terça-feira, 28 de maio de 2013

'Amor ao tijolo' na China e no Brasil - RODRIGO ZEIDAN


ESTADÃO - 28/05

Andando às margens do Rio Huangpu, em Xangai, China, o que se vê é uma cena futurista de arranha-céus e edificações. Porém, ninguém imagina que metade desses apartamentos esteja vazia. Eles são comprados por investidores e especuladores e mantidos desocupados. Na China, estima-se que haja de 16 milhões a 65 milhões de imóveis residenciais vazios. Cerca de 50% dos apartamentos em Xangai e 60% em Pequim estão nessa situação, enquanto há uma crônica falta de imóveis para dezenas de milhões de trabalhadores de baixa renda.

Não há tecnicamente uma bolha imobiliária na China ou no Brasil. Mas é inegável: o rápido desenvolvimento dos últimos anos alterou a dinâmica do mercado imobiliário desses países.

A relação das pessoas com o imóvel é semelhante nos dois países. Há um "amor ao tijolo", ou seja, o desejo de adquirir imóveis para compor o patrimônio familiar. Para explicar isso, basta um olhar pela História. As crises sucessivas nesses países revelaram que poucos ativos mantiveram seu valor, à exceção dos imóveis.

Na China, os imóveis vazios resultam de três fatores: a inexistência de impostos sobre propriedade, como o nosso IPTU; o baixo valor do aluguel; e a preferência por imóveis nunca habitados. Grande parte dos compradores chineses não gosta de imóveis já usados. Um apartamento "intacto" tem um prêmio de 50% ou mais. Além disso, não existem muitos custos de manutenção para manter o imóvel desocupado. Lá não há condomínio ou IPTU, por exemplo. E os custos de compra e venda dos imóveis são baixos, assim como as rendas provenientes do aluguel. Somando tudo, é melhor deixar o apartamento vazio. E lucrar na venda.

Segundo dados do Global Property Guide, os custos das transações imobiliárias no Brasil chegam a 11,5% do valor do imóvel e a renda de aluguel, a 5,71% do valor do imóvel ao ano. Na China esses valores são de meros 5,26% e 2,66%.

No Brasil, os mercados financeiros são mais sofisticados que os da China e as alternativas de investimento, mais variadas. Ainda assim, a poupança familiar continua voltada para a compra de imóveis para moradia e também como parte estratégica do patrimônio familiar. Aqui não existem imóveis vazios, em razão dos elevados custos de transação e manutenção. Por outro lado, o crescimento da demanda imobiliária - resultado da fascinação dos brasileiros com a casa própria, do crescimento econômico, do aumento de crédito e da diminuição das taxas de juros - levou à valorização estratosférica dos imóveis. O metro quadrado no Rio de Janeiro e em São Paulo se equipara, e até supera, em muitos casos, ao de Nova York e de Londres.

Tanto no Brasil quanto na China existe a preocupação com o impacto de uma crise imobiliária sobre o resto da economia. Segundo a consultoria GK Dragonomics, a construção civil residencial representa, sozinha, 6% do crescente Produto Interno Bruto (PIB) chinês - mesmo porcentual do Brasil, mas considerando-se aqui o setor da construção civil como um todo.

Nos dois mercados, vários agentes esperam por uma crise ou, pelo menos, uma forte correção de preços dos imóveis. Não há bolha imobiliária nesses países, como houve no Japão nos anos 90 ou nos Estados Unidos em 2007/2008, porém uma desvalorização imobiliária pode afetar consideravelmente as economias brasileira e chinesa. Em ambos os países os imóveis urbanos são escassos - na China estão vazios e no Brasil, caros demais. Não há perspectiva de mudança de tendência no curto prazo, mas o desenvolvimento de ambos os países depende do fortalecimento do mercado imobiliário para abrigar uma crescente e exigente população urbana.

