Sem jogar, é difícil conseguir patrocinadores
Gonçalo Junior
27 Fevereiro 2016 | 17h 00
As dificuldades que os jogadores de futebol encontram em São
Paulo, no maior torneio do País, agravam-se nos estados menores. A falta de um
calendário anual de competições dificulta o planejamento e a atrapalha a luta
pela obtenção de patrocínios.
Na segunda divisão do futebol paranaense, o Cianorte joga todas
suas fichas no acesso à elite. Com isso, os jogadores esperam reconhecimento do
mercado e a chance de renovação de contrato. A maioria dos atletas se enquadra
na pesquisa da CBF que mostra que 96% ganham até R$ 5 mil.
Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim em Cotia
“A gente se entrega para conseguir o acesso. Caso contrário,
corremos o risco de desemprego no segundo semestre”, diz o zagueiro Diego, de
31 anos. “Nossa realidade é apertada financeiramente. O salário nunca atrasou,
mas vivemos como a maioria da população brasileira”, conta.
O Juazeirense, conhecido com o “Cancão de Fogo”, está em
terceiro lugar em seu grupo no Campeonato Baiano. Na Copa do Nordeste, está na
mesma posição, e vai disputar a Copa do Brasil. Com uma folha salarial de R$
100 mil – os grandes do Nordeste gastam em média R$ 10 milhões – , o time
pretende ficar entre os quatro melhores do torneio local para voltar aos
torneios regionais na próxima temporada.
Nesse contexto, os atletas lutam por uma chance em um grande
time. O zagueiro Lucas se sente incomodado por não poder ajudar a família como
gostaria. O salário mínimo dá apenas para seus gastos pessoais, como
transporte, roupas, chuteira e suplementos alimentares. Filho único de um
vigilante e de uma dona de casa, o defensor pensa lá na frente.
“A gente tem de abdicar de algumas coisas agora, como viagens e
passeios. Hoje, não posso ajudar muito, mas vou conseguir garantir o conforto
de todos no futuro”, diz o jovem de 19
anos.
MESMO GANHANDO MIL REAIS, ATLETAS MANTÊM SONHO NO
FUTEBOL
Essa é a média de rendimentos da maioria dos atletas, diz a CBF
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anos.
MESMO GANHANDO MIL REAIS, ATLETAS MANTÊM SONHO NO
FUTEBOL
Essa é a média de rendimentos da maioria dos atletas, diz a CBF
Gonçalo Junior
27 Fevereiro 2016 | 17h 00
Com salário de R$ 880, o meia Renan Assumpção pega metrô, trem e
carona para sair de sua casa alugada na Vila Guilherme, zona norte de São
Paulo, e chegar até Cotia, onde treina seu time, o Grêmio Barueri. Já tentou ir
com seu Kadett azul, ano 1990, mas pesaram no bolso os R$ 30 diários de combustível.
Nos últimos meses, diminuiu os passeios com a família. Ele aumenta a renda
mensal com bicos em torneios amadores. São R$ 200 por jogo. Também revende
materiais esportivos que adquire no Brás. Não pensa em desistir do futebol, mas
confessa que a aprovação da mulher, Nayane, em um concurso público traz mais
segurança. E passar em um concurso é uma alternativa para ele.
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O jogador Renan Assumpção, do Grêmio Barueri, vai para o treino
de metrô, trem e carona para economizar
A trajetória de Renan não é uma exceção. Muito pelo contrário.
Estudo divulgado pela CBF nesta semana aponta a desigualdade salarial entre os
atletas do País. De acordo com a Diretoria de Registro e Transferência da
entidade, 82,40% dos jogadores ganham até R$ 1 mil por mês. Isso significa um
total de 23.238 atletas. Outros 3.859 atletas (13,68%) ganham entre R$ 1 mil e
R$ 5 mil mensais e 381 jogadores ficam na faixa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil a
cada trinta dias (1,35%).
Ainda segundo os dados, apenas 226 jogadores (0,8% do total)
formam a elite, com salários que vão de R$ 50.000 até mais de R$ 500.000.
Desses atletas, apenas um teve salário superior a 500 mil no ano passado: o
corintiano Alexandre Pato, emprestado ao Chelsea. O sistema considera apenas os
salários registrados, sem contar os contratos de direitos de imagem.
O Estado acompanhou o jogador em seu trajeto de casa até o
treino na última sexta-feira. Os vizinhos se tornaram fãs e torcem por ele. O
percurso demorou uma hora e meia. Acostumado aos desafios do transporte
público, Renan zanzava facilmente pelos vagões lotados das linhas norte-sul
(azul) do metrô e leste-oeste (vermelha) da CPTM até o Osasco. A bolsa de
material esportivo incomodou muita gente.
Renan teve boa passagem pelo Bragantino em 2011
“No futebol, tudo pode acontecer. Se assinar um grande contrato,
muda tudo”, diz o meia que teve como grande momento de sua carreira uma
passagem pelo Bragantino, em 2011.
O momento do Barueri não ajuda muito. Na lanterna da Série A3 do
Campeonato Paulista sem somar nenhum ponto, o time corre o risco de ser
eliminado. Os jogadores do clube ameaçam não entrar em campo hoje, em jogo
contra o Catanduvense, por causa de atraso nos salários. Seria o segundo W.O.,
o que significa eliminação. Na primeira rodada, a equipe não tinha o número
mínimo de jogadores registrados.
Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim
em Cotia
O sonho é da maioria é mesmo a Europa ou a China. “O Ricardo
Oliveira ganharia R$ 1 milhão por mês. Eu jogaria o resto da vida por isso”,
brinca.
Renan tem dois filhos, João Pedro e Bernardo. Hoje, o jogador do
Barueri luta pelo sustento deles, mas diz “sim” quando perguntado se
incentivaria que eles também fossem jogadores de futebol.
O zagueiro Rodrigo Sousa esteve na Europa em 2013. Ao longo de
nove meses, defendeu o Portimorense, de Portugal. Ganhava 2 mil euros (cerca de
R$ 8 mil) mais premiações por metas de R$ 10 mil. Aqui, seu salário no Nacional
gira em torno de R$ 3 mil na A-3. Ele comemora que o jogo contra o Primavera
foi transmitido ontem pela Rede Vida. Dá “visibilidade”, diz.
O defensor de 22 anos está construindo uma casa no terreno dos
pais. Depois que a filha Luiza ficar maior, a sua mulher vai voltar a
trabalhar. “Espero voltar para a Europa no ano que vem”, planeja.
O Barueri luta para se manter na Série A-3 do Campeonato
Paulista
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