terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Pode haver ex-pai?


Para professor de ética, é difícil saber se acusações procedem, mas importa entender por que a reencenação da história caiu em terreno fértil

08 de fevereiro de 2014 | 17h 09

Renato Janine Ribeiro
Por que a ruptura entre Woody Allen e Mia Farrow, assunto já antigo, volta à cena com tanta paixão? Penso que é porque expõe duas histórias de incesto, atribuídas a um cineasta que tematizou tanto a própria vida que acreditamos conhecer sua personalidade e, sobretudo, suas falhas. Tentemos destrinchar esse emaranhado.
Da esquerda para direita: Allen, Ronan, Mia, Dylan e Soon-Yi; à frente, Moses. - Ann Clifford/Time Life/Getty Images
Ann Clifford/Time Life/Getty Images
Da esquerda para direita: Allen, Ronan, Mia, Dylan e Soon-Yi; à frente, Moses.
Datam de 1992 duas histórias, diferentes, mas paralelas, que muitos confundem. Primeira, Allen deixa Mia para ficar com a filha adotiva dela, Soon-Yi (que não era filha dele, mas do maestro André Prévin). Consta que nunca teve vida familiar com Soon-Yi; não seria uma figura paterna para ela. É incesto por derivação, não por definição. É incesto aos olhos, sobretudo, de Mia. Eis uma tragédia familiar, que traz problemas éticos, porque ambos traíram Mia, namorada de um, mãe da outra – mas não é um crime. E o final, para os "cúmplices", é feliz: Allen e Soon-Yi se casaram e têm dois filhos.
Segunda história: no meio dessa tormenta, Allen teria acariciado sexualmente Dylan, de 7 anos, filha adotiva dele e de Mia. Aqui temos incesto, sim, na forma do abuso sexual de menor – ação odiosa, pois fere um ser duas vezes vulnerável, pela idade e pelo laço com o agressor. Mia processa Allen, mas sem sucesso: os peritos psiquiatras do tribunal opinam que a menina e seu irmão mais velho, Moses, teriam sido treinados ("coached") pela mãe para depor. Esse caso, e apenas ele, seria crime, mas não foi provado.
A história ressurge agora, graças a jornalistas amigos de Mia. Principia com ela dizendo à revista Vanity Fair que seu único filho biológico com o cineasta talvez não seja dele, mas do ex-marido Frank Sinatra: revela que manteve um longo caso com Sinatra quando já estava com Allen. Depois, o New York Times divulga uma longa carta de Dylan acusando o ex-pai do abuso sexual de 1992.
Esse escândalo afeta gente decente, liberal, empenhada em boas causas. Mia é ativista social. Allen nunca rodou um filme defendendo a violência ou o preconceito, e uma virtude de vários de seus filmes é a empatia com o infeliz. O conflito dos simpatizantes dele e dela é uma guerra civil dividindo pessoas de bem.
No meio disso, muitas complicações. Há mudanças de nomes (Dylan virou Malone; o filho biológico, Satchel, hoje é Ronan), de filiação (Allen perde o acesso aos adotivos e talvez não seja pai do biológico), de lado (um adotivo, Moses, que em 1992 pediu que Allen "se suicidasse", hoje apoia o pai). É mais confuso do que romance russo. Bem disse o ex-filho biológico, Satchel que virou Ronan: é complicado ser filho do cunhado, irmão da madrasta.
Mas o desabafo de Satchel-Ronan se refere à primeira história, à traição, não ao abuso sexual. O dano que se abateu sobre o clã quando as figuras materna e paterna romperam, e o "pai" fugiu com a "irmã" foi devastador – mas não é crime. Como diz Andrea Pachá num ótimo livro, "a vida não é justa". Crianças sofreram, mas devido a uma separação apenas pior que as litigiosas "normais". E o final, para os dois que saíram do clã (André Prévin diz que Soon-Yi "não é mais minha filha"), foi feliz. É a relação mais duradoura que Allen já teve. Uma família feliz, um happy end, ainda que só para eles: por isso mesmo, como culpá-los, hoje, pela ruptura de 1992? Eles entraram na banalidade das relações sem tormenta. Assim, como a história dos dois perdeu o charme do proibido, o foco passou para o possível abuso, o caso que então era secundário, a agressão sexual à menina menor.
Entra em cena a segunda história. Aceitamos casamentos rompidos, mas temos ódio crescente ao abuso sexual; esse tema saiu do armário. (Por coincidência, Allen é acusado de abusar de Dylan dentro de um armário.) Mas aconteceu? Sim: aos sete anos se entende melhor o que são carícias sexuais do que aos quatro – idade que tinham as crianças da Escola Base, quando os donos dela quase foram linchados sob acusações de abuso sexual que eram, afinal, fantasias infantis. Ou não: o próprio irmão Moses, que testemunhou com Dylan em 1992, hoje diz que Mia pressionava as crianças para ficarem contra Allen. Não consigo ter posição. As decisões da Justiça, embora tomadas em momentos distintos, deram em empate. Mia não conseguiu condenar Allen, mas ele perdeu o acesso aos filhos. Uma decisão estranha, porque se era culpado deveria pagar por isso, se era inocente não havia por que perder as crianças.
Há mais. Por que essa história volta à cena? Há as hipóteses menores, como a possível aposta do ex-filho talvez biológico de Allen numa carreira profissional ou a irritação da ex-família com as homenagens ao diretor. Mas o importante não são as motivações de Mia e dos seus filhos, e sim: por que a reencenação da história caiu em terreno fértil.
