sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Aborto, o conflito de Poderes e o direito da mulher, OESP


Sandra Franco*
16 Dezembro 2016 | 04h00
Sandra Franco. Foto: Divulgação
Sandra Franco. Foto: Divulgação
A criminalização do aborto está mais uma vez em discussão que envolve o Poder Judiciário e o Poder Legislativo. Isso porque, no último dia 29 de novembro, o Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, considerou que a interrupção da gravidez até o terceiro mês de gestação não pode ser equiparada ao aborto. Por outro lado, atendendo a apelos da bancada religiosa, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que vai instalar comissão especial com o objetivo de rever a decisão tomada pela Corte Superior.
Segundo declaração do presidente da Câmara, ele pretende adotar essa posição toda vez que o STF resolver legislar no lugar do Congresso, “ratificando ou retificando a decisão do tribunal”. A intenção dos deputados é aprovar emenda à Constituição para rever a decisão dos ministros e firmar o caráter criminal do aborto, a qualquer tempo.
A Corte Superior também julgará o direito do aborto de fetos com microcefalia. A proposta é a de discutir, a partir das políticas públicas que foram propostas na Lei 13.301/2016. A omissão do Estado sobre a possibilidade de interrupção da gravidez para mulheres grávidas infectadas pelo vírus zika levou o caso ao Judiciário. Nesse sentido, o pedido é de que se determine ao Poder Público a adoção de diversas políticas públicas visando sanar tais omissões, entre elas a garantia de tratamentos a crianças com microcefalia em centros especializados em reabilitação distantes no máximo 50km de suas residências, a entrega de material informativo e a distribuição de contraceptivos de longa duração às mulheres em situação vulnerável.
A controvérsia quanto ao aborto reside no fato de que o direito à vida não é absoluto. Para alguns, o Direito Constitucional (e natural) à vida do feto precisa ser respeitado. Para outra corrente, a mulher faz jus ao direito à dignidade humana, ao direito de escolha.
Nenhum direito é absoluto. O direito à vida do feto não é menos importante que o direito à dignidade e do exercício da autonomia da mulher. Assim, é essencial que se discuta o tema por todos os ângulos, até porque mesmo o aborto deve ser um ato de decisão após uma reflexão profunda, porque sem dúvida se estará tirando a chance de alguém viver, ainda que de forma totalmente dependente dos pais ou de terceiros, como é o caso das crianças com deficiências, especialmente mentais.
O aborto é proibido no Brasil. Porém, na visão do ministro do STF Luis Roberto Barroso, essa proibição deve ser relativizada pelo contexto social e pelas nuances de cada caso. Por exemplo, a interrupção da gravidez é realizada por muitas mulheres, mas apenas as mais pobres sofrem os efeitos dessa prática, pois se submetem a procedimentos duvidosos em locais sem a infraestrutura necessária, o que resulta em amputações e mortes. Esse ciclo torna o Brasil em um dos países em que mais se morre pela prática do aborto clandestino.
O ministro Barroso retomou uma discussão que sempre rende polêmicas. Ele afirmou que a criminalização do aborto até o terceiro mês fere diversos direitos fundamentais, entre eles, os sexuais e reprodutivos da mulher. O ministro também ressaltou a autonomia da mulher, o direito de escolha de cada um e a paridade entre os sexos. E alertou também para importantes questões como a integridade física e psíquica da gestante.
Realmente uma posição brilhante e que quebra uma barreira importante rumo à descriminalização do aborto no Brasil. Cabe ressaltar que, no Brasil, o aborto é proibido, exceto em casos de anencefalia, violência sexual ou risco de morte para a gestante, mas estima-se que milhões de mulheres pratiquem o ato por ano.
O fato consiste em que o aborto, em qualquer país, mesmo naqueles com pensamento mais flexível, será polêmico. A discussão sobre a moral e a lei envolvidas na sua permissão ou na sua proibição traz alguns pensamentos inconciliáveis. O aborto não é um tema que se refere apenas à mulher. Todos os problemas de saúde envolvem todos os cidadãos, sem exceção.
Lamentavelmente, os problemas com abortos sem segurança são quase exclusividade dos mais pobres. Clínicas ilegais existirão enquanto o aborto não deixar de ser crime. O procedimento abortivo em hospitais ou locais com segurança é feito apenas por quem tem dinheiro para pagar. O acesso a medicamentos abortivos de origem ilícita é pouco fiscalizado, existem sites que vendem explicitamente os produtos. Apenas fiscalização mais intensiva e com penalidades mais graves trarão alguma mudança no cenário atual.
Para alguns, o Direito Constitucional e natural à vida do feto precisa ser respeitado. E o direito à autonomia da mulher? Qual deve ter mais peso? Vê-se que nenhum direito é absoluto, portanto, se o feto tem o direito de nascer vivo, também teria o direito a ter uma vida digna, a qual, em tese, é afastada quando diante de uma gravidez indesejada.
Outro aspecto científico e importante para se entender os limites do Direito reside em não haver um consenso objetivo acerca do momento em que surge a vida: se da fecundação, da nidação, do bater do coração, do estado do feto, da formação do sistema nervoso central, da capacidade de ser consciente de si próprio, do nascimento, ou do nascimento com respiração.
Fato é que o aborto, em todas as suas formas, dificilmente de ser crime. Embora nosso Estado seja laico, há uma influência decisiva da religião. Mas precisamos, independente de questões religiosas, dar mais segurança e contornos legais ao procedimento. Trata-se de uma questão legal, social e pessoal. E o mais importante é que os deputados que pretendem “suspender” a decisão do Supremo não se desgarrem do núcleo central da questão que é a saúde da mulher.
Os três Poderes precisam enfrentar e discutir o tema aborto em conjunto com os profissionais da saúde e a sociedade organizada. É necessário que sejam estabelecidas regras cristalinas para que sejam reduzidos os casos de mortes e de lesões físicas e morais resultantes do aborto desassistido e clandestino. E que essas regras respeitem as leis penais e, acima de tudo, a dignidade da mulher
*Sandra Franco é consultora jurídica especializada em Direito Médico e da Saúde, presidente da Comissão de Direito da Saúde e Responsabilidade Médico-Hospitalar da OAB de São José dos Campos (SP), presidente da Academia Brasileira de Direito Médico e da Saúde, membro do Comitê de Ética da UNESP para pesquisa em seres humanos e Doutoranda em Saúde Pública – drasandra@sfranconsultoria.com.br

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Governo de SP segue União e lança pacote de incentivos à indústria e agronegócio, OESP

Foto: Gabriela Biló/Estadão
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Créditos do ICMS podem ser usados para investimentos em fábricas
Um dia após o anúncio de medidas pela equipe econômica de Henrique Meirelles, o governo de São Paulo lançou nesta sexta-feira, 16, um pacote que prevê simplificação tributária, desoneração e incentivos a investimentos que beneficiam a indústria - em especial a de automóveis, autopeças e bens de capital -, bem como abatedouros de aves e setores de informática e tecnologia. O objetivo é estimular a competitividade e a atividade econômica paulista por meio do apoio a cadeias com grande potencial de abertura de postos de trabalho e ampliação de negócios.
Um dos anúncios foi a prorrogação por mais um ano, até 31 de dezembro do ano que vem, do uso de créditos de ICMS para modernização, ampliação ou construção de novas fábricas por meio do sistema paulista de parques tecnológicos e dos programas Pró-Veículo e Pró-Informática, que beneficiam, respectivamente, montadoras e a indústria de processamento eletrônico de dados.
Abatedouros de aves também tiveram prorrogado até 31 de dezembro de 2017 a autorização para acessar uma linha especial de crédito para capital de giro da Desenvolve SP, agência de fomento do governo paulista, usando como garantia o crédito acumulado de ICMS. O benefício também venceria no fim deste mês.
À indústria de máquinas de construção, a desoneração, via crédito de ICMS, da produção de retroescavadeiras, pás carregadeiras, escavadeiras hidráulicas e motoniveladoras foi prorrogada até 30 de abril. 
O governo paulista também anunciou estimulo à indústria de pneus, com incentivo à reciclagem de pneus e resíduos de borracha. Nesse caso, o ICMS sobre resíduos usados como reforço de compostos de borracha e óleos combustíveis fornecidos será diferido para a etapa de saída da mercadoria industrializada.
Os decretos com as medidas foram assinados nesta sexta pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista. Eles incluem ainda a equalização da variação de carga tributária de quatro alíquotas incidentes nas importações de produtos, o que, na avaliação do governo paulista, deve estimular a movimentação de cargas no porto de Santos.
Para evitar a formação de saldo credor do ICMS, a secretaria de Fazenda do Estado, por meio de análises de casos concretos, poderá suspender parcialmente o imposto no desembaraço de insumos ou produtos acabados. O governo paulista diz que a medida simplifica e melhora a eficiência das operações de setores industriais que detêm fábricas abastecidas por fornecedores paulistas, bem como empresas que operam com cadeias que combinam insumos importados, fornecimento local e trocas interestaduais. As indústrias química, de autopeças e de cosméticos são citadas entre as beneficiadas pela ação, apresentada como estímulo à concentração e expansão industrial em São Paulo.

