A
Petrobrás vive a pior situação de sua história. Fosse uma empresa privada,
estaria em recuperação judicial. Mas ela não é uma empresa qualquer. A
Petrobrás está no risco soberano do Brasil e a solução da crise econômica passa
necessariamente pela refundação da empresa. Não podemos nos iludir, sua
recuperação será longa e bastante penosa. Os estragos foram muitos e profundos.
A Petrobrás
tem R$ 543 bilhões de dívida, com R$ 300 bilhões a R$ 350 bilhões vencendo de
2016 a 2020. Para manter a produção atual no patamar de 2,1 milhões de
barris/dia, a Petrobrás precisa investir outros R$ 400 bilhões no período
2016/2020.A geração de caixa esperada para este período é de R$ 200 bilhões,
assumindo que a empresa manterá o atual preço implícito de venda no mercado
doméstico de US$ 60-62/barril. A empresa tem outros R$ 100 bilhões em caixa.
São R$ 700-750 bilhões de necessidade de caixa mais rolagem para R$ 300 bilhões
de geração de caixa. A conta não está apertada, ela simplesmente não fecha por
uma larga diferença.
Embora
o endividamento da empresa tenha crescido de R$100 bilhões em 2009 para R$ 543
bilhões em 2016, a maior parte dos recursos não foi aplicada em investimentos
com contrapartida em receita. Sem considerar a inflação, o custo de
oportunidade na taxa real de juros ou as variações cambiais. De 2010 a 2016, R$
159 bilhões foram desembolsados em subsídios de gasolina e diesel. R$ 78
bilhões foram desembolsados em custos extraordinários nos investimentos nas
refinarias RNEST, Comperj e Premium Maranhão e Ceará. R$ 20 bilhões foram
desembolsados em custos extraordinários nos investimentos em outros ativos de
downstream. Além disso, a empresa contabilizou outros R$ 137 bilhões em
variações cambiais da dívida sem hedge pela geração de caixa da empresa, já que
apenas 18%-22% da receita é diretamente vinculada ao câmbio.
E qual
é a solução? A solução passa por uma divisão entre todos os stakeholders das
barbeiragens cometidas pelo governo do PT nestes 13 anos.
De
imediato, duas medidas precisam ser implantadas. A primeira é o consumidor
ficar ciente de que vai ter de pagar um prêmio no preço da gasolina e do diesel
nos próximos 4 a 5 anos, para que a Petrobrás possa gerar caixa e enfrentar sua
dívida. O correto é a gestão de preços, criando uma fórmula paramétrica que dê
transparência aos preços de todos os derivados; e, ao mesmo tempo,a arbitragem
de outros importadores poderia ser eliminada por meio de uma Cide de importação
a ser revertida a favor da Petrobrás. Também é fundamental precificar a
logística. O preço na porta da refinaria do Rio não pode ser o mesmo que em
Brasília.
A outra
medida de curto prazo seria promover uma capitalização da empresa entre R$ 100
bilhões e R$ 200 bilhões, devolvendo aos cofres o dinheiro retirado pela má
gestão e pela corrupção. Existem várias formas para capitalizar a empresa, o
correto é optar por aquela que promovesse os menores impactos na macroeconomia.
O Plano
de Desinvestimentos tem de ser executado com mais cuidado e menos pressa.
Primeiro, deveria ser elaborado um plano estratégico em que se defina a
Petrobrás que desejamos ter nos próximos anos. Depois, é preciso promover um
upside dos ativos de downstream. Sem regulamentações definidas em margem de
refino, transporte de gás, infraestrutura de transporte, governança, etc., é
difícil de acreditar nos valores anunciados de US$ 52 bilhões com a venda de
ativos. Assim, o governo e a ANP devem rever a atual legislação e a regulação
para verificar se precisam ocorrer alterações diante do cenário de venda de
ativos, já que alguns são monopólios.
São
negociáveis imediatamente ativos como fertilizantes, geração de energia,
petroquímica, etanol, biodiesel, ativos internacionais como a Petrobrás Energia
na Argentina e o lease back de plataformas. Vamos aproveitar a venda de ativos
para a construção de uma nova Petrobrás, eficiente e lucrativa, e de um marco
regulatório que promova a concorrência e atraia investidores de qualidade.
Fonte:
O Estado de S.Paulo, 09/04/2016
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