Justiça retém aluguéis de juiz do Fisco

Juíza determina que Élcio Fiori, suspeito de enriquecimento ilícito, deposite todo mês o valor da locação dos imóveis avaliados em R$ 30 mi

28 de maio de 2013 | 2h 05

Fausto Macedo - O Estado de S.Paulo
A Justiça de São Paulo ordenou ao agente fiscal de Rendas Élcio Fiori Henriques, juiz do Tribunal de Impostos e Taxas da Secretaria da Fazenda, que deposite mensalmente todo o montante relativo aos aluguéis dos imóveis que compõem seu patrimônio - 19 salas comerciais e apartamentos de alto padrão que ele adquiriu em apenas 30 meses, de março de 2010 a outubro de 2012, ao preço de R$ 30,75 milhões, em valores de mercado.
A determinação é da juíza Simone Rodrigues Casoretti, da 9.ª Vara da Fazenda Pública da Capital que, no início de maio, já havia decretado o bloqueio de todos os bens de Fiori, sob suspeita do Ministério Público Estadual por lavagem de dinheiro e corrupção. Ele teria enriquecido ilicitamente no período em que ocupou cadeira de juiz titular do TIT, entre 2008 e 2012 - em dezembro passado, assumiu função de assistente fiscal e suplente de juiz do tribunal administrativo.
Estima-se em cerca de R$ 200 mil mensais a quantia global que os imóveis rendem ao juiz do TIT a título de locação. A juíza mandou que Fiori apresente em cinco dias a quitação de condomínio, impostos e demais despesas incidentes sobre os bens, sob pena de multa diária de R$ 100 mil a contar da intimação. A medida é extensiva a duas empresas de Fiori, a JSK Serviços e Investimentos e a KSK Participações.
Perfil. Os investigadores traçam um perfil de Fiori, juiz emblemático, ora apontado como um homem hostil, até "agressivo", com disposição incomum para negócios milionários no mercado imobiliário. Gosta de luxos e aprecia lugares paradisíacos. Outros relatos classificam de "brilhante" seu currículo, bacharel em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Aos 30 anos, desde 2006 ele exerce a carreira de fiscal de Rendas. Com 23 anos passou em 22.º lugar no concurso que disputou com 30 mil candidatos. Na ocasião, a um jornal de concursos públicos, ele deu a receita para ser aprovado: organização e fôlego. "Eu tentei, ao máximo, cortar as minhas atividades, mas não dá para abrir mão de tudo."
Na dissertação de mestrado escreveu sobre "O regime jurídico do gasto tributário no direito brasileiro". Trecho de sua lavra. "Os benefícios fiscais produzem efeitos financeiros similares aos das despesas públicas, mais especificamente as subvenções, na medida em que ambos são instrumentos utilizados para transferir ao particular beneficiado recursos financeiros que a priori pertenceriam ao Estado."
A investigação revela uma outra face de Fiori. "A prepotência do juiz do TIT corresponde à sua audácia e rápida ascensão ao espaço fechado dos milionários, sem que se possa justificar o meteórico enriquecimento."
Afirma ter amigos influentes, na Justiça e na polícia. Também diz ter boas relações na política. Alardeia proximidade com o deputado estadual Bruno Covas (PSDB), secretário do Meio Ambiente do governo Geraldo Alckmin e secretário-geral da sigla.
"Eu o conheço, mas não somos amigos", disse Covas. "Não estudamos juntos. Quantos anos ele tem? Tenho 33, não dava para ter estudado com ele. Quem fez São Francisco com ele foi um funcionário meu."
O tucano narra que, em 2009, exercia o mandato de deputado estadual. Nessa época, Fiori frequentou a Assembleia. O governo enviou ao Legislativo projeto relativo à estrutura e competências dos órgãos de julgamento do TIT. "Nas audiências públicas ele (Fiori) ia lá."
A avaliação dos investigadores é que Fiori agia com volúpia extraordinária para ampliar seu patrimônio sem se preocupar com vestígios. Tanto que, em outra demanda judicial, rechaçou de forma veemente que tivesse sócio. Em ação na 18.ª Vara Cível, movida por uma empresa de investimentos que pleiteia parte dos lucros sobre vendas, o juiz sustentou que ele e suas empresas (JSK e KSK) são "titulares exclusivos dos valores e patrimônio investidos, não necessitam de um sócio que declaradamente não investe nada". Fiori afirma que a empresa que o aciona "era mera prestadora de serviços de gestão e consultoria financeira", que "jamais existiu vínculo societário entre as partes" e que os autores da ação "pretendem locupletar-se às custas do patrimônio e investimento alheio".
Bem-nascido. "Élcio Fiori é um servidor público bem-nascido", afirma seu advogado, Ricardo Sayeg. Segundo Sayeg, Fiori mantém paralelamente "uma atividade que não é incompatível" com a carreira de fiscal, a mesma profissão do pai, Élcio de Abreu Henriques.
Criminalista com ampla experiência em causas sobre lavagem de dinheiro, Sayeg prepara sua estratégia. Ele refuta acusação, de uma servidora da Fazenda, segundo a qual um juiz foi afastado do TIT porque deu "uma mala com R$ 1 milhão" para Fiori. "Esse depoimento é ridículo", avalia Sayeg. "Quem ia levar uma mala com tanto dinheiro dentro do TIT? Isso é delírio persecutório. Ela deu detalhes? A cor da pasta?"

