quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Acabou o namoro do governo com a 'república sindical'


O Estado de S.Paulo
Cenário: João Domingos
Pela primeira vez em quase dez anos de administração petista os sindicatos de servidores públicos tiveram de se contentar só com o que o governo quis dar de aumento até 2015. De acordo com informações de interlocutores da presidente da República, Dilma cobrava todos os dias de seus ministros atos que pusessem fim à greve que chegou a ter 350 mil adesões de 30 categorias diferentes, além de formas de enquadrar tanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) quanto a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (Condsef), que juntos comandam cerca de 80% do funcionalismo.
Por inúmeras vezes Dilma disse aos ministros que não aceitava ver a CUT - braço sindical do PT - transformada em cabeça da radicalização da greve. Ela chegou a afirmar que os sindicalistas estavam fazendo "chantagem" e acusou os líderes do movimento de terem "sangue azul". Em outras palavras, os mais bem pagos. Para muitos, Dilma decretou o fim da "república sindical" que reinou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Configurando o fim do namoro do governo do PT com os sindicalistas, a CUT sabia que se não reagisse às ameaças do governo perderia bases para o PSTU e o PSOL. A Condsef, filiada à CUT, chegou a atacar a presidente numa entrevista ao Estado. "Dilma é a maior decepção de todos os tempos. Adotou uma política privatista, neoliberal, de ataque às bases sociais que elegeram seu governo", disse ao Estado Josemilton Costa, dirigente máximo da entidade.
Para ele, na relação com os sindicalistas e com os movimentos sociais, Dilma e Lula estão a uma distância de centenas de anos-luz. "O presidente Lula reconheceu que foi eleito pelos movimentos sociais e não pela elite. Dialogava com esses setores. A presidente Dilma, ao contrário, rejeita os movimentos sociais. Ela acha que foi eleita pelo Grupo Gerdau, pelo empresário Abílio Diniz, pelos banqueiros", afirmou Josemilton. Dilma terá o troco, aposta ele. "Na próxima eleição Dilma terá uma surpresa muito forte com o resultado das urnas."
De origem sindical, Lula não só conhecia pessoalmente a maioria dos dirigentes sindicais, como chamava para si boa parte das demandas dos funcionários públicos e dos trabalhadores urbanos e rurais. Lula costumava convidar alguns desses dirigentes para jogar futebol da Granja do Torto, com eles participava de churrascos e conversava sobre o fim dos anos 1970, quando juntos comandaram grandes greves no ABC.
Dilma, ao contrário, nunca teve convivência com os sindicalistas. Originária do movimento guerrilheiro urbano, sua atividade política legal começou no PDT, partido que a princípio foi rejeitado pela elite sindical, parte do clero e intelectuais que formaram o PT. A presidente da República só veio a se filiar ao PT em 2001, quando Lula já tinha participado de três eleições para a Presidência - e perdido todas elas. Veio a vencer as de 2002 e de 2006.
A presidente da República tem ainda uma forma diferente de conviver com os movimentos sociais. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) está orientado a passar uma mensagem de Dilma: ela não autorizará mais assentamentos em que a comunidade viva como favelados. "É um absurdo que os assentamentos sejam incluídos entre os setores mais pobres do campo, quando poderiam ter infraestrutura e suporte técnico para plantar e ter lucros", recomendou a presidente.

Entrevista: Gilberto Meirelles - Mercado de reciclados


Entrevista: Gilberto Meirelles - Mercado de reciclados


Apesar de leis que exigem prioridade ao agregado reciclado em obras públicas e privadas, falta de estímulo ao consumo e de regulamentação nos preços inibem desenvolvimento do mercado


Por Luis Ricardo Bérgamo

Marcelo Scandaroli
"Uma recicladora é viável apenas se tiver matéria-prima de excelente qualidade. Para haver coerência, o agregado reciclado deveria ser mais caro que o natural, o que forçaria a redução do valor da destinação"

Segundo levantamento da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon), são produzidos 100 milhões de toneladas de entulho de construção por ano. Estima-se que 5% dessa soma é entulho não mapeado. Dessa quantidade, em avaliação otimista, menos de 10% é reciclada em usinas móveis ou fixas.
Obras de grande porte em geral contratam serviços de reciclagem no local e, assim, eliminam gastos com transporte. Já em obras menores costuma compensar mais separar os resíduos por tipo e enviar o material para a empresa recicladora. Na entrevista a seguir, o presidente da Abrecon Gilberto Meirelles traça um cenário do mercado de reciclagem e aponta as principais dificuldades para a ampliação dessa prática nas obras.
Qual o panorama atual do mercado de reciclagem de Resíduos da Construção Civil (RCC)?
Os Sindicatos da Indústria da Construção (Sinduscons) e os governos atuam de forma estratégica, porém perigosa para o setor que a Abrecon representa, pois fomentam a implementação de novas usinas. Para as construtoras, isso significa preços menores, pois há mais locais para destinar os resíduos; para as prefeituras, significa o atendimento à resolução 307/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) e ao Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Porém, não se vê consumo desse material e nem perspectiva de aumento de preço do agregado reciclado, o que levaria ao equilíbrio financeiro em médio prazo. Afinal, uma recicladora é viável apenas se tiver matéria-prima de excelente qualidade e com predominância de concreto. Então, para haver coerência, o agregado reciclado deveria ser mais caro que o natural, o que forçaria a redução do valor da destinação.
Nesse contexto, qual o papel das construtoras?
Se elas querem reduzir o preço pago pela destinação do entulho, deveriam se esforçar mais para consumir [o agregado reciclado]. Da mesma forma, as prefeituras, que são responsáveis pela fiscalização da destinação do entulho, também deveriam consumir.
O que incentivaria o aumento do consumo de agregados reciclados?
O Estado de São Paulo tem uma capacidade instalada para reciclagem de Resíduos da Construção Civil (RCC) da ordem de 800 mil t mensais. Entretanto, são comercializadas cerca de 200 mil t por mês. Desse levantamento, realizado pela Abrecon no início de 2012, concluímos que a iniciativa privada está preparada para atender grande parte da demanda por agregado reciclado. Bastaria haver a exigência de consumo de agregado reciclado na proporção de 30% em todas as obras, públicas e privadas, que a equação estaria resolvida para o Brasil. Com uma ponta compradora forte, o entulho passa a ter valor e não mais seria depositado de forma clandestina.
Se existem leis prevendo preferência no uso de agregado reciclado, por que as construtoras não estão comprando maiores volumes?
A distância de leis e decretos para a realidade é enorme. Na prática, a legislação não é devidamente regulamentada ou fiscalizada. É comum ouvir de mestres de obras ou engenheiros a seguinte frase: "usar agregado reciclado dá trabalho". É essencial entender o ciclo da construção civil e seus impactos quando olhamos os itens areia, pedrisco, pedra, rachão e bica corrida, desde sua origem nos portos de areia e pedreiras até sua destinação final, pois soma-se à redução do custo das obras o ganho de minimizar passivos ambientais futuros.
Quais as lacunas das normas que regulamentam o setor, como a resolução do Conama?
As leis que existem podem ser aprimoradas. Por ser um setor novo, existem muitas lacunas e, a meu ver, o foco deveria estar em fazer acontecer o que existe hoje e, paralelamente, aprimorar a legislação. A Resolução Conama foi um marco importante, funcionou como uma cenoura que se coloca para que os empresários e o poder público nas esferas estaduais e municipais corram atrás. Mas o mercado não tinha esse apetite na época. Sete anos depois, após praticamente nada ter sido feito, o PNRS trouxe um novo sabor, tornando o setor um pouco mais apetitoso.
Qual foi o diferencial do PNRS?
Certamente foram os prazos claros para a realização dos Planos Integrados de Gerenciamento de Resíduos em 2012 por parte dos municípios, além da meta de que, até 2014, todo resíduo passível de ser reciclado não seja mais destinado a aterro para deposição final. O que assusta é a qualidade desses planos e a dúvida sobre quem está capacitado para avaliar sua exequibilidade, além da questão da origem e destino dos recursos.
Como o poder público pode interferir no setor empresarial para estimular a reciclagem e reutilização de materiais?
Tanto o Governo Federal quando os Estaduais e Municipais poderiam incentivar a cadeia da reciclagem na construção civil obrigando seus contratantes a utilizarem o agregado reciclado, por meio de editais e licitações. De acordo com a Resolução Conama 307/2002, todo resíduo inerte deve, obrigatoriamente, ser enviado a uma usina de reciclagem de resíduos da construção ou aterro de inertes.
USINAS DE RECICLAGEM DE RCC NO BRASIL

