sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Procurador não se opõe à suspensão da liminar que barra contratações na Alesp, IstoÉ


O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio, manifestou-se nesta quinta-feira, 12, favoravelmente ao pedido da Assembleia Legislativa para suspender a vigência da liminar que veta a contratação de mais de 300 funcionários sem concurso público, incluindo a função de motorista dos deputados estaduais.
A proibição da admissão direta de servidores foi imposta em 19 de dezembro pelo desembargador Francisco Casconi, do Órgão Especial do TJ, que acolheu liminarmente Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada por Smanio. O procurador-geral argumentou que a contratação sem concurso afronta a Constituição.
A liminar proíbe a Assembleia de fazer novas contratações sem concurso público. Mais de 300 cargos são preenchidos hoje, incluindo a função de motorista, sem concurso público, contrariando o que determina a Constituição.
Gianpaolo Smanio alegou, na Ação Direta de Inconstitucionalidade, que leis complementares estaduais e Resoluções da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo criaram cargos públicos de provimento em comissão que não retratam atribuições de assessoramento, chefia e direção, ‘senão funções técnicas, burocráticas, operacionais e profissionais a serem preenchidas por servidores públicos investidos em cargos de provimento efetivo’.
“À saciedade demonstrado o fumus boni iuris, pela ponderabilidade do direito alegado, soma-se a ele o periculum in mora. A atual tessitura dos preceitos legais, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, apontados como violadores de princípios e regras da Constituição do Estado de São Paulo é sinal, de per si, para suspensão de sua eficácia até final julgamento desta ação, evitando-se ilegítima investidura em cargos públicos e a consequente oneração financeira do erário”, advertiu o procurador-geral.
Smanio acrescentou. “O perigo da demora decorre, especialmente, da ideia de que, sem a imediata suspensão da vigência e da eficácia da disposição normativa questionada, subsistirá a sua aplicação. Serão realizadas despesas que, dificilmente, poderão ser revertidas aos cofres públicos na hipótese provável de procedência da ação direta.”
“Basta lembrar que os pagamentos realizados aos servidores públicos nomeados para ocuparem tais cargos, certamente, não serão revertidos ao erário, pela argumentação usual, em casos desta espécie, no sentido do caráter alimentar da prestação e da efetiva prestação dos serviços.”
Acuada pela ofensiva do Ministério Público e pela decisão judicial, ainda que em caráter provisório, a Assembleia protocolou petição na Corte estadual pedindo suspensão da liminar sob argumento de que seria constituída uma comissão para elaborar anteprojeto de lei e disciplinar as novas contratações. O texto deverá ser apresentado até 17 de fevereiro.
Diante da petição do Legislativo, o TJ pediu manifestação do procurador-geral. Nesta quinta, 12, diante do compromisso assumido pela Assembleia, Smanio manifestou-se favoravelmente ao pedido.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