Começo pela crise da família. Uma coisa é ter ex-marido, ex-mulher. Uma separação pode doer, mas conseguimos conceituá-la. Agora, dos laços de família, os de pai e filho são eternos. Mas são mesmo? No caso, não foram. Por isso falei, com espanto meu inclusive, em ex-pai, ex-filho, ex-filha. Se os últimos mudaram de nome, foi para consumar a ruptura. O susto nos vem do que deve ser um temor fundo, talvez ancestral: nem mesmo os laços do sangue, nem mesmo os vínculos a nossa origem, hoje estão garantidos. O clã Farrow era um grande experimento de filiação: filhos adotados por ela com Prévin, com Allen, um concebido por ela e Allen – como se fossem uma tipologia das diferenças que há no mundo. De repente cai um raio sobre essa tribo, que não sabemos se era feliz, mas pretendia sê-lo. A mãe, vértice da família, é traída.
Isso perturba nossa talvez última garantia, quando tudo ficou líquido, até as alianças mais firmes: a família como espaço dessexualizado. O casal é sexualizado e por isso resiste mal à perda do desejo. Mas a relação pais-filhos é de amor porque não tem sexo. Pode durar para sempre, deveria durar para sempre. Só que a histoire de cul, como os franceses chamariam o caso de Allen com Soon-Yi, afetou as filiações, fraternidades e, para termos um equilíbrio de gênero entre homens e mulheres, as "sororidades" do clã. A experiência ambiciosa de criar laços de família entre pessoas que não têm relação de sangue quase foi pelos ares.
Dessa história, ou resulta que Allen é o pai-negação-de-pai, que abusou da filha, ou que Mia é a mãe-negação-de-mãe, Medeia que sacrificou os filhos para se vingar dele. Pai e mãe que neguem sua condição são fantasmas atuais, amedrontadores. Até nossa origem, nossa filiação, se torna precária. (O único que parece ter escapado da maldição foi o que mudou de lado, Moses, atravessando as águas do ódio.)
Some-se que o incesto "falso" deu certo, e o incesto "real" ficou impune. Mil aspas! Incesto falso foi o amor de Allen e Soon-Yi. Não eram pai e filha, mas aos olhos da família um era tabu para o outro. Não violaram a lei, mas o choque afetivo é igual. Porém, esse incesto revelado, publicado, gerou um casal feliz. Quanto ao suposto abuso, aí sim teríamos um incesto de verdade, real, entre pai e filha, pouco importando que fosse adotiva. Mas não se sabe a verdade. Porém, a contaminação dos casos é inevitável. Basta suspender um pouco as dúvidas que a imagem de Allen despenca. Imagem, para um cineasta, é muito. Depois de privá-lo da paternidade, Mia tenta tirar-lhe a homenagem, e a filha pede que ninguém veja os filmes do ex-pai. (Luiz Zanin comentou muito bem esse ponto em seu artigo no Estado: mesmo que ele seja culpado, sua obra subsiste).
Mas há uma relação entre os dramas de 1992 e a obra de Woody Allen. Lembram temas seus. Se ele rodasse westerns ou thrillers, sua história pessoal nada teria a ver com seus filmes. Mas Allen dirige e protagonizou, inclusive contracenando com suas parceiras Diane Keaton e Mia Farrow, várias películas como um personagem neurótico, atrapalhado, que se equilibra entre a busca da felicidade e a da sanidade. Difundiu assim a crença de que ele, ator e personagem, é ele, pessoa. O contrário exato do que diz Fernando Pessoa sobre o poeta, fingidor que finge que é dor a dor que deveras sente. Essa identidade mais que duvidosa entre ator e personagem, no caso dele, é tomada como uma certeza. Daí que tantos acreditem vê-lo em seus filmes. Há quem cultue, ainda hoje, a ideia de que a obra expressa a verdade íntima de seu autor.
Ora, dá para fazer um filme de Woody Allen com uma dessas histórias? Sim e não. Com o abuso sexual, nem pensar. Nenhuma película dele trata de uma violência tão dura, no limite do irrepresentável, que impossibilita qualquer humor. Já o caso de amor com Soon-Yi poderia dar um filme seu, mas de final diferente. Seria um amor platônico, com muitas palavras, mas provavelmente sem toque físico, ao fim do qual a moça e a mãe encontrariam novos parceiros, com o personagem masculino frustrado e, ao mesmo tempo, enunciando uma frase final com aquele toque de humor que é a maneira de Allen lidar com a frustração, a derrota. A realidade foi mais bem-sucedida, foi melhor (para o casal) do que teria sido um filme. Mas no horizonte permanece esse imaginário alleniano sobre a dificuldade atual das relações amorosas.
Provavelmente nunca saberemos se Allen fez mal a Dylan. Mas, partindo do princípio de que o abuso sexual é sempre repugnante, parece-me que a história vai além dele, tratando de medos atávicos, a traição, a traição pelo pai e pela mãe, a traição pela filha. Talvez por isso, mereça ser falada. A fala pode libertar. Mas sob a condição de que falemos de nossos medos, em vez de gastar tempo discutindo quem é culpado, num enredo inextricável e provavelmente sem saída.
RENATO JANINE RIBEIRO, PROFESSOR TITULAR DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA DA USP, É AUTOR DE A UNIVERSIDADE E A VIDA ATUAL

