domingo, 17 de abril de 2016

FORA DE SÃO PAULO, CLUBES SOFREM COM FALTA DE JOGOS, OESP

Zagueiro Lucas ganha um salário mínimo para ajudar a famíliaSem jogar, é difícil conseguir patrocinadores

Gonçalo Junior
27 Fevereiro 2016 | 17h 00
As dificuldades que os jogadores de futebol encontram em São Paulo, no maior torneio do País, agravam-se nos estados menores. A falta de um calendário anual de competições dificulta o planejamento e a atrapalha a luta pela obtenção de patrocínios.
Na segunda divisão do futebol paranaense, o Cianorte joga todas suas fichas no acesso à elite. Com isso, os jogadores esperam reconhecimento do mercado e a chance de renovação de contrato. A maioria dos atletas se enquadra na pesquisa da CBF que mostra que 96% ganham até R$ 5 mil.


Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim em Cotia

“A gente se entrega para conseguir o acesso. Caso contrário, corremos o risco de desemprego no segundo semestre”, diz o zagueiro Diego, de 31 anos. “Nossa realidade é apertada financeiramente. O salário nunca atrasou, mas vivemos como a maioria da população brasileira”, conta.
O Juazeirense, conhecido com o “Cancão de Fogo”, está em terceiro lugar em seu grupo no Campeonato Baiano. Na Copa do Nordeste, está na mesma posição, e vai disputar a Copa do Brasil. Com uma folha salarial de R$ 100 mil – os grandes do Nordeste gastam em média R$ 10 milhões – , o time pretende ficar entre os quatro melhores do torneio local para voltar aos torneios regionais na próxima temporada.

Nesse contexto, os atletas lutam por uma chance em um grande time. O zagueiro Lucas se sente incomodado por não poder ajudar a família como gostaria. O salário mínimo dá apenas para seus gastos pessoais, como transporte, roupas, chuteira e suplementos alimentares. Filho único de um vigilante e de uma dona de casa, o defensor pensa lá na frente.

“A gente tem de abdicar de algumas coisas agora, como viagens e passeios. Hoje, não posso ajudar muito, mas vou conseguir garantir o conforto de todos no futuro”, diz o jovem de 19 
anos.

MESMO GANHANDO MIL REAIS, ATLETAS MANTÊM SONHO NO FUTEBOL

Essa é a média de rendimentos da maioria dos atletas, diz a CBF

Gonçalo Junior
27 Fevereiro 2016 | 17h 00
Com salário de R$ 880, o meia Renan Assumpção pega metrô, trem e carona para sair de sua casa alugada na Vila Guilherme, zona norte de São Paulo, e chegar até Cotia, onde treina seu time, o Grêmio Barueri. Já tentou ir com seu Kadett azul, ano 1990, mas pesaram no bolso os R$ 30 diários de combustível. Nos últimos meses, diminuiu os passeios com a família. Ele aumenta a renda mensal com bicos em torneios amadores. São R$ 200 por jogo. Também revende materiais esportivos que adquire no Brás. Não pensa em desistir do futebol, mas confessa que a aprovação da mulher, Nayane, em um concurso público traz mais segurança. E passar em um concurso é uma alternativa para ele.
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O jogador Renan Assumpção, do Grêmio Barueri, vai para o treino de metrô, trem e carona para economizar

A trajetória de Renan não é uma exceção. Muito pelo contrário. Estudo divulgado pela CBF nesta semana aponta a desigualdade salarial entre os atletas do País. De acordo com a Diretoria de Registro e Transferência da entidade, 82,40% dos jogadores ganham até R$ 1 mil por mês. Isso significa um total de 23.238 atletas. Outros 3.859 atletas (13,68%) ganham entre R$ 1 mil e R$ 5 mil mensais e 381 jogadores ficam na faixa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil a cada trinta dias (1,35%).
Ainda segundo os dados, apenas 226 jogadores (0,8% do total) formam a elite, com salários que vão de R$ 50.000 até mais de R$ 500.000. Desses atletas, apenas um teve salário superior a 500 mil no ano passado: o corintiano Alexandre Pato, emprestado ao Chelsea. O sistema considera apenas os salários registrados, sem contar os contratos de direitos de imagem.
O Estado acompanhou o jogador em seu trajeto de casa até o treino na última sexta-feira. Os vizinhos se tornaram fãs e torcem por ele. O percurso demorou uma hora e meia. Acostumado aos desafios do transporte público, Renan zanzava facilmente pelos vagões lotados das linhas norte-sul (azul) do metrô e leste-oeste (vermelha) da CPTM até o Osasco. A bolsa de material esportivo incomodou muita gente.
Renan teve boa passagem pelo Bragantino em 2011

“No futebol, tudo pode acontecer. Se assinar um grande contrato, muda tudo”, diz o meia que teve como grande momento de sua carreira uma passagem pelo Bragantino, em 2011.
O momento do Barueri não ajuda muito. Na lanterna da Série A3 do Campeonato Paulista sem somar nenhum ponto, o time corre o risco de ser eliminado. Os jogadores do clube ameaçam não entrar em campo hoje, em jogo contra o Catanduvense, por causa de atraso nos salários. Seria o segundo W.O., o que significa eliminação. Na primeira rodada, a equipe não tinha o número mínimo de jogadores registrados.
Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim em Cotia
Por causa das chuvas, Grêmio Barueri treina em um gramado ruim em Cotia

O sonho é da maioria é mesmo a Europa ou a China. “O Ricardo Oliveira ganharia R$ 1 milhão por mês. Eu jogaria o resto da vida por isso”, brinca.
Renan tem dois filhos, João Pedro e Bernardo. Hoje, o jogador do Barueri luta pelo sustento deles, mas diz “sim” quando perguntado se incentivaria que eles também fossem jogadores de futebol.
O zagueiro Rodrigo Sousa esteve na Europa em 2013. Ao longo de nove meses, defendeu o Portimorense, de Portugal. Ganhava 2 mil euros (cerca de R$ 8 mil) mais premiações por metas de R$ 10 mil. Aqui, seu salário no Nacional gira em torno de R$ 3 mil na A-3. Ele comemora que o jogo contra o Primavera foi transmitido ontem pela Rede Vida. Dá “visibilidade”, diz.
O defensor de 22 anos está construindo uma casa no terreno dos pais. Depois que a filha Luiza ficar maior, a sua mulher vai voltar a trabalhar. “Espero voltar para a Europa no ano que vem”, planeja.
O Barueri luta para se manter na Série A-3 do Campeonato Paulista






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