CELSO MING - O Estado de S.Paulo
Em sua viagem aos Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff insistiu em que o governo dos Estados Unidos passasse a praticar políticas monetárias responsáveis e parasse de tomar decisões unilaterais que prejudicam o resto do mundo, especialmente os vizinhos mais próximos.
A crítica vem sendo repetida há alguns meses. Dilma se queixa de que os países de economia avançada, sobretudo os Estados Unidos e os da área do euro, emitem moeda aos trilhões e que parte dessa dinheirama provoca tsunamis monetários nos países emergentes, entre os quais o Brasil. Ou seja, a acusação é de que a enorme liquidez internacional causada por essas grandes emissões provoca afluxo de moeda estrangeira nos emergentes, o que, por sua vez, leva, pela lei da oferta e da procura de moeda, à baixa da cotação do dólar (valorização da moeda nacional) - fator que tira competitividade do setor produtivo brasileiro.
Há nessa atitude da presidente Dilma pelo menos três equívocos. O primeiro consiste em dirigir essas críticas a alvos errados: os governos dos países ricos. A política monetária (emissão de moeda) é de responsabilidade dos bancos centrais, não dos governos.
Não se pode exigir que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ou a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, respondam pelo efeito denunciado por Dilma. Seria como cobrar do governo americano sentenças eventualmente equivocadas pronunciadas pelo Judiciário dos Estados Unidos sobre imigração ou outros assuntos que direta ou indiretamente atingissem brasileiros.
Isto é, ainda que a influência dos chefes de governo seja forte, os bancos centrais são tão autônomos quanto o Poder Judiciário nas mais importantes democracias. Se alguém ou uma instituição deve ser responsabilizada, mais apropriado seria cobrar isso dos bancos centrais.
Em segundo lugar, não dá para exigir coordenação global de políticas monetárias. Presidentes dos grandes bancos centrais mal conseguem apagar os incêndios que tomaram suas economias. Não podem cuidar dos efeitos colaterais que extravasam para outros paralelos do mapa-múndi.
O próprio presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Ben Bernanke, já deu sua resposta técnica ao ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, que vinha se queixando, com outros argumentos (a tal guerra cambial), do mesmo efeito denunciado pela presidente Dilma. Bernanke avisou que a política monetária expansionista do Fed tem como objetivo neutralizar a crise e que, do ponto de vista do interesse dos emergentes, é melhor enfrentar um afluxo de capitais num mercado global com crise controlada do que enfrentar uma crise global mesmo sem afluxo de capitais.
A tentativa de levar queixas desse tipo ao Grupo dos 20 (G-20), cujos chefes de governo se reúnem novamente nos dias 18 e 19 de junho, no México, tem pouca probabilidade de ser acolhida.
Isso sugere que tanto a teoria do tsunami monetário como a da guerra cambial parecem usadas mais como justificativas para políticas tomadas internamente do que como molas propulsoras de mudanças na administração das grandes economias.
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