Para atender à demanda da macrometrópole, governo projeta transposições em 'zonas de conflito'
22 de março de 2014 | 15h 47
Fabio Leite - O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A recém-deflagrada disputa com o Rio para transpor água da Represa Jaguari, no Vale do Paraíba, para o Sistema Cantareira é apenas uma das brigas políticas que São Paulo terá de comprar para suprir a crescente demanda por abastecimento nos próximos 20 anos. O plano paulista com novas alternativas de captações necessárias até 2035 lista outras quatro obras em "zonas de conflito", onde há represas e rios que também abastecem outros Estados ou são fontes para gerar energia elétrica.
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Carlos Villalba Racines/EFE
Habitantes pescam na disputada Represa Jaguari
Entre elas está um segundo projeto de transposição envolvendo o Rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de 11 milhões de fluminenses. A proposta é captar água na região de Guararema e levá-la até Biritiba-Mirim para aumentar em até 4,7 mil litros por segundo a oferta na Bacia do Alto Tietê, que abastece 17,2% da Grande São Paulo. A obra custaria cerca de R$ 760 milhões e precisaria do aval da Agência Nacional de Águas (ANA) porque envolve captação em rio federal.
Isso torna o projeto ainda mais polêmico que a transposição proposta na semana passada pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Mesmo envolvendo a ligação de uma represa paulista (Jaguari), que é apenas afluente do Rio Paraíba, a obra foi contestada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).
Autoridades fluminenses temem que ela comprometa o abastecimento do Estado e cobram estudos de impacto. Nesse caso, porém, São Paulo não precisa de aval federal para fazer a ligação, orçada em R$ 500 milhões e prevista para 2015.
O presidente do Comitê da Bacia do Rio Paraíba do Sul, Danilo Vieira Júnior, critica a obra. "O projeto de São Paulo traz diagnóstico e potencial de impacto diferentes do nosso. Eles alegam que o rio tem uma qualidade melhor do que apuramos e uma quantidade de vazão para atender à demanda paulista divergente da disponibilidade hídrica", afirmou Vieira Júnior.
Os dois projetos estão no Plano Diretor de Recursos Hídricos que projeta a demanda por água nos próximos 20 anos em 180 cidades das Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraíba e entorno. Será preciso aumentar a oferta em 60 mil litros por segundo, o equivalente a quase dois sistemas Cantareira, conforme o Estado antecipou em fevereiro. A região tem 74% da população paulista - 30 milhões de pessoas.
Ousadia. Para suprir a demanda, o plano prevê a transposição de água da Represa Jurumirim, em Avaré, até a Estação de Tratamento de Cotia, na Grande São Paulo. O ambicioso projeto aumentaria em até 15 mil litros por segundo a oferta de água.
Além do custo, estimado em R$ 9 bilhões, a obra pode impactar na produção de energia da usina hidroelétrica que leva o nome do reservatório, a principal da região. Para compensar a reversão, rios que abastecem cidades do Paraná poderiam ter suas vazões reduzidas.
"Nós temos uma disponibilidade hídrica muito grande, mas é um assunto delicado e precisará de estudos aprofundados. Ainda é cedo para avaliar o impacto", disse David Franco Ayub, secretário executivo da Bacia do Alto Paranapanema.
Na bacia vizinha, no Vale do Ribeira, a preocupação envolve os projetos de captação de água nas Represas Juquiá e Cachoeira de França para abastecer a Grande São Paulo. Na semana passada, as companhias de saneamento paulista (Sabesp) e paranaense (Sanepar) discutiram os impactos do Sistema São Lourenço, que levará 4,7 mil litros por segundo a mais até Cotia. "Nesse caso, não há mais conflito", garantiu a gerente da Bacia do Alto Ribeira, Olga Polatti, no Paraná.
Outra disputa envolve Minas, que quer uma cota maior da água que deixa o Estado para abastecer o Sistema Cantareira, em São Paulo - hoje perto do colapso. "Também precisamos de água para o desenvolvimento industrial. Uma alternativa é São Paulo pagar pelos serviços ambientais que prestamos, que conservam a mata e aumentam a disponibilidade hídrica", disse Marília Melo, diretora do Instituto Mineiro de Gestão de Águas (Igam).