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14.12.16 | Governo de São Paulo estuda criação de cursos em energias renováveis e eficiência energética. Procel





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Fonte: Segs - 13.12.2016
São Paulo - Técnicos da Secretaria de Energia e Mineração e professores do Centro Paula Souza estão trabalhando para implantar os primeiros cursos do Brasil, no sistema público de ensino, voltados para a formação de profissionais nas áreas de energia renovável e eficiência energética.

A proposta é implantar dois cursos. O primeiro será de Sistemas de Energias Renováveis e formará técnicos, de nível médio, em Escolas Técnicas Estaduais (Etecs). Já o outro curso será de nível superior tecnológico em Gestão de Energia/Eficiência Energética, oferecido em Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Estado, com foco na formação de gestores especializados na área.

“A geração distribuída está se popularizando rapidamente no Brasil e o governador Geraldo Alckmin vem incentivando esse setor no Estado de São Paulo. Isso fará com que a necessidade de profissionais altamente capacitados aumente cada vez mais. Com a retomada da economia, a geração local em indústrias, comércios e residências será cada vez maior, o que abrirá espaço para esse novo mercado, estimulando a geração de emprego e o aumento de renda da população”, explica o secretário de Energia e Mineração, João Carlos Meirelles.

O curso técnico, com duração de três semestres, englobará temas como instalações elétricas, eficiência energética, energias renováveis, sistemas fotovoltaicos e solares térmicos. Já o tecnólogo em Gestão de Energia estará apto a projetar, manter e gerenciar sistemas baseados em energias renováveis nas indústrias, comércios e residências. O profissional também estará apto a coordenar programas de uso racional de energia, indicar tecnologias e traçar estratégias para promover a eficiência energética.

“Os novos cursos também terão um papel estratégico na produção de pesquisas para atender às demandas tecnológicas do setor”, destaca a diretora-superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá. A previsão é que as futuras modalidades sejam oferecidas a partir de 2018.

Sobre o Centro Paula Souza

O Centro Paula Souza é uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SDECTI). A instituição administra 220 Etecs e 66 Fatecs, reunindo cerca de 288 mil alunos em cursos técnicos de nível médio e superiores tecnológicos, em mais de 300 municípios.

As Etecs atendem 208 mil estudantes nos Ensinos Técnico, Médio e Técnico Integrado ao Médio, com 138 cursos técnicos para os setores industrial, agropecuário e de serviços, incluindo habilitações nas modalidades semipresencial, online, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e especialização técnica.

Já nas Fatecs, cerca de 80 mil alunos estão matriculados em 72 cursos de graduação tecnológica, em diversas áreas, como Construção Civil, Mecânica, Informática, Tecnologia da Informação, Turismo, entre outras. Além da graduação, são oferecidos cursos de pós-graduação, atualização tecnológica e extensão.

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