segunda-feira, 2 de abril de 2012

É hora de economizar na luz



Investimentos em eficiência energética estão ganhando mais atenção nos Estados Unidos, do site Opinião & Notícia

31/03/2012 | Enviar | Imprimir | Comentários: nenhum | A A A
Poupar energia é uma virtude. É também um negócio que atrai cada vez mais o interesse dos investidores. O caso da Oklahoma Gas & Electric ajuda a explicar porquê. Em 2009, quando o boom do gás de xisto estava começando nos Estados Unidos e o Congresso estava planejando um sistema de controle da poluição que teria impactado o setor carvoeiro, a empresa se viu em um dilema. Ela é necessária para atender à demanda crescente de uma população crescente, mas temia despejar US$ 1 bilhão em uma nova usina com um clima tão incerto. Então, ela adiou a decisão até 2020 e decidiu apostar na conservação de energia para preencher a lacuna.
Os resultados têm sido impressionantes. Até o final deste ano quase todos os lares em Oklahoma terão sido equipados com um medidor inteligente que se comunica com a empresa. Os medidores inteligentes fornecem aos consumidores mais informações sobre o uso e permitem que as empresas experimentem com preços dinâmicos, isto é, eles podem tornar a energia mais cara nos horários de pico, para que as pessoas a usem menos. Isso fez de Oklahoma um improvável líder no crescente negócio da eficiência energética.
Alguns ambientalistas têm sustentado que a eficiência energética é um “recurso” que deve ser usado como uma alternativa aos hidrocarbonetos, à energia nuclear e às energias renováveis. Mas a eficiência não é um combustível. É um meio de reduzir ou suavizar o consumo de energia. Seu apelo, porém, é óbvio e livre de polêmicas.
De acordo com um estudo de 2009 realizado pela McKinsey, uma empresa de consultoria, um esforço para implementar medidas de eficiência energética poderia reduzir a demanda dos Estados Unidos em 25%, poupando cerca de US$ 1,2 trilhão até 2020. A redução anual de emissões de gases de efeito estufa seria aproximadamente equivalente à retirada de todos os carros das ruas dos Estados Unidos. Mas isso não vai acontecer, pois custaria mais de US$ 520 bilhões, afirma a McKinsey. Seria necessária a instalação de medidores inteligentes e outros equipamentos em mais de 100 milhões de edifícios.
No entanto, qualquer economia é válida. Então, conseguir apenas parte dessa economia com regimes como os de Oklahoma não ajuda. O governo federal também tem feito sua parte. O pacote de estímulos de 2009 incluiu cerca de US$ 20 bilhões para projetos de eficiência energética, incluindo subsídios aos estados, assistência e esquemas para reduzir o consumo em prédios federais.
Os investidores perceberam. Em 2011, de acordo com uma revisão anual da PwC, uma empresa de consultoria, houve 82 fusões, aquisições e outros negócios no ramo de eficiência energética em todo o mundo, no valor de US$ 10 bilhões, em comparação com US$ 3,7 bilhões em 2010. A América do Norte sozinha foi responsável por 42 negócios no valor de cerca de US$ 3 bilhões.
Michael Butler, o chefe da Cascadia Capital, um banco de investimento sediado em Seattle, especializado em indústrias sustentáveis, diz que um motivo pelo qual os investidores são atraídos para o setor é que ele faz pouco uso de ativos físicos caros (a maioria dos produtos vendidos pelas empresas de eficiência energética têm um componente de software significativo). A indústria também não está preocupada com as decisões do governo sobre subsídios ou energias renováveis, porque é improvável que barreiras sejam erguidas contra a economia energética. Embora famílias possam ser lentas na absorção, as empresas podem rapidamente trabalhar para encontrar maneiras de obter seu dinheiro de volta a partir de investimentos em eficiência energética. No entanto, pode ser difícil colher essas economias sem possuir uma casa ou uma fábrica por algum tempo.
Como o exemplo de Oklahoma sugere, o momento da eficiência energética tem muito a ver com uma estagnação em outras áreas. Esta semana, a Agência de Proteção Ambiental emitiu novas regras de emissões de carbono que tornam insustentável a construção de novas centrais eléctricas a carvão. O petróleo é caro e politicamente incômodo. E a economia de energia eólica e solar tem altos e baixos. Brian Carey, que lidera o grupo de tecnologia limpa da PwC, adverte que ainda há algumas restrições no setor da eficiência. Ele, por exemplo, gostaria de ver mais dados dos serviços públicos sobre como os consumidores estão recebendo tecnologias como medidores inteligentes. Mas, pelo menos por enquanto, economizar energia é um negócio que deve crescer

