quarta-feira, 11 de abril de 2012

Alvo errado


CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Em sua viagem aos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff insistiu em que o governo dos Estados Unidos passasse a praticar políticas monetárias responsáveis e parasse de tomar decisões unilaterais que prejudicam o resto do mundo, especialmente os vizinhos mais próximos.
A crítica vem sendo repetida há alguns meses. Dilma se queixa de que os países de economia avançada, sobretudo os Estados Unidos e os da área do euro, emitem moeda aos trilhões e que parte dessa dinheirama provoca tsunamis monetários nos países emergentes, entre os quais o Brasil. Ou seja, a acusação é de que a enorme liquidez internacional causada por essas grandes emissões provoca afluxo de moeda estrangeira nos emergentes, o que, por sua vez, leva, pela lei da oferta e da procura de moeda, à baixa da cotação do dólar (valorização da moeda nacional) - fator que tira competitividade do setor produtivo brasileiro.
Há nessa atitude da presidente Dilma pelo menos três equívocos. O primeiro consiste em dirigir essas críticas a alvos errados: os governos dos países ricos. A política monetária (emissão de moeda) é de responsabilidade dos bancos centrais, não dos governos.
Não se pode exigir que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ou a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, respondam pelo efeito denunciado por Dilma. Seria como cobrar do governo americano sentenças eventualmente equivocadas pronunciadas pelo Judiciário dos Estados Unidos sobre imigração ou outros assuntos que direta ou indiretamente atingissem brasileiros.
Isto é, ainda que a influência dos chefes de governo seja forte, os bancos centrais são tão autônomos quanto o Poder Judiciário nas mais importantes democracias. Se alguém ou uma instituição deve ser responsabilizada, mais apropriado seria cobrar isso dos bancos centrais.
Em segundo lugar, não dá para exigir coordenação global de políticas monetárias. Presidentes dos grandes bancos centrais mal conseguem apagar os incêndios que tomaram suas economias. Não podem cuidar dos efeitos colaterais que extravasam para outros paralelos do mapa-múndi.
O próprio presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, já deu sua resposta técnica ao ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, que vinha se queixando, com outros argumentos (a tal guerra cambial), do mesmo efeito denunciado pela presidente Dilma. Bernanke avisou que a política monetária expansionista do Fed tem como objetivo neutralizar a crise e que, do ponto de vista do interesse dos emergentes, é melhor enfrentar um afluxo de capitais num mercado global com crise controlada do que enfrentar uma crise global mesmo sem afluxo de capitais.
A tentativa de levar queixas desse tipo ao Grupo dos 20 (G-20), cujos chefes de governo se reúnem novamente nos dias 18 e 19 de junho, no México, tem pouca probabilidade de ser acolhida.
Isso sugere que tanto a teoria do tsunami monetário como a da guerra cambial parecem usadas mais como justificativas para políticas tomadas internamente do que como molas propulsoras de mudanças na administração das grandes economias.

Álcool pode deixar cérebro mais 'ligado' para lidar com testes, diz pesquisa



Psicólogos americanos avaliaram desempenho de 40 homens para chegar à conclusão

11 de abril de 2012 | 6h 42
Uma pesquisa realizada por psicólogos da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, afirma que beber álcool em quantidades moderadas pode deixar o cérebro mais "afiado" para lidar com atividades que requerem criatividade.
Na pesquisa, alcoolizados responderam às perguntas mais rapidamente - Leonardo Soares/AE
Leonardo Soares/AE
Na pesquisa, alcoolizados responderam às perguntas mais rapidamente
O estudo foi feito com 40 homens de idades entre 21 e 30 anos recrutados de forma voluntária através do site Craigslist. Metade deles foram alcoolizados até atingir concentração de álcool no sangue de 0,075, que é acima do permitido para motoristas na maioria dos Estados americanos. Os demais continuaram sóbrios durante o estudo.
Em seguida, todos os 40 participantes foram submetidos a testes de Associações Remotas de Mednick (RAT, na sigla em inglês), que é uma forma simples e rápida usada por psicólogos para avaliar a solução de problemas criativos.
Os cientistas apresentam três palavras ao entrevistado - por exemplo, "mate", "cadeira" e "bule". O objetivo é encontrar uma palavra comum que possa ser associada a cada um destes termos, como a palavra "chá" (formando a palavra composta "chá-mate" e as expressões "chá de cadeira" e "bule de chá").
No caso da pesquisa feita pela universidade de Illinois, os psicólogos ainda pediram para que cada entrevistado explicasse como chegou à resposta correta - se foi através de algum método de associação ou se foi por um mero "lampejo espontâneo".
Os participantes que estavam alcoolizados conseguiram acertar mais vezes as respostas, do que os sóbrios. O índice de acerto entre as pessoas que haviam bebido era de 58%, em comparação com 42% dos que não tinham ingerido álcool.
Além disso, eles apresentaram respostas de forma mais rápida (12s para os alcoolizados, em comparação com 15s dos sóbrios) e com maior incidência de "lampejos espontâneos". Isso sugere que o álcool pode, em determinados casos, contribuir para que as pessoas encontrem respostas mais rápidas e de forma mais criativa.
O estudo feito pelos pesquisadores Andrew Jarosz, Gregory Colflesh e Jennifer Wiley foi publicado na edição de março de uma revista científica. Os autores do artigo dizem que o resultado é compatível com outros estudos, que sugerem que sonecas tiradas imediatamente antes de tarefas difíceis podem melhorar o desempenho do cérebro na busca por soluções criativas.
Outra pesquisa afirma que um grau menor de concentração também tem mesmo efeito no cérebro. Para os pesquisadores de Illinois, um grau moderado de alcoolização pode contribuir para "desconcentrar" o indivíduo, facilitando soluções criativas.
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Civita será convocado para CPI Cachoeira



