segunda-feira, 19 de maio de 2014

Pelos trilhos da dor


Oficial britânico busca seu torturador japonês a fim de recobrar a própria humanidade

17 de maio de 2014 | 16h 00

Ariel Dorfman
Eu me pergunto se os milhões de britânicos que acreditam que a tortura é "às vezes necessária e aceitável" - estarrecedores 36%, segundo um relatório publicado recentemente pela Anistia Internacional - cruzaram alguma vez com alguém que sofreu tal suplício.
 - ACESHOWBIZ.COM
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Talvez pensem que esse tipo de vexame não lhes concerne, tocando unicamente vidas longínquas afligidas por guerras e conflitos incompreensíveis. Estão redondamente enganados.
Quando leio uma estatística como essa - outra ainda mais desconcertante indica que 44% dos cidadãos da Grã-Bretanha rechaçam a ideia de proibir a tortura em nível global - volta-me à memória um homem que conheci há 20 anos, não em minha América Latina natal, nem nas terras remotas onde a tortura é endêmica, mas numa casa na extremamente inglesa e gentil cidade de Berwick-upon-Tweed.
Naquela ocasião, todos os presentes terminamos em prantos - todos, exceto o homem que nos havia causado aquelas lágrimas, um ex-prisioneiro de guerra que meu filho Rodrigo e eu havíamos viajado milhares de quilômetros para entrevistar. Nós o fazíamos com a esperança de poder fazer justiça à sua história pessoal num drama para a BBC, Prisoners in Time (Prisioneiros no Tempo), que se baseava no mesmo material autobiográfico usado em Uma Longa Viagem (The Railway Man, do diretor Jonathan Teplitzky), filme lançado recentemente na Europa com Colin Firth e Nicole Kidman. E era de fato uma história extraordinária!
Eric Lomax, um oficial britânico durante a 2ª Guerra Mundial, havia sido torturado pelos japoneses na Tailândia, enquanto se construía, com trabalho forçado, a ignominiosa ferrovia entre Bangcoc e a Birmânia (atual Mianmar), que se tornou notória por causa de outro filme, A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the River Kwai, dirigido por David Lean em 1957).
A Eric, como as tantas vítimas do trauma da tortura, a experiência continuou rondando cada noite e cada dia de uma vida dominada pela recordação de sua agonia e pela urgência insaciável de se vingar. O que distinguiu Lomax da maioria dos que sofreram, em todo o mundo, atos de crueldade semelhantes foi que ele conseguiu, 40 anos depois de seu martírio, localizar o intérprete anônimo a quem responsabilizava por seu sofrimento. O verdadeiramente incrível, no entanto, é que Takashi Nagase, identificado como o homem que presenciou seus brutais interrogatórios, havia se tornado um monge budista. Nagase passou décadas depois do conflito denunciando seus compatriotas por seus crimes e fazendo penitência pelo papel que assumiu na guerra, cuidando de milhares de órfãos dos asiáticos que mortos trabalhando na ferrovia.
A imagem da guerra que mais o atormentava era, justamente, a de um valoroso tenente inglês cuja tortura ele havia facilitado e a quem acreditava morto. Entretanto, quando Eric Lomax ressurgiu em sua vida, numa época em que os antigos inimigos, já anciãos, acompanhados agora por suas respectivas segundas esposas, encontraram-se em Kanchanaburi, junto ao mesmo Rio Kwai onde haviam se enfrentado em circunstâncias bem diferentes, os dois se olharam de frente, cara a cara, e Nagase pediu perdão pela dor causada.
Tal ato de magnanimidade não foi fácil nem imediato para Eric Lomax. Algumas semanas mais tarde, porém, em Hiroshima - de todos os lugares, o mais improvável -, Lomax enfim ofereceu a Nagase a absolvição de que este necessitava para viver e morrer em paz.
