terça-feira, 1 de julho de 2025

Penduricalhos inflam salários de juízes e remunerações acima do teto somam R$ 10,5 bilhões em 2024, OESP

 Férias em dobro e amplas folgas; saiba como parlamentares e juízes acumulam tempo de descanso

Capa do video - Férias em dobro e amplas folgas; saiba como parlamentares e juízes acumulam tempo de descanso

Crédito: Larissa Burchard/Estadão

BRASÍLIA — Os pagamentos acima do teto constitucional a juízes somaram R$ 10,5 bilhões em 2024 no Brasil, de acordo com estudo do Movimento Pessoas à Frente. O crescimento foi puxado por verbas indenizatórias conhecidas como “penduricalhos”, que entram no contracheque dos magistrados sem respeitar o limite e sem pagar Imposto de Renda.

Vista da Estátua da Justiça, no Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
Vista da Estátua da Justiça, no Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Os valores pagos em 2024 representam um aumento de 49% em relação ao ano anterior (R$ 7 bilhões). A expansão é dez vezes a inflação no mesmo período, que foi de 4,83% (IPCA). Segundo o estudo, houve uma “corrida” do Judiciário para aumentar privilégios justamente no momento em que o governo e o Congresso discutiam um projeto de lei para limitar os supersalários no funcionalismo público. Os números foram calculados pelo pesquisador Bruno Carazza a partir de dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Procurado, o CNJ não se manifestou.

A Constituição determina que nenhum servidor público pode ganhar mais que um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Em 2024, o salário máximo permitido foi de R$ 44.008,52 mensais. Em 2025, o valor subiu para R$ 46.366,19. Juízes, porém, acabam “furando” o teto com verbas que são classificadas como indenizatórias por decisões administrativas a todos os integrantes da categorias e pagas de forma permanente, quando deveriam ser eventuais e transitórias, como remuneração por acúmulo de serviço e auxílio saúde.

Com essa classificação, os magistrados também escapam de pagar Imposto de Renda sobre as verbas. “O pagamento dos supersalários é muito danoso dentro do funcionalismo público. Os servidores devem ser remunerados de acordo com a responsabilidade de suas funções, mas isso deve ser feito pelo valor que é entregue à sociedade”, diz a diretora executivo do movimento, Jessika Moreira. Para ela, o crescimento dos valores repassados não tem conexão com o desempenho dos juízes no serviço. “É puramente privilégio.”

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O contracheque ajuda a explicar o crescimento. Em 2023, os magistrados brasileiros recebiam em média R$ 45 mil por mês. O valor subiu para R$ 54,9 mil em 2024 e chegou a R$ 66,4 mil em 2025. Os juízes passaram a ganhar em média mais que os ministros do STF em setembro de 2022. A diferença está justamente no que é pago acima do teto com os “penduricalhos”. Não há clareza sobre o que é indenizatório e o que é remuneratório e as verbas são classificadas de forma diferente em cada tribunal, o que dificulta a transparência e análise, destaca o estudo.

“As verbas indenizatórias estão muito presentes nessa corrida porque, se não estivessem, os rendimentos não ultrapassariam o limite do STF que é o teto constitucional”, diz Eduardo Couto, líder da área de Conhecimento do movimento que elaborou o estudo. Para ele, as verbas indenizatórias precisam ressarcir despesas eventuais e transitórias e devem ser expressamente autorizadas por lei, e não por medidas administrativas, como acontece hoje. “Não podemos pegar uma verba e pagar mês a mês para um servidor público. É preciso explicar por que ela aconteceu.”

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Em maio, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que proíbe todos os tribunais do País de criarem e pagarem novos penduricalhos com efeito retroativo por meio de decisões administrativas. Para os especialistas, porém, o quadro ainda é negativo e é necessário uma lei mais rígida, pois 93% dos juízes ganham acima dos ministros do STF com mais de 3 mil tipos diferentes de verbas pagas no País inteiro.

No ano passado, o governo enviou ao Congresso uma proposta para limitar os supersalários, estabelecendo que os benefícios deveriam ser autorizados por lei complementar. Os parlamentares flexibilizaram a medida, definindo que uma lei ordinária (mais fácil de ser aprovada) vai dizer quais tipos de “penduricalhos” poderão ser excluídos do teto remuneratório.

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O Ministério da Fazenda estuda enviar um novo projeto com a definição das verbas para limitar os pagamentos acima do teto. No Senado, há outra proposta em tramitação, mas o texto acaba criando exceções e fixando uma série de verbas indenizatórias fora do limite, como o pagamento em dobro do adicional de de férias e a gratificação por acúmulo de ofícios.

Câmara criou um grupo de trabalho para elaborar uma proposta própria de reforma administrativa e colocou os supersalários na discussão. “Qualquer reforma sem tocar nisso vai gerar um sentimento de frustração”, afirmou o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), coordenador do grupo de trabalho, ao Estadão. O relatório deve ser apresentado até o dia 14 de julho.

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