quinta-feira, 29 de março de 2012

Favela vai virar estação da CPTM


Favela vai virar estação da CPTM

CAIO DO VALLE
A região central de São Paulo vai ganhar uma nova estação de trem. Até 2015, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) planeja inaugurar uma parada no terreno hoje ocupado pela Favela do Moinho, em Campos Elísios. Segundo o presidente da companhia, Mário Bandeira, três linhas atenderão o local: a 7-Rubi (Jundiaí-Luz), a 8-Diamante (Itapevi-Júlio Prestes) e o Expresso Leste (que atualmente vai de Guaianazes à Luz).
“Estamos com o projeto funcional em curso e esperamos, no segundo semestre, contratar o básico e o executivo”, disse o dirigente na semana passada. O nome da estação será Bom Retiro. Ela atenderá, conforme a estimativa da CPTM, cerca de 30 mil passageiros por dia. A elaboração do projeto funcional custará R$ 140 mil. De acordo com Bandeira, as obras devem começar no fim de 2013.
O problema é que boa parte das pessoas que vivem na favela ainda não têm opções de moradia fora dali. A Secretaria Municipal de Habitação, responsável pelo remanejamento, informou ontem que, desde janeiro, 815 famílias da comunidade cadastradas pela equipe social da pasta recebem ajuda para pagar aluguel. Além disso, todas receberão moradia definitiva em conjuntos que serão construídos em áreas vizinhas ao local. A Prefeitura, porém, não informou quais são elas.
As 407 famílias diretamente afetadas pelo incêndio que, em dezembro, consumiu o prédio abandonado do Moinho Central, matando duas pessoas, teriam optado pelas unidades habitacionais que já estão em construção na Vila dos Remédios, na zona oeste. Elas representam cerca de metade dos moradores cadastrados.
Entretanto, a aposentada Neide Aparecida Campos, de 61 anos, que mora na favela, reclama da falta de informações para quem ficou. “Estamos sem saber nada. De uns tempos para cá, a Prefeitura sumiu. Não sabemos quando, exatamente, teremos que sair.”
A Prefeitura informou quando os conjuntos habitacionais para as famílias serão entregues. O JT visitou o local ontem e viu muitas pessoas vivendo sob o Viaduto Engenheiro Orlando Murgel, ao lado da comunidade, em chão de terra batida. O carroceiro João Miguel da Silva, de 55 anos, era uma delas. “Dizem que vão dar apartamentos. Estamos esperando.”
Várias crianças e idosos arriscavam-se atravessando a linha férrea – com intenso fluxo de trens – que passa sob a estrutura. Segundo a Prefeitura, a área da favela é de 30,1 mil metros quadrados.
Nos projetos da gestão Gilberto Kassab (PSD), pela região da comunidade passarão uma avenida e um parque, e as linhas de trem serão enterradas. Trata-se da Operação Urbana Lapa-Brás, que não tem um prazo para sair do papel.
Apesar disso, o presidente da CPTM disse que a Estação Bom Retiro já será construída prevendo a mudança. Enquanto a estação for na superfície, o mezanino ficará embaixo da parada. Depois, atenderá as linhas subterrâneas.

O papel das prefeituras na disseminação de ideias



Coluna Econômica - 29/03/2012
O grande desafio brasileiro, nos anos 90, era a ausência de redes sociais, estruturas nacionais que pudessem ser articuladas para a implantação de grandes políticas públicas. Alguns anos antes o poder havia sido devolvido à sociedade civil, só que não havia sociedade civil de âmbito nacional, com exceção de alguns clubes de serviços e de algumas organizações empresariais e religiosas.
Foi uma década fervilhante em ideias, mas que sempre esbarravam nessa ausência de redes. Os institutos de pesquisa poderiam pensar em inovações tecnológicas incrementais para pequenas empresas. Mas quem se incumbiria da sua disseminação?
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Aos poucos várias redes foram se formando. O Sebrae logrou montar uma rede nacional, com variações em cada estado da União. As próprias confederações empresariais e sindicais lograram alguma abrangência.  Empresas pública, como o Banco do Brasil, foram incumbidos dessa ação de disseminação de conceitos. Principalmente o SUS (Sistema Único de Saúde) tornou-se referência nacional em modelo de ação federativa.
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O salto final, no entanto, está se dando no âmbito da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP). Acompanhei seu início, em fins dos anos 80, sob a liderança da então prefeita paulistana Luiza Erundina.
De lá para cá o movimento ganhou musculatura. Com a Lei Geral da Pequena e Microempresa, está se formando uma rede nacional de agentes de desenvolvimento, lotados em cada prefeitura.
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Durante décadas, no Brasil, academias desenhavam modelos de desenvolvimento tendo como ponto central a grande empresa. Julgava-se que fortalecendo os setores mais modernos, eles, por si, arrastariam a economia atrás, em um esforço modernizante.
Foi fundamentalmente esse o modelo empreendido por Fernando Henrique Cardoso e que, de certo modo, copiava as ações de Albert Hirschmann na Colômbia, no início dos anos 50. País pobre, sem estrutura industrial, sem mercado de capitais, a única maneira de promover o desenvolvimento, segundo Hirschman, seria eleger alguns setores para serem campeões e disseminarem os novos conceitos para o restante da economia.
Era essa a posição de um dos grandes economistas brasileiros, Ignácio Rangel, quando, nos anos 60, defendia o fortalecimento do setor financeiro para que se transformasse na ponta de lança da economia.
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Hoje em dia, pode-se abrir mão dessas gambiarras. O país tem uma estrutura industrial e de serviços, tem organizações de cunho nacional e, agora, tem a estrutura das prefeituras podendo atuar de forma coordenada.
Essa é a face sustentada do desenvolvimento, a formação de redes econômicas, de pequenos, micro empresários organizando-se em cooperativas, em arranjos produtivos, ou em torno de estruturas mais fortes.
E aí o papel do prefeito é fundamental. Caberá e ele a coordenação das forças locais, a identificação das carências, a prospecção das fontes de financiamento.
É um duro trabalho de construção social, até porque a maioria das prefeituras carece de quadros técnicos mínimos. Mas não existe outra maneira de construir uma nação. É através dessas redes, e não de planos econômicos mirabolantes, que o país se tornará primeiro mundo