Lubrificando a vida


As teses etílicas e astrológicas de Amaury Jr., o colunista que brindou e bombou no viral ‘#Desenrola’

08 de fevereiro de 2014 | 17h 15

Juliana Sayuri - O Estado de S. Paulo
Enquanto o silêncio momentaneamente ocupa o estúdio, TP, luzes e câmeras se direcionam para ele. Vem a voz forte, que logo se vai – "Boa noite a todos, cof, cof, cof, tosse maldita filha da puta. Desculpe, cof, cof, cof, vamos gravar de novo? Vambora" –, mas logo volta – "Boa noite a todos! Bem-vindos a mais um programa. Meus amigos, nesta noite, vamos conversar com Adriane Galisteu, Falcão, Michel Teló e..." – e assim vai Amaury Jr., 63 anos, 32 de TV, entre um take e outro nos estúdios da RedeTV! e na sua produtora paulistana nos Jardins, entre os bastidores e o mise-en-scène que o fizeram famoso por mergulhar no mundo dos famosos. E cada mergulho, dizia-se ainda antes dos anos 2000, é um flash.
Entre a fama de bon vivant e workaholic, apresentador trafega do útil ao fútil, mas não no inútil. - Felipe Rau/Estadão
Felipe Rau/Estadão
Entre a fama de bon vivant e workaholic, apresentador trafega do útil ao fútil, mas não no inútil.
Mas Amaury Jr. está habituadíssimo aos holofotes. On the record, palavras improvisadas, mas francas, uma lábia perspicaz e um sorriso fácil que destaca as marcas de expressão ao redor dos olhos pequenos – marcas a cada quatro meses amenizadas com botox. Off the record, palavrões e expressões tão sinceras que nos lembram como o repórter é perfeitamente humano. "Tá vendo este sorriso? É um sorriso que não quero dar às 11 horas da manhã. Mas preciso dar", disse certa vez, um tanto mal-humorado, durante uma gravação em sua casa-estúdio nos Jardins.
Dias desses, Amaury Jr. se viu mais uma vez no centro das atenções ao postar o vídeo da música #Desenrola. Dizia no Twitter: "Gravei um vídeo para registrar minha indignação. Chega de complicação. Desenrola, Brasil!". Pipocaram teorias sobre os motivos multimidiáticos do colunista, que fez um rap e se transformou, entre outros, em Chiquinho Scarpa, Donald Trump e Hebe Camargo para a performance (meu amigo leitor, se você não viu, cá está:
http://youtu.be/DuIGbj-s-wc). Protesto contra a burocratização do País? Marketing viral para uma marca de camisinha? Narcisismo puro? Ideia absolutamente nonsense para se fazer de livre e espontânea vontade? Pileque? Ponto sem nó? Jamais. Após 24 horas, eis o mistério ilustrado: o vídeo faz parte de uma campanha publicitária do biscoito Negresco, talvez resposta frente à volta de seu rival Oreo ao Brasil. Até sexta, 1,5 milhão de visualizações no YouTube. Letra? Do rapper Gabriel, o Pensador – sim, o mesmo de 2345Meia78! Tá na Hora de Molhar o Biscoito.
Entre o biscoito fino e a massa, Amaury Jr. quis se divertir. Entrou no jogo, com bom humor semelhante àquele com que encontra seu xará Amaury Dumbo nas festas. "A sátira é maravilhosa. Adoro o Carioca. Além disso, fiquei popular com a garotada. Passo na rua e o pessoal berra ‘meu amigooooo!’. Fico feliz". Amaury, o Jr., já tinha recebido convites para fazer campanhas nesse estilo do Negresco, mas sentia que não era a hora. Agora, aceitou: "Participar de uma brincadeira dessas faz parte de uma atitude de renovação." E, se renovar é preciso, o jornalista sabe esse roteiro de cor.
Corta para a década de 1970. Diz-se paulistano por tempo, carioca por alma, mas Amaury de Assis Ferreira Júnior nasceu em Catanduva e adolesceu em São José do Rio Preto. O pai, filólogo revisor do Houaiss, adorava discutir dicionários com o filho – que aí herdou o conhecimento enciclopédico e as bisbilhotices históricas. Dizia o pai: "TV não presta". O filho estudou direito, deu o diploma para o pai, mas decidiu fazer carreira como jornalista. Estreou no rio-pretano Diário da Tarde, depois passou por Rádio Independência e fundou o Dia e Noite, que conquistou um Prêmio Esso graças a José Hamilton Ribeiro, em 1977. Por razões financeiras, o jornal fechou. Uma vez na capital, São Paulo, um se tornaria o José Hamilton Ribeiro, outro... o Amaury Jr.