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Repórteres da Rede Globo Nordeste usam iPhone para enviar notícias, do Mobile TIme



Fernando Paiva

O iPhone virou instrumento de trabalho para os repórteres da Rede Globo Nordeste. A empresa adotou um aplicativo chamado publiQ, que serve de interface para envio de notícias da rua para a redação. O app permite a gravação e envio de vídeos, áudios, fotos ou textos direto para o sistema de publicação da TV, onde editores acompanham o conteúdo que chega e escolhem o que pode ser aproveitado para o site do G1 Pernambuco ou para o noticiário televisivo. A solução foi desenvolvida pela brasileira i2 Mobile Solutions e está sendo usada por cerca de 30 repórteres da afiliada da Rede Globo.
"Como atendíamos a empresas de comunicação há alguns anos, percebemos a dificuldade delas na transição para a mobilidade", comenta Luciano Ayres, sócio-diretor da i2. "A proposta é dar mais agilidade à publicação de conteúdo. Agora a redação pode ser alimentada de qualquer lugar", explica o executivo. Os repórteres da Globo Nordeste têm usado o publiQ principalmente para notícias de trânsito, que são aproveitadas no portal G1 Pernambuco.
O app é distribuído para os repórteres através de uma loja corporativa de aplicativos da i2. Ou seja, não está disponível para download na App Store aberta aos consumidores em geral. Porém, a pedido de um novo cliente, será disponibilizada em breve uma versão para que os próprios leitores/telespectadores gerem conteúdo e enviem para a redação. Uma versão para Android também está em desenvolvimento.
O publiQ pode ser integrado a sistemas legados de publicação. A ideia é não gerar qualquer impacto de TI, evitando mudanças que poderiam sofrer resistência por parte dos profissionais.
Expansão
A Rede Globo Nordeste é a primeira cliente, tendo iniciado a utilização há três meses. Mas em breve outra emissora de TV em atividade no Nordeste adotará o publiQ. Há também negociações em curso com um portal de Internet. A projeção de Ayres é ter entre 30 e 40 grandes grupos de comunicação usando a solução até o fim do ano, somando cerca de 3 mil repórteres.
O executivo acredita que na maioria dos casos os jornalistas serão estimulados a usar seus smartphones pessoais, sem a necessidade de o veículo de comunicação adquirir aparelhos corporativos. "Antigamente os funcionários tinham acesso a uma nova tecnologia quando sua empresa a provinha, agora isso se inverteu: a empresa é apresentada à tecnologia pelos seus funcionários", comentou, referindo-se particularmente à mobilidade.