terça-feira, 1 de julho de 2025

Inutilidade da CPI do INSS?, Rômula Saraiva - FSP

 Ao longo da história, diversas Comissões Parlamentares Mistas de Inquérito foram instauradas no Brasil para investigar fatos de grande repercussão. Na Previdência Social, de 1947 para cá somam mais de 20. A fraude dos descontos indevidos no INSS não poderia ficar de fora. Se encaixa perfeitamente no escopo de repercussão nacional, apta portanto a ter sua própria CPMI ou CPI. Aliás, falta pouco para o presidente da Câmara, Hugo Motta, nomear o relator da CPI do INSS –ao que tudo indica do centrão– para ela sair do papel.

A imagem mostra o plenário da Câmara dos Deputados do Brasil, com várias pessoas em pé e sentadas. No fundo, há uma mesa com deputados e bandeiras do Brasil. Telas digitais exibem informações sobre votações. O ambiente é bem iluminado e moderno, com um design arquitetônico contemporâneo.
Presidente do Senado Davi Alcolumbre confirma leitura do requerimento da CPMI do INSS - Ton Molina - 17.jun.2025/Foto Arena/Folhapress

Quem é governo foge da CPI como o diabo da cruz. Já a oposição, que tem menos a perder, estimula sua criação. O centrão segue alheio.

Em entrevista à imprensa, o ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, arriscou um argumento lacônico para sua resistência à CPI: "Eu tenho medo que ela atrapalhe o trabalho de ressarcimento, porque a gente não sabe o rumo que a CPMI vai tomar, ela pode ir para um caminho que monopolize o tempo do governo."

Embora o assunto seja previdenciário, a fraude se instala no Poder Executivo, que custou a queda do ministro da Previdência Social e do presidente do INSS, mas se irradiou no Legislativo. Nomes de ilustres deputados federais e de senadores começam a ser apontados na investigação policial como partícipes do esquema bilionário.

Se realmente tem tanto parlamentar envolvido, é crível que a gestação da CPI dentro do Congresso terá a imparcialidade necessária de implantar medidas rigorosas contra seus pares? Terá resultados eficazes ou servirá para fomentar negociatas e palanque político?

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No campo teórico, a CPI pode tomar diversas ações investigativas, a exemplo de convocar testemunhas, quebrar sigilos bancário, fiscal e telefônico (com autorização judicial), realizar diligências e requisitar documentos e informações a órgãos públicos. Além disso, a CPI pode tomar depoimentos e determinar a busca e apreensão de documentos. No seu relatório final, pode sugerir propostas legislativas e indiciamentos de pessoas, que são submetidos ao crivo do Ministério Público ou da Polícia Federal.

Na prática, as CPIs brasileiras costumam terminar em pizza. Recentemente, depois de vários meses, o relatório da CPI das Bets foi rejeitado e não teve nenhuma medida adotada. Em 2017, a última CPI do INSS sobre o déficit apurou uma série de verdades e indicou providências a serem tomadas para preservar o equilíbrio do sistema previdenciário, a exemplo de mecanismos de combate às fraudes –por ironia assunto da próxima CPI previdenciária.

Espera-se que a CPI agregue ao trabalho desenvolvido pela Polícia Federal. Que a lavagem de roupa-suja televisionada resulte em achados objetivos que facilitem a responsabilização de quem desviou o dinheiro dos aposentados.

No entanto, a expectativa é de que a abertura dos trabalhos da CPI ocupe em vão o precioso tempo parlamentar, agrave a fila do INSS e gere a espetacularização política, bem como seja o terreno fértil para iniciar a temporada de negociatas. Com medo de que os segredos sejam revelados, muitos parlamentares e partidos políticos devem se valer de propinas ou emendas parlamentares para abafá-los. Se ocorrer, teremos o debate da corrupção alimentando mais corrupção.


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