Convidado para trabalhar na TV Tupi, Amaury Jr. idealizou o programa Flash, que traria destaques das principais festas da alta sociedade paulistana, mas a ideia ficou no papel. Queria transpor o colunismo social das páginas impressas, nas suas palavras, afrescalhado e até pedante, para a TV. "No papel, era preciso descrever o buffet, a música, os vestidos. Na TV, nada disso era necessário. Só precisava conversar com os convidados – afinal, as pessoas presentes nessas festas eram as pessoas que faziam a cidade acontecer."
Em 1980, a Tupi saiu do ar – o início do fim para os Diários Associados de Assis Chateaubriand. Depois, Amaury passou pelas revistas Fiesta e Status, até receber o convite da Rádio Gazeta, da Fundação Cásper Líbero, em 1982. Ali, desengavetou o Flash, em que lhe dariam 5 minutos diários para fazer uma síntese das festas paulistanas grã-finas. "Antigamente, as pessoas me acusavam de estar grávido de adjetivos. Diziam-me até um lambe-botas. A primeira crítica, a gente nunca esquece. Alguém escreveu assim: ‘Amaury Jr. e suas gravatas patrocinadas’. Isso me magoou muito. Como se eu fosse o único que vestisse uma marca na TV. Porra, fiquei arrasado. Mas levei tanto pau que fiquei calejado", lembra.
Tempo depois, o repórter foi convidado para levar seu programa para a TV Record e depois para a Rede Bandeirantes, onde ficaria por 16 anos. Ali filmaria e firmaria o estilo que o publicitário Washington Olivetto lhe atribuiu: "O jornalismo de Amaury Jr. trafega do útil ao fútil. Nunca esbarrando no inútil".
Foi um bom pedaço da nata à massa. Nos tempos áureos, Amaury Jr. registrou festas dignas de glamour. "O programa começou a florescer na época do The Gallery, pois José Victor Oliva era muito meu amigo. A casa era um QG do high society paulistano, inclusive das famílias mais tradicionais da cidade. Aliás, antes as famílias faziam grandes festas ‘espontâneas’, como aniversários e casamentos. Eram festas na casa de Hebe Camargo e Milu Villela, minhas amigas, minhas queridas, bons tempos... Aí conquistei livre acesso a esse universo. Te incomoda se eu fumar?"
Corta para a década de 2000. Na virada do milênio, Amaury Jr. trocou Band por Record. Ali deu o fora histórico de sua carreira: em 2001, entrevistou Marcelo Nascimento, que se passava por Henrique Constantino, o herdeiro da Gol, no carnaval de Recife. "Além da entrevista, fiquei chaleirando a figura, queria um patrocínio. Pô, lembra do cara? Educadérrimo, estiloso, fino. E era o figurão. Todo mundo erra. A história rendeu livro e filme, o Vips – e aceitei participar, o leite já tava derramado, fazer o quê? Tempos depois, entrevistei o falsário na prisão."
Logo em 2002, o repórter trocou Record por RedeTV! Digo repórter, pois, apesar de acusarem-no de bajular e forjar intimidade com suas fontes, Amaury Jr. faz esse papel: após um amigável beijo, não raro desliza o microfone e desfere uma questão imprevista e até impertinente, para arrancar informações interessantes do interlocutor. E, meu amigo jornalista, o portfólio impressiona: são mais de 30 mil entrevistas, incluindo personalidades como o ex-presidente Bill Clinton, a musa Liza Minnelli, o bilionário Donald Trump e a atriz Sophia Loren, sem esquecer de uma das estrelas nacionais mais esquivas, João Gilberto, em 1991 – que por dez anos estava sem se expor às câmeras da TV. Também foi o primeiro a entrevistar Paulo Maluf logo após sua saída da prisão, em 2005. Só Marisa Monte ainda recusa seus convites.
Amaury Jr., por sua vez, nestes tempos de Big Brother, recusa umas 20 pretendentes a celebridade por dia. "Nem uso a expressão ‘subcelebridade’. Prefiro ‘celebutantes’. Uns despontam, debutam e até caminham. A imprensa fica entretida com essa farofa. A mim, não me interessa. Até sofro para manter uma moldura no meu programa. Gosto de abordar assuntos sérios, mas também preciso fazer o jogo popular. Mas meu telespectador é Rolls-Royce. Os outros são Gol", diz, sério num instante, gargalhando noutro. "Festas são lugares para ver e para ser visto, oras. Mas os tempos mudam muito. As festas ‘espontâneas’ deram lugar a eventos empresariais, o lançamento do carro, do livro, do produto. O dinheiro rodou, pois muitas famílias tradicionais foram à bancarrota. A TV ficou mais e mais popularesca. Até brinco: se eu tiver José Saramago ressuscitado de um lado, Mulher Melancia de outro, quem devo entrevistar hoje? Mulher Melancia, c’est la vie."
