domingo, 6 de fevereiro de 2011

Brasil aceita os desafios

Alberto Tamer - O Estado de S.Paulo
Ventos favoráveis na economia americana sinalizam que tempos melhores estão para vir. O desemprego caiu para 9%, o consumo interno aumenta um pouco, o risco de deflação diminui. Alguns já admitem que o PIB dos Estados Unidos pode crescer até 4%, se não mais, se o cenário atual se mantiver no primeiro semestre. Será bom para a economia mundial pois os EUA representam quase 25% do PIB global. Se não crescerem, o mundo não cresce. Continuará sendo salvo pelos emergentes, que já dão sinais de terem chegado ao limite. China e Índia, ainda crescem, mas o Brasil se vê forçado a desacelerar. Ou seja, os países desenvolvidos, que representam quase 59% do PIB mundial, precisam voltar a crescer de forma sustentável para que a recessão seja definitivamente superada. Não se pode contar ainda este ano com a União Europeia. A Alemanha voltou a crescer, mas se sustenta no forte aumento das exportações para seus parceiros regionais.
Bernanke estava certo? Pelo menos até agora, sim. Diante dos últimos indicadores americanos, volta-se a criticar a política monetária expansionista do presidente do Fed, Ben Bernanke. Ele desvaloriza o dólar, pressiona os preços das commodities, estimula as exportações, mas prejudica os outros. Bernanke defendeu sua política no Congresso de críticas dos republicanos e de outros países, como o Brasil. A economia está se reanimando, disse ele, mas vai continuar precisando de estímulos. Juro em 0% e injeção de dólares, direta ou indireta, mesmo porque a inflação está controlada. A única pressão é o petróleo. O desemprego recuou, mas é o maior desde 1930 e o mercado imobiliário continua retraído. Mesmo com mais exportações, a balança comercial tem um déficit de US$ 643 bilhões e a contas correntes de US$ 460 bilhões.
De novo as commodities. Mesmo neste cenário mais ameno nos EUA, persiste o clamor contra o aumento dos preços das commodities. Só em janeiro mais 3,4%. A França e a Alemanha querem que os países do G-20 aprovem o controle de cotações e sugerem a formação de estoques internacionais de alimentos. Só que esses estoques já existem. Mais ainda, apesar dos problemas climáticos, as safras mundiais devem superar a do ano passado. Podem ser recorde. Não é apenas o aumento do consumo que pressiona os preços, mas as operações financeiras no mercado de commodities. Há outro fato que poucos comentam. É a alta do petróleo, com o barril beirando US$ 100.
Brasil, nada a reclamar. Aqui, não temos nada a temer ou reclamar. O Brasil produz não só commodities agrícolas e minerais de ferro e alumínio, mas petróleo também. É o único que tem possibilidade quase ilimitada para crescer. Em poucos anos estará extraindo 2 milhões de b/d das reservas que devem passar de 50 bilhões de barris.
Outro fato marcante, ao contrário dos EUA, Europa e Japão, o Brasil tem um mercado interno vigoroso que a absorve grande parte da produção nacional. Não depende tanto dos outros para continuar crescendo.
O desafio de Bernanke. Em seu depoimento no Congresso, afirmou que é injusto atribuir o excesso de demanda ao mercados emergentes. "Esses países estão tirando milhões de pessoas da pobreza que passaram a se alimentar melhor." Esse recado não é para o Brasil que já está fazendo tudo isso sem tentar conter o consumo de alimentos que produz. Enfrenta, isto sim, a agressiva política da exportação chinesa, com a qual não sabe ainda como lidar. Para o Brasil, o importante é que EUA e China, seus maiores parceiros comerciais, continuem crescendo e importando.
A equipe econômica e do BC podem enfrentar e resolver o resto. Sem otimismo excarcerado,- a coluna não é otimista é realista e se baseia nos fundamento da economia - estamos indo bem, senhores, muito bem neste desafio. E há espaço para melhorar ainda mais. Muito mesmo. 