2017: Orçamento da Defesa do Brasil

Embraer KC-390

Embraer KC-390
Embraer KC-390

O governo federal aprovou na última quarta-feira, 11, a Lei Orçamentária de 2017. O texto, sancionado pelo presidente em exercício Rodrigo Maia, prevê um repasse de mais de R$ 94 bilhões para o Ministério da Defesa. Deste montante, mais de 73% será destinado para gastos com pessoal e encargos sociais.
GASTOS COM PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Defesa, os gastos previstos com pessoal e encargos sociais são de mais de R$ 69 bilhões, contra R$ 61 bilhões de 2016. A fatia correspondente do orçamento geral, no entanto, diminuiu de 74,6% em 2016 para 73,8% neste ano.
Orçamento Defesaa 2017 - 1
INVESTIMENTOS
Ainda segundo dados do MD, a pasta recebeu um incremento de 40,8% no orçamento de 2017 para investimento no PAC da Defesa, em comparação com o valor repassado no ano passado. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) contempla os projetos estratégicos das três Forças: Marinha, Exército e Aeronáutica.
Orçamento Defesa 2017 - 2
ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
Os projetos a cargo da Administração Central do MD receberão um repasse de mais R$ 545 milhões. Trata-se de empreendimentos que atendem aos interesses das três Forças. O H-X BR prevê a aquisição de 50 helicópteros de transporte EC-725 para uso da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. O EC-725 realiza missões de transporte tático, de tropas, de cargas, reabastecimento em voo, busca e salvamento, combate e esclarecimento e proteção de superfície marítima. Além disso, o helicóptero é considerado fundamental para prestar apoio em calamidades públicas, como resgate e transporte em enchentes.
Orçamento Defesa 2017 - 3
Já o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) receberá um repasse de R$ 60 milhões. O objetivo do programa é prover meios seguros e soberanos para comunicações estratégicas e de defesa, além de trazer ao país tecnologias espaciais críticas, por meio de programas de transferência e de absorção de tecnologia. O artefato será o primeiro a ser 100% controlado por instituições brasileiras, dando ao Brasil pleno domínio das informações que orbitam o território nacional.
Orçamento Defesa 2017 - 4
MARINHA
A Marinha do Brasil vai receber um repasse total de R$ 2,352 bilhões em 2017 para seus projetos estratégicos. O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), que tem como objetivo projetar e construir no Brasil quatro submarinos convencionais e um movido a propulsão nuclear, prevê ainda a construção do Estaleiro e da Base Naval em Itaguaí, RJ. Além disso, a Força também está responsável pelo Programa Nuclear da Marinha (PNM), que tem o objetivo de desenvolver a tecnologia de propulsão nuclear com o domínio do ciclo de produção de combustível nuclear.
Orçamento Defesa 2017 - 5
EXÉRCITO
Os projetos a cargo do Exército são os que terão o menor repasse, comparado com os das outras Forças. O total de R$ 906 milhões será destinado ao Sisfron, Astros 2020 e Blindados Guarani. O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) é o maior projeto de vigilância de fronteiras terrestres em execução no planeta. O projeto Família de Blindados Guarani, por sua vez, consiste no desenvolvimento de veículos de combate nas plataformas 4×4, 6×6 e 8×8, que não só serão poderosos para operações militares de ataque, mas também representarão um salto qualitativo em missões de defesa, patrulhamento e paz. Por fim, o projeto Astros 2020 tem o objetivo de dotar a Força Terrestre de meios capazes de prestar um apoio de fogo de longo alcance, com elevada precisão e letalidade.
Orçamento Defesa 2017 - 6
AERONÁUTICA
Com o maior orçamento para investimentos em projetos estratégicos, a Aeronáutica receberá um repasse de R$ 2,678 bilhões em 2017. O montante será repassado para o desenvolvimento e aquisição do KC-390. Segundo a Força Aérea, os gastos com o projeto KC-X preveem a certificação da aeronave, que deverá ser consolidada ainda neste ano. Por sua capacidade de transportar até 23 toneladas, a aeronave pode ainda acomodar equipamentos de grandes dimensões, como armamentos, aeronaves semi-desmontadas e até o blindado Guarani. Ao todo, mais de 50 empresas brasileiras participam do projeto, que conta ainda com a colaboração da Argentina, Portugal e República Tcheca.
Outro projeto da FAB é o novo caça, o Gripen NG, que integra o projeto FX-2. A encomenda brasileira envolve 28 unidades monoplace (para um piloto) e oito biplace (para dois tripulantes). O contrato envolve ainda o treinamento de pilotos e mecânicos brasileiros na Suécia, apoio logístico e a transferência de tecnologia para indústrias brasileiras. A primeira aeronave deverá ser entregue em 2019, e a última em 2024.
FONTE: Indústria de Defesa & Segurança

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

As conversas privadas, Karnal OESP


Aumentamos tanto a comunicação que ela corre o risco de se tornar irrelevante
Leandro Karnal
11 Janeiro 2017 | 02h00
Um deposto presidente da Câmara dos Deputados colocava a mão na boca ao falar com alguém. Era uma maneira de evitar leitura labial. As conversas privadas devem ser blindadas pelo sussurro ou barreira física. Não sabemos o que falava, mas, pelo andar da carruagem, não seriam salmos de louvor ao Criador. Todo diálogo reservado aguça nossa curiosidade.
Há notáveis conversas privadas em história. Lembrarei algumas. A primeira marca o encontro entre dois líderes da unificação italiana. De um lado, Giuseppe Garibaldi, herói de dois mundos, guerreiro de camisa vermelha que entrara como um furacão no Sul da Itália e, vencendo batalha após batalha, assustava o reacionário papa Pio IX. Seus ideais eram mais republicanos do que monárquicos. Do Norte, vinha a figura majestática da casa de Savoia, patrocinadora do movimento. Vítor Emanuel II é a coroa piemontesa aspirando a ser monarca de toda península. São modelos conflitantes de unidade e do que viria a ser o reino da Itália. O rei falou com Garibaldi em Teano, região da Campânia. Há imagens do episódio, como a pintura de Pietro Aldi no Palácio de Siena ou o óleo de Sebastiano de Albertis (com Garibaldi sendo representado bem mais entusiasmado). O prestígio do líder dos camisas vermelhas é enorme. Os dois falam entre si. Garibaldi entrega a liderança ao rei e adere à política de unificação da casa de Savoia. Para o herói, o encontro de 26 de outubro de 1860 é um divisor de águas: o abandono do ideal de Giuseppe Mazzini, o romântico revolucionário que sonhara com uma Itália diferente daquela que se estava unificando sob o comando do rei. O que discutiram? Do que trataram? Nada sabemos. A literatura e o cinema podem alçar voo. Nenhum documento dará voz ao contraditório. A falta de registro histórico funciona como a mão que protege o sussurro ao celular.
Desçamos um pouco abaixo da linha do Equador. San Martín é o militar libertador do Prata e do Chile, protetor do Peru e herói da travessia dos Andes. O general tem uma conversa reservada com Simon Bolívar. Ambos estão no auge da fama. Estamos em 26 de julho de 1822. O Brasil ainda está ligado a Portugal e o resto da América Ibérica vive uma insegurança em relação à independência. Bolívar era o herói libertador do Norte. O outro, o gênio militar do Sul. Ambos carismáticos e aclamados por muitos. Conversam bastante. O local da conversa é Guayaquil, no atual Equador. Os projetos políticos dos dois militares são muito distintos. As personalidades são quase perfeitamente opostas. Os dois conversam a portas fechadas, apesar dos quadros mostrarem um encontro a céu aberto. Do que trataram? Quais foram os argumentos? Teriam consciência de que estavam fazendo história?
Há uma escassa carta do secretário de Bolívar, J. Perez, sobre o tema (descoberta em 2013). A literatura não tolera tanta curiosidade e completou, com a imaginação, o silêncio dos historiadores. Jorge Luis Borges imagina o embate entre os dois no conto “Guayaquil”. O texto vale a pena ser lido pela beleza da narrativa e pela percepção da presença argentina no continente.
Voltemos aos fatos históricos. Segue-se um banquete à conversa. Bolívar faz um brinde aos dois maiores homens da América do Sul: ele e o argentino. San Martín retribui com um brinde mais altruísta ao fim da guerra, à organização das repúblicas no Novo Mundo e à saúde do colega Bolívar. Logo em seguida, San Martín decide afastar-se da luta e entregar todo o comando a Bolívar. Mais: o general platino embarca para a França e, lá, morreria em 1848, com mais de 70 anos. Bolívar segue na política sul-americana e morreu aos 47 anos, de tuberculose, apenas 8 anos depois de Guayaquil.
Tal como Garibaldi, teria o argentino decidido que um recuo era melhor? Uma das chaves da compreensão de cada pessoa é saber como ela lida com sua vaidade. Todos somos vaidosos, sem exceção, mas a quantidade e a relação com a vaidade são distintas em cada ser. Teria o herói platino recuado por humildade, estratégia ou incapacidade de se sobrepor? Seria San Martín um caso especial de humildade argentina? Nunca saberemos. Era uma época anterior aos onipresentes gravadores em celulares.
As conversas privadas e históricas constituem um desafio importante para o conhecimento do passado. São fluxos de consciência que ajudariam muito para recompor a alma de cada personagem e suas motivações... caso tivéssemos acesso a elas. A correspondência que eventualmente tenham escrito ajuda, mas é um pouco mais elaborada. Os latinos diziam “verba volant, scripta manent”. As palavras são voláteis, dançam no ar e desaparecem. A escrita tem foro de permanência e merece uma maior atenção do autor, fazendo com que a espontaneidade da fala e o calor do momento encontrem filtros mais seguros. Nossa mania de trocar mensagens a cada segundo pelo celular está aproximando os dois estatutos. Atualizamos os latinos, pois a palavra em sua forma escrita também parece voar. Há total oralidade nos textos de WhatsApp. Como o historiador do futuro lidará com essa fonte de comunicação? Achar o celular de presidentes do Senado do Brasil numa escavação ou arquivo daqui a 500 anos, com suas mensagens intactas, revelaria o que sobre nosso mundo político? Seria uma nova pedra de Roseta? O que nossos celulares iluminam sobre nós e nosso mundo? O dramático do mundo de 2017 é que aumentamos tanto a comunicação que ela corre o risco de se tornar irrelevante. Talvez por isso a gente digite tanto: não há mais nada a dizer.

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