A BBC havia me escolhido (junto com Rodrigo, meu corroteirista habitual) para roteirizar esse relato porque minha obra A Morte e a Donzela (peça de teatro adaptada por Roman Polanski para o cinema em 1994) já havia sondado os temas da tortura, da memória, da compaixão e da vingança da perspectiva de um Chile pós-ditatorial. No entanto, em minha obra o perdão não era central para a trama: nem o verdugo o pedia, nem a vítima estava disposta a concedê-lo. Assim, o dilema de Lomax me pareceu uma maneira de aprofundar minha exploração original com uma série de novas interrogações. Será que a reconciliação é realmente possível quando as feridas são tão vorazes e permanentes? Muda alguma coisa se o culpado se declara arrependido? Como podemos saber se essas declarações são legítimas, se o remorso não passa de um subterfúgio do ego, uma acomodação para ficar bem perante a opinião pública?
Também tivemos que nos fazer um desafio estético: dada a extrema reserva dos dois antagonistas, sua incapacidade de articular para si mesmos ou para os demais o que haviam sentido ao longo de tantos anos, como imaginar para a tela um diálogo que não traísse a solitária angústia de seres humanos de carne e osso que terão de contemplar sua existência exposta ao juízo e o olhar de milhões de espectadores? Como transmitir aquela história de um silêncio inquebrantável a espectadores longínquos, incapazes de imaginar o que a tortura deixa como herança perversa?
Nossa visita a Eric e sua mulher, Patti, em seu lar, no norte da Inglaterra, tinha como propósito tratar de extrair desse homem emocionalmente reprimido e até se diria mutilado alguma informação mínima - inteiramente ausente da autobiografia que ele já havia escrito - sobre como ele havia superado o deserto de sua tristeza, o que significava ter subsistido tanto tempo mais morto que vivo. Acompanhavam-nos o diretor do filme, Stephen Walker, e a célebre psiquiatra Helen Bamberg, que havia ajudado Eric a dar nome a seus demônios, salvando-o do suicídio e, de passagem, salvando seu casamento.
Nesse dia em Berwick-upon-Tweed, Eric, ao final de uma prolongada e árdua sessão repleta de monossílabos, nos confiou uma história dilacerante e inverossímil. Quando voltou à Inglaterra, em 1945, disse, depois de três anos aterradores como prisioneiro de guerra, ele havia descoberto, justo antes de sair do navio, que o Exército britânico havia subtraído de seu soldo atrasado o custo de umas botas que ele havia perdido durante seu cativeiro. Como se a culpa fosse sua!
Helen Bamberg, que havia conseguido que Eric fosse se expressando lentamente ao longo de muitas conversas, perguntou-lhe se ele havia mencionado o ultraje das botas a alguém quando desembarcou.
"A ninguém", disse Eric. E, em seguida, depois de uma pausa que pareceu infinita: "Não havia ninguém me esperando no cais". Ele se deteve e novamente transcorreram longos minutos de silêncio, até que, por fim: "Somente uma carta de meu pai. Informando-me que ele havia tornado a se casar, pois minha mamãe havia morrido três anos antes". Outra pausa interminável e completou: "Ela morreu pensando que eu estava morto. Todo esse tempo estive lhe escrevendo cartas e ela estava morta".
Foi aí que todos começamos a chorar.
Não tanto porque nos doía sua tragédia. Também porque Eric havia relatado a história de sua perda com uma voz monótona, sem sentimento aparente, como se todo o desespero pertencesse a outra pessoa, alguém totalmente alheio. É uma dissociação típica de vítimas de tortura. Sua sobrevivência mental durante o castigo e os intermináveis anos vindouros depende da capacidade de se distanciar o corpo e seu destino. E é nessa distância que hão de residir para sempre.
Nós chorávamos, acredito, pela humanidade. Chorávamos na sala de visita dos Lomax porque ele nos golpeou a realidade e a percepção de uma verdade que muitos preferem evitar: há danos infligidos a outros seres humanos que resultam irreparáveis. Eric Lomax havia vencido a raiva que o devorava e, comunicando-se com uma profunda fonte de piedade, havia chegado a se compadecer do homem que o havia destruído. E apesar dessa viagem de superação ética, restou algo nele que não se podia consertar.
O filme que escrevemos com Rodolfo tinha de ser fiel à desolação do irreparável e, ao mesmo tempo, não trair essa paz interior que Eric havia alcançado, o fato de que ele já não ouvia a voz de Nagase em sua cabeça e em seus pesadelos, sussurrando-lhe: "Confessa, Lomax, confessa e não há mais dor". Esta vitória espiritual de Eric sobre o medo e a fúria não havia sido obtida de forma isolada nem solitária. Cooperaram nessa tarefa sua mulher, Patti, e Helen Bamberg com seu persistente processo terapêutico. Aliás, o rastrear de seu inimigo não conseguiu ter sucesso até Eric conseguir compreender plenamente o dano sofrido. Ele teve de enfrentar o horror indizível de seu trauma para poder encontrar quase magicamente Nagase, cuja identidade real estava a plena vista havia décadas.
Para nós, a desventura de Eric e sua intenção de fazer a reconciliação adquiriu sentido especial ligando sua existência à de tantos amigos, no Chile, no Brasil e em outros países, que haviam sido submetidos a interrogatórios igualmente bárbaros, entendendo que todos os torturados do mundo compartilham os mesmos problemas e dores. Justamente, o método que Helen Bamberg empregou para ressuscitar a memória de Eric e restaurar sua saúde mental, havia sido desenvolvido por ela como resposta terapêutica ao dilúvio de torturados latino-americanos que se exilaram na Inglaterra durante nossas ditaduras dos anos 70 e 80. Eric Lomax, afirmava Helen, teve o triste privilégio de se converter no primeiro veterano da 2ª Guerra com síndrome pós-traumática que pôde se beneficiar desse novo tratamento psicológico.
Àquela altura nós não podíamos saber, é claro, que o 11 de setembro de 2001 nos aguardava no futuro, que o suplício da simulação de afogamento com que os japoneses castigaram Eric em 1944 e que os militares latino-americanos empregaram contra seus próprios compatriotas décadas mais tarde, se tornaria comum quando os Estados Unidos e seus aliados o utilizaram no combate ao terrorismo. E tampouco podíamos adivinhar que tantos milhões manifestariam hoje sua indiferença ante um tipo de violência que foi classificada de crime contra a humanidade, condenado em todos os tratados e leis firmados pela imensa majoria das nações do mundo.
Tudo indica, pois, que a história de Eric Lomax é mais relevante do que nunca no mundo contemporâneo. Meu filho e eu tivemos a sorte de contar em nosso filme com um ator como John Hurt para interpretar a odisseia de Eric até sua libertação. E agora, 20 anos depois, o público tem a oportunidade de reconhecer, por meio da representação emotiva de Colin Firth, essa dor insondável. Ou podemos aceitar que as perguntas que Eric Lomax se fez sobre o perdão e a vingança, sobre a redenção e a memória, já não perturbam nossa humanidade?
Eu gostaria de saber como nosso amigo Eric, que morreu em 2012, reagiria à notícia de que tantos compatriotas seus proclamam hoje considerar a tortura perfeitamente tolerável. Ele certamente lhes sussurraria as mesmas palavras que escreveu a Nagase quando o perdoou: "Algum dia o ódio tem de acabar". / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Ariel Dorfman, escritor chileno. É autor, entre outros livros, de Uma vida em trânsito (Objetiva). Foi coautor, com seu filho Rodrigo, do texto de Prisioners in time, vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro da Televisão Britânica em 1995.