Fonte: Abrecon: 23/03/2012


Da caçamba da obra à nova utilização, qual o caminho do resíduo da construção?
Tudo se inicia na extração mineral, pois os agregados reciclados são minérios. Uma vez aplicados nas obras, em algum momento futuro servirão de matéria-prima para reciclagem. Entre o gerador (construtoras) e o destino final (aterro), temos as figuras do transportador e do reciclador. Para que o produto volte à construção civil, precisamos identificar transportadores idôneos e que cumpram as leis, fazendo com que o material chegue às recicladoras e desta forma feche a cadeia de valor do produto.
Quais os pontos críticos desse processo?
Transformar "lixo" em produto com valor é tarefa dificílima e que exige conhecimento profundo da atividade. Poucas empresas têm essa expertise. A triagem é o ponto chefe do processo e está presente em todas as fases: separação na geração, gestão da coleta, gestão no aterro e na área de reciclagem.
Quais erros comuns as construtoras cometem na destinação de resíduos?
Contratam planos de gerenciamento de resíduos, porém não os monitoram de forma eficaz. Assim, cumprem exigências burocráticas, mas não se preocupam em rastrear os resíduos que geram. Por outro lado, o poder público, que deveria fiscalizar a destinação ilegal, pouco consegue fazer. Tal deficiência fez surgir no mercado uma nova modalidade de serviços, que denomino de gestão operacional de resíduos. Ou seja, empresas gerenciadoras que garantem a execução desses planos de gerenciamento.
Qual a previsão da Abrecon para crescimento das empresas recicladoras?
Estimamos que até 2014 sejam mais de 600 usinas de médio porte, com produção de 5 mil t/mês, o que significa quadruplicar a produção atual. Para viabilizar uma recicladora sem subsídios, temos de observar o volume gerado pelo município e o desenvolvimento econômico da região. Depois, analisar a qualidade do resíduo que chega à recicladora. Com esses dois fatores entendidos - quantidade e qualidade - podemos saber se a usina é viável ou não. Cidades abaixo de 100 mil habitantes terão muita dificuldade em se estabelecer com usinas privadas. Acima de 300 mil habitantes, é viável uma usina se houver fiscalização, se a qualidade do entulho for adequada e se houver consumo constante.
É possível estimar valores para o agregado reciclado?
A conta é simples. Para que uma usina de porte médio, na faixa de 4.500 t/mês, tenha sustentabilidade econômica, é preciso praticar um valor médio de R$ 40,00 por tonelada. A experiência de mercado demonstra que 40% desse valor deve ser a receita pelo recebimento do resíduo e os 60% restantes vêm da venda de agregado reciclado. Pensar em uma usina de reciclagem de RCC sem o mix de receitas é uma aventura empresarial, salvo se garantidos materiais em quantidade e qualidade satisfatórias e sua compra a R$ 40,00 t na usina.
Como o conceito de logística reversa pode facilitar o retorno dos resíduos às obras na forma de agregados?
Temos diversos exemplos de empresas que contrataram serviços de reciclagem, levando entulho para a unidade de beneficiamento e, no mesmo caminhão, transportando de volta para a obra o produto reciclado. Com isso, é possível reduzir 3.500 t/ano de CO² em uma usina média e ainda contribuir para a mobilidade urbana ao diminuir o número de caminhões e a distância percorrida por eles.
É possível dizer que a logística é o que mais encarece o processo de reciclagem? Os postos de reciclagem são afastados dos centros das cidades?
Não necessariamente. Além dos pontos de descarte de entulho, oficializados pela prefeitura, há empreendimentos chamados Áreas de Transbordo e Triagem (ATTs), onde geralmente os resíduos são selecionados e destinados aos recicladores, tais como usinas de reciclagem de entulho e cooperativas de coleta seletiva. Porém, além de uma estrutura inteligente de coleta, a atividade deve ser comparada em termos de distância com pedreiras e portos de areia que, estes sim, estão cada vez mais distantes dos centros urbanos. Nossa vantagem competitiva quanto à localização é enorme e a dificuldade maior está em identificar áreas licenciadas ou licenciáveis.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Brasil entra pela primeira vez no ranking dos 50 países mais competitivos


