domingo, 17 de abril de 2016

Petróleo e poder, OESP


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Celso Ming
28 Fevereiro 2016 | 04h 32 - Atualizado:01 Março 2016 | 20h 06
Petróleo nunca é assunto que diz respeito apenas aos mercados de combustíveis ou de energia. Petróleo é principalmente tema de geopolítica.
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Enquanto a Opep concentrou perto de 30% da oferta global, a economia do Ocidente permaneceu dependente de tudo quanto acontecia no pedaço do mundo que os geógrafos denominam Oriente Médio.
Mas, a partir de 2005, o jogo começou a mudar. A produção de óleo e gás de xisto, deixou os Estados Unidos autossuficientes e até mesmo exportadores de petróleo. Os produtores do Oriente Médio, especialmente a Arábia Saudita, sentiram que a nova relação econômica lhes tirava poder de barganha.
A reação aconteceu em outubro de 2014, quando o cartel da Opep, liderado pela Arábia Saudita, decidiu não reduzir a oferta, o pleito de então, para dar mais equilíbrio ao mercado.
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O objetivo declarado foi provocar queda de preços capaz de inviabilizar os negócios dos recém-chegados produtores de óleo de xisto. Dessa maneira, ficaria neutralizada parte da vantagem geopolítica dos Estados Unidos recentemente adquirida. De quebra, seria prejudicado também o Irã, inimigo da Arábia Saudita, que voltaria ao mercado (depois do boicote) com preços aviltados.
A partir da decisão da Opep, os preços do petróleo despencaram da altura dos US$ 100 por barril (de 159 litros) para os US$ 30, onde oscilam hoje. A manobra saudita produziu efeitos inesperados. Em primeiro lugar, derrubou os preços a níveis muito abaixo dos imaginados. Ninguém contava com fundamentos de mercado tão desequilibrados. Em segundo lugar, não prejudicou apenas a área do xisto, mas, também, membros da Opep, como Iraque, Equador e Venezuela. Terceiro, acabou levando bom número de produtores a vender ainda mais óleo para compensar, com mais volume, a queda de receitas e o comprometimento do seu orçamento, decisão que contribuiu para aviltar ainda mais os preços.
Um quarto efeito inesperado aconteceu na área do xisto. Embora bom número de empresas tenha sido ao menos temporariamente alijado do mercado ou ficado à beira da falência, o fato é que o setor passou a operar com custos muito mais baixos, graças a avanços tecnológicos e operacionais.
O resultado prático é o de que o petróleo não precisará voltar aos US$ 100 por barril para viabilizar o xisto. Bastará, provavelmente, que retorne aos US$ 50 por barril, como tantos esperam, para recompor o setor. Assim, outra vez, a equação geopolítica que a Arábia Saudita esperava alterar voltará a ficar favorável aos Estados Unidos.
As sucessivas reuniões de países da Opep e de fora da Opep para pressionar por redução da produção são tentativas aflitas de aumentar as receitas dos produtores. O problema é que ninguém consegue convencer o Irã a que, depois de quatro anos de boicote e de jejum, deixe de despejar seu petróleo nos mercados. E há o risco do pouso forçado da China que faz o jogo contrário: reduz a demanda de petróleo e embola ainda mais o jogo.
CONFIRA
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Aí está a variação das cotações ordinárias (com direito a voto) da Oi desde 30 de setembro de 2015.

Socorro!

A companhia de telefonia Oi tem uma dívida de R$ 60 bilhões, 30 vezes maior que seu atual valor de mercado. As tentativas feitas nos últimos 13 anos para salvar a empresa desembocaram num beco sem saída. Tudo se passa como se os atuais dirigentes esperassem socorro do governo. Mas o Tesouro é um pote quebrado. Mesmo se não estivesse quebrado, teria outras prioridades, como a capitalização da Petrobrás.

FORA DE SÃO PAULO, CLUBES SOFREM COM FALTA DE JOGOS, OESP

Zagueiro Lucas ganha um salário mínimo para ajudar a famíliaSem jogar, é difícil conseguir patrocinadores

Gonçalo Junior
27 Fevereiro 2016 | 17h 00
As dificuldades que os jogadores de futebol encontram em São Paulo, no maior torneio do País, agravam-se nos estados menores. A falta de um calendário anual de competições dificulta o planejamento e a atrapalha a luta pela obtenção de patrocínios.
Na segunda divisão do futebol paranaense, o Cianorte joga todas suas fichas no acesso à elite. Com isso, os jogadores esperam reconhecimento do mercado e a chance de renovação de contrato. A maioria dos atletas se enquadra na pesquisa da CBF que mostra que 96% ganham até R$ 5 mil.


Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim em Cotia

“A gente se entrega para conseguir o acesso. Caso contrário, corremos o risco de desemprego no segundo semestre”, diz o zagueiro Diego, de 31 anos. “Nossa realidade é apertada financeiramente. O salário nunca atrasou, mas vivemos como a maioria da população brasileira”, conta.
O Juazeirense, conhecido com o “Cancão de Fogo”, está em terceiro lugar em seu grupo no Campeonato Baiano. Na Copa do Nordeste, está na mesma posição, e vai disputar a Copa do Brasil. Com uma folha salarial de R$ 100 mil – os grandes do Nordeste gastam em média R$ 10 milhões – , o time pretende ficar entre os quatro melhores do torneio local para voltar aos torneios regionais na próxima temporada.

Nesse contexto, os atletas lutam por uma chance em um grande time. O zagueiro Lucas se sente incomodado por não poder ajudar a família como gostaria. O salário mínimo dá apenas para seus gastos pessoais, como transporte, roupas, chuteira e suplementos alimentares. Filho único de um vigilante e de uma dona de casa, o defensor pensa lá na frente.

“A gente tem de abdicar de algumas coisas agora, como viagens e passeios. Hoje, não posso ajudar muito, mas vou conseguir garantir o conforto de todos no futuro”, diz o jovem de 19 
anos.

MESMO GANHANDO MIL REAIS, ATLETAS MANTÊM SONHO NO FUTEBOL

Essa é a média de rendimentos da maioria dos atletas, diz a CBF

Gonçalo Junior
27 Fevereiro 2016 | 17h 00
Com salário de R$ 880, o meia Renan Assumpção pega metrô, trem e carona para sair de sua casa alugada na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, e chegar até Cotia, onde treina seu time, o Grêmio Barueri. Já tentou ir com seu Kadett azul, ano 1990, mas pesaram no bolso os R$ 30 diários de combustível. Nos últimos meses, diminuiu os passeios com a família. Ele aumenta a renda mensal com bicos em torneios amadores. São R$ 200 por jogo. Também revende materiais esportivos que adquire no Brás. Não pensa em desistir do futebol, mas confessa que a aprovação da mulher, Nayane, em um concurso público traz mais segurança. E passar em um concurso é uma alternativa para ele.
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O jogador Renan Assumpção, do Grêmio Barueri, vai para o treino de metrô, trem e carona para economizar

A trajetória de Renan não é uma exceção. Muito pelo contrário. Estudo divulgado pela CBF nesta semana aponta a desigualdade salarial entre os atletas do País. De acordo com a Diretoria de Registro e Transferência da entidade, 82,40% dos jogadores ganham até R$ 1 mil por mês. Isso significa um total de 23.238 atletas. Outros 3.859 atletas (13,68%) ganham entre R$ 1 mil e R$ 5 mil mensais e 381 jogadores ficam na faixa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil a cada trinta dias (1,35%).
Ainda segundo os dados, apenas 226 jogadores (0,8% do total) formam a elite, com salários que vão de R$ 50.000 até mais de R$ 500.000. Desses atletas, apenas um teve salário superior a 500 mil no ano passado: o corintiano Alexandre Pato, emprestado ao Chelsea. O sistema considera apenas os salários registrados, sem contar os contratos de direitos de imagem.
O Estado acompanhou o jogador em seu trajeto de casa até o treino na última sexta-feira. Os vizinhos se tornaram fãs e torcem por ele. O percurso demorou uma hora e meia. Acostumado aos desafios do transporte público, Renan zanzava facilmente pelos vagões lotados das linhas norte-sul (azul) do metrô e leste-oeste (vermelha) da CPTM até o Osasco. A bolsa de material esportivo incomodou muita gente.
Renan teve boa passagem pelo Bragantino em 2011

“No futebol, tudo pode acontecer. Se assinar um grande contrato, muda tudo”, diz o meia que teve como grande momento de sua carreira uma passagem pelo Bragantino, em 2011.
O momento do Barueri não ajuda muito. Na lanterna da Série A3 do Campeonato Paulista sem somar nenhum ponto, o time corre o risco de ser eliminado. Os jogadores do clube ameaçam não entrar em campo hoje, em jogo contra o Catanduvense, por causa de atraso nos salários. Seria o segundo W.O., o que significa eliminação. Na primeira rodada, a equipe não tinha o número mínimo de jogadores registrados.
Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim em Cotia
Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim em Cotia

