sexta-feira, 14 de setembro de 2012

É natural, por Francisco Daudt, na FSP


O pensamento do filósofo Baruch (abençoado, em hebraico = Benedito = Bento) Spinoza sobre a liberdade poderia ser definido assim: "ela consiste em conhecer os cordéis que nos manipulam". Repare que ele não reconhecia a liberdade como coisa de existência verdadeira, mas poderíamos ampliá-la um pouco se aliviássemos, ao conhecê-los, os puxões dos cordéis.
Outro grande, Schopenhauer (bem lembrado por um leitor), disse que podemos até ter vontades, mas não podemos escolher nossos desejos. Tenho escrito sobre a natureza humana para que saibamos como somos manipulados.
O que me lembrou a portuguesa avó Lucia, de uma amiga querida, que a tudo reagia com o mesmo bordão: "É natural", por mais estapafúrdia que a coisa fosse. "Vó, o padre fugiu com a vizinha!" "É natural, pois..."
Ela se defendia dos sustos da vida com o uso sistemático da naturalização. A naturalização não tem nada a ver com constatar as forças da natureza sobre nós. Ela é o processo da formação do senso comum, talvez o cordel mais forte que a cultura usa para mandar em nós.
Minha mãe quis ter oito filhos (teve sete). Por que tantos? "Porque em 1937 era bonito ter família grande, minhas amigas tinham". Era "natural". Tão natural quanto hoje ter dois. Se você quiser mais, o senso comum vai te patrulhar, "que absurdo, você tá louca?". O feminismo naturalizou a tripla jornada de trabalho para a mulher (ganhar dinheiro; gerenciar a casa, marido e filhos). Nascido em 1948, cresci tendo que cumprir uma linha de montagem: escolaridade, formatura (médico, engenheiro ou advogado), casar, ser provedor e ter filhos. Era natural. Eu me perguntei se queria isto? Claro que não. Tinha medo de ir "contra o natural". É a surda ditadura do senso comum. Hoje ela se estende ao "politicamente correto", um meio de formar rebanhos. A coisa está ficando afrodescendente...
Então este é um aviso: você é manipulado, sua inteligência é posta de lado em favor da obediência ao "que todo mundo faz". Ao mesmo tempo, é sedutora a ideia de que há manipuladores, superiores aos manipulados, e que é bom ser um deles. Mas você já é um manipulador/manipulado, todos o somos.
Um general manda na tropa, mas a mulher manda nele. Manipulação existe. Somos todos seus agentes e pacientes. Se eu for menos ativo e passivo dela, a manipulação diminuirá.
Desconfie do "é natural", que "a vida é assim mesmo". Discuta regras ocultas da ficância, do namoro, do casamento, para ver se você as cumpre por gosto ou por obrigação. Escancare-as!
Atenção com o implícito, com a alusão. As regras do senso comum nunca são faladas abertamente, ou saberíamos discuti-las. A patrulha se dá por punições sutis (suspiros, trombas e gelos). Também valem adjetivos reducionistas, "Isto é fascismo! Você é neoliberal!" (quem os usa já está dominado).
Claro, a patrulha também pode ser explícita, matar e espancar gays, porque eles são excessivamente não "naturais", entende? Mas vir dizer que "a diferença é linda" também é outra tentativa de naturalização que eu não aguento.
fdaudt2@gmail.com
www.franciscodaudt.com.br
Francisco Daudt
Francisco Daudt, psicanalista e médico, é autor de "Onde Foi Que Eu Acertei?", entre outros livros. Escreve às terças, a cada duas semanas, na versão impressa do caderno "Cotidiano".