Infraestrutura é desafio para garantir competitividade

Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
Com apenas 7% da área dedicada à lavoura, o Brasil é o produtor com maior potencial de suprir a demanda mundial por alimentos nas próximas décadas. Para isso, entretanto, alguns desafios precisam ser superados. Além da questão tributária e cambial, as deficiências na infraestrutura são apontadas como um dos fatores que neutralizam as vantagens naturais do País.
Quase 60% da produção agrícola é transportada, das fazendas até os portos, por caminhões que enfrentam milhares de quilômetros (km) de estradas esburacadas e, muitas vezes, sem asfalto. Hoje apenas 10% da rede rodoviária do País é asfaltada. A ferrovia tem apenas 28 mil de extensão e não chega até grandes polos produtores, como é o caso do Mato Grosso. Nos portos, o sistema é caro e deficiente. A carga fica horas - e até dias - aguardando armazenada nos caminhões para serem embarcadas nos navios. A falta de armazéns é outra carência do País. Calcula-se que o déficit de armazenagem de grãos seja de 43 milhões de toneladas.
"Temos de melhorar os custos Brasil para investir mais e exportar mais", avalia o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho da Silva. Segundo ele, não faltam problemas para reduzir a competitividade do agronegócio. "Temos 100 números de dificuldades, como burocracia, contestações ideológicas, insegurança jurídica, questões ambientais, etc."
A grande preocupação é que as novas fronteiras agrícolas ainda não têm infraestrutura adequada para escoar a produção, a exemplo do Piauí e do Oeste da Bahia. O governo conta com três ferrovias - a Norte Sul, Transnordestina e Oeste Leste - para resolver os problemas de falta de transporte. 


Demanda mundial vai ampliar vendas de carne e grãos

AE - Agencia Estado
SÃO PAULO - A forte demanda mundial por alimentos vai turbinar a posição brasileira no mercado internacional na próxima década. A previsão é que a participação do País nas exportações mundiais de grãos e carnes cresça, pelo menos, 7 pontos porcentuais até 2020. Em contrapartida, a fatia de alguns produtos de maior valor agregado, como o farelo de soja e o óleo de soja, sofrerá uma redução no período, em torno de 3 pontos porcentuais.
As exportações desses produtos continuarão a crescer, mas em ritmo menor que o dos concorrentes, afirma o coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, José Gasques. Estudo preliminar do governo mostra que, no caso do farelo de soja, a participação do Brasil no mercado internacional vai encolher de 22% para 19,5% até 2020; e a de óleo de soja, de 21% para 18%.
"Vamos perder participação nesse mercado por causa da concorrência de países como Argentina e Estados Unidos", diz Gasques. Na avaliação dos produtores, essa redução decorre de uma série de fatores. Um deles é que todos os países querem importar grãos para beneficiarem e agregarem valor ao produto. Assim geram mais investimentos e empregos.
O destaque, no entanto, ficará com o avanço das exportações de carne, diz Gasques. Até o fim da década, a fatia de mercado da carne de frango brasileira saltará de 42% para 48%; e a de carne bovina, de 25% para 32%. Nesse caso, o maior aumento deverá ocorrer também na carne de frango in natura, que é mais barata que a industrializada, completa o coordenador do Ministério da Agricultura. Detalhe: o preço médio da carne in natura é de US$ 1,673 a tonelada e a industrializada, US$ 2,755 a tonelada.
Para Gasques, embora a expectativa de crescimento da exportação dos produtos de maior valor agregado seja menor que a de matéria-prima, o Brasil terá ganhos significativos no agronegócio. Um deles é a diversificação dos produtos vendidos. "Antes era só café, açúcar e soja. Agora temos o avanço das carnes, sucos, leite, milho e frutas." No futuro, a lista de mercados liderados pelo Brasil pode incluir produtos como algodão, celulose, frango e etanol. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo