baixa renda do Brasil
A área escolhida para abrigar o empreendimento sofre com um défici habitacional de outros serviços. | Foto: Divulgação


Cidades inteligentes estão entre as grandes apostas para o futuro. O fato de concentrarem tecnologias de eficiência, residências, área de lazer e comerciais no mesmo espaço resolve grande parte dos problemas comuns às grandes cidades. Normalmente elas estão associadas a empreendimentos caros, mas, o Brasil já tem um projeto de uma smart city que se encaixa nos padrões do programa “Minha Casa, Minha Vida”.
Apelidada de Croatá Laguna EcoPark, a cidade está localizada no município de São Gonçalo do Amarante, a 55 quilômetros de Fortaleza. O projeto é de duas organizações italianas, a Planeta Idea e a SocialFare, em parceria com o Centro de Empreendedorismo da Universidade de Tel Aviv, em Israel, e outras empresas israelenses de tecnologia.
A ideia é oferecer um espaço sustentável, pensado para garantir de maneira eficiente todas as necessidades dos moradores e que ao mesmo tempo seja acessível financeiramente. O projeto foi apresentado em 2015, em Milão, e já está em fase de construção, devendo ser totalmente entregue até o fim de 2017.
Imagem: Divulgação
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A área escolhida para abrigar o empreendimento sofre com um défici habitacional de outros serviços, mas está valorizada devido à construção de um porto e um centro industrial. Assim, os arquitetos desenharam um modelo de cidade capaz de abrigar até 21 mil habitantes, mantendo em equilíbrio as estruturas residenciais, comerciais, industriais e as áreas verdes.
Foto: Divulgação
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Além do planejamento arquitetônico, os moradores também contarão com uma tecnologia de ponta, característica principal de uma cidade inteligente. Com sinal wi-fi liberado e aplicativos específicos para serviços, como o transporte público e o compartilhamento de outros meios de transporte, a rotina dentro do complexo fica muito mais cômoda. A cidade também contará com sistema de reaproveitamento de águas residuais, praças equipadas com aparelhos esportivos que geram energia e um sistema que controla a irrigação das áreas verdes baseado na previsão do tempo.
Imagem: Divulgação
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Os lotes residenciais custam a partir de R$ 24.300.

Saiba como a morte de Teori Zavascki atrapalha o governo de Michel Temer, do blog Poder360


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STF estava prestes a colocar mais freios na Lava Jato
Habeas corpus de Eduardo Cunha seria ponto da virada
Pós-Teori, Tribunal fica coagido a ser “mulher de César”
Michel Temer: dificuldades sem Teori ZavasckiSérgio Lima - Poder360/31.out.2016

22.jan.2017 (domingo) - 13h51
atualizado: 23.jan.2017 (segunda-feira) - 0h32

Um operador político experiente, entre compungido e chocado com a morte de Teori Zavascki, fez a seguinte avaliação num rico restaurante de São Paulo na 5ª feira (19.jan.2017) à noite:
– É uma tragédia. Mas hoje Deus deu 1 sinal e disse que deseja tratar Michel Temer muito bem.
Essa assertiva leva em conta o suposto impacto positivo para o presidente da República se o ritmo da Lava Jato ficar mais lento.
Trata-se de uma avaliação errada.
As investigações da Lava Jato são inevitáveis. Suas consequências (possível queda de ministros e de políticos relevantes no Congresso) são inexoráveis. Quanto mais se espera por esse desfecho, mais fragilizado fica o Palácio do Planalto.
A partir de agora, no vácuo de alguns dias ou semanas provocado pela ausência de 1 relator da Lava Jato no STF, a política e o Congresso podem ser abduzidos por 1 estado de torpor e criogenia. Todos ficarão à espera de novas delações, sem prazo para surgir. É o pior cenário para o governo de turno.

