segunda-feira, 19 de maio de 2014

Um gol que vale por 1.000


As redes do Itaquerão balançaram para a história 33 dias antes da abertura da Copa do Mundo

17 de maio de 2014 | 16h 00

Washington Olivetto - Publicitário e autor, com Nirlando Beirão, de 'Corinthians - é preto no branco'
O gol mais importante e mais bonito do ano da Copa do Mundo no Brasil aconteceu 33 dias antes do jogo de abertura da Copa e não tem a mínima chance de ser superado por nenhum outro.
 - WILLIAM VOLCOV
WILLIAM VOLCOV
Foi feito por Roberto Rivellino, no sábado, 10 de maio de 2014, num dos jogos de inauguração do novo estádio do Corinthians, em Itaquera.
Esse gol histórico tem mais méritos do que todos os outros gols históricos já imortalizados pela memória do futebol por diversos motivos.
O primeiro deles é o fato de que foi feito numa partida disputada só por vencedores: um jogo Corinthians contra Corinthians.
O segundo é o fato de ter sido o primeiro gol do estádio mais moderno, bem construído, bonito e elegante do Brasil e do mundo.
E o terceiro é o fato inusitado de ele ter sido de pênalti.
Pouca gente sabe, mas Roberto Rivellino, durante sua carreira profissional, sempre se recusou a bater pênaltis devido à sua boa índole e caráter.
Bom amigo que sempre foi, ele, que ganhou ainda muito jovem o carinhoso apelido de Reizinho do Parque, não queria ultrapassar o número de gols feitos por um outro jogador de uma pequena equipe de um balneário próximo da capital, representante de uma geração de jogadores mais velhos que carregava, reconheçamos, não por responsabilidade própria, o prepotente apelido de Rei.
Rivellino sabia que, se batesse todos os inúmeros pênaltis que ele próprio sofria durante as partidas, irremediavelmente ultrapassaria a marca do velho amigo, que contava com esse dado de número de gols como seu único fator de prestígio e até mesmo de sobrevivência.
Rivellino, com seu vasto repertório de jogadas em todos os cantos do campo, sua habilidade para executar lançamentos perfeitos, dando gols praticamente feitos para seus companheiros, e seu talento incomum para bater faltas, o que é infinitamente mais difícil que bater um simples pênalti, já possuía seu ego plenamente massageado, já recebia todos os reconhecimentos possíveis e podia, assim, se dar ao luxo de ser generoso como sempre foi com seus companheiros menos talentosos e afortunados.
Detalhe: ainda no capítulo generosidade, uma coisa que poucos sabem, até porque Rivellino nunca fez questão de alardear esse fato, é que ele também se recusava a fazer gols de cabeça e com a perna direita, evitando assim essas outras possibilidades de ultrapassar até com relativa facilidade o companheiro que vivia única e exclusivamente do fato de fazer gols, como se isso fosse a única coisa importante do futebol.
A verdade é que Rivellino sempre foi superior a tudo e a todos, e até mesmo quanto aos apelidos sempre foi mais afortunado.
Enquanto o outro jogador tinha que se contentar única e exclusivamente com o codinome Rei, o que, convenhamos, além de uma certa prepotência, carregava uma conotação um pouco antiga, desfavorável para um verdadeiro esportista, Rivellino ostentava os apelidos de Reizinho do Parque, o que pressupõe alegria e juventude, e de A Patada Atômica, apelido inspirado na violência do seu chute, sintetizando em três palavras o instinto animal, fundamental num grande competidor, e a tecnologia de ponta, característica dos atletas de alta performance.
Por falar em alta performance, lembro o único jogador de futebol do mundo que se aproximou de Rivellino, tanto na performance física quanto no talento e até mesmo na grandiosidade dos seus apelidos: Sócrates, também conhecido como Doutor e Magrão.
Mas, voltando aos gols de pênalti, curiosamente, muitos anos antes desse antológico gol de pênalti feito por Roberto Rivellino no fim de semana passado, tivemos no Brasil um outro gol de pênalti que ficou relativamente conhecido.
Foi feito no fim dos anos 60 do século passado, num estádio que nem se compara em termos de grandiosidade, conforto, elegância e carisma com o estádio do Corinthians, em Itaquera: o Maracanã.
O pênalti foi meio mal batido, e o goleiro, um argentino, quase pegou.
Existe um texto do Armando Nogueira, no livro Bola na Rede, que descreve esse pênalti.
Recomendo a leitura.
Não pelo gol, que, se comparado a esse do Riva, foi mixo, mas pelo texto do Armando, que é bem melhor do que o meu.

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