sexta-feira, 14 de março de 2014

O zelo de Joaquim - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 14/03

CNJ resolveu, por dez votos contra cinco, que OAB será dispensada de custear despesas nas salas que ocupa em prédios de tribunais de justiça, que são órgãos públicos



Pode ser que o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, às vezes exagere em sua luta permanente pelo uso correto de recursos públicos. Mas não se pode negar que, com certa frequência, o dinheiro da Viúva é usado e abusado como se os recursos públicos saíssem de um saco sem fundo.

E parece evidente que Barbosa tem as melhores intenções — e frequentemente boas razões — na sua defesa incansável pelo uso correto e parcimonioso do dinheiro que, não vamos esquecer, sai do nosso bolso.

Na batalha mais recente, Barbosa foi derrotado por uma decisão do Conselho Nacional de Justiça. Este aprovou, por larga margem (dez votos contra cinco), uma considerável colher de chá para a Ordem dos Advogados do Brasil — que, importa lembrar, é uma entidade particular e, ao que se sabe, razoavelmente próspera.

O CNJ resolveu, por dez votos contra cinco, que a OAB será dispensada de custear despesas nas salas que ocupa em prédios de tribunais de justiça que, ao contrário da Ordem, são órgãos públicos. Em outras palavras, o dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos será usado para custear água, energia, condomínio e vigilância em imóveis usados exclusivamente por advogados — que, não se pode esquecer, trabalham para eles mesmos. E muitos são merecidamente prósperos.

O presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado, defendeu a doação das salas com o argumento curioso de que as salas serão usadas por cidadãos e advogados, e não pela entidade “como instituição”. É um argumento pelo menos curioso: o erro identificado por Barbosa refere-se ao uso gratuito de salas mantidas pelo Judiciário, ou seja, por recursos públicos — para fins particulares.

É natural que a Ordem saia em defesa de um benefício criado, direta ou indiretamente para seus membros. Mas talvez a melhor defesa fosse oferecer uma contribuição financeira para a manutenção de locais públicos para o trabalho dos advogados.

Se fizer isso, é bem possível que o infatigável Barbosa encontre outras áreas, no vasto mundo do serviço público, merecedoras de sua atenção e de seu zelo pelo bom uso dos recursos oficiais.

terça-feira, 11 de março de 2014

Sabesp remaneja água para 3 milhões de moradores da Grande São Paulo


Consumidores receberão água das Bacias do Alto Tietê e Guarapiranga; novas bombas estão sendo instaladas para diminuir ainda mais a dependência do Cantareira

11 de março de 2014 | 18h 23

Fabio Leite - O Estado de São Paulo
SÃO PAULO - A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) aumentará para 3 milhões o número de moradores da Grande São Paulo que deixarão de receber água do Sistema Cantareira para serem abastecidas pelas bacias do Alto Tietê e Guarapiranga.
Principais represas do Cantareira ficam com menos de 10% de sua capacidade - Sérgio Castro/Estadão
Sérgio Castro/Estadão
Principais represas do Cantareira ficam com menos de 10% de sua capacidade
Desde o fim de janeiro, a empresa remaneja água desses dois mananciais para suprir a seca do Cantareira, que chegou nesta terça-feira, 11, a 15,8% da capacidade, índice mais baixo da história. Hoje, a medida atinge cerca de 2 milhões de pessoas.
Segundo a Sabesp, novas bombas estão sendo instaladas para diminuir ainda mais a dependência do Cantareira. Até abril, o remanejo de água atingirá 3 milhões de habitantes, ou 34% dos 8,8 milhões abastecidos originalmente pelo principal manancial na Região Metropolitana.
Agora, parte do Jabaquara, Vila Olímpia, Brooklin, na zona sul, e Pinheiros, na zona oeste, receberão água da Guarapiranga. Já o Alto Tietê passa a abastecer os bairros da Penha, Ermelino Matarazzo, Cangaíba, Vila Carrão e Vila Formosa, na zona leste. Os dois reservatórios estão com 71,2% e 38,4% da capacidade, respectivamente.
Segundo a Sabesp, mesmo com a mudança na fonte de abastecimento, os 3 milhões de moradores continuam inclusos no programa de descontos de até 30% para quem economizar ao menos 20%. O plano de bônus, antes previsto até setembro ou até a normalização do Sistema Cantareira, foi estendido até o fim do ano pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Vazão. Nesta semana começou a vigorar oficialmente a redução de 10% da vazão máxima de retirada da água pela Sabesp do Cantareira. Determinação da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) reduziu a captação de 31 mil litros por segundo para 27,9 mil litros por segundo. Na prática, a medida já é aplicada desde o início do mês. Mesmo assim, o nível do Cantareira continuou caindo.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Questão de isonomia - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 05/03

SÃO PAULO - Minha última coluna sobre o Mais Médicos levou alguns leitores a perguntar-me o que acho da isonomia salarial. Como sempre, a resposta depende de como definimos os termos da pergunta.

Se entendemos por isonomia apenas o tratamento jurídico dispensado ao trabalhador, sou totalmente a favor. Mas, se tentarmos, numa interpretação mais forte e mais ao gosto dos sindicatos, aplicar o conceito no nível dos resultados, isto é, ao salário final de cada empregado, sou contra.

Colocando de outra forma, devemos nos opor a toda e qualquer discriminação salarial que não tenha por base o desempenho individual do trabalhador e defendê-la quando tem essa origem. É injusto pagar menos uma mulher ou um negro apenas pelo fato de serem mulher e negro, mas, se a diferença no vencimento se deve ao fato de um profissional ter produzido mais que o outro, ela bem-vinda, por mais difícil que seja, em muitas atividades, definir e mensurar o que é "produzir mais".

Um bom exemplo é o dos jogadores de futebol. Em princípio, todos eles exercem a mesma função, que é jogar futebol e, pela regra da isonomia forte, deveriam receber o mesmo, mas, se você quiser acabar com os campeonatos e dificultar o surgimento de craques, é só baixar uma lei que iguale o salário dos Neymares aos de qualquer cabeça de bagre.

No setor privado, a coisa até funciona, pois se permite ao empresário avaliar seus funcionários como quiser e fixar seus vencimentos dentro de parâmetros elásticos. A complicação surge no serviço público, onde a isonomia forte é levada a ferro e fogo. Reconheça-se que é muito difícil criar um sistema de avaliação impessoal, como se exige do poder público. Mas fazê-lo é imperativo. A razão principal do fracasso dos países socialistas é que, numa caricatura da isonomia, desenvolveram um regime em que valia mais a pena esconder-se na ineficiência do que buscar a inovação e a excelência.