Coluna Econômica - 11/04/2012

No final da tarde de ontem, o blogueiro Ricardo Noblat informou que foi aprovada a CPI Mista Câmara-Senado sobre o caso Carlinhos Cachoeira. Um dos primeiros convocados será o dono da Editora Abril, Roberto Civita.
O episódio, em si, deverá provocar mudanças substantivas no modo de fazer jornalismo. Mais do que uma ameaça à liberdade de imprensa, deverá fortalecê-la, na medida em que viabilizará a criação de órgãos de regulação – como o Conar, o conselho de auto-regulação do mercado publicitário.
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A aventura de Roberto Civita é imensamente mais grave que a de Rupert Murdoch – o magnata australiano que acabou com um jornal centenário na Inglaterra, por abusos contra direitos individuais. O jornal de Murdoch associou-se a setores da polícia para obter informações sigilosas de inquéritos e promover escutas contra celebridades.
Coube a um jornal concorrente, The Guardian, denunciar a trama. Como consequência, o jornal de Murdoch sofreu um enorme boicote de anunciantes e uma série de processos que culminaram na prisão de alguns dirigentes.
Por outro lado, o governo inglês promoveu mudanças significativas na regulação da mídia, por considerar que o órgão regulador (controlado pelos próprios veículos) não cumpriu seu papel.
Os tabloides ingleses já foram os mais execráveis periódicos de qualquer economia desenvolvida. Sem limites, foram exorbitando até bater nos limites legais. Daqui para a frente, certamente haverá um enorme avanço na qualidade da imprensa britânica.
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No caso de Civita, a parceria não foi com setores da polícia, mas com o próprio crime organizado, a organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. O bicheiro ajudou a eleger o senador Demóstenes Torres. A revista Veja incumbiu-se de transformá-lo em político influente, através de uma série de matérias enaltecendo-o. Com o poder conferido pela revista, Demóstenes pressionava agências reguladoras, setores do governo, para medidas que beneficiassem Cachoeira.
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Não apenas isso. Em um dos trechos da Operação Monte Carlos, Cachoeira é flagrado falando da importância de dispor de jornalistas a seu serviço e anunciando, para breve, uma enorme reportagem sobre educação.
Em outro trecho, aparece acertando com o Secretário de Educação de Goiás um projeto de construção de escolas no padrão do modelo chinês. Pouco tempos depois, Veja publica uma matéria de capa enaltecendo justamente o modelo chinês e o modelo de construção de escolas.
Pode ter sido uma mera coincidência, pode ser uma parceria em um setor – a educação pública – em que tanto Cachoeira quanto Roberto Civita vem investindo. A CPI esclarecerá.
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Mas o trabalho de Civita, através da Veja, não ficou nisso. Quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Satiagraha, Veja publicou um conjunto de capas inverossímeis, falsas, em defesa do banqueiro Daniel Dantas. Usou dossiês falsos para atacar Ministro do STJ que votou contra os interesses de Dantas.
Os métodos de Civita chegaram ao auge na reportagem sobre o falso grampo – que teria gravado conversa entre Demóstenes e o presidente do STF Gilmar Mendes – e no dossiê falso sobre contas de autoridades no exterior.