Um gol que vale por 1.000


As redes do Itaquerão balançaram para a história 33 dias antes da abertura da Copa do Mundo

17 de maio de 2014 | 16h 00

Washington Olivetto - Publicitário e autor, com Nirlando Beirão, de 'Corinthians - é preto no branco'
O gol mais importante e mais bonito do ano da Copa do Mundo no Brasil aconteceu 33 dias antes do jogo de abertura da Copa e não tem a mínima chance de ser superado por nenhum outro.
 - WILLIAM VOLCOV
WILLIAM VOLCOV
Foi feito por Roberto Rivellino, no sábado, 10 de maio de 2014, num dos jogos de inauguração do novo estádio do Corinthians, em Itaquera.
Esse gol histórico tem mais méritos do que todos os outros gols históricos já imortalizados pela memória do futebol por diversos motivos.
O primeiro deles é o fato de que foi feito numa partida disputada só por vencedores: um jogo Corinthians contra Corinthians.
O segundo é o fato de ter sido o primeiro gol do estádio mais moderno, bem construído, bonito e elegante do Brasil e do mundo.
E o terceiro é o fato inusitado de ele ter sido de pênalti.
Pouca gente sabe, mas Roberto Rivellino, durante sua carreira profissional, sempre se recusou a bater pênaltis devido à sua boa índole e caráter.
Bom amigo que sempre foi, ele, que ganhou ainda muito jovem o carinhoso apelido de Reizinho do Parque, não queria ultrapassar o número de gols feitos por um outro jogador de uma pequena equipe de um balneário próximo da capital, representante de uma geração de jogadores mais velhos que carregava, reconheçamos, não por responsabilidade própria, o prepotente apelido de Rei.
Rivellino sabia que, se batesse todos os inúmeros pênaltis que ele próprio sofria durante as partidas, irremediavelmente ultrapassaria a marca do velho amigo, que contava com esse dado de número de gols como seu único fator de prestígio e até mesmo de sobrevivência.
Rivellino, com seu vasto repertório de jogadas em todos os cantos do campo, sua habilidade para executar lançamentos perfeitos, dando gols praticamente feitos para seus companheiros, e seu talento incomum para bater faltas, o que é infinitamente mais difícil que bater um simples pênalti, já possuía seu ego plenamente massageado, já recebia todos os reconhecimentos possíveis e podia, assim, se dar ao luxo de ser generoso como sempre foi com seus companheiros menos talentosos e afortunados.
Detalhe: ainda no capítulo generosidade, uma coisa que poucos sabem, até porque Rivellino nunca fez questão de alardear esse fato, é que ele também se recusava a fazer gols de cabeça e com a perna direita, evitando assim essas outras possibilidades de ultrapassar até com relativa facilidade o companheiro que vivia única e exclusivamente do fato de fazer gols, como se isso fosse a única coisa importante do futebol.
A verdade é que Rivellino sempre foi superior a tudo e a todos, e até mesmo quanto aos apelidos sempre foi mais afortunado.
Enquanto o outro jogador tinha que se contentar única e exclusivamente com o codinome Rei, o que, convenhamos, além de uma certa prepotência, carregava uma conotação um pouco antiga, desfavorável para um verdadeiro esportista, Rivellino ostentava os apelidos de Reizinho do Parque, o que pressupõe alegria e juventude, e de A Patada Atômica, apelido inspirado na violência do seu chute, sintetizando em três palavras o instinto animal, fundamental num grande competidor, e a tecnologia de ponta, característica dos atletas de alta performance.
Por falar em alta performance, lembro o único jogador de futebol do mundo que se aproximou de Rivellino, tanto na performance física quanto no talento e até mesmo na grandiosidade dos seus apelidos: Sócrates, também conhecido como Doutor e Magrão.
Mas, voltando aos gols de pênalti, curiosamente, muitos anos antes desse antológico gol de pênalti feito por Roberto Rivellino no fim de semana passado, tivemos no Brasil um outro gol de pênalti que ficou relativamente conhecido.
Foi feito no fim dos anos 60 do século passado, num estádio que nem se compara em termos de grandiosidade, conforto, elegância e carisma com o estádio do Corinthians, em Itaquera: o Maracanã.
O pênalti foi meio mal batido, e o goleiro, um argentino, quase pegou.
Existe um texto do Armando Nogueira, no livro Bola na Rede, que descreve esse pênalti.
Recomendo a leitura.
Não pelo gol, que, se comparado a esse do Riva, foi mixo, mas pelo texto do Armando, que é bem melhor do que o meu.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Governo coloca cartas na mesa para destravar plano da ALL