O sonho é da maioria é mesmo a Europa ou a China. “O Ricardo Oliveira ganharia R$ 1 milhão por mês. Eu jogaria o resto da vida por isso”, brinca.
Renan tem dois filhos, João Pedro e Bernardo. Hoje, o jogador do Barueri luta pelo sustento deles, mas diz “sim” quando perguntado se incentivaria que eles também fossem jogadores de futebol.
O zagueiro Rodrigo Sousa esteve na Europa em 2013. Ao longo de nove meses, defendeu o Portimorense, de Portugal. Ganhava 2 mil euros (cerca de R$ 8 mil) mais premiações por metas de R$ 10 mil. Aqui, seu salário no Nacional gira em torno de R$ 3 mil na A-3. Ele comemora que o jogo contra o Primavera foi transmitido ontem pela Rede Vida. Dá “visibilidade”, diz.
O defensor de 22 anos está construindo uma casa no terreno dos pais. Depois que a filha Luiza ficar maior, a sua mulher vai voltar a trabalhar. “Espero voltar para a Europa no ano que vem”, planeja.
O Barueri luta para se manter na Série A-3 do Campeonato Paulista






A Petrobrás tem solução, Adriano Pires


A Petrobrás vive a pior situação de sua história. Fosse uma empresa privada, estaria em recuperação judicial. Mas ela não é uma empresa qualquer. A Petrobrás está no risco soberano do Brasil e a solução da crise econômica passa necessariamente pela refundação da empresa. Não podemos nos iludir, sua recuperação será longa e bastante penosa. Os estragos foram muitos e profundos.
A Petrobrás tem R$ 543 bilhões de dívida, com R$ 300 bilhões a R$ 350 bilhões vencendo de 2016 a 2020. Para manter a produção atual no patamar de 2,1 milhões de barris/dia, a Petrobrás precisa investir outros R$ 400 bilhões no período 2016/2020.A geração de caixa esperada para este período é de R$ 200 bilhões, assumindo que a empresa manterá o atual preço implícito de venda no mercado doméstico de US$ 60-62/barril. A empresa tem outros R$ 100 bilhões em caixa. São R$ 700-750 bilhões de necessidade de caixa mais rolagem para R$ 300 bilhões de geração de caixa. A conta não está apertada, ela simplesmente não fecha por uma larga diferença.
Embora o endividamento da empresa tenha crescido de R$100 bilhões em 2009 para R$ 543 bilhões em 2016, a maior parte dos recursos não foi aplicada em investimentos com contrapartida em receita. Sem considerar a inflação, o custo de oportunidade na taxa real de juros ou as variações cambiais. De 2010 a 2016, R$ 159 bilhões foram desembolsados em subsídios de gasolina e diesel. R$ 78 bilhões foram desembolsados em custos extraordinários nos investimentos nas refinarias RNEST, Comperj e Premium Maranhão e Ceará. R$ 20 bilhões foram desembolsados em custos extraordinários nos investimentos em outros ativos de downstream. Além disso, a empresa contabilizou outros R$ 137 bilhões em variações cambiais da dívida sem hedge pela geração de caixa da empresa, já que apenas 18%-22% da receita é diretamente vinculada ao câmbio.
E qual é a solução? A solução passa por uma divisão entre todos os stakeholders das barbeiragens cometidas pelo governo do PT nestes 13 anos.
De imediato, duas medidas precisam ser implantadas. A primeira é o consumidor ficar ciente de que vai ter de pagar um prêmio no preço da gasolina e do diesel nos próximos 4 a 5 anos, para que a Petrobrás possa gerar caixa e enfrentar sua dívida. O correto é a gestão de preços, criando uma fórmula paramétrica que dê transparência aos preços de todos os derivados; e, ao mesmo tempo,a arbitragem de outros importadores poderia ser eliminada por meio de uma Cide de importação a ser revertida a favor da Petrobrás. Também é fundamental precificar a logística. O preço na porta da refinaria do Rio não pode ser o mesmo que em Brasília.
A outra medida de curto prazo seria promover uma capitalização da empresa entre R$ 100 bilhões e R$ 200 bilhões, devolvendo aos cofres o dinheiro retirado pela má gestão e pela corrupção. Existem várias formas para capitalizar a empresa, o correto é optar por aquela que promovesse os menores impactos na macroeconomia.
O Plano de Desinvestimentos tem de ser executado com mais cuidado e menos pressa. Primeiro, deveria ser elaborado um plano estratégico em que se defina a Petrobrás que desejamos ter nos próximos anos. Depois, é preciso promover um upside dos ativos de downstream. Sem regulamentações definidas em margem de refino, transporte de gás, infraestrutura de transporte, governança, etc., é difícil de acreditar nos valores anunciados de US$ 52 bilhões com a venda de ativos. Assim, o governo e a ANP devem rever a atual legislação e a regulação para verificar se precisam ocorrer alterações diante do cenário de venda de ativos, já que alguns são monopólios.
São negociáveis imediatamente ativos como fertilizantes, geração de energia, petroquímica, etanol, biodiesel, ativos internacionais como a Petrobrás Energia na Argentina e o lease back de plataformas. Vamos aproveitar a venda de ativos para a construção de uma nova Petrobrás, eficiente e lucrativa, e de um marco regulatório que promova a concorrência e atraia investidores de qualidade.

Fonte: O Estado de S.Paulo, 09/04/2016