sexta-feira, 13 de junho de 2025

Tarcísio turbina fundo especial do MP-SP em meio a expansão de supersalários, FSP

 Bruno Ribeiro

São Paulo

Em um aceno ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) assinou um decreto na última terça-feira (10) que repassa 30% dos recursos arrecadados em ações contra lavagem de dinheiro no estado para o fundo especial da instituição.

Esses recursos eram destinados, até agora, a subcontas do Fundo de Interesses Difusos (FID), da Secretaria da Justiça, e eram repassados à Secretaria da Segurança Pública para investimento na aquisição de equipamentos e infraestrutura para as polícias.

Já no fundo especial do MP-SP o dinheiro será usado para "assegurar recursos para expansão e aperfeiçoamento das atividades da instituição", segundo a lei que o criou, em 1999.

Nem o governo do estado nem o MP-SP informaram qual é a previsão de recursos que irão à instituição. No ano passado, a Secretaria da Segurança Pública publicou um balanço mostrando que, em quatro anos, a polícia recuperou R$ 14 bilhões do crime organizado.

A imagem mostra um grupo de cinco homens em um ambiente formal, possivelmente em uma cerimônia de assinatura. Eles estão em pé, aplaudindo, enquanto um dos homens no centro segura um documento assinado. Ao fundo, há uma pintura e várias pessoas assistindo ao evento. Todos os homens estão vestidos formalmente, com ternos e gravatas.
O governador Tarcísio de Freitas, o procurador-geral de Justiça e demais autoridades durante evento no palácio dos bandeirantes - Reprodução/MP-SP

Em vídeo divulgado no canal do MP-SP no YouTube, o procurador-geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, afirmou que a mudança é "uma notícia de enorme alcance para a nossa instituição", o que o motivou a gravar o agradecimento.

"Quero dizer que essa medida configura um grande ato de reconhecimento ao trabalho da nossa instituição e esse trabalho é feito por todos, indistintamente", disse. Ele afirmou que a verba visará "o aprimoramento da nossa atuação com mais tecnologia, treinamento e recursos humanos para detectar e desarticular esquemas de lavagem de dinheiro".

O reforço de caixa ocorre em um momento de forte crescimento das despesas do MP-SP com penduricalhos, os pagamentos acima do teto constitucional a servidores da magistratura.

Em janeiro, conforme a Folha publicou, Oliveira e Costa reconheceu passivos trabalhistas que somaram mais de R$ 1 milhão a receber para 1.900 promotores e procuradores paulistas, referentes ao equivalente a uma semana de salário extra por mês, em um período que vai de janeiro de 2015 a agosto de 2023.

A decisão, de caráter administrativo, reconheceu que os promotores tinham carga excessiva de trabalho e tinham direito aos pagamentos na forma de indenização. No fim de maio, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) proibiu práticas similares no Poder Judiciário.

Quando autorizou o pagamento dos penduricalhos, o MP-SP afirmou que os repasses seriam feitos em parcelas, de acordo com a disponibilidade de caixa da instituição. Em comparação ao ano passado, a remuneração média dos membros da instituição já subiu 27%, segundo dados do Portal da Transparência.

O reforço de caixa ocorreu em um evento no Palácio dos Bandeirantes com Tarcísio, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, o presidente da Alesp (Assembleia Legislativa), André do Prado (PL), de Oliveira e Costa, quatro subprocuradores-gerais e outros dirigentes do MP-SP. A instituição tem a função de fiscalizar os demais agentes públicos presentes.

"São Paulo é um estado diferente, onde as instituições conversam e constroem soluções. O estado é exemplo para o Brasil em termos de harmonia entre os Poderes, que pensam juntos no bem do cidadão", disse Tarcísio no encontro, segundo nota publicada pelo MP-SP —a imprensa não foi convidada para o evento.

A justificativa para destinar ao fundo especial do MP-SP parte dos recursos obtidos no combate à lavagem de dinheiro é incrementar a capacidade da instituição de enfrentar esses delitos, de acordo com o governo.

Embora o uso do fundo para pagar diretamente os penduricalhos seja vedado por lei, a medida cria folga de caixa à instituição, que tem autonomia orçamentária.

"Trata-se de uma política pública voltada ao enfraquecimento financeiro de organizações criminosas e à destinação mais eficaz dos ativos recuperados pelo estado", informou a Secretaria da Segurança Pública, em nota, ao justificar a medida.

Especialistas, contudo, criticam o fortalecimento do fundo sem ações que tragam mais transparência em suas despesas — a página destinada à prestação dessas contas no site do MP-SP não traz detalhes que justifiquem os saques dos recursos públicos da conta, quando ocorrem.

"O Fundo Especial de Despesa do MP-SP apresenta fragilidades relevantes de transparência e controle externo, pois sua administração, diretrizes e planos de aplicação são definidos unilateralmente pelo próprio órgão", diz Rafael Rodrigues Viegas, professor da FGV e pesquisador do INCT Qualigov e da Enap (Escola Nacional de Administração Pública).

"A amplitude das receitas, incluindo doações privadas, venda de serviços e multas, somada à baixa publicidade sobre critérios de alocação, abre margem para usos voltados a interesses corporativos, sem adequada prestação de contas à sociedade", completa.

Viegas também faz ressalvas à forma como a medida foi divulgada. "A presença destacada de autoridades do MP-SP no evento indica uma relação de cooperação que pode comprometer a percepção de autonomia do órgão, especialmente ao associar sua atuação a uma política governamental específica, como a recuperação de ativos, com contrapartidas financeiras diretas para a própria instituição."

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