HABEAS CORPUS DE EDUARDO CUNHA

O que mais tem sido mencionado no noticiário pós-morte de Teori Zavascki são as delações de 77 pessoas ligadas à empreiteira Odebrecht. Essa é a parte mais saliente e visível dos assuntos tratados pelo então relator da Lava Jato.
Mas as delações estão encaminhadas. O que seria mais relevante no curto prazo é como Teori se posicionaria a respeito da concessão ou não de 1 habeas corpus para o ex-deputado Eduardo Cunha.
Detido em Curitiba (PR) desde 19 de outubro de 2016, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha apresentou 1 pedido de habeas corpus ao STF quase em seguida à sua prisão.
O requerimento de Cunha para ter revogada a detenção era para ter sido analisado em 13 de dezembro pela 2ª Turma do Supremo, composta então pelos ministros Teori Zavascki, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. À época, Teori ficou com receio de restringir decisão tão relevante apenas a 5 juízes. O assunto foi adiado.
Teori pediu que o habeas corpus fosse para o plenário do STF. A presidente do Supremo, Cármen Lúcia, marcou a análise para uma das primeiras sessões do Tribunal, em 8 de fevereiro.
Como se sabe, tudo agora está parado. É necessário que seja nomeado 1 relator da Lava Jato –que assumirá, inclusive esse processo do pedido de habeas corpus de Eduardo Cunha– para que o caso siga adiante.
Poder360 sabe que estava se formando, ao poucos, uma maioria dentro do STF para colocar o que alguns ministros chamam de “freio” na força-tarefa de Curitiba.
“Por que exatamente Eduardo Cunha está preso? Ele não foi condenado. Tem residência fixa. Não tem mais como destruir provas. Pode ficar proibido de sair do país. Ele é culpado de muita coisa que lhe é imputada? Possivelmente, sim. Ocorre que no Código Penal brasileiro não existe essa possibilidade de deixar pessoas presas indefinidamente sem condenação e que não representam perigo para a sociedade nem para a continuidade do processo”, diz 1 ministro do STF.
Essa tese garantista é o sonho de consumo de dezenas de pessoas citadas ou já investigadas pela Lava Jato. Contrasta frontalmente com o que pensa o juiz Sérgio Moro.
Teori Zavascki, que em 2015 já havia liberado da cadeia o banqueiro André Esteves, caminhava nessa direção do garantismo também para outros presos da Lava Jato.
A eventual liberação de Eduardo Cunha seria 1 marco relevantíssimo nas investigações. Seria também 1 grande alívio para o Palácio do Planalto, que vive atormentado com a eventual delação premiada do ex-presidente da Câmara, que foi ligadíssimo a Michel Temer e ao núcleo de poder do PMDB nos últimos anos.
Agora, tudo mudou. O STF tem se mostrado muito sensível à opinião pública. Como os 10 ministros poderão, pós-morte de Teori, liberar da cadeia aquele que ocupa o papel de malvado favorito no imaginário do brasileiro?
Uma coisa era o juiz com fama de austero, Teori Zavascki, defender a tese garantista e liberar Eduardo Cunha do jugo de Sérgio Moro. Outra bem diferente é o STF, sem Teori, tomar essa decisão –e corroborar a tese abraçada pelas teorias conspiratórias da última semana: “mataram o juiz para acabar com a Lava Jato”.
No atual cenário, o STF se sentirá coagido a atuar como “mulher de César”, aquela a quem não basta ser honesta, mas tem de parecer honesta.
Tudo considerado, é apenas uma miragem que se evanesce a interpretação de que a morte de Teori Zavascki ajuda a controlar a Lava Jato.

TEORI ZAVASCKI: IMAGEM É TUDO

A morte de Teori Zavascki num acidente de avião revelou ao Brasil 1 juiz diferente daquele que aparecia no noticiário dos últimos meses.
Na mídia, Teori era o magistrado que estava cansado, quase estafado de tanto trabalhar. Sua aparência monástico-germânica (embora fosse descendente de poloneses) ajudava na composição da personagem.
A tragédia no litoral de Paraty mostrou aos brasileiros algo 1 pouco diferente. A estampa pública do austero juiz do STF foi alterada –não nos obituários, reportagens e editoriais dos jornais, cuja tendência é sempre a de ser condescendente com autoridades em caso de morte.
Teori, sabe-se agora, era amigo íntimo de Carlos Alberto Filgueiras, o dono do hotel Emiliano e personagem polêmica com demandas no Supremo –sem falar de hábitos hedonistas que supostamente contrastavam com os do então ministro do STF.
Nada indica que Teori possa ter tomado decisões influenciado por Carlos Alberto. Mas é alimento para o pensamento, como dizem os norte-americanos, alguns aspectos que temperavam a amizade do empresário com o juiz.
Carlos Alberto tinha nas costas uma ação na qual era acusado por danos ambientais numa propriedade em Paraty. Exatamente no local onde passaria 1 fim de semana de descanso tendo Teori como convidado.
Magistrados do STF, como se sabe, têm salário mensal de R$ 33.700. Mas Teori há vários anos se hospedava em São Paulo num hotel, o Emiliano, cuja diária, por baixo, era de R$ 1.500.
A amizade entre 1 juiz e 1 empresário pode permitir que 1 receba do outro diárias de hotel? No Brasil, pode. E tudo é tratado com naturalidade pelo establishment e pela mídia tradicional.

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