15/05/2014 - Valor Econômico
O desfecho positivo das negociações para a incorporação da América Latina Logística (ALL) pela Rumo, do grupo Cosan, faz o governo voltar-se agora para a discussão de um plano bilionário de investimentos que possa resolver definitivamente os gargalos da malha ferroviária concedida à empresa. Do lado governamental, todas as cartas estão na mesa para viabilizar os investimentos.
A extensão dos contratos de concessão da ALL é uma das alternativas, embora não a de preferência, em estudo pelo Palácio do Planalto para destravar esse plano. Outra hipótese é permitir um aumento do teto tarifário cobrado pela empresa, mas isso tem a desvantagem de elevar o preço do frete aos usuários das ferrovias. Uma terceira opção é abrir mão das receitas obtidas anualmente, pela União, a título de arrendamento da malha existente. Em 2013, as concessionárias como um todo pagaram R$ 453 milhões, dos quais a ALL representa cerca de metade disso.
As autoridades do setor estão passando um pente-fino nas obrigações contratuais da empresa para definir exatamente, com sua nova controladora, quais obras já fazem parte da lista de exigências e quais podem requerer o reequilíbrio econômico-financeiro da concessão.
Uma leitura preliminar do governo indica, por exemplo, que a ALL não deverá receber nenhum centavo a mais pela duplicação do trecho Campinas-Santos. As negociações provavelmente vão se concentrar nos investimentos em outros trechos, também na malha paulista, que é considerada pelo Planalto como o maior gargalo à entrada em operação de mais ferrovias nos próximos anos - as novas linhas para escoar a produção agrícola do Centro-Oeste precisam chegar ao Porto de Santos e esbarram no esgotamento da capacidade de vias férreas no interior de São Paulo.
A ALL, conforme informou o Valor na semana passada, tem um plano de investir pelo menos R$ 5 bilhões, nos próximos cinco a oito anos, em ampliação da capacidade de transporte. Esse desembolso, dependendo das negociações com o governo, pode aumentar para até R$ 8 bilhões.
O valor final depende de fatores como a dimensão exata das obras e o volume projetado de cargas da Ferrovia Norte-Sul, que chegará ao município de Estrela D'Oeste (SP) em 2015, conectando-se com a malha da ALL. As intervenções podem englobar novos pátios, contornos ferroviários para vencer passagens de nível em áreas urbanas e até a duplicação de mais trechos. É o dimensionamento de tudo isso, durante as conversas, que poderá resultar no reequilíbrio econômico do contrato e de medidas para ajustá-lo.
Em tese, o próprio governo pode assumir a responsabilidade por intervenções adicionais que se fizerem necessárias, como obra pública. Avalia-se internamente, no entanto, que esse é o pior caminho - devido à morosidade na contratação e execução dos trabalhos.
A ALL tem interesse em conseguir estender seus contratos de concessão, que expiram entre 2025 e 2028, embora haja possibilidade de renovação. O Planalto, embora prefira explorar outras alternativas, já foi mais resistente a aceitar uma prorrogação e agora está disposto a discutir esse ponto específico. "O importante é que o investimento venha. Se vier, teremos a flexibilidade necessária para analisar todas as propostas", afirma um graduado assessor presidencial.
Nos bastidores, o governo demonstra satisfação com a incorporação da ALL pela Rumo e vê disposição do empresário Rubens Ometto, principal sócio da Cosan, em investir no setor. A relação com os antigos controladores estava desgastada. O Planalto se incomodava com o que era, na sua leitura, uma gestão "excessivamente" agressiva na busca por resultados financeiros e "baixo" empenho em fazer investimentos. Por isso, o governo logo deu sua "bênção" ao avanço de Ometto.
Além de desatar o nó para os investimentos na malha ferroviária, conforme explicou outra fonte que acompanha de perto o assunto, uma das preocupações do governo é evitar conflitos entre produtores de soja e de açúcar em torno do frete ferroviário.
Um importante estresse do governo com a ALL deve ser removido da mesa de negociações: a devolução de um trecho semiabandonado, com aproximadamente mil quilômetros, entre São Paulo e Rio Grande (RS). A ideia inicial do Planalto, quando lançou um programa de novas concessões de ferrovias em 2012, era revitalizar esse trecho. Para isso, precisava "retomar" os trilhos da ALL, mas as discussões nunca evoluíram e jamais houve entendimento quanto a valores de indenização.
O plano de concessões do governo atrasou. Além disso, no lugar da ferrovia São Paulo-Rio Grande, o governo mobilizou a estatal Valec para estudar uma extensão da Norte-Sul, a partir de Estrela D'Oeste, até o litoral gaúcho. Assim, o trecho originalmente pensado deve ficar na gaveta.