Hidrovia no Pará deve reduzir em R$ 2 bi custo de frete de grãos do MT


AGUIRRE TALENTO
DE BELÉM
O governo federal decidiu dar o primeiro passo para a construção de uma hidrovia que escoará, pelo território do Pará, a produção de grãos do norte de Mato Grosso.
A obra irá facilitar a chegada das cargas em mar aberto e, segundo estimativas de especialistas, poderá reduzir os custos com fretes em R$ 2 bilhões anuais.
O Estado do Mato Grosso produziu 40 milhões de toneladas de grãos na safra 2011/2012, o equivalente a 25% do montante nacional.
A hidrovia Tapajós-Teles Pires é um plano da década de 1990. Na próxima semana, haverá uma licitação para definir qual empresa fará os estudos de viabilidade e o projeto da obra.
A partir desse material, o governo poderá partir para a obra física, ainda sem definição de custo e de modelo de operação. Só os estudos devem ficar em R$ 14 milhões.
Alex Argozino/Editoria da Arte/Folhapress
A obra vai eliminar obstáculos como rochas e trechos arenosos, tornando navegáveis pouco mais de 1.000 km, partindo do rio Teles Pires (MT) e seguindo pelo rio Tapajós até o porto de Santarém (1.443 km de Belém).
Com isso, a produção de grãos em Mato Grosso, cuja principal rota de escoamento é por rodovia e ferrovia até o porto de Santos (SP), ganhará um novo caminho.
A partir de Santarém é possível chegar ao oceano Atlântico pelo rio Amazonas e abastecer tanto o mercado internacional como os consumidores do Nordeste.
A Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de MT) calcula que o custo de transporte de uma tonelada de soja cairia de R$ 227 para R$ 60 com a hidrovia. Em um ano, o setor economizaria R$ 2 bilhões.
"A hidrovia será um marco para o Centro-Oeste, um modal de transporte barato e que não polui. O rio Tapajós vai estar para o Brasil como o Mississipi está para os Estados Unidos", afirma Seneri Paludo, diretor-executivo da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso).
Segundo a entidade, a hidrovia atenderá principalmente as regiões oeste e médio norte de Mato Grosso, que concentram mais da metade da produção agrícola do Estado.
ENTRAVES
A licitação para os estudos será feita pela Codomar (Companhia Docas do Maranhão). A hidrovia, porém, deve ficar sob gestão da Ahimor (Administração das Hidrovias da Amazônia Oriental)--o que pode ser um entrave à obra.
"Precisaríamos de um aumento no orçamento, porque nossa atual estrutura não tem condições de administrar essa hidrovia", afirma Albertino de Oliveira e Silva, superintendente da Ahimor.

Para a vida toda


De peroba rosa e couro, a nova poltrona de Carlos Motta é feita para durar

16 de fevereiro de 2011 | 13h 00
Natália Mazzoni - O Estado de S. Paulo
Olhe para esta poltrona. Se você conhece Carlos Motta, não vai ter de pensar duas vezes para reconhecer que o trabalho é dele. É fácil identificar o estilo natural do designer e arquiteto. Habituado à vida próximo da natureza, ele usa seu jeito leve de viver para projetar móveis perfeitamente simples.
A poltrona, a Santa Rita, é uma de suas últimas criações e foi pensada para fazer parte do mobiliário do navio de um empresário. De peroba rosa de demolição e com estofado revestido com raspa de couro, pesa exatos 60 quilos e tem 79 cm de altura, 1,04 m de largura e assento de 80 cm. "Conforto foi o ponto de partida da peça", diz Motta. "O resultado estético é apenas uma consequência."
A escolha da peroba rosa é que não foi por acaso. O designer conta que está aperfeiçoando o uso da madeira em seu ateliê. "Estou conseguindo tirar qualidade dessa espécie, que é pouco valorizada para esse tipo de trabalho." O preço da poltrona, que já está disponível, só é fornecido sob consulta. E, antes de desembolsar o que vale, é preciso gostar bastante: Motta garante que a parruda poltrona vai durar uma vida inteira.
3 perguntas para...
Carlos Motta, designer
Fazer poltronas é um desafio para você?
De todas as peças do mobiliário, é a mais difícil de fazer, porque está muito envolvida com o corpo.
O que é imprescindível a uma boa peça?
Ser confortável para mim, que tenho 60 anos, e também para alguém que tenha 24. Além disso, deve ser confortável tanto para uma pessoa alta quanto para uma muito baixa.
Criar essas cadeiras é uma maneira que você encontrou de levar um pouco da natureza que você ama para dentro de casa?
Para mim tudo é uma extenção da natureza. Tomar água, comer, respirar, isso tudo faz parte dela. O que eu faço é apenas isso: continuar esse uso da natureza, tentando agredir da menor forma possível o meio ambiente. Eu acabo agredindo, claro, mas acredito que o impacto que causo seja pequeno.
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