Beatriz Bulla, da Agência Estado
SÃO PAULO - Pela primeira vez, o Brasil entrou para o ranking dos 50 países mais competitivos no Relatório Global de Competitividade, divulgado nesta quarta-feira pelo Fórum Econômico Mundial. Para chegar à 48ª posição desta edição do ranking, o País subiu cinco lugares desde o ano passado.
No topo do ranking, pelo quarto ano consecutivo, está a Suíça. Cingapura ficou em segundo lugar, seguido por Finlândia, Suécia, Holanda e Alemanha. Já os Estados Unidos caíram da quinta posição que ocupavam em 2011 para o sétimo lugar. Em oitavo, nono e décimo lugares ficaram Reino Unido, Hong Kong e Japão, respectivamente.
De acordo com o responsável pela análise dos dados brasileiros, Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, o ranking foi afetado pela incerteza crescente por conta da crise na Europa, da vulnerabilidade norte-americana e da desaceleração da China. A Fundação coordena a coleta e a análise de dados brasileiros.
Avaliação brasileira
A melhor avaliação sobre a macroeconomia nacional ajudou a puxar o País para a lista dos 50 mais competitivos. Este ano, o Brasil subiu 53 posições no critério "ambiente macroeconômico", saindo da 115ª colocação em 2011 para a 62ª. O salto, segundo a Fundação Dom Cabral, pode ser consequência da exclusão do indicador "spread bancário" do estudo deste ano. O indicador costuma ser "problemático" para o País, de acordo com a fundação, mas foi retirado da análise de 2012 por ser considerado ineficiente para comparar o grau de eficiência bancária nos diversos países.
Arruda explica que as medidas tomadas pelo governo Dilma Rousseff de redução da taxa básica de juros e consequente na queda dos juros bancários teriam impacto positivo para a colocação do País no ranking, mas não conseguiriam fazer com que o "ambiente macroeconômico" subisse tantas posições.
Além da macroeconomia, o "uso de tecnologias de informação e comunicação" também ajudou a tornar o País mais competitivo, de acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial. O indicador sobre "sofisticação dos negócios", apesar de ter caído dois pontos de 2011 para 2012, ainda é positivo - o Brasil ficou em 33º lugar.
Do outro lado, os níveis de "confiança nos políticos" e "eficiência das políticas de governo" colocam o País em 121ª e 111ª posição, respectivamente. O Brasil também fica mal posicionado na avaliação da "qualidade da infraestrutura de transportes" (79ª posição), da "qualidade da educação" (116ª posição) e do "volume de taxação como limitador ao trabalho e investimentos" (144ª posição). No pilar "inovação", o Brasil caiu da 44ª para 49ª posição. O resultado, avalia Arruda, está ligado à falta de mão de obra qualificada.
O relatório é feito com dados estatísticos nacionais e internacionais, além de pesquisa de opinião feita com executivos. Em 2012, o estudo analisou a competitividade de 144 países.