Ossos do ofício, Amaury Jr. sabe o que é o fascínio da fama. "Nada mais me impressiona. O mundo virou um incêndio de vaidades." Dizia-se que o jornalista se esbaldava nos destilados para sobreviver a esse fogaréu nas festas. "Agora só fico no champanhe e no vinho. Depois de gravar, se a festa estiver legal... Bebo, sim. ‘Eu bebo, sim...’ Lembra a música?", interrompe, entre risos. "Te contei minha tese? Cuidado com os abstêmios. Hitler, Idi Amin Dada e Mussolini eram abstêmios. Não dá pra confiar. Quem fica ligeiramente lubrificado – não embriagado – jamais será um ditador. Lula nunca seria um ditador. Quem lubrifica a vida é melhor amante, melhor amigo, melhor marido. Sem uma pequena dose, a realidade é muito difícil", arremata.
Corta para o dia 25 de junho de 2013. Nessas décadas de TV, Amaury Jr. conquistou outras famas. Um paradoxo: seria um bon vivant ou um workaholic? "Pensam que vivo em ritmo de festa, com música, mulheres, bebida. Não é verdade. Trabalho duro. Trabalhei 32 anos sem parar. E se você me perguntar se tive recompensa financeira à altura... não". E os jabás? "Se sou convidado para uma festa para promover um produto, preciso cobrar. Isso é infomercial, formato consagrado na TV americana, não inventei. No ar, entra como um editorial, pois não posso tarjar como ‘informe publicitário’, como se faz no jornal." Nesse encontro na sua produtora, foram dois cigarros, dois cafés e um adesivo de nicotina embalando essas lembranças sobre sua trajetória profissional, que cita como se fossem ontem. Propostas para o SBT? "Só encontro Silvio Santos em embarque de aeroporto, incrível. Temos um ótimo relacionamento, mas ele nunca me convidou para mudar para o SBT. Só me convida para ser jurado do Troféu Imprensa." Globo? "Uma vez, nos tempos do Boni. Faustão, meu amigo, disse para ir conversar lá no Rio, lá na década de 1980. Fui. A primeira pergunta do Boni: ‘Que signo você é?’ Eu pensei: ‘Tô fodido, ninguém me avisou que o signo importava para trabalhar lá!’. No fim, não rolou."
Libriano de 28 de setembro de 1950, Amaury Jr. é casado há 34 anos com Celina Ferreira, com quem tem dois filhos, três netos e três cachorros. Celina é matemática e administra a Callme Comunicações, a produtora de Amaury Jr. O colunista mora no Ibirapuera, grava nos Jardins e na RedeTV!, Osasco, sempre acompanhado por André Levi, seu braço direito, Leandro Sawaya e Paola Novaes, seus diretores, e Manuel Camanho Stange, seu fiel Alex no estilo Jô Soares. "Sou pequenino perto dos gigantes, mas estou feliz", diz, sorrindo, enquanto traga a piteira eletrônica sabor Marlboro Light, sua alternativa para parar de fumar. Amaury acorda cedo, apesar de muitas vezes filmar festas até tarde – gravados, Amaury Jr. passa entre terça e sexta-feira, à 0:30, e Amaury Jr. Show aos sábados, às 19:30. E não gosta de comemorar aniversário. "Uma vez fiz uma festa no Club A, onde era sócio. Foi tiro no pé: 2 mil convidados entraram, 3 mil ficaram de fora. Tenho muitos amigos, não dá para reunir todos. Gosto de aniversariar, não fazer anos."
Corta para o dia 9 de outubro de 2013. Na Casa Fares, na Avenida Europa, Amaury Jr. era o anfitrião na festa de lançamento de sua linha de chocolates gourmet. Sem microfone, mas rodeado por câmeras e flashes de Nikons e iPhones, o colunista distribuía beijos e cumprimentava convidados um a um, por nome e sobrenome. Entre os presentes, habitués como Amir Slama, Caroline Bittencourt e Valdemar Iódice, Amilcare Dallevo Júnior e Daniela Albuquerque. Enquanto carrões desfilavam na avenida, executivos bonachões acompanhados por socialites com paetês e pretinhos pretensamente básicos desfilavam no hall. Impossível não lembrar do "meu amigo!" tão caloroso (e sincero) que Amaury Jr. dispara ao reencontrar alguém, nos bastidores ou no ar. "Amigos, amigos, negócios à parte? Não sei. Amigos pessoais e parceiros do business se cruzam, não dá para ficar pensando muito nisso, senão enlouqueceria nesse discernimento. Melhor é embolar tudo." Posou para fotos ao lado de personalidades, cumprimentou fotógrafos e garçons, bebericou champanhe socialmente. "Para mim, festa é trabalho." E assim, meu amigo, foi Amaury Jr. o último a sair da festa.

