O Estado de S.Paulo
Cenário: João Domingos
Pela primeira vez em quase dez anos de administração petista os sindicatos de servidores públicos tiveram de se contentar só com o que o governo quis dar de aumento até 2015. De acordo com informações de interlocutores da presidente da República, Dilma cobrava todos os dias de seus ministros atos que pusessem fim à greve que chegou a ter 350 mil adesões de 30 categorias diferentes, além de formas de enquadrar tanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) quanto a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (Condsef), que juntos comandam cerca de 80% do funcionalismo.
Por inúmeras vezes Dilma disse aos ministros que não aceitava ver a CUT - braço sindical do PT - transformada em cabeça da radicalização da greve. Ela chegou a afirmar que os sindicalistas estavam fazendo "chantagem" e acusou os líderes do movimento de terem "sangue azul". Em outras palavras, os mais bem pagos. Para muitos, Dilma decretou o fim da "república sindical" que reinou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Configurando o fim do namoro do governo do PT com os sindicalistas, a CUT sabia que se não reagisse às ameaças do governo perderia bases para o PSTU e o PSOL. A Condsef, filiada à CUT, chegou a atacar a presidente numa entrevista ao Estado. "Dilma é a maior decepção de todos os tempos. Adotou uma política privatista, neoliberal, de ataque às bases sociais que elegeram seu governo", disse ao Estado Josemilton Costa, dirigente máximo da entidade.
Para ele, na relação com os sindicalistas e com os movimentos sociais, Dilma e Lula estão a uma distância de centenas de anos-luz. "O presidente Lula reconheceu que foi eleito pelos movimentos sociais e não pela elite. Dialogava com esses setores. A presidente Dilma, ao contrário, rejeita os movimentos sociais. Ela acha que foi eleita pelo Grupo Gerdau, pelo empresário Abílio Diniz, pelos banqueiros", afirmou Josemilton. Dilma terá o troco, aposta ele. "Na próxima eleição Dilma terá uma surpresa muito forte com o resultado das urnas."
De origem sindical, Lula não só conhecia pessoalmente a maioria dos dirigentes sindicais, como chamava para si boa parte das demandas dos funcionários públicos e dos trabalhadores urbanos e rurais. Lula costumava convidar alguns desses dirigentes para jogar futebol da Granja do Torto, com eles participava de churrascos e conversava sobre o fim dos anos 1970, quando juntos comandaram grandes greves no ABC.
Dilma, ao contrário, nunca teve convivência com os sindicalistas. Originária do movimento guerrilheiro urbano, sua atividade política legal começou no PDT, partido que a princípio foi rejeitado pela elite sindical, parte do clero e intelectuais que formaram o PT. A presidente da República só veio a se filiar ao PT em 2001, quando Lula já tinha participado de três eleições para a Presidência - e perdido todas elas. Veio a vencer as de 2002 e de 2006.
A presidente da República tem ainda uma forma diferente de conviver com os movimentos sociais. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) está orientado a passar uma mensagem de Dilma: ela não autorizará mais assentamentos em que a comunidade viva como favelados. "É um absurdo que os assentamentos sejam incluídos entre os setores mais pobres do campo, quando poderiam ter infraestrutura e suporte técnico para plantar e ter lucros", recomendou a presidente.
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