Indenizações por acidente de trânsito crescem 25% (trânsito que mata)


No ano passado, o seguro de trânsito obrigatório (DPVAT) pagou R$ 3,2 bilhões em indenizações

11 de fevereiro de 2014 | 10h 35

Carla Araújo e Luciano Bottini Filho - O Estado de S.Paulo
O número de indenizações derivadas do seguro de trânsito obrigatório (DPVAT) subiu 25% em 2013, se comparado ao ano anterior, informou na manhã desta terça-feira, 11, a Seguradora Líder-DPVAT, administradora do seguro no País. No ano passado, foram pagos R$ 3,2 bilhões em indenizações.
As principais vítimas de acidentes de trânsito indenizados foram motociclistas. No ano passado, eles representaram 53% do total de indenizados. Apesar de as motos serem somente 27% da frota nacional, em 71% dos casos em que o seguro DPVAT foi acionado foi em acidentes com motos.
Os condutores de forma geral receberam 60% dos pagamentos, pedestres (22%) e passageiros foram responsáveis por 18% das indenizações. As principais vítimas de acidentes de trânsito indenizados foram homens, representando 76%. A maior incidência de pagamentos foi para a faixa etária de 18 a 34 anos (50%).
A Seguradora Líder-DPVAT informou ainda que em 2013 houve uma alta de 26% nos benefícios por invalidez permanente, que tiveram 444.226 pagamentos, o que representou 70% da cobertura. Em compensação, houve queda de 10% nas indenizações pagas por morte, que somaram 54.767 pagamentos